Bênção e Cia... Como avaliar o Natal?

No regresso ao trabalho e as atividades do cotidiano após as festas natalinas a pergunta mais comum é: Como foi o seu Natal? Respondemos, sem pensar, que foi bom. Mas, e se pararmos para refletir? O que diremos? Como iremos avaliar o nosso natal? Imagino que para a maioria, mesmo sem querer, a avaliação será bastante material. O natal foi bom se a mesa foi farta, se os presentes foram bons e ricos e de preferência os desejados. Se nosso sonho de consumo foi realizado então foi em excelente natal... e pela quantidade de gente nos centros comerciais apesar da crise, não há dúvida que a febre do consumo venceu o natal.

O mais difícil é verificar que uma parte significativa da população cristã evangélica tem se rendido a essa visão e até produzindo uma teologia que a defenda. Por todos os lados ouvimos pregadores anunciando bênçãos a granel como se fossem uma espécie de pai natal/papai noel do evangelho. Muitos crentes vão acreditando que realmente bênção material é sinônimo de comunhão com Deus e aprovação do céu. Revivemos toda a teologia dos fariseus que Jesus repudiou de modo tão claro. Pensando nisso olhemos meditemos em duas ocasiões de bênção na palavra para ver o que podemos aprender. Vejamos uma no Antigo e uma no novo testamento.

1) A nossa parte da bênção - II Reis 4:1 a 7
Nesta conhecida passagem a viúva de um profeta pede ajuda a Elias diante de uma situação financeira tão crítica que levaria seus filhos a escravidão. O Homem de Deus lhe pergunta então: O que tens em casa? Ou seja, o que tens a mão? Com o que podes contribuir? Que parte podes tomar na solução? E a resposta foi, apenas um vaso de azeite. Pois foi com esse azeite que se resolveu o problema. A mulher teve que crer e agir. Teve que trazer vasos da vizinhança, fechar-se em casa e encher cada um deles e depois sair a vende-los negociando o preço. Deus abençoou, mas ela teve que fazer a parte dela.

Sistematicamente a Palavra nos mostra que o Senhor não faz o que pode delegar. Para cuidar da criação Ele criou Adão, Para reiniciar a povoação da terra contou com Noé, para criar um povo escolhido separou Abraão, para livrar Israel do Egito chamou Moisés, para recuperar o culto verdadeiro convocou Elias, para governar Israel elegeu Davi, para firmar a Igreja escolheu os discípulos, para alcançar os gentios ungiu a Paulo.

Queremos que o Senhor haja de cima para baixo, de fora para dentro e nós fiquemos só como espectadores passivos cumprindo o papel de pedintes. Mas ELE age de dentro para fora, atua dentro de nós, exige nossa participação, mas isso incomoda, altera os planos, modifica as agendas. Mas é o modo do Senhor agir. A bênção veio, vem e virá, mas sempre exigirá a nossa participação.

2) A Tua vontade, não a minha - Mateus 8:1 a 4
Este é também um episódio conhecido. Um leproso arrisca tudo para chegar a Jesus e prostrado pedir-lhe misericórdia. Mas o que sobressai nas palavras do leproso é sua atitude. Ele não discute a necessidade (ele realmente precisava), ele não discute a falta de alternativas (Jesus era a única esperança), ele não debate o poder (sabia que Jesus podia cura-lo), ele não fala sobre a oportunidade (podia não haver outra), ele fala sobre a vontade soberana de Deus: Se quiseres...

O pedido do leproso não era baseado em sua necessidade ou outra qualquer coisa. Segundo as teologias modernas ele tinha "direito" a cura pois no seu coração cria. Mas ele não pensa assim. É mais sábio que isso. Sabe que além do poder, o Senhor tem todo o conhecimento e a sabedoria para fazer o melhor. Ele roga submisso. "Se quiseres. Sei que podes, mas não sei se queres, mas creio que a tua vontade é perfeita, baseada em teu entendimento, então seja feita a tua vontade. Se quiseres podes tornar-me limpo."

Ao orar desse modo o leproso se entrega nas mãos de Jesus. Reconhece não somente o poder, mas a soberania, o conhecimento, a sabedoria e o perfeito amor do Senhor. Precisamos urgentemente entender que para Deus o poder não implica obrigatoriamente na ação. ELE sabe o melhor! Entendemos isso no plano humano. Um cirurgião pode fazer certa cirurgia. Tem conhecimento e experiência para faze-la, mas isso não quer dizer que a fará a qualquer doente. Deverá estudar o caso, a situação e o doente e então decidir se vai ou não operar. Não esta em causa sua capacidade mas seu conhecimento. Ele pode, mas também deve decidir se é o melhor. Porque então não entendemos isso no plano divino?

O leproso orou como Jesus iria orar mais tarde, Seja feita a tua vontade. Quando oramos assim alguns nos acusam de falta de fé. Dizem que esse tipo de oração limita a petição e mostra fraqueza. Aprendi que orar assim não é uma questão de falta de fé, mas de falta de conhecimento. Sei que ELE pode, mas não sei se em seu conhecimento ELE vai decidir que é o melhor. Como servo não me cabe a mim mandar no Senhor mas confiar mesmo quando as coisas não são como eu gostaria.

Como vamos avaliar nosso natal? Pelas bênçãos materiais simples e puras? Será uma avaliação superficial certamente. Natal é Jesus. Logo, um bom natal é aquele em que Jesus for central, em que meu amor por ELE cresce, em que minha adoração é genuína, em que meu desejo de falar dEle aumenta. Natal é o cumprimento pleno da vontade de Deus apesar das dificuldades que isso traz a Maria, a José e ao próprio Jesus. Será natal em mim quando puder orar como o leproso, seja feita a tua vontade e viver de acordo com essa oração.

MacDonaldização da Igreja


 Foi George Ritzer que criou o termo MacDonaldização num livro em que investigou o caráter mutante da vida social contemporânea. Segundo Ritzer os princípios da indústria de fast food têm tomado conta da vida social moderna e influenciado áreas como os cuidados de saúde, o ensino e o divertimento. Ritzer distinguiu 4 princípios básicos nessa indústria: eficiência, calculabilidade, previsibillidade e controle.

Não é preciso muito esforço para verificar que o investigador captou bem essa faceta da realidade. Nossa sociedade se retrai cada vez mais num mundo em que se oferece conexões rápidas (na internet), amizades a varejo (na internet) e cada vez menos espaço para a criatividade, a espontaneidade, a vida... O mais triste disso tudo é que o homem não parece perceber que está sendo guiado para o abismo. Vivemos bombardeados por uma mídia que nos diz o que vestir, o que comer, onde passar nosso tempo, onde gastar nosso dinheiro. Somos ensinados sobre o que é felicidade, o que é realização e tentam nos convencer de que sabem do que estão falando. No entretanto a maior doença deste inicio de século é a depressão.

Mas essa MacDonaldização tem chegado à igreja também. Em qualquer livraria evangélica ou na internet (cada vez mais onipresente) podemos encontrar manuais de como tornar nossa igreja eficaz, como calcular a melhor estratégia de crescimento, como controlar as atividades, como organizar programas e eventos para ser mais bem sucedidos. Gurus de vários tipos nos ensinam de acordo com o melhor das ciências sociais atuais o que deve ser a igreja. Pelo passo atual acredito que em breve teremos uma igreja a funcionar no facebook... Pensemos um pouco nas facetas sugeridas por Ritzer no contexto da Igreja de Jesus:

1) Eficiência
Esta é daquelas qualidades que aparentemente não têm discussão. É necessariamente boa. Devemos ser eficientes, afinal a vida o exige. Ninguém gosta de ser considerado incompetente ou ineficiente. Mas eficiência é a capacidade de produzir realmente um efeito e aqui as coisas podem mudar de figura na igreja. Temos realmente desenvolvido a capacidade de causar efeito em nossas igrejas e em nossos cultos. Mas que tipo de efeito? Efeito duradouro? Efeito espiritual que reverte em vida? Ou será efeito carnal, na força do homem, que pode impressionar mas não dura e não frutifica espiritualmente.

Há muitas instituições humanamente eficientes. Fazer as coisas benfeitas é uma exigência da vida cristã e de nosso temor a Deus. Mas eficiência cheira também a controle, domínio absoluto do método de produção que é o que se exige na indústria moderna e no fast-food e isso nunca poderá acontecer na igreja porque ela é uma comunidade do espírito e não há como dominar as linhas de produção nessa área. Realmente devemos desejar efeitos na igreja e sobretudo efeitos que mudem vidas, que alcancem a alma e o espírito, mas esses dificilmente se produzirão em massa e sob encomenda. Dependem do Senhor.

2) Calculabilidade
A indústria exige cálculos. Tudo tem que poder ser resumido a uma tabela de Excel, mas na vida, e na igreja, as coisas que realmente contam não se medem. Como calcular a espiritualidade de um culto, a maturidade de um crente, o amor de um evangelista, a caridade de um obreiro social, a fé de uma oração, a dedicação de um professor de EBD, a profundidade de um sermão, a esperança de uma intercessão ou o dom de um irmão?

Podemos avaliar pelos frutos segundo Jesus nos ensinou, mas reduzir tudo a uma tabela simplesmente não funciona na vida e tira a beleza, o mistério, a maravilha que todos desejamos ver e experimentar na vida. O homem foi criado para coisas tão profundas que nem ele entende, nem pode explicar, mas que anseia e busca toda a vida. Como reduzi-las a mera matemática? Não dá e não é necessário.

3) Previsibilidade
Novamente o controle em ação. A indústria quer poder prever o que virá. Não se ajusta bem a urgências, a imprevistos. O homem moderno vai perdendo a capacidade de lidar com coisas realmente novas e classifica todos os que não se ajustam com alguma alteração psicológica. No entanto, quando alguém sai dos trilhos e é bem sucedido concluímos que era um génio. Há certamente incongruência nessa avaliação.

A vida na Igreja precisa ser vivida na direção do Espírito Santo, no desenvolvimento de dons e ministérios, e isso tudo é marcado pela espontaneidade e criatividade. É por isso que a Igreja não sai de uma linha de produção, não é fotocópia de outra matriz, é vida que acontece de modo diferente em cada lugar. Essa é parte da maravilha da Igreja. Não tem que ser igual a outra, não tem que se limitar ou restringir ao que outras fazem ou planejam. Mantendo a essência dos princípios bíblicos (adoração, comunhão, ensino, evangelização e serviço) a igreja local tem liberdade para escolher as formas que melhor se adaptam a sua realidade e sobretudo aos dons e ministérios que o Senhor lhe deu.

Isso não quer dizer que as coisas na igreja aconteçam de qualquer maneira ou sem preparação, mas que a Igreja verdadeira não pode ser previsível, não cabe em planeamentos fechados, não sobrevive em organogramas rígidos.

4) Controle
Tudo parece se concentrar aqui. O homem moderno tem paixão pelo controle. Quer saber antecipadamente, quer dominar tudo. Essa tendência se tornou uma verdadeira necessidade, mas é muito antiga, na verdade começou no Éden. A origem do pecado tinha a ver também com o desejo do controle, com uma fuga ao controle Divino, uma falta de confiança no amor perfeito de Deus e uma busca por tomar o próprio destino nas mãos. Na construção da Torre de babel o princípio era o mesmo. Vamos construir para controlar.

Hoje, vemos esse princípio entronizado em filmes e livros. O homem que toma as rédeas da situação é elogiado, é colocado na ribalta. Mas se olharmos bem para a situação do planeta facilmente chegaremos a conclusão dos verdadeiros resultados de toda essa fome de controlo da humanidade. Nunca dominamos tanto a natureza como agora, nunca pudemos antecipar e prevenir tanto como agora e no entanto nunca o planeta correu tantos riscos e a humanidade no seu geral viveu tão mal. Temos luxo, glamour e abundância ao lado de miséria, fome e degradação, tudo a um quarteirão de distância. Belo trabalho!

A salvação oferecida em Jesus nos liberta entre outras coisas de nós mesmos. Descobrimos em Cristo que o aparente controle de nosso destino é, na verdade, escravidão, fardo, depressão e que o entregar a ELE a vida em submissão amorosa é, na verdade, Liberdade, Alegria, Fôlego de vida. Parece contradição, como tantas outras coisas na vida Cristã, mas é a mais pura verdade! O controlo nos oprime, pesa sobre nós. A entrega nos liberta, nos deixa leves para viver. Podemos tomar emprestada de Jesus a metáfora das crianças. Os pequeninos não controlam, dependem dos pais para tudo, não se preocupam com o que vão comer, vestir ou como se deslocarão e no entanto com toda sua falta de controlo são felizes. As crianças se alegram com pouco, celebram a vida pulando a cada esquina. À medida que crescemos e vamos aprendendo a controlar e nos tornando responsáveis por nós mesmos, mais o peso da vida aumenta e lá se vai a alegria simples dos infantes. Por isso também Jesus disse que para entrar no Reino dos Céus temos que ser como meninos.

Conclusão:
Creio que tudo que falamos pode ser resumido assim: A vida cristã e a vida na Igreja precisam ser vividas na liberdade do Espírito, que é caracterizada por espontaneidade e criatividade. É Jesus a cabeça. É o Senhor que controla e só ELE está habilitado para tal. No momento em que quisermos fazer da Igreja uma estrutura "à la Macdonald" perderemos toda a VIDA do Espírito. Aprendamos a viver na liberdade maravilhosa que é deixar o controlo nas mãos de quem realmente pode controlar - nosso Deus.

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Precisamos Comer Mais... Precisamos Comer menos...

Afinal em que ficamos? É para comer mais ou menos? Na verdade creio que como igreja precisamos das duas coisas. Comer é muito mais que um ato de sobrevivência. Desde sempre que comer é um modo de confirmar amizade, de selar pactos, de mostrar intimidade. Convidamos para comer em nossa casa apenas quem faz parte de certo círculo de amizade. Biblicamente o comer sempre foi parte dos rituais de adoração, já que o ofertante e o sacerdote comiam parte do sacrifício.

Precisamos comer mais
A Igreja nasceu em Atos com um cariz doméstico. O número de convertidos tornou-se logo tão grande que era impossível junta-los num só lugar. As reuniões aconteciam nas casas, possivelmente usando as casas maiores e/ou os que tinham dom de hospitalidade e incluíam uma refeição conjunta (Atos 2:46). Essa refeição veio a ter o nome de ágape, que é a palavra grega para amor, porque representava uma das bases para o amor comunitário na igreja primitiva.

Sabemos o quanto uma refeição conjunta pode ajudar na formação de laços de amizade e comunhão. Nossas igrejas promovem almoços comunitários exatamente por isso. Vemos claramente que durante a refeição conversamos mais, nos abrimos, falamos de coisas corriqueiras, contamos histórias familiares, compartilhamos casos e acontecimentos de nossas vidas. Quando o fazemos ficamos conhecendo melhor uns aos outros e o conhecimento é o primeiro passo para a comunhão que precisamos ter.

No entanto, apesar de sabermos isso, a verdade é que os almoços de igreja são cada vez mais raros. Acontecem uma vez por ano, se tanto, ou em festas como aniversário da igreja, quando a refeição não é de garfo e faca, mas de bolo rápido num canto do salão. As desculpas são muitas. O tempo é curto, a logística é complicada etc. Na realidade até em casa parece que juntar a família para comer é algo que vai ficando raro. Cada um come no seu horário, ou então adotamos o hábito funesto para a família, de comer em frente à TV. Matamos a comunhão!

Precisamos comer mais em família. A refeição familiar deveria ser sempre algo especial, local de falarmos das nossas coisas, de ouvirmos as questões de cada um, de darmos oportunidade para um tempo de louvor como família. Precisamos comer mais com os irmãos da igreja, convidar mais para nossas casas, fazer piqueniques, passeios, encontros onde podemos com calma falar de nossas vidas, compartilhar bênçãos e problemas. Precisamos comer mais como igreja, vencendo as dificuldades logísticas e partilhando mais refeições como comunidade. Não é a única maneira de crescermos em comunhão, mas é provavelmente a mais saborosa...

Precisamos comer Menos
Por outro lado, setores importantes da igreja moderna têm negligenciado uma arma espiritual poderosa e importante: O Jejum.
Em certos meios, a mera menção do jejum já desperta olhares atravessados. Parece que essa prática ficou conotada com extremistas radicais perigosos que devem ser evitados a todo custo. No entanto, a igreja primitiva praticava o jejum de modo prático. O Senhor Jesus ensinou claramente sobre o jejum (Mateus 6: 16 a 18) e falando de jejum deixou claro que seria algo que seus seguidores fariam (Mateus 9: 15).

O grande movimento missionário encetado pela igreja de Antioquia surgiu na sequência de um tempo de jejum (Atos 13:1 a 3).

O jejum não é algo mágico, nem é fanatismo. Trata-se de uma disciplina espiritual. Nele mostramos a importância de negar ao nosso corpo o controle da vida. Vivemos num mundo em que a carne manda, os desejos reinam, mas aprendemos na Palavra que o Espírito domina a carne e controla seus instintos, mesmo os mais naturais. No jejum desenvolvemos a arte de negar os desejos e isso nos faz amadurecer. Ao fortalecermos o Espírito aprendemos a dar a vida o foco bíblico que o Senhor deseja.

No jejum consagramos tempo para o Senhor em oração específica. Demonstramos a importância dos assuntos levados em oração na medida em que até a atividade básica de comer deixamos de lado para nos dedicarmos a oração. É um ato de sacrifício vivo que pode agradar a Deus quando feito no intuito e no espírito certos. Lembremos que os muçulmanos conhecem e praticam um jejum rigoroso durante um mês a cada ano e quem já viveu ou vive entre eles sabe o que isso representa a nível espiritual.

O jejum pode levar a orgulho espiritual talvez mais facilmente do que outras disciplinas. Era o caso dos fariseus, duramente criticados por Jesus. Mas não deveria ser isso a nos dissuadir de o praticar. Antes, cientes dessa possibilidade, blindamos nossos corações e almas e deixamos que o Espírito faça a obra em nós. Até do ponto de vista físico essa pratica será bênção, pois a medicina sabe que um período regular de jejum  liberta-nos de várias toxinas.

Podemos praticar o jejum de várias formas: deixando de comer e beber por 12 horas,  24 horas ou nos abstendo de comidas sólidas por 1 ou mais dias. O importante é separar o tempo que seria dedicado as refeições para orar e buscar a face do Senhor e não nos vangloriarmos disso para não cairmos no erro condenado por Jesus. O certo é que essa prática é cristã e faz falta na igreja de hoje.

Precisamos comer menos...

Aplicação: Se foi tocado por esta reflexão então tome medidas práticas para vivencia-las. Estabeleça como meta ter pelo menos uma refeição diária em família, onde poderá melhorar a comunhão interna, decida convidar alguém da igreja para comer com você e sua família uma vez por mês. Se tem possibilidade de influenciar sua  igreja, então motive sua comunidade a fazer refeições em comum. Quem sabe algo do tipo amigo secreto, almoço mensal ou outro método que melhor se adapte à sua igreja. Lembre-se: Precisamos comer mais!

Se entende que o jejum é algo que deve passar a fazer parte da sua armadura espiritual então marque um dia por mês para fazê-lo. Comece suavemente. No dia anterior jante normalmente e no dia estabelecido não tome nada de manhã e não almoce. Beba água ou um sumo de frutas se ficar com baixa de açúcar. Separe tempo para orar e escolha um tema especial, algo importante para interceder. Quebre o jejum no jantar consagrando a Deus esse dia diferente. Mas comece logo! E lembre-se: precisamos comer menos.
Que o Senhor nos abençoe.

Eu, Boa Nova

Certamente já lhe aconteceu mais de uma vez. Ao longe viu uma pessoa que conhece se aproximando. Sabe que é uma pessoa desagradavel. É o tipo de pessoa que gosta de fazer de conta que são grandes amigos quando na verdade mal se conhecem. Sua falsa intimidade constrange. Seus comentários são sarcásticos e de mal gosto. Suas piadas são sujas e sem graça. Seu hálito é horrível e sua presença o repugna. O que faz? Quase que inevitavelmente foge. Arranja uma maneira de escapar do encontro. Aquela pessoa para você é simplesmente má noticia.

Agora imagine o contrário. Aquela pessoa gentil, de palavra animadora, que sempre o elogia, que parece brilhar a cada encontro, cuja presença é um bálsamo. Aquele tipo de pessoa que realmente ouve o que dizemos, que empatiza com nossas situações, que sabe dar conselhos sábios sem os impor, cuja palavra faz diferença para nós. Aquele tipo de pessoa que nos faz sentir importantes a cada vez que nos encontramos. É uma pessoa limpa, que veste bem sem exagerar e traz consigo um agradavel cheiro de perfume. O que faz? Inevitavelmente se aproxima. Deseja o encontro. Essa pessoa é simplesmente boa nova.

Esta perspectiva tem tudo a ver com o evangelho e sua propagação. Jesus era o Verbo que se fez carne. Ele encarnou, "habitou entre nós e vimos a sua glória". Antes de proclamar a boa nova, Jesus era a Boa nova. A boa nova encarnada. Ele atraía as pessoas e elas se aproximavam dele com prazer. É claro que os hipócritas o adiavam, ou antes odiavam o que deles se percebia quando se aproximavam de Jesus. Mas o povo o amava e dele se acercava com naturalidade e alegria desde crianças a idosos, ricos e pobres, sábios e ignorantes. Sua palavra era única, sua capacidade de amor inigualavel, sua visão daquilo de bom que cada pessoa podia ser nas mãos de Deus, seu investimento mesmo nos casos considerados perdidos. Tudo nele atraía poderosamente. ELE era Boa Nova.

Se há uma coisa que tem prejudicado a Igreja e a proclamação do evangelho é crentes que querem anunciar as boas novas mas que são má nova. Suas vidas, atitudes, palavras e modo de falar, tudo causa afastamento. São desagradaveis, com ar de superioridade de quem diz saber tudo, atitude condenatória que pensa poder julgar e a prépotencia de entender que todos tem que os aceitar como são porque eles são donos da verdade. Grandes ateus e agnósticos tem criticado o Cristianismo (e nesse caso com razão) exatamente porque não tem conseguido ver Cristo ou seus ensinos nesses cristãos.

Vejamos brevemente algo que a Bíblia diz sobre os verdadeiros discipulos de Jesus. Eles devem ser:

1) Sal (Mateus 5:13)
O Sal dá à comida o seu sabor. O mais saboroso prato sem sal fica totalmente sem graça, sem interesse. Os ingredientes mais caros desperdiçados porque faltou aquele toque, pequeno mas fundamental que realça o valor de tudo. O sal preserva, mantém , impede a degradação. Seu valor ainda hoje é muito estimado em várias partes do mundo e há mesmo lugares onde serve como moeda de troca.

O Senhor disse que deveriamos ser sal. Onde estivessemos traríamos sabor, realçaríamos o gosto, impediriamos a degradação, serviríamos de preservante. O Cristão tem que fazer a diferença em seu meio dando-lhe o que o mundo não pode dar. Se nossa atitude for de condenação ou superioridade como poderemos influenciar? Como conquistar a confiança se não soubermos ganhar o respeito? Perguntemo-nos a nós mesmos: dou sabor aos lugares onde vou? Tenho ajudado a impedir a degradação de pessoas e ambientes onde chego?

2) Luz (Mateus 5:14)
Segundo Jesus deveríamos ser luz. Dar côr, brilho, vida onde quer que fossemos. Só com a luz podemos apreciar as maravilhas da criação. Uma das maiores riquezas do homem é ver o nascer do sol quando a terra se enche de luz. A luz permite a orientação, a escolha clara de uma direção segura. Com luz evitamos os buracos, a sujeira, os espinhos. Com a luz vemos as belezas, retiramos as manchas, embelezamos nosso mundo.

O Cristão tem que ser luz. Onde vai reflete a glória de Deus. Onde chega faz realçar as maravilhas da criação. Ajuda a que as pessoas vejam as cores em suas vidas. Auxilia o desorientado, mostra o caminho ao perdido, livra dos buracos o desencaminhado e ajuda na limpeza das vidas. Um Cristão luz será atrativo de um modo irresistivel como uma farol no meio de uma tempestado ou o brilho no fundo de um tunel.

3) Perfume (II Corintios 2:15)
Paulo usou a figura do perfume para falar do crente. Ora perfume é algo que todos gostam. Torna um ambiente agradavel, retira os maus cheiros presentes e faz com que o próprio ar pareça mais respirável. Um bom perfume atrai, seduz, encanta, chega a ser enebriante num bom sentido. Um perfume gostoso faz com que o local fique em nossa memória já que a recordação de cheiros agradaveis perdura em nossa mente e olfato.

Um Cristão genuíno é perfume de Cristo. Onde chega traz um ar novo, limpo, agradavel. Sua presença é gostosa, marcante, suave mas penetrante. Um Cristão perfume de Cristo se torna memorável porque sua presença traz à mente coisas boas, recordações belas e abençoadas. Um Cristão assim atrairá as pessoas a Cristo tão certo como um bom perfume atrái a nossa atenção.

Aplicação: Antes de poder proclamar a boa nova da salvação eu tenho que me tornar a boa nova. A Palavra diz que somos feitos novas criaturas, filhos de Deus, propriedade particular do Senhor, herdeiros do céu. Feitos novos por dentro devemos mostrá-lo por fora. Nossa presença deveria ser desejada e abençoada. Em vez de criticar, elogiar. Em vez de condenar, abençoar. Em vez de rebater, encaminhar. Nossa palavra, nosso ouvido, nossa orientação e conselho, nossa capacidade de amar, deveriam ser de tal maneira desenvolvidos no Senhor que fizessem as pessoas sentir a atração daquele que os amou até a morte. Quye as pessoas possam desejar a minha presença. Que onde eu chegar possa ficar conhecido como boa noticia. Eu, Boa Nova.

Narciso de joelhos (oração auto-centrada)

Na mitologia grega Narciso era um jovem de beleza rara filho do deus-rio Cefiso e da ninfa Liríope. Há várias versões da sua história, mas todas concordam em que ele se apaixonou pela própria imagem refletida no rio e aí permaneceu em admiração permanente definhando e por fim morrendo ficando em seu lugar uma flor a que se denominou narciso. Esse mito deu origem ao termo narcisismo que é definido como vaidade, orgulho, auto-admiração.

Nos nossos tempos, o narcisismo deixou de ser algo visto como errado e passou mesmo a ser requisito fundamental para se triunfar na vida. Em filmes, e músicas se admite e defende que o mais importante de tudo nesta vida é amar-se a si mesmo. A cantora Whitney Houston teve um grande sucesso nas paradas com uma música que dizia exatamente isso. A mensagem é: o fundamental é amar-se, aceitar-se e estar seguro de si mesmo. O homem com dúvidas a respeito de si mesmo já está em desvantagem. O mundo moderno admira o homem totalmente seguro mesmo que isso implique em grau elevado de vaidade e auto-admiração. Narciso reina!

Preocupante é notar que por meio das ciências comportamentais, essas ideias tem penetrado sorrateiramente na Igreja. Passamos nós também a admirar líderes "fortes" e com isso estamos falando de homens e mulheres com um discurso de auto-aceitação marcante e em quem se pode notar altos índices de vaidade. Líderes que estão totalmente seguros de sua chamada, de sua superioridade, de sua pregação. Líderes que apresentam ao público uma face sempre altiva e dominadora, que sabem sempre o que querem e como consegui-lo. Narcisos no púlpito!

Evidente será referir que é benéfico ter um líder seguro, pois ninguém seguirá um comando frouxo, o que rejeitamos é a auto-suficiência pregada pelo mundo. Paulo era um homem de Deus poderoso em ações e palavras, mas dizia "não julgo que o haja alcançado" (Filipenses 3:13). Ele instava seus discípulos a se "examinarem" a ver se ainda estavam no caminho. O salmista tinha comunhão profunda com Deus, mas clamava "sonda-me ó Deus e conhece o meu coração" (Salmo 139: 23). O profeta referia que nossas obras são como "trapos de imundície". Esses líderes eram fortes, mas não tinham a atitude narcisista dos líderes modernos influenciados pelo mundo.

Grave também é perceber o quanto essa visão do homem moderno tem tomado conta de nossas orações. Quando ouvimos muitos irmãos orarem ficamos com a impressão que Deus só existe para nos salvar e depois fazer tudo que quisermos lhe pedir. É um deus menor, um deus servo. Ouvimos orações onde parece que o crente exige de deus certas atitudes, demanda tomada de posição e chega a decretar ou declarar aquilo que acha que deve acontecer. Muito distante da oração valorizada por Jesus: "Tem misericórdia de mim pecador" (Lucas 18:13). Nessas orações pseudo-poderosas o que vemos claramente é Narciso de joelhos!

Jesus ensinou seus discípulos a orar (Mateus 6: 9 a 12). Mais que uma reza a oração conhecida como "Pai Nosso" é uma lição na arte da oração. Um guia direcionando o seguidor de Cristo a orar. Nessa oração tudo é direcionado ao Senhor. Começamos por lembrar que é ELE o foco da oração e não nós. Mesmo quando pedimos perdão, livramento ou sustento devemos ter consciência de que estamos na dependência total da misericórdia de Deus que é a razão de não sermos consumidos (Lamentações 3:22).

Precisamos deixar de ouvir o mundo e sua mensagem antropocêntrica e ouvirmos mais a Palavra. A glória de Deus é a razão de nossa existência e é nele que encontramos a verdadeira vida e a verdadeira satisfação. Nossa visão tem que crescer no sentido da grandeza de nosso Deus e então narciso nos parecerá aquilo que realmente é: um tolo inútil. Quero enterrar o meu narciso e crescer na graça. Convido-o a fazer o mesmo.

Escondido no Tempo...Deus tarda,mas não falha!?

Lembra do jogo de esconde-esconde que jogava quando criança? O objetivo era escolher um lugar onde não imaginavam que estivéssemos e ficar o mais quieto possível para não sermos encontrados. Era um jogo meio parado e que tinha muito a ver com temperamentos. Os mais afoitos não aguentavam muito tempo escondidos. Alguma vez perdeste um jogador? Sabe aquele companheiro sossegado que se escondeu e esqueceu do tempo e passada meia hora de todos terem saído do esconderijo ainda não tinha aparecido? Estava escondido no tempo. Já sentiu isso em relação a Deus? Não parece que por vezes o Senhor brinca de esconder conosco?

Em Génesis lemos sobre a criação do mundo e do homem. A Ciência tem feito muitas descobertas interessantes sobre os primórdios do planeta e até do universo. Quanto mais descobre mais relevante o relato de Génesis fica. Uma das coisas mais importantes desse relato diz respeito ao tempo. Nós medimos o tempo em dias, horas, minutos. Mas onde começou o tempo? Existiu sempre? Segundo Génesis não. Foi Deus que criou o tempo. Foi ele que separou luz e trevas, criou dia e noite e desse modo preparou o mundo para que o homem chegasse numa realidade ligada ao tempo (Génesis 1: 5). Mas ELE, Deus, ficou de fora. Não se submeteu e nem podia porque existe numa realidade fora da temporal.

Quando meditamos sobre isso muita coisa parece ficar mais clara. De repente entendemos melhor essa questão do Deus escondido.. na verdade, Ele esta escondido no tempo. Nossa noção de tempo e nossa relação com o tempo é motivo de stress acentuado, ansiedade marcada e uma das principais razões para sofrermos com os aparentes desaparecimentos de Deus. Meditemos brevemente:

1) Se Deus está fora do Tempo não pode se atrasar
Atraso é definido por alguém que chegou fora de horas, perdeu o tempo certo de chegar. Varia de cultura para cultura. No Brasil meia hora pode não ser considerado atraso, já no norte da Europa meia hora de atraso é má educação. Atraso pode ir desde desentendimento a perda de oportunidades e mesmo a fatalidades. Mas Deus vive e existe fora do tempo. Costumamos dizer que Deus tarda, mas não falha, porém, para Ele não se coloca essa questão. Não há atraso! Ele está sempre na hora certa!

Abraão certamente pensou que Deus estava atrasado no envio de seu prometido filho. Afinal, ele esperou 25 anos por Issac. Ana desesperava pela demora em engravidar. José deve ter julgado longo o tempo na prisão e Davi ficou esperando para ser rei por longos anos. O povo de Israel esperou o Messias por séculos e certamente julgou que havia muito atraso de Deus, mas Jesus veio no Kairós de Deus, no tempo exato, certo, perfeito (Gálatas 4:4). Tudo foi preparado, tudo concorreu para que Jesus viesse no momento certo da história para causar o maior impacto e permitir o maior crescimento da igreja. Deus nunca se atrasa.

Quando estamos aguardando uma bênção, esperando uma cura, desejando uma resposta, muitas vezes parece que Deus emudeceu, que esta no mínimo atrasado. Nossa noção de timing pede e por vezes exige que Ele faça as coisas não somente do nosso jeito mas no nosso tempo. Será bom lembrar no entanto que ELE é Senhor. ELE é soberano. ELE criou o tempo e nunca está atrasado.

2) Se Deus está fora do Tempo não pode se adiantar
Outra questão ligada ao tempo é a precipitação. Por vezes fazemos algo bom ou dizemos uma coisa que até era certa mas antes da hora. Faltava preparação, faltava as bases para que aquilo fosse 100% eficaz. É um defeito nosso e acontece com frequência por ansiedade ou mera pressa.

Acredito que muitas vezes os servos de Deus acharam que Ele estava se precipitando, que ainda era cedo demais para agir. Lembro de Gideão perante os midianitas, de Moisés na convocação para livrar Israel, de Filipe chamado para ir ao deserto em meio a um avivamento e uma dezena de outras ocasiões em que parecia que não era ainda tempo de agir. Parecia prudente esperar mais um pouco.

Quando o Senhor fala, quando Ele ordena, podemos ter a certeza que esta na hora. Ele nunca se adianta, nunca se precipita, nunca se sente pressionado pelo tempo ou pela expectativa. Vive fora da nossa pressão por cumprir calendário e age sempre na hora certa. Portanto, se Ele nos der uma ordem, é melhor cumprir logo.

3) Se Deus está fora do Tempo nunca está realmente ausente
A sensação de ausência de Deus é das maiores lutas do crente. Quantas vezes não percebemos sua presença, não sentimos seu consolo, não vemos sua mão. É claro que tudo isso é relativo porque se baseia em sentidos e sentimentos e sabemos o quanto falham tanto uns quanto outros. Mas na nossa limitação humana é comum essa sensação de abandono que nos leva a gritar: até quando? Por que me abandonaste?

Essa queixa é comum nos salmos, é frequente na boca de quem passou por aflição e surge até nos lábios de Jesus (Mateus 27:46). Na nossa dependência do tempo qualquer hora passada em sofrimento já é demais, qualquer dia a mais de espera já é excessivo.

A noção de ausência está ligada ao espaço mas também ao tempo. Quanto mais tempo ficamos sem ver uma pessoa, mais ausente esse alguém parece. Já diz o ditado: longe da vista, longe do coração! E á medida que os dias e semanas passam sem vermos ou sentirmos o Senhor, maior é a sensação de ausência. E aí lembramos novamente, ELE vive noutra esfera, fora do tempo. O que para nós parece um século para Ele é um minuto. Sentimos que Ele não nos toca há anos, quando na realidade dele foi a minutos.

Sei que esse raciocínio não ajuda muito quando estamos no meio da dor e do sofrimento. Também já clamei e o céu me pareceu de bronze. Também já gritei e Ele pareceu não ouvir. Mas a verdade é que foi o que me pareceu... na minha realidade... na minha limitação. ELE na verdade nunca esteve ausente, apenas não o via porque sou humano e limitado.

Conclusão:
Deus vive fora do tempo e por vezes nos vai parecer escondido nele. Mas o fato de lembramos disso nos ajuda a perceber que ELE nunca se atrasa, nunca se adianta e na verdade nunca se ausenta. E gostaria de deixar um último pensamento. Se você é daquelas pessoas que, como eu, vive apertado pelo tempo, será maravilhoso saber que um dia seremos livres disso. Um dia deixaremos esta realidade e entraremos na realidade em que Deus vive. Sairemos da realidade temporal para viver fora do tempo. Essa será uma das particularidades do céu. Que maravilha não? Sem stress, sem calendário a cumprir, sem datas limites, sem pressa ou atrasos. Será ótimo, será céu. E então nós também ficaremos, escondidos no tempo.

ADORAÇÃO IDÓLATRA?

" Quando as pessoas vêm as gesticulações lascivas dos cantores, os tremores e alterações adúlteras das vozes dos que cantam, não conseguem deixar de rir e pensamos que não vieram propriamente para orar, mas para um espectáculo, não para ouvir uma mensagem, mas para o teatro. Não há qualquer temor da majestade tremenda em cuja presença estão"

Estas duras palavras foram escritas por um conceituado líder religioso diante do panorama da adoração em seu tempo. Sua reflexão nos leva a meditar novamente sobre a razão de ser do louvor e a maneira como ele acontece em nossas comunidades. O interessante será saber que o excerto que colocamos acima não foi redigido por um pastor contemporâneo, mas foi escrito por um monge chamado Aelrod, no século XII. Parece que as questões ligadas à adoração são antigas...


Já na fase patrística da Igreja, Clemente de Alexandria (c. 150- c.215) era contrário ao uso de qualquer tipo de música e palmas nos cultos porque assemelhavam os encontros cristãos aos pagãos. Na época da Reforma protestante sabemos que Lutero concordava com o uso de hinos e até compôs vários, mas Zwinglio, seu contemporâneo e grande reformador do norte da Suíça era contrário ao uso de música. No período dos grandes avivamentos na América a música era muito usada, mas o pastor da Primeira Igreja Batista de Boston, Charles Chauncy (pastor nessa igreja entre 1735-43) batalhou contra o emocionalismo exagerado que essas músicas traziam aos cultos. O debate é antigo e não tem conclusão à vista.

A questão da adoração que encontramos no Antigo Testamento era ligada à idolatria. O Senhor corrigia seu povo sempre que se dedicava a adoração de falsos deuses. Mas adoração idólatra é tanto aquela que adora um falso deus quanto a que tenta adorar o verdadeiro Deus falsamente e contra isso o Senhor também falou, basta lembrarmos de Isaías 1: 11 a 20 ou 58: 1 a 14. Hoje, a Igreja corre o risco de cair em ambas as formas de idolatria: adorar líderes-carismáticos, estrelas da musica evangélica, bandas e canções de sucesso e/ou adorar por todas as razões que não a única válida, o louvor do Senhor. Recordemos alguns pontos chaves da verdadeira adoração.

1) A ADORAÇÃO TEM O FOCO NO SENHOR
Parece que cada vez mais o foco do louvor é o bem-estar do adorador. Musicas e estilos que agradem o ouvido e emocionem a plateia. Certamente vai haver emoção, mas nenhuma adoração. A pergunta certa para o louvor não é que tipo de louvor queremos, que tipo de louvor agrada o visitante, que tipo de louvor esta no top das rádios evangélicas. Isso é levar a adoração para o reino da carne e só resultará em idolatria. A pergunta certa é: Que Louvor agrada o Senhor? A Adoração é para ELE, logo é ELE que tem que ser agradado e não nós.

Por outro lado, se o foco é o Senhor, então é ELE que deve ser lembrado após o louvor. Uma adoração em que sobressai um cantor, uma banda, um líder ou mesmo uma canção rouba a honra que é devida só a Deus. Já o salmista clamava "não a nós Senhor, mas ao teu nome dá Glória". Essa prática atual de entronizar artistas e líderes de adoração é a antítese do louvor que a Bíblia advoga.

2) ADORAÇÃO É FRUTO DE EXPERIÊNCIA
Adorar (falar bem, exaltar, elogiar) é algo natural ao ser humano. Diariamente o fazemos. Quando comemos algo saboroso logo exaltamos a cozinheira. Quando vemos algo bonito logo soltamos expressões de admiração. Quando lemos um livro bom e electrizante logo recomendamos o escritor. Quando ouvimos uma música cativante logo cantarolamos o refrão. Quando vemos um atleta fazer algo extraordinário (um gol bonito, uma cesta difícil, etc.) logo louvamos seu gesto por vezes com exuberância (se for da nossa equipe). O Louvor é natural ao ser humano.

Adoração verdadeira nasce de experiência com Deus. Se lermos seu livro, se saborearmos suas bênçãos, se virmos sua glória, se percebermos sua actuação não há como não louvar. Nosso problema é passar uma semana inteira sem tomar conhecimento dele e depois irmos a um local de culto para o adorar. Não admira que nessas circunstâncias precisamos que o grupo de louvor desperte em nós algo. E esse algo dificilmente será louvor sincero. Vai ficar bem mais perto de idolatria.

Um ato de adoração experimental, comum no Antigo Testamento e muito útil para compreender o louvor, era a prática de dar nomes a Deus. Se notarmos no AT os nomes de Deus são muitas vezes compostos. Eram Jeová-Shaddai por exemplo. Esses nomes surgem de experiências práticas com o Senhor que levavam a uma nova compreensão do Senhor. Por exemplo: Jeová-Nissi, o Senhor é a nossa bandeira, depois de uma vitória militar em que a bandeira permaneceu inabalável. Nosso louvor deveria ser assim, natural, fruto de experiência e acrescentando conhecimento e compreensão do Senhor.

3) ADORAÇÃO, SEGUNDO JESUS, É VIDA!
Jesus deixou claro que tipo de adoração Deus desejava em João 4: 23 e 24. No encontro com a samaritana o Mestre explicou de modo específico que Louvor Deus deseja e procura: Em Espírito e em Verdade. Em Espírito ao contrário de em superfície, em carne. Os samaritanos, assim como nós, estavam demasiado presos às formas. Queriam saber onde adorar, com que liturgia, com que liderança, com que grupo de louvor. Jesus disse que isso não era minimamente importante. Louvor que depende de formas é proveniente da carne. Satisfaz as emoções, mas fica-se pela epiderme. É como receitar uma pomada para quem precisa de um injectável. É somente uma solução paliativa e certamente não vai curar.

Adorar em Espírito é adorar para além das emoções e do raciocínio. É adorar naquele nível que só se atinge quando nascemos de novo. Só o Espírito renascido pode ter comunhão com Deus. A Bíblia fala de paz que excede o entendimento (Filipenses 4:7) ora essa paz acontece no Espírito. O verdadeiro louvor é desse nível. É também adoração que surge na direção do Espírito Santo, e essa certamente será do agrado de Deus.

Adoração em Espírito tem, evidentemente, a ver com a Verdade. Verdade da Vida do adorador, das palavras, dos atos de louvor. Um adorador como Deus procura é alguém que vive uma vida com ELE. Conhece-o bem e por isso mesmo não pode deixar de o adorar. E quando abre a boca, seja em palavras, em cânticos ou discursos, o que sai é pura verdade, reflete experiência, mostra intimidade. Podemos tão facilmente perceber se o louvor que nos dão é genuíno ou não, porque então não somos capazes de entender o louvor que DEUS merece? Sabemos quando alguém nos quer apenas bajular e isso é, em ultima análise, ofensivo. Porque entendemos que para o Senhor não será?

4) O LOUVOR AUTÊNTICO DEMANDA EXCELÊNCIA
Uma adoração genuína e que agrade a Deus exige de nós excelência moral e artística. Excelência moral. Vidas que caminham no rumo da santificação e que por isso podem levantar mãos santas. Vidas que não fazem do louvor um comércio, mas uma forma de ser e estar no mundo. Vidas que brilham com a glória do Senhor em vista. Mas também excelência artística. Excelência da música, da letra, da apresentação. Musica para Deus tem que ser a melhor. As letras têm que ter conteúdo e valor e não apenas refrões chamativos. A apresentação tem que ser honesta, digna e não apelativa ou apeladora. Louvor ao Senhor tem que ser o melhor de tudo.

5) ADORAÇÃO É ATITUDE
As principais palavras no Antigo e Novo Testamento para adoração são Schachah e Proskunai respectivamente e são traduzidas por prostração. Proskunai é por exemplo a palavra usada em João 4 para falar de adoração. Parece que adorar tem a ver com prostrar-se. Adorador é o que reconhece a superioridade do Senhor e cai de joelhos com o rosto em terra diante da sua presença. Essa onda moderna de querer mostrar intimidade com Deus falando com ELE com palavras de gíria urbana pouco têm a ver com adoração bíblica. O Senhor é Pai mas é também o Todo-Poderoso, Senhor do Universo, Criador e sustentador de toda Vida. Como nos lembra Aelrod no texto inicial, há que mostrar temor de Deus na adoração. Intimidade não se pode inventar e não tem a ver com algo que se mostra apenas em público. Cansamos de cantar que nos rendemos, nos prostramos, entregamos a vida e depois saímos do culto e dirigimos nossas vidas em ter a menor preocupação com o que a Palavra diz ou o Espírito orienta e ainda respondemos: é a vida!

Uma adoração superficial agradará a carne e pode satisfazer a alma momentaneamente. Exatamente como um concerto de uma boa banda de pop ou a apresentação de uma orquestra conceituada. Mas isso passa rápidamente. Logo é preciso um novo concerto, um novo show para manter o nível da adrenalina. Uma adoração epidérmica deixa de ter efeito minutos após o culto, por vezes ainda no estacionamento da igreja quando alguém fecha nossa saída.

Meditemos nisso. Precisamos de aprender a adorar. Chorar nosso pecado, nossa idolatria e clamar por sabedoria e autenticidade no louvor. Há urgência de experiência genuína com Deus que resulte em adoração em Espírito e em Verdade.

Ó Pai, faz de nós verdadeiros adoradores!

Mudou Minha Vida!

Um testemunho fácil de se ouvir hoje em dia é esse: Aquele encontro mudou minha vida! Aquele sermão mudou minha vida! Foi uma viagem que mudou minha vida!  Esta música mudou minha vida... e por aí vai. Numa rápida pesquisa na internet encontramos literalmente centenas de testemunhos de como um orkut, uma poesia, um filme, uma academia, um remédio, um produto de beleza, uma dieta, uma paisagem, mudou a vida de alguém. Será? Será mesmo tão fácil mudar vidas?

Lembro-me, certa vez, de ter sido convidado a ser vendedor/promotor de uma gama de produtos. A explicação era simples: havia toda uma gama de produtos de certa marca. Eram supostamente os melhores do mercado. Através de um sistema elaborado eu podia comprá-los e promovê-los. Tudo que eu gastasse e conseguisse que outros gastassem reverteria para mim. Se um dos meus compradores angaria-se mais vendedores também reverteria para mim. No fim, eu ficaria rico e quase não precisaria trabalhar. Resolvi ver como funcionava.

Numa bela noite veio então à minha casa uma advogada, que era nos seus tempos livres promotora do material, para me explicar melhor. Ela começou dando um testemunho curto e claro do tipo "antes disso" e "depois disso". Segundo a sua palavra, aquele produto mudara sua vida completamente e lhe trouxera razão de viver. O testemunho foi brilhante e convincente. Aquela advogada separara tempo de sua noite depois de um dia de trabalho para vir a minha casa dar seu testemunho. Quando ela saiu eu estava arrasado! Não restava nenhuma dúvida em mim que NÃO teria nada a ver com aquele material. O testemunho que ouvira deveria ter sido dado por mim, mas sobre JESUS e isso me envergonhara! O que aquela mulher viera fazer em minha casa eu deveria ter feito, mas sobre o poder do evangelho.

Num tempo de soluções rápidas queremos comida rápida, transporte rápido, comunicação rápida, educação rápida, informação rápida, remédios rápidos. Para nós hoje, rápido é bom, rápido é bonito. O problema é que queremos também relacionamentos rápidos, sabedoria rápida, mudanças de vida rápidas e isso não existe. Relacionamentos levam tempo para se tornarem significativos. Sabedoria só se adquire com o passar dos anos e o amadurecer das experiências. Vidas não se mudam de um momento para o outro. Vidas não se transformam num culto, num congresso ou num retiro, por melhor que seja, por mais famoso que seja o pregador e melhor que seja o louvor. Vidas são formadas por hábitos que se adquirem e se perdem com tempo, prática e paciência. Não são mudadas de um momento para o outro. É um processo que as muda, não um evento.

A Igreja tem sido culpada de criar crentes dependentes de eventos. Temos toda uma geração de viciados em eventos. Vivem precisando desses acontecimentos para "encher as baterias". Nunca aprenderam a se alimentar da palavra. Não sabem o que é vida de oração. Desconhecem as profundidades da comunhão e por isso dependem da emoção fácil dos eventos, que ameaça transformar, mas cuja mudança não passa da epiderme, não dura mais que alguns efervescentes momentos.

Muito do que fazemos hoje na igreja acontece exatamente por isso. Precisamos de campanhas de evangelização porque os crentes não evangelizam, não são capazes de contar aos outros sobre Jesus porque Ele na verdade significa pouco para eles. Precisamos de congressos de missões porque as igrejas não se interessam pela obra missionária. Só se lembram dos campos quando mostramos vídeos e informações dramáticas sobre a realidade dos que morrem sem ouvir falar da Cruz. De evento em evento vamos tentando suprir o que apenas uma vida de comunhão diária com Deus e uma igreja verdadeiramente "Família de Deus" pode dar. Muitos de nossos pastores se tornaram mestres em mensagens de auto-apoio, pregações psicologicamente corretas, leves e agradáveis, mas que não levam a presença do Todo-poderoso, não aprofundam o conhecimento da palavra, não podem realmente ajudar a mudar vidas.

Jesus veio prometendo vida nova, abundante, transbordante. E ela existe, é real, é espantosamente rica e abençoada bem como abençoadora. Mas há que pagar um preço, entrar pela porta estreita, caminhar no caminho apertado, negar-se a si mesmo, tomar a cruz e ser discípulo do Senhor diariamente. Isso tudo tem seu preço. A graça barata oferecida hoje em muitos templos é como produto de loja chinesa, bonito no pacote, mas quebra quando se abre a embalagem. Graça SIM, barata NÃO! Louvemos pela graça e façamos a nossa parte para viver vidas transformadas pelo Senhor a cada novo dia.

Peixe, Perfume, Madeira e Fumaça!

Nossa memória olfativa é extraordinária. Somos capazes de guardar muitos cheiros e por meio deles nos recordarmos de lugares, ocasiões e pessoas. Algumas de nossas melhores recordações estão ligadas a cheiros. Pense no cheiro do seu quarto, no perfume de sua avó querida ou no aroma da cozinha em dia de festa!  Pode ser a colónia que usamos em certa ocasião ou que a pessoa amada usava quando nos conhecemos. Não é comum cheirarmos a roupa de um ente querido que partiu na tentativa de senti-lo perto de nós?

Que cheiros cercariam Jesus? Que aromas encheriam o ar perto dele quando andou por este mundo? Por qual cheiro recordaríamos a presença do Filho de Deus neste nosso planeta e o que esses odores nos ensinam sobre o que Ele representa? Meditando nisso pensei em 3 cheiros que certamente marcaram a vida de Jesus e pelos quais o conheceríamos ou lembraríamos. Pense comigo.

1) Madeira
Jesus foi carpinteiro até os 30 anos. A maior parte de sua vida foi gasta numa oficina rude trabalhando madeira. O cheiro de madeira recém cortada certamente seria uma de suas marcas.

Tenho recordações gostosas do cheirinho de madeira da oficina de meu avô Edmundo, que foi marceneiro. No Alto da Lapa, em São Paulo, eu me sentava no chão sob o efeito macio de um montinho de serradura brincando com os pedacinhos de madeira que sobravam de seus trabalhos. Até hoje tenho que parar quando passo por uma oficina de carpintaria e, apesar de entender pouco do assunto, amo trabalhar com madeira, em boa parte por causa dessa recordação.

O Cheiro a madeira em Jesus nos lembra Trabalho. Ele sempre valorizou o serviço, sempre trabalhou e parte de suas analogias do reino foram sobre trabalhadores. Deus nos criou com a capacidade de ocuparmos nossos dias com algo produtivo e desse modo também somos bênção para o próximo. Lembrar que meu Senhor cheirava a madeira me faz valorizar meu trabalho diário. Ele o fez, certamente quer que eu o faça!

2) Peixe
Jesus escolheu seus discípulos de entre o povo simples da Galiléia. Seu núcleo mais chegado era formado por Pedro, Tiago e João (num barquinho) e eles eram todos pescadores. Jesus fez de Cafarnaum, cidade piscatória, seu quartel-general. Ministrou junto ao lago, usou um barco como púlpito e multiplicou peixinhos. Sabemos que o peixe tem um cheiro forte que se impregna e dificilmente sai. Perto de Jesus cheirava a peixe!

Saber isso me faz pensar na simplicidade do Senhor. Ele não escolheu os palácios de Jerusalém ou Roma para circular. Viveu, trabalhou e ministrou entre o povo simples. Não se importou de cheirar a peixe mesmo que isso representasse algum desprezo de seus adversários. Ele veio exatamente para esse povo simples e oprimido que mais facilmente se aproximava da mensagem do evangelho. Meu Senhor cheirava a peixe e isso me faz lembrar de manter a simplicidade quando o mundo pede sofisticação.

3) Fumaça
Muitas vezes vemos nos evangelhos o Senhor ministrando à volta de uma mesa de refeição. Nesse local privilegiado de convívio Ele falava de coisas profundas e mexia com os corações. Os recintos onde se reunia com as pessoas eram iluminados por lâmpadas de azeite que deitam uma fumaça característica que enche o ar e fica nas roupas dando-lhes um aroma distinto de fumo que o Senhor conhecia bem. Jesus cheirava a fumaça!

Lembrar disso me faz ver o quanto era importante para Jesus a comunhão. Ele instituiu a Ceia no meio de uma refeição comunitária. Não foi um pedacinho de pão ou um gole de vinho. Foi um banquete de celebração em que esses elementos em abundância serviram para falar de seu sacrifício. Os ágapes da igreja primitiva eram assim também, festas com mesa farta e a celebração da ceia no seu contexto.

Jesus desejou que a igreja fosse uma família, uma comunidade onde a unidade fosse marca distinta e atrativa. Ele não nos legou uma instituição, uma organização ou um projeto social, mas uma irmandade unida pelo seu amor a nós, o nosso amor ao próximo e a busca de viver dentro de sua vontade. O cheiro a fumaça nas vestes de Jesus eram o cheiro dessa comunidade.

4) Perfume
Sendo verdade que Jesus cheirava a madeira, peixe e fumaça também é bíblico dizer que muitas vezes cheirou a perfume. No seu nascimento os magos trouxeram perfumes caros como presente e Maria pode ter usado isso para perfumar a casa. Na sua vida e ministério lemos das ocasiões em que mulheres banharam seus pés com perfumes caros em testemunho de seu amor pelo Mestre e o texto diz que esse cheiro encheu a casa. Em sua morte foi untado com esses odores ricos para retardar uma decomposição que nunca aconteceria. Meu Senhor cheirava a perfume caro também!

Verificar isso me recorda o sacrifício, a dedicação extravagante de quem era capaz de despejar num único ato de amor todo um ano de salário aos pés do Senhor. Esse mesmo amor extraordinário que ELE retribuiria de modo perfeito e cabal dando sua própria vida por nós. O cheiro de perfume nas vestes do Mestre nos lembram que servi-lo requer dedicação, serviço altruísta, amor extravagante e apaixonado. Conhecer Jesus de verdade é ficar louco por Ele!

Os cheiros à volta de nosso Senhor são paradoxais como sua vida e mensagem. Aparentemente peixe e perfume não combinam. Mas ELE veio combinar o incombinável, juntar o aparentemente irreconciliável e nos ensinar a viver de verdade.

Respire fundo, sinta os cheiros e VIVA!

A caminho da Clandestinidade!

A Igreja em nossos tempos, se quiser continuar fiel às escrituras e às leis de Deus e, ao mesmo tempo evitar confrontos com as autoridades seculares deverá caminhar no sentido da clandestinidade. Essa é a conclusão lógica que chegamos se avaliarmos a direção que as legislações tem tomado e a necessidade de sermos, por um lado, fiéis às leis dos homens sem por outro lado irmos contra a lei de Deus.

Durante as últimas décadas a Igreja se beneficiou do estatuto de pessoa jurídica que lhe deu vantagens diante das leis com benefícios fiscais diversos e isenções de taxas. Os governos estão agora mudando de atitude e apertando o cerco à Igreja. Acham-se no direito de exigir das igrejas certas atitudes que não condizem com as escrituras. Em muitos lugares do mundo ocidental, por conta de um crescente liberalismo, vemos governos começando a querer impor à igreja leis e regras que a levarão a atitudes anti-bíblicas.

Tomemos um exemplo simples: o casamento homossexual. Alguns países já o tornaram legal, como é o caso recente de Portugal. As Igrejas reconhecidas pelo estado, por outro lado, tem o direito de fazer casamentos religiosos com valor civil, ou seja, se as regras forem cumpridas o casamento feito na igreja pode valer pelo do cartório. Se somarmos essas duas coisas poderemos chegar ao dia em que uma dupla homossexual pode exigir fazer seu casamento numa igreja, com pompa e circunstância. Terão direito legal a isso. E a Igreja que se recusar estará indo contra a lei. O que faremos?

A Bíblia é clara no seu ensino sobre as autoridades. Somos chamados a ser cidadãos exemplares. Devemos ser os primeiros a obedecer, pagar os impostos, seguir as regras. Paulo deixou isso claro em Romanos 13:1 a 7 por exemplo. Mas a mesma palavra nos diz que quando as leis humanas nos querem forçar a ir contra as leis divinas devemos dar preferência sempre ao Senhor. Basta lembrarmos um exemplo do Antigo e outro do Novo Testamento: Em Daniel 3 lemos da recusa dos amigos de Daniel em se curvar diante da estátua de Nabucodonosor; em Atos 4:19 Pedro responde ao Sinédrio que mais vale ouvir a Deus do que aos homens. Em ambos os casos o Senhor abençoou seus filhos.

A solução parece bastante óbvia. A Igreja, para se manter fiel à palavra e não se tornar anti-bíblica vai caminhar para a clandestinidade. Teremos, provavelmente, que voltar aos primórdios, quando a igreja se reunia nos lares. Esse foi o inicio do Cristianismo e foi exatamente por causa desse inicio que o evangelho prosperou e ganhou o império Romano.

Desde Jerusalém  até às cartas de Paulo encontramos registros da Igreja fazendo seus cultos nos domicílios dos crentes. Notemos algumas vantagens significativas desse tipo de reuniões:

- Oferecia um ambiente caloroso para a comunhão dos crentes;

- Dava à igreja uma experiência prática de família de Deus;

- Favorecia muitíssimo a integração dos novos convertidos;

- Permitia uma entreajuda muito mais significativa dos crentes de cada pequeno grupo;

- Fortalecia muito o senso de pertença ao grupo;

- Servia de base para a formação de líderes permitindo a muito mais crentes exercerem seus dons e talentos;

- Vencia o problema da construção e manutenção de prédios que tanto dificulta as igrejas modernas;

- Incorporava de modo magnífico as virtudes da hospitalidade Cristã;

- Era um modelo que permitia um crescimento e multiplicação mais rápido pois adaptava-se em qualquer cultura e lugar do mundo;

- Era muito mais eficaz no ensino e no discipulado por permitir uma interação mais próxima entre pastor e ovelha;

Conscientes dessa realidade as igrejas devem começar a se ajustar. Algum tipo de encontro doméstico deve ser iniciado. Podemos chama-lo grupos familiares, pequenos grupos, igrejas nos lares, grupos de comunhão ou outro nome que ajude a entender seu objetivo. As Igrejas que tiverem esse tipo de ministério poderão mais facilmente se adaptar a uma provável mudança. As que insistirem em manter apenas o estilo tradicional correrão riscos, porque quer queiramos ou não o caminho para nós é o da clandestinidade.

Como destruir seu Ministério em 7 passos!

O título parece tirado de algum manual de auto-ajuda, desses que fazem sucesso no mercado evangélico atual. Perdoem-me os leitores habituais deste blog, mas não resisti à tentação de usar um título assim. Na verdade, queremos gastar algum tempo meditando no reinado de Saul, conforme o relato de I Samuel, e na forma como começou tão bem e terminou tão mau.

Saul foi a resposta dada ao povo de Israel quando pediram a Deus um Rei. Era fisicamente portentoso. Foi escolhido e ungido por Deus (10:24) e começou bem, cheio do Espírito Santo e com uma vitória esmagadora sobre os amonitas (11:6 e 11). Mas logo o vemos decaindo e se tornando um estorvo para o desenvolvimento do povo. Analisa sua queda e aprenda como destruir um ministério em apenas 7 passos!

1) TENTANDO MELHORAR O PLANO DE DEUS
Saul era um indivíduo pouco paciente. Era dado a rompantes de mau humor e isso lhe custou bastante caro. A certa altura não quis esperar pelo sacrifício. Sabia que a ordem clara de Deus era que apenas os sacerdotes podiam oferecer os sacrifícios. Mas ele não quis esperar. Era Rei e podia "melhorar" o plano de Deus. Então ofereceu ele mesmo o holocausto (13:9) apenas para ver chegar Samuel logo a seguir e repreende-lo publicamente.

Pouco depois o Senhor ainda lhe dá outra oportunidade ao orientar a destruição dos Amalequitas. As ordens foram explícitas, mas Saul achou que podia fazer melhor e guardou os animais para um sacrifício (15:9 e 21). Ele queria adorar, mas do seu jeito. Achava que podia melhorar o que Deus estabelecera. Eis um passo garantido para fazer cair um ministério.

Há diretrizes muito claras na Palavra. A responsabilidade primeira dos servos de Deus é para com ELE e sua palavra. Não há ciência humana válida quando suas diretrizes são contrárias à Palavra. Não temos como "melhorar" o plano do Senhor. Temos é que conhecê-lo e obedecer, ou veremos nosso ministério cair.

2) PREOCUPANDO-SE COM O QUE OS OUTROS PENSAM
Saul preocupava-se demasiado com a aprovação do povo. Cedeu ao povo na separação dos animais dos Amalequitas (15:21 e 24). Em vez de obedecer o que sabia ser o certo, temeu o povo e sua opinião. Depois, ao ser rejeitado por Deus e pela palavra dura de Samuel, em vez de se arrepender e cair em contrição (como Davi irá fazer mais tarde ao errar) ele continua preocupado com livrar a face diante dos anciãos (15:30). Estava tão preocupado em ouvir a voz do povo que vai simplesmente deixa de ouvir a voz de Deus.

O ministro precisa ser capaz de estar suficientemente próximo do povo para poder ouvi-lo, mas não pode se deixar levar pelo populismo. Temos que ouvir aqueles a quem ministramos, mas não podemos deixar que essas opiniões guiem nosso trabalho. A vida é curta e a opinião pública demasiado volátil para nos deixarmos guiar pelo que os outros pensam. A única opinião realmente importante é a do Senhor. Ouçamos, avaliemos, mas roguemos o discernimento para ser guiados pelo Espírito e não a carne. O ditado que diz que "a voz do povo é a voz de Deus" é espúrio e não se encontra na Bíblia.

3) FUGINDO DE SUAS RESPONSABILIDADES
Quando o povo pediu um rei uma das principais razões era ter um líder que os dirigisse em batalha (8:20). Queriam ter, como os outros povos, um campeão que os liderasse em guerra. Logo, Saul tinha essa responsabilidade. Quando Golias, o gigante de Gate desafiou Israel (17:8) o desafio era em primeiro lugar para Saul e ele fugiu de sua responsabilidade. Tremeu e temeu (17:11) e tentou escapar prometendo mundos e fundos a quem enfrentasse o gigante (17:25). Fora eleito para isso mas não assumiu!
No ministério há tarefas que não agradam. Algumas fazemos com mais facilidade e prazer pois tem a ver com nossos dons e talentos. Outras são mais difíceis mas igualmente necessárias. Aquela visita incómoda, aquele aconselhamento cansativo, aquela situação que pode até trazer medo e insegurança também faz parte do ministério e não podemos fugir. Deixar de assumir nossas responsabilidades é passo certo para destruir nosso ministério.

4) IMPONDO AOS OUTROS SUAS ESTRATÉGIAS
Saul não somente não assumia o que era seu dever assumir como queria dizer aos outros como fazer seu trabalho. Quando Davi se dispõe a corajosamente enfrentar o inimigo que Saul temia, este tentou lhe impor sua armadura (17:38). Era evidente para qualquer que olhasse que eles tinham estaturas diferentes, corpo diferente. Como poderia Davi lutar com a armadura de Saul? Seria o orgulho de depois dizer que o jovem vencera usando suas armas? Seria a consciência pesada sabendo que era ele que devia ir lutar?
O Senhor não abençoa armaduras, abençoa pessoas. ELE não abençoa estratégias, planos, métodos, abençoa homens e mulheres submissos. Não interessa se um plano foi provado e funcionou anteriormente. Pode ser maravilhoso! A questão não é essa e sim; "será o caminho de Deus nesta situação?" Muitas vezes a tentativa de impor sobre os outros nossos próprios planos apenas mostra nossa fraqueza e a incapacidade de perceber que o Espírito não habita em estratégias feitas por mentes de homens. ELE pode até dar a estratégia, mas a visão tem que ser individual e própria para o momento, o local e as pessoas. Para Davi era simplesmente uma funda e 5 pedrinhas.

5) INVEJANDO OUTROS MINISTÉRIOS
Davi foi bem sucedido em tudo que fazia. Seu "ministério" floresceu e logo Saul passou a invejá-lo mortalmente (18:8). Invejava o sucesso de Davi, a aprovação da multidão, as palavras elogiosas que eram dirigidas ao jovem. Tudo em Davi passou a ser odioso para ele até ficar completamente cego de ciúme, deixar de governar para perseguir o outro. Destruiu assim seu reinado facilitando a tomada de posição dos filisteus.

Tristemente vemos isso refletido em nosso meio. Parece que só conseguimos apreciar ministérios grandes e populares. Olhamos para os números! Não há nada de errado com números, mas, o certo é que revelam pouco. Há muitas maneiras de se obter números e nem todas são de Deus. A mentalidade que valoriza apenas ministérios grandes é a mesma que se impressiona com Golias, vendo apenas o tamanho.

Daí o pastor cuja igreja não cresce, em vez de se humilhar e buscar ao Senhor para saber o que fazer , passa a fazer uma campanha contra o outro ministério, procurando as suas possíveis falhas. E, é claro que as encontrará. Não é difícil, todos os ministérios têm pontos menos positivos. Mas não foi para isso que fomos chamados. Não fomos eleitos para ficarmos criticando ou lutando contra outros ministérios. Esse tipo de inveja tem destruído congregações, separado igrejas e esgotado servos que poderiam ser bênção.

Se outro é abençoado, devo louvar e aprender. Louvar por vidas que estão sendo alcançadas e pelo agir do Espírito. Aprender com o que há de certo, de inspirativo, de exemplar. Não é copiar. Copiar é trabalho de máquina de fotocópias. Mas podemos e devemos observar e ver o que de bom posso aplicar a minha vida e trabalho.

6) DISCIPLINANDO ERRADAMENTE
Este ponto está intimamente ligado ao anterior. A inveja do sucesso de Davi vai levar Saul a uma de suas maiores atrocidades. Movido pelo ciúme e levado pela intriga vai matar os sacerdotes de Nobe (Cap. 22). Esse ato de disciplina extremo é movido pela denúncia de um homem mau, aproveitador e oportunista (Doegue) e será uma das maiores manchas do reinado de Saul. Foi uma disciplina motivada por ciúme e descontentamento e nada teve a ver com as verdadeiras razões para uma disciplina.

A disciplina faz parte da vida da igreja e de qualquer ministério. Feita cuidadosamente, é um ato de amor à igreja e aos crentes, bem como ao próprio infrator porque tem como alvo final a sua recuperação. Trata-se de algo necessário e útil à vida da igreja.

Infelizmente, muitas vezes a disciplina eclesiástica é usada para afastar pessoas vistas como concorrentes ou membros que mostrem discordar de certas linhas tomadas pelo ministério. Por vezes, surge motivada por denúncias falsas ou mal intencionadas, não devidamente verificadas e nesses casos demonstra falta de segurança do ministro. A disciplina feita a pensar no cargo é sempre um péssimo princípio e um passo no caminho da destruição do ministério.

7) RECORRENDO A QUALQUER ARTIFÍCIO
PARA FICAR NO TOPO
Saul errou tanto, desprezou tanto o governo, que o fim tinha que chegar sem apelação. Os Filisteus percebendo sua fraqueza e sabendo que não contava com seu mais precioso elemento (Davi) lançaram novo ataque que prometia ser fatal para Israel ou pelo menos para o reinado. Saul desespera. Presente que não vai escapar desta investida e recorre a uma feiticeira em Endor (cap. 28). Aqui não cabe uma discussão sobre o que acontece nesse episódio. A verdade que quero realçar é que Saul recorre a um artifício que sabia ser contrário à vontade de Deus. Ele mesmo expulsara os feiticeiros da terra (28:9), mas agora recorre a uma. Medida que só poderia acabar como acabou, com sua morte na batalha seguinte.

Os ministérios são como tudo na vida. Têm princípio, meio e fim. Saber acabar é tão importante quanto saber começar e crescer. Infelizmente, algo comum na vida espiritual é começar bem e acabar mal. Por vezes, verifica-se que para se manter num cargo ou ministério o ministro recorre a artimanhas que provavelmente denunciou anteriormente. Isso é sinal de que as coisas estão muito mal e se perdeu de vista a obra de Deus e a importância da igreja.

Quando contrastamos a naturalidade com que Davi passou seu reinado e morreu em paz com a agonia de Saul no campo de batalha fica mais uma vez patente porque o salmista era um homem segundo o coração de Deus. Encarar com naturalidade o fim de um ministério faz parte da maturidade desejada nos servos do Senhor. Louvo a Deus por líderes que tenho conhecido e que souberam sair bem, delegando responsabilidades e passando o ministério na hora certa de Deus.

Conclusão: Saul fica como um triste testemunho do que não deve ser feito. Como tantos outros reis, ele começou bem e terminou mal. Outros exemplos como Salomão ou Uzias servem de alerta. Que estes passos possam ser evitados por nós em nossa caminhada no serviço do Senhor.
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