Natal: Festa Cristã ou Celebração Pagã?

Fui criado festejando o natal como uma das maiores celebrações do ano. Como a maioria das crianças eu a esperava pelos presentes que estariam debaixo da árvore. No entanto, sempre tínhamos o culto doméstico de natal e ao fazê-lo papai e mamãe lembravam que natal era Jesus e não os presentes ou a refeição especial. Com a idade aprendi a entender melhor o que natal realmente significava e tenho procurado fazer o mesmo com os meus filhos. Ultimamente temos visto uma campanha contra o natal crescendo no meio evangélico. Já são muitos os que o descartam de modo directo sob a alegação que se trata de uma festa totalmente pagã e que não pode ser festejada por cristãos biblicamente sãos. O debate pode parecer novo mas não é. Os puritanos na Inglaterra e no EUA rejeitaram a festa como pagã já no século XVII. Durante dois séculos lutaram contra ela até que se tornou feriado oficial nos EUA em 1870. Nesse período, congregacionais, quakers e anabatistas concordavam com os puritanos.


Não gosto de fugir dos debates. Creio que devemos examinar as evidências e julgar com discernimento. Entendo que os símbolos não são destituídos de significado ou função e que os devemos usar com critério seguro e consciência pura. Diante disso olhamos para o natal, sua origem, data e símbolos na procura de respostas as perguntas: O natal é cristão ou pagão? De onde vem sua data? É a data real do nascimento de Jesus? Os símbolos natalícios são de que origem? Quais os que podem ser usados por crentes em Cristo? Devemos rejeitar o natal ou há algo nele que o Cristão pode aproveitar?

Natal – A Festa
Não encontramos na Bíblia uma festa do nascimento de Jesus. Mas a verdade é que no Novo Testamento não encontramos propriamente celebrações cristãs a não ser a ceia do Senhor e os cultos dominicais. Os cristãos, pelo que lemos em Atos e pelo que encontramos nas cartas de Paulo, reuniam-se nos domingos e celebravam a ceia do Senhor. Isso não quer dizer que não celebravam festas. Os cristãos judeus continuavam provavelmente a celebrar as festas judaicas. Não temos relato bíblico mas a história nos diz que a morte de Jesus e sua ressurreição seriam celebrações bem antigas. Mas é de lembrar que cada domingo era no fundo uma celebração da ressurreição. Nos relatos históricos não encontramos a igreja festejando o natal de Jesus antes do 3º século. Os Pais da Igreja Irineu e Tertuliano omitiram essa celebração em suas listas de festas e Orígenes referia que na Bíblia apenas os pecadores celebravam seus aniversários. O mais comum era lembrar a data da morte de alguém importante como no caso de Jesus. As primeiras menções à celebração do natal de Jesus vêm de Alexandria, no Egipto por volta de 200 D.C, mas seriam feitas a meio do ano provavelmente em Maio. Nos séculos 3 e 4 a festa se tornou mais generalizada e em 385 temos um relato da mesma em Jerusalém havendo sua menção num almanaque da Igreja de Roma em 336. (ver notas na Enciclopédia Católica). Oficialmente ela teria sido instituída pelo papa Libério em 354. Oficialmente foi tornada feriado cívico pelo imperador Justiniano em 529 D.C. A partir de então a festa foi se generalizando havendo algum debate sobre sua data que persiste até os nossos dias já que nas igrejas de influência oriental ainda temos as maiores celebrações acontecendo em 6 de janeiro. O fato marcante é que a festa se tornou um marco do calendário Cristão. 

Natal – a data
Talvez a maior alegação de paganismo atribuído ao Natal tenha a ver com sua data em 25 de Dezembro. Afinal quando nasceu Jesus? Porque se festeja em 25 de Dezembro? É legítimo fazê-lo? Uma coisa é certa – não podemos saber com certeza a data do nascimento de Jesus. Para alguns isso já é prova de que não se deve festejar essa data, porque se Deus quisesse, ter-nos-ia dado a data exacta. Parece um argumento um pouco forçado mas é digno de menção. Será no entanto importante notar que com esse argumento seria necessário rejeitar quase que qualquer festa na era Cristã.

Já foram defendidas muitas datas para o nascimento de Jesus. Os únicos dados que nos permitem especular são os do evangelho Lucano. Baseados na data de serviço de Zacarias no templo os autores eruditos colocam o nascimento por volta de Outubro. Lemos em Lucas 2 que os pastores estavam nos campos com seus rebanhos. Isso exclui Dezembro porque seria inverno e os pastores seguiam para os campos no fim da primavera por volta de Maio retornando no começo das chuvas que apareciam em Outubro/Novembro. Isso nos dá uma margem muito grande. A festa inicial celebrada no Egito parece ter acontecido em 25 de maio. Se sabemos então que o nascimento não se deu em Dezembro ou Janeiro porque são essas as datas escolhidas pelas Igrejas?

Entre os dias 17 e 24 de Dezembro se festejava no Império romano as saturnálias, festas ligadas ao inverno e que envolviam muita bebida, comida e orgias. No dia 25 de dezembro se festejava o natalis invictus, ou festa do Deus sol. Tinha a ver com a passagem do dia mais curto do ano e a certeza de que o sol voltaria a brilhar trazendo a primavera. Era uma festa pagã, ligada aos conceitos de fertilidade e de origem muito antiga já que a adoração do sol e da lua é dos primórdios da humanidade. Nos tempos do NT essa festa tinha sido reivindicada pelos adoradores de Mitra, um deus mesopotâmico, deus do trovão, também chamado sol da justiça e cujo mistério agradava muito aos romanos sobretudo as tropas. Festejar mitra em 25 de Dezembro já era uma adaptação. Outras festividades do inicio de Janeiro também eram comuns. Era uma forma de o povo lidar com as agruras de um inverno rigoroso que trazia muito frio e neve e que impossibilitava os trabalhos agrícolas. Assim sabemos que os povos germânicos do norte da Europa e os celtas tinham também celebrações essa época ligada a festas, ornamentação das casas e troca de presentes.
Certamente tudo isso pesou para que a data da festa do nascimento de Jesus viesse a se fixar em 25 de Dezembro. Inicialmente os líderes cristãos tiveram que condenar os excessos de época e alertar os cristãos a que não cedessem a esses festivais pagãos. 

Com o tempo porém tomaram outra atitude e trataram de contextualizar as celebrações. Aparentemente a primeira menção a essa data como nascimento de Jesus vem do ano 221 num escrito de Sexto Juliano Africano. Lemos que Cipriano de Cartago (bispo em 249) via a data como uma providência Divina já que o verdadeiro Salvador nascesse bem no dia em que se celebrava o nascimento do sol. Crisóstomo (bispo por volta de 398 D.C) ia mais longe e citava a festa do nascimento do sol invencível da justiça como referência correta a Jesus já que “Quem era realmente invencível como Jesus, o verdadeiro sol da justiça” (ver Malaquias 4:2). Esses relatos vêm do 3º e 4º século e mostram que a contextualização foi feita com consciência clara e propositada. 

Será aqui interessante lembrar que as maiores celebrações cristãs, baptismo e ceia do Senhor, não são festas ou rituais originais mas contextualizados por Jesus. O baptismo era usado pelos judeus a séculos e os adoradores de Mitra também usavam uma forma de batismo e falavam de novo nascimento dos neófitos. A ceia com pão e vinho era usada entre os judeus no simbolismo rico da Páscoa mas também entre todos os cultos pagãos de então. Na história do Cristianismo e de Missões muitas são os relatos de festas locais que são adaptadas para servir a Igreja sem que isso as tornasse impuras ou malignas. Com o tempo, o simbolismo pagão acabava por se perder totalmente.

Natal – as celebrações, a árvore e o presépio
Os jantares de natal e as ornamentações das casas se mantiveram das festas de inverno pagãs. As bacanais pagãs incluíam bebedeiras e comida em abundância. A decoração das casas tinha muito a ver com a época. Se na primavera e verão havia cor e flores já no inverno ficava tudo escuro e sombrio. Decorar as casas com objetos coloridos e luminosos era uma forma de alegrar a mesma. Banquetes por seu lado são a forma de festejar mais antiga entre os homens e não surpreende que aqui fizessem parte essencial da festa.  
Elemento que veio a se tornar central na festa é a árvore enfeitada. Aqui também a origem pagã parece clara. 
Os vários povos euro-asiáticos adoravam árvores sagradas dando a elas poder de intervenção na vida humana e vendo-as como habitáculo dos deuses. Desde o simples shamanismo que via as árvores como fonte de poder animal a outras formas mais elaboradas de culto o homem sempre se encantou com a beleza e força de algumas árvores. Vários povos tinham diferentes árvores sagradas. Os egípcios adoravam as palmeiras, os druidas celtas os carvalhos, os germanos os pinheiros e os romanos adornavam abetos no culto a Baco. 

No AT lemos dos povos cananitas adorando em lugares altos e sob árvores frondosas. Uma tradição antiga dizia mesmo que ninrode, neto de Noé, seria o iniciador do paganismo e depois de sua morte teria revivido na forma de um pinheiro que era adorado por seus seguidores dando origem as religiões orientais persas. 

É possível que a árvore de natal tenha tido essa origem mas não temos um relato claro disso. É igualmente provável que tenha havido uma contextualização que via em Jesus a esperança sempre viva exemplificada pelo pinheiro sempre verde mesmo nos tempos frios e escuros do inverno. Uma tradição dá a introdução desse costume a Martinho Lutero (1483-1546), autor da Reforma Protestante do século XVI. Olhando para o céu através de uns pinheiros que cercavam uma trilha, Lutero viu-o intensamente estrelado parecendo-lhe um colar de diamantes encimando a copa das árvores. Tomado pela beleza daquilo, decidiu arrancar um galho para levar para casa. Lá chegando, entusiasmado, colocou o pequeno pinheiro num vaso com terra e, chamando a esposa e os filhos, decorou-o com pequenas velas acesas afincadas nas pontas dos ramos. Arrumou em seguida papéis coloridos para enfeitá-lo mais um tanto. Era o que ele vira lá fora. Afastando-se, todos ficaram pasmos ao verem aquela árvore iluminada a quem parecia terem dado vida. Teria nascido assim a árvore de Natal. Há quem negue essa tradição, mas é firmemente aceita por outros. 

Já o presépio é atribuído a Francisco de Assis. A tradição católica diz que o presépio (do lat. praesepio) surgiu em 1223, quando São Francisco de Assis quis celebrar o Natal de um modo o mais realista possível e, com a permissão do Papa, montou um presépio de palha, com uma imagem do Menino Jesus, da Virgem Maria e de José, juntamente com um boi e um jumento vivos e vários outros animais. Nesse cenário, foi celebrada a Missa de Natal. O sucesso dessa representação do Presépio foi tanta que rapidamente se estendeu por toda a Itália. Logo se introduziu nas casas nobres europeias e de lá foi descendo até as classes mais pobres. Na Espanha, a tradição chegou pela mão do Rei Carlos III, que a importou de Nápoles no século XVIII. Sua popularidade nos lares espanhóis e latino-americanos se estendeu ao longo do século XIX, e na França, não o fez até inícios do século XX. Em todas as religiões cristãs, é consensual que o Presépio é o único símbolo do Natal de Jesus verdadeiramente inspirado nos Evangelhos.

Natal – A Figura do Pai Natal (Papai Noel, Santa Klaus)
Outro símbolo máximo do natal atual é a do velhinho gordinho e bem-disposto vestido de vermelho que percorre a noite de natal levando presentes as crianças que se comportaram bem ao longo do ano. Em seu trenó mágico, puxado por renas voadoras ele entra pelas chaminés ou janelas e colocar misteriosamente as prendas por baixo da árvore. É um dos mitos infantis mais populares do ocidente.

A ideia parece provir do bispo São Nicolau de Mira que viveu no século 5 apesar de haver histórias parecidas sobre o santo bizantino Basilio de Cesaréia venerado pelos gregos. O dia de São Nicolau no leste é o dia 6 de Janeiro, igualmente dia em que os magos teriam trazido seus presentes. O dia de São Basilio é 1 de Janeiro e assim as tradições de ofertar prendas variam de dia conforme a cultura. 

Nicolau seria um homem bondoso que daria dinheiro escondido a famílias necessitadas. Há uma história de que certo homem empobrecera e não tinha dote para suas três filhas que seriam vendidas como escravas. De noite, sob o manto da escuridão, Nicolau teria colocado 3 bolsas com moedas de ouro na lareira do homem salvando assim suas filhas. Relatos como esse deram origem a lenda e no norte da Europa, Alemanha e países baixos, a figura se ligou ao natal e ao dar presentes.

A evolução da figura é bem mais recente. Nos EUA ele se torna popular a partir da guerra revolucionária. Os americanos libertos do jugo inglês estariam procurando figuras anteriores a dominação colonial. Em Nova Iorque havia forte tradição holandesa já que a cidade tinha sido fundada por estes com o nome de Nova Amsterdam. Daí teria vindo a ênfase na figura de Santa Nicolaus ou Santa Klaus. Já em 1822 Clemente Clark Moore, um professor de literatura grega em Nova Iorque, escreveu um conto poema para seus filhos chamado “Uma visita de São Nicolau”. É nesse conto que o pai natal passa a viajar com renas e a entrar nas chaminés com presentes. Lembrando que as chaminés eram limpas nessa época para facilitar o aquecimento das casas e deixar entrar bons ares (bênçãos). O poema popularizou essa imagem e em 1886 o cartonistaThomas Nast da revista Harper`s weekly desenha e pinta o velhinho com uma roupa castanha esverdeada típica de lenhadores e caçadores. 

Na Europa ele era apresentado com roupas eclesiásticas de bispo mas a imagem de Nast ganha popularidade. Por fim em 1931 a Coca-Cola precisou fazer uma campanha de inverno já que as vendas caíam nessa época e escolheu o Pai Natal dando-lhe no entanto as cores da empresa, vermelho e branco. Essa campanha de marketing foi tão bem sucedida que esse passou a ser o novo visual da figura.

Essa imagem é claramente alheia ao natal nada tendo a ver com Cristo ou o sentido de seu nascimento. Ainda acresce que leva a mentiras contadas a crianças o que é notadamente anti-bíblico. Muitas crianças ligam a figura do Pai Natal a Deus e quando se desiludem de um acabam transpondo esses sentimentos ao outro julgando tudo mito e farsa.

Conclusões – Em que ficamos?
Tentemos então chegar a algumas conclusões diante dos fatos expostos. Gostaria de realçar que minha interpretação é a visão de um missionário que entende a necessidade da contextualização. Em toda a Bíblia encontramos esse fato. O Senhor sempre permitiu e usou a contextualização para a transmissão de sua verdade. Essa contextualização tem que ser crítica, cuidadosa e consciente, mas pode e deve ser bênção para a igreja e a propagação da Glória de Deus. Terei isso em conta em minhas avaliações finais.

Faz sentido festejar o nascimento de Jesus? Creio que sim. Somos ensinados na Palavra a celebrar o Senhor (Salmo 100:1) e a anunciar as suas maravilhas (Salmo 98: 1, 2 e 4). Não teremos razão para celebrar o nascimento do Salvador? Trata-se de um milagre/mistério maravilhoso e que mostra o amor de Deus por nós. Celebrar o nascimento de Cristo é festejar a graça de Deus, o milagre da encarnação, a prova maior de seu amor por nós em vir viver entre os homens em forma humana. Os anjos vieram anunciar seu nascimento e louvar. Nós os salvos podemos faze-lo e usar esse momento para anunciar as boas novas da chegada do Messias salvador e que essa é nova de alegria para todo povo em todas as culturas.

Faz sentido celebrar o natal em 25 de Dezembro? Como não sabemos a data real do nascimento de Jesus, qualquer data seria possível. Uma deverá ser convencionada. Creio que os pais da igreja ao usarem uma data já festiva e adapta-la a realidade da mensagem cristã nos deram um bom exemplo de contextualização. Nada temos a ver com festas ao sol e a mitra. A esmagadora maioria dos cristãos nunca ouviram falar disso. Festejam nessa data porque foi a escolhida e não vejo que isso possa só por si nos afetar negativamente se nosso coração for puro e nossa festa genuína.

Podemos montar uma árvore de natal? A razão de ser da árvore e sua origem é na verdade bastante controversa. Dizer que não podemos usá-la porque há povos que adoram árvores é como dizer que não devemos cantar porque cantar faz parte de cultos pagãos, não devemos usar instrumentos de percussão na adoração porque são instrumentos da macumba e muito mais. Não creio que os cristãos adorem suas árvores de natal.

É apenas um adorno festivo que nos lembra a chegada de Jesus e serve para marcar uma ocasião diferente e especial para nós. O salmista diz que as árvores também louvam a Deus, inclusive os cedros (Salmo 148:9). No entanto se isso lhe faz confusão então festeje Jesus sem árvore ou adornos. 

Podemos montar presépios? Há quem os veja como idolatria. Certamente será se nos ajoelharmos a orar diante dessas figuras. Se por outro lado são decorativas e servem para nos lembrar dessa cena amada do nascimento do Salvador podem ter razão de ser e servir de motivo de gratidão a Deus. Lembro-me inclusive de participar de presépios vivos que davam ensejo a oportunidades de testemunho do Senhor.

Podemos fazer uma ceia de natal? Todas as festas têm refeições especiais. Porque o nascimento de Jesus seria diferente? Devemos no entanto lembrar de modo claro que natal não é comida ou bebida. Deveríamos fazer refeições especiais mas modestas e que não favoreçam nem glutonaria e nem bebedeiras que tirariam todo louvor da celebração. Nossas refeições todas e em especial a do natal devem ser feitas para a Glória de Deus (I Cor. 10:31). Deveríamos também lembrar dos menos favorecidos e nessa data oferecer a eles parte de nossa dispensa para que também festejem como a Bíblia claramente ensina (Neemias 8:10 a 12).

Podemos dar prendas no natal? Confesso que aqui tenho que concordar com os que combatem o costume. As prendas ofertadas no natal bíblico são dadas a Jesus. O costume de trocar prendas que foi adaptado do meio pagão tem tomado ao longo dos tempos o lugar central da festa. Não somente deixamos de presentear o aniversariante (Jesus) como nos concentramos em nós mesmos e em nossas prendas e contribuímos para o consumismo louco que domina nossa cultura atualmente. Creio que faríamos melhor se usássemos esse tempo para ofertar para a obra de Deus, para as missões (como uma bela tradição batista americana) e os mais desafortunados. Poderíamos dar algo a nossos filhos, principalmente coisas úteis e necessárias e aproveitar para lhes ensinar o verdadeiro sentido do natal. Aproveitaríamos também para combater esse consumismo que faz com que o natal seja tão desvirtuado mesmo no meio cristão. 

Podemos usar a figura do pai natal? Sinceramente, creio que não. Essa imagem é alheia ao natal, estranha ao festejo e produto do marketing desenfreado que acabamos de combater. Creio que como cristãos não podemos mentir a nossos filhos e nem ligar o natal ao exclusivo ganho de brinquedos. A figura actual do pai natal desvia a festa de Jesus que deve ser seu foco maior e único.

O Natal só fará sentido se o celebrarmos com o foco em Jesus. É tempo de alegria e louvor pelo nascimento do Salvador. É tempo de proclamação da salvação que veio para todos. É tempo de encarnação da Igreja que se aproxima dos mais necessitados aliviando a dor e o sofrimento. Esse será um natal digno de ser celebrado. Esse será um natal digno de Jesus. 




Sereis Perseguidos! Domingo da Igreja Perseguida

Em 2010, a conversarem entre si, um grupo de mulheres foi ao mercado como habitualmente. Entre elas, Asia Bibi, uma mulher paquistanesa que aceitou a Jesus secretamente. Nessas conversas normais elas falaram de muitas coisas e de religião e Asia deu um breve testemunho de sua fé em Jesus e da resposta a oração dizendo que Mohamed nunca respondera suas orações. A mulher que ouviu e a irmã de Asia a denunciaram à polícia e ela foi presa sob as leis anti blasfémia e está presa com uma sentença de morte sob sua cabeça desde então. Seu marido e 5 filhos têm estado escondidos.  No último ano mais de 120 cristãos foram mortos no Paquistão por violarem leis religiosas… (deram testemunho) e outros tantos na Arábia Saudita.
Em novembro de 2014 um grupo altamente armado pertencente ao grupo radical islâmico Boko Haram atravessou a fronteira da Nigéria com o Norte dos Camarões e atacou as cidades de Amchide e Limani onde mataram 30 cristãos, e queimaram duas igrejas sendo uma católica e outra evangélica. Esse grupo continua a espalhar o terror sobretudo na Nigéria, matando e escravizando cristãos, em particular meninas (o mundo todo acompanhou as cerca de 200 meninas raptadas de uma escola cristã).
Milhares de cristãos têm sido obrigados a fugir de suas casas na Síria e Iraque deixando tudo para trás nos últimos meses devido a aproximação do ISIS auto intitulado Estado Islâmico. Onde seus guerrilheiros chegam os homens são mortos e as mulheres e crianças levados para ser vendidas como escravas ou tratadas como servas até a morte em campos de guerra. O mundo inteiro sabe disso. Trata-se de um ato de genocídio em nome do islão e a comunidade internacional pouco mais tem feito que noticiar. Síria subiu para o 3 º lugar na Watch List Mundial, enquanto na lista de 2013 estava na 11ª posição, e n º 36, em 2012. Um pastor na Síria diz que 40% já saíram da igreja e do país por violência contra a comunidade cristã que tem aumentado drasticamente desde o início da guerra civil. A Síria teve mais cristãos martirizados por sua fé em 2013 (pelo menos 1.213) do que qualquer outro país na Watch List Mundial.
Jeffrey Fowle, americano, entrou na Coreia do Norte com visto de turista. Hospedado num hotel comum foi preso pelas autoridades por deixar a Bíblia no hotel, algo que foi considerado acto de rebeldia contra o regime norte coreano. Ele ficou 6 meses preso e foi libertado recentemente. Outros dois americanos foram presos na mesma época por actividades religiosas (falar de Jesus) e continuam presos. A igreja perseguida nacional é a que mais sofre no mundo. Há milhares de cristãos a servir sentenças em campos de concentração e trabalhos forçados. A maioria não sobrevive a experiência.
1) Coreia do Norte 
Classificado como o país mais difícil do mundo para ser um cristão pelo 12 º ano consecutivo. Os crentes na igreja perseguida da Coreia do Norte mantém o 1º lugar na lista há 12 anos e devem esconder a sua decisão de seguir a Cristo. Ser pego com uma Bíblia é motivo para execução ou uma sentença em campo prisional para o resto da vida. Estima-se que 50.000 a 70.000 cristãos estão presos por sua fé. Mas pode ser considerado como uma espécie de milagre o fato que ainda há cerca de 400.000 crentes na igreja subterrânea da Coreia do Norte.
Eis a lista feita pela organização missionária Portas Abertas que promove o apoio a igreja perseguida e que luta para ajudar. É esta organização que promove hoje o dia mundial de oração pela igreja perseguida há já 26 anos e que envolve só no Brasil mais de 5600 igrejas.
2)Somália  
Pela primeira vez na história da Watch List Mundial, a Somália está classificada na 2ª posição. Embora a capital esteja sob um governo muçulmano mais moderado, a fiscalização é realizada para erradicar convertidos do islamismo e os cristãos devem manter sua fé em segredo. Grandes partes do país permanecem ingovernável e o grupo terrorista Al-Shabaab é responsável por vários ataques contra cristãos e está se esforçando para impor uma forma ainda mais restritiva da lei Sharia.
3) Três novos países entraram na lista
A República Centro-Africano (na 16ª posição), a violência é muitas vezes dirigida a cristãos pela aliança rebelde Seleka. O Sri Lanka (na 29ª posição) tem visto um aumento significativo de ataques violentos contra cristãos e igrejas no ano passado. E Bangladesh (na 48º posição) de grupos extremistas islâmicos tentam empurrar o governo para modificar a Constituição, exigindo o estabelecimento da Lei Sharia e até mesmo ter matado aqueles que estão em seu caminho.
A verdade é que em pleno século 21 há mais de 100 
milhões de cristãos perseguidos no mundo.
Como devemos reagir diante dessa informação? 
O que fazer? Como entender que, sendo nosso Deus soberano, isso aconteça?
Devemos lembrar que o Senhor profetizou a perseguição
Jesus não deixou dúvidas a respeito daqueles que o seguissem. Ele avisou que no mundo teríamos aflições e que segui-lo era entrar pela porta e caminho estreitos. Ele explicou a seus discípulos:
     Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome. Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se odiarão.” Mateus 24:9-10. 
Logo, a Igreja não deve se surpreender por causa disso. Pedra avisara do mesmo quando escreveu:
     “Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis.” 1 Pedro 4:12-13.
 E ao dizer isso ele fazia eco do que ouvira do próprio Cristo que pregara: 
     “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.” Mateus 5:10-12
Devemos então entender que esse é em boa medida o estado natural da igreja e que somos poupados é por um tempo apenas.
 Devemos saber usar o nosso tempo de oportunidade
A palavra nos ensina a usar bem as oportunidades. Paulo falava disso quando escrevia: Remindo o tempo; porquanto os dias são maus”. Efésios 5:16 e outra vez a igreja de Colossos: Andai com sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo. Colossenses 4:5. A noção clara das escrituras é de que este mundo jaz no maligno.
A perseguição tem sido a vida da igreja e seu crescimento ao longo dos séculos. Se temos hoje um tempo de facilidade é para que o usemos para pregar, evangelizar, dar testemunho e falar de nossa fé. Que o Senhor não nos encontre a dormir ou que não venhamos a chorar um dia por não termos sabido usar tantas facilidades que o Senhor nos concedia para trabalhar em seu nome.
Devemos orar pela igreja irmã em perseguição
Como igreja lembramos que uma parte do corpo sofre, todo o corpo sofre. Não é natural vivermos como se nossos irmãos e irmãs não tivessem esta luta e não vivessem a beira do martírio. Orar é algo que a palavra apela: Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos maltratados, como sendo-o vós mesmos também no corpo.” Hebreus 13:3. A oração tem feito milagres em lugares onde nunca chegaremos.
Devemos orar pelos perseguidores e pelas autoridades. O exemplo maior é o de Jesus que orou pelos que o mataram na cruz. E Paulo ensinou a igreja a vencer o mal com o bem: Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.” Romanos 12:20-21
Devemos abençoar
Organizações como a Missão Portas Abertas e outras agências trabalham abençoando a igreja perseguida por meio de:
         Campanhas de oração
         Campanhas de pressão política (abaixo assinados, etc)
         Ofertas a igreja perseguida
         Treinamento de líderes para a igreja perseguida
         Fornecimento de Bíblias a material de estudo

Podemos e devemos estar conscientes e nos envolver nos modos que o Senhor colocar em nossos corações.

O HOMEM MAIS OCUPADO DE TODOS OS TEMPOS

Ele sentou-se no meu consultório e colocou 3 telefones móveis na mesa. Antes de falar sequer um "bom dia" foi informando que estava esperando um telefonema muito importante e que precisaria atendê-lo, caso tocasse, e foi dizendo: "sou um homem muito ocupado, doutor". Naquele gesto havia falta de polidez. O paciente estava a me informar de antemão que o telefonema era mais importante que eu, porque não se importaria de o atender e interromper o meu trabalho. Mais grave ainda, o paciente me informava que o telefonema era mais importante que a sua saúde, pois prejudicaria seu escasso tempo de consulta para o atender.

Hoje achamos sofisticado ser muito ocupado, ter a agenda cheia e compromissos marcados com muitos meses de antecedência. Isso, em parte, pode mostrar boa organização, mas também podemos ser levados a pensar que isto demonstra o quanto somos importantes. Ter a agenda cheia e mostrar que sou muito solicitado me dá um senso de valor, de importância e transmite aos outros a percepção que devem me tratar com respeito... afinal, sou muito ocupado!

Em princípio, medimos a ocupação de alguém não somente pela agenda lotada e os compromissos em fila, mas pela importância de seu trabalho e agendamentos. Os compromissos de um trabalhador fabril talvez não nos pareçam tão importantes quanto os de um advogado ou de um médico e certamente não tão valiosos quanto os de um ministro. Maior importância nos seus cargos e funções, maior ocupação. Logo, o primeiro-ministro e o presidente serão os mais ocupados. Mas, quem seria o homem mais ocupado de sempre?

O Homem mais ocupado de todos os tempos foi aquele que sabia exatamente quanto tempo tinha (e nenhum de nós sabe) e tinha a maior responsabilidade possível (que nenhum outro homem poderia ter). Foi o Salvador da humanidade, JESUS. Ele tinha apenas três anos para fazer sua obra, salvar o homem, preparar um grupo que continuasse a sua obra e deixar as bases sólidas para que a humanidade encontrasse Deus. Ninguém foi mais ocupado que Jesus! Do nascer o sol ao serão noturno ele era procurado avidamente por multidões. Nenhuma secretária daria conta de uma agenda assim. Ele atendia centenas por dia e por vezes milhares.

Mas nessa agenda completamente lotada podemos verificar , com base nos evangelhos, pormenores que nos fazem tremer e pensar. Notemos o que ELE, o homem mais ocupado de todos os tempos tinha tempo para fazer:

TINHA TEMPO PARA ORAR (Marcos 1:35)

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 Talvez seja até difícil entender porque Jesus precisava dedicar tanto tempo à oração. A agenda era tão cheia e a multidão tão insistente que só restava uma alternativa, levantar de madrugada para orar. Ele nos mostra assim que nunca podemos estar ocupados demais para orar.

TINHA TEMPO PARA OUVIR OS OUTROS
Ao longo de inúmeros episódios vemos Jesus parando, alterando seus planos, mudando sua direção para atender os outros. Podia ser um leproso, um moço rico, uma mulher cananéia, um príncipe do povo com uma dúvida. Jesus ouvia e atendia a questões particulares mesmo no meio de tantos afazeres. Ele está a nos dizer que pessoas são mais importantes que agendas.

TINHA TEMPO PARA COMPROMISSOS SOCIAIS 
Encontramos Jesus "fechando sua agenda" para ir a um casamento em Caná (João 2:1 a 12). E os casamentos de então podiam durar dias a fio! Mas também o vemos parando para um funeral, como o do filho da viúva em Naim (Lucas 7:11 a 17) ou para participar do choro de Lázaro, seu amigo (João 11). Jesus sabia o quanto era importante estar presente nessas ocasiões e o que isso transmitia a seu povo.

TINHA TEMPO PARA AS CRIANÇAS(Mateus 19:13 a 15)

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No meio de tantas coisas "importantes" os discípulos procuravam administrar a agenda complicada do mestre. Sentiam-se na responsabilidade de mostrar ao mestre que havia prioridades e que crianças não faziam parte delas. Jesus os repreendeu duramente. Para Ele sempre haveria tempo para as crianças, cujos corações puros mais facilmente o entendiam e o aceitavam. O Mestre sabia que é delas o reino dos céus, logo, vale a pena passar tempo com elas.

TINHA TEMPO PARA TREINAR SEUS DISCÍPULOS 
Como o maior Mestre de sempre, Jesus sabia que o investimento nos discípulos renderia mais. Gastou cerca de 1/3 de seu tempo com eles em particular. Outros podiam pensar que valia mais a pena investir nas multidões, mas Jesus sabia que aqueles rudes galileus seriam a base de sua Igreja, o fundamento da propagação do evangelho. Precisava dedicar tempo a eles por mais que a agenda fosse cheia. Seu tempo com os discípulos preparou o grupo que ajudou a mudar a história. Aqueles homens, teoricamente incultos, revolucionaram o mundo!

Para nós, homens e mulheres ocupados do século XXI, que temos cada vez mais aparelhos para nos facilitar a vida e poupar tempo, e paradoxalmente cada vez menos espaço na agenda, a vida do homem mais ocupado de todos os tempos traz muitas lições. O tempo é dado a cada um de nós para usá-lo bem. Há tempo para tudo e há tempo certamente para o mais importante: investir em nosso tempo com Deus e com os outros. Ouçamos Jesus, ele tinha tempo para isso e foi o mais ocupado de sempre!

Adoradores ou Expectadores



O culto correu de forma normal, sem nada de especial ou marcante. Os cânticos e hinos eram conhecidos, a mensagem musical foi bem apresentada, mas sem brilhantismo, as orações foram honestas, e a pregação foi bíblica sem ser arrebatadora. E logo que o culto termina o pastor é abordado pelos crentes: “pastor que culto abençoado, que mensagem maravilhosa, vou para casa tão cheia que até dá vontade de saltar de alegria” diz uma irmã. “Pastor obrigado pela palavra” diz outro irmão, “apesar de que notei dois erros de concordância que depois transmitirei ao irmão” diz outro membro com ar sério. O pastor agradece a ajuda construtiva, mas é logo atropelado por outra pessoa: “pastor, isso é inaceitável, a irmã fulana passou o culto mandando mensagens no telefone…” reclama uma irmã visivelmente indignada. “O Pastor tem que fazer alguma coisa em relação à filha do irmão Sicrano. Aquele vestido não é roupa que se traga para a igreja!” E é claro, muitos passam sem cumprimentar com semblante mais ou menos apressado. Dá vontade de perguntar: será que estiveram todos no mesmo culto?

Esta não é uma cena própria do culto da igreja A ou B. Creio que é universal. Todos os líderes sabem que é assim e mesmo os membros de igreja terão que aceitar que é o que acontece após um culto. Provavelmente está ligada a questão fundamental. Quando vamos ao culto somos realmente adoradores ou apenas expectadores? E nossa cultura actual facilita muito a segunda posição. Vivemos num mundo de espectáculo. Seja a TV, o cinema e agora a Internet, nossa função é assistir. E passamos horas por dia a ver actuações de outras pessoas. Ganhamos o hábito de ser expectadores e de mudar de canal ou de programação conforme nossa preferência. E acabamos por levar para a igreja o mesmo sentimento e a mesma atitude. Daí que no fim de um culto haja tantas reclamações. A apresentação não foi o que eu esperava.

Entendo que podemos dividir os expectadores/consumidores em 3 grupos simples: admiradores, avaliadores e críticos. Os admiradores são aqueles que gostam muito de sua igreja, de sua equipe de louvor e sobretudo do seu pastor. Defendem sua igreja contra tudo e todos. Ir ao culto é como assistir a um programa favorito. A predisposição é enorme e a atitude positiva leva a que o admirador veja tudo com bons olhos. É provável que esteja na igreja X por causa do pastor Y porque é só ele que gosta de ouvir. Parece que só consegue entender a palavra se for ele a pregar. E há um lado bem positivo disso porque devemos procurar mesmo um líder que o Senhor use para nos falar e a quem atribuímos autoridade espiritual de vida e palavra para transmitir o recado de Deus. Mas há também um lado menos bom porque o admirador não tem sentido critico, não faz avaliação e corre o risco de ser levado por líderes menos escrupulosos. 

O avaliador não corre esse risco. Ele assiste o culto sempre com um olhar perscrutador a procura de algo que não está bem. Uma palavra mal colocada, um cântico mal interpretado, uma vestimenta menos feliz, uma gravata mais berrante. Para ele há que avaliar, porque os bereanos o fizeram… mas esquece que os bereanos avaliavam conteúdo e pela Palavra. O avaliador assiste o culto, mas recebe pouco. No meio de sua atitude de avaliação sobra pouco espaço para o Espírito de Deus falar. E ele está pronto para mudar de igreja quando as “coisas” não estiverem “bem”. E com isso não falamos de erro doutrinário ou ético, mas simples gosto pessoal. Se as coisas não forem de seu agrado ele pode simplesmente mudar como se muda de programa. Afinal estou “pagando “meu dízimo para ser bem servido… e essa atitude certamente não vai ajudar em qualquer tipo de crescimento espiritual.

O crítico será aquele que provavelmente nem fala com o pastor. A verdade é que nem se percebe bem porque está naquela igreja. Talvez hábito, ou teimosia, ou simples vontade de ser do contra. Para o crítico há sempre algo profundamente errado em cada culto e ele sempre encontra o que não podia ser assim de modo algum. Parece que seu prazer é terminar o culto indignado. Alimenta-se de sua indignação e se alegra no confronto com os que, segundo ele, estão em falta para com a igreja e Deus (leia-se, ele mesmo). 

Infelizmente o expectador crítico também pouco ou nada leva do culto. Só um milagre fará com que uma mensagem ou música entre em seu coração e desperte nele algo mais que mera crítica que será sempre descrita como construtiva.

O contraste com tudo isso será o adorador. Aquele que vai ao culto em primeiro lugar não para receber mas para dar. Aquele que tem vida com Deus e exactamente por isso tem o que dizer ao Senhor. Depois de uma semana de experiência com seu Senhor, o adorador está ansioso para se juntar com outros que colo ele, conhecem e vivem a vida com Deus. Ele quer dizer ao Senhor de sua gratidão, alegria e consolo, ou até expressar sua preocupação e ansiedade, mas quer fazê-lo com seus irmãos em espírito genuíno de louvor e contrição. E então, porque seu coração está aberto ao Senhor e vai ao culto para dar sua adoração, o adorador recebe a bênção. Porque quando abrimos o coração para dar é então que recebemos. E o adorador é capaz de tirar bênção de um prelúdio, de uma oração de gratidão, da letra de um hino e da mensagem pregada. Tudo lhe fala de um Deus vivo que ele conhece e serve e a quem foi prestar sua homenagem num dia separado para o servir desse modo.

Creio que todos nós já fomos a cultos como expectadores/consumidores. Provavelmente já fomos admiradores, mas também já caímos na atitude de ser apenas avaliadores e até mesmo meramente críticos. Quem mais perdeu fomos nós e somos nós quando nossa atitude não é a que agrada ao Senhor. Devemos parar para deixar que o Espírito sonde nossas mentes e corações e nos ajude a ver onde erramos. O Senhor deseja nossa adoração. Fomos criados para adorar. Temos igrejas e templos para o fazer em comunidade. Que nada nos desvie desse alvo supremo da vida. Viver e louvar como verdadeiros adoradores. 


Abra mão do que não pode carregar!

Recentemente assisti a uma cena interessante. Uma menininha de aproximadamente um ano carregava alegremente uma folha de papel em branco e duas canetas, uma em cada mão. Passando pelo seu pai ela notou que o pai também tinha uma caneta na mão. Pela reação de seu rosto dava para ver que apreciou muito a caneta do pai e logo mostrou vontade de a ter. O pai se mostrou pronto a lhe passar a caneta, mas então veio o dilema. Ela olhava para uma e outra mão. Tinha as mãos ocupadas. Para pegar a caneta nova que desejava teria que abrir mão de uma das que já tinha. O dilema durou uns segundos e ela então seguiu em frente, abdicando da caneta desejada.


Esse episódio me trouxe à mente uma palavra de Jesus aos discípulos em João 16:12: “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar”. Numa hora tão crítica, tão próxima da cruz, havia ainda tanto para dizer, mas simplesmente não era possível. Eles não podiam suportar. Não cabia mais nada em suas mentes de tal modo estavam cheios de suas próprias ideias, conceitos e agendas. Tinham planos para Jesus, para eles mesmos e para os demais. Não havia lugar para o que o Mestre desejava compartilhar.
Se há algo que pedimos são bênçãos. Oramos por elas e desejamos recebê-las. Clamamos por sabedoria, por orientação, por direcionamento neste mundo confuso e cheio de imprecisão. Queremos que o Senhor nos abençoe, nos cumule de tudo o que é bom e nos mostre de modo o mais claro possível a direção a seguir. Mas parece que, sistematicamente, nossas orações ficam sem resposta.
A bênção que chega à casa de meu vizinho parece passar ao largo da minha porta. Invejo aqueles que mostram segurança e que falam de intimidade com Deus e palavras de sabedoria, mas eu mesmo não pareço receber essas revelações. O que estará errado? Será que o Senhor não quer me responder? Será que Ele não me ama como ao vizinho? Haverá algo errado na nossa linha de comunicação? Ou será que simplesmente não cabe mais nada em minha vida?
Creio que muitas vezes nosso problema é o da menina e suas canetas. Simplesmente já temos coisas demais em nossas mãos! Pode muito bem acontecer de termos que abrir mão primeiro para depois receber. Temos tantas coisas atravancando nossas vidas que não há espaço para o que o Senhor quer nos dar. Há tantas “canetas” ocupando nossos dias que não há como Deus nos dar ainda mais.
O Espírito deseja iluminar nossas mentes (Efésios 1:17 e 18), mas temos tantas coisas ocupando nossas mentes que não cabe mais nada! Há tantos pensamentos, conceitos, livros, eventos, discursos, mensagens e compromissos que a caixa está cheia e não há lugar para mais nada. O Senhor espera ardentemente que o busquemos de todo coração. Isso requer esvaziar primeiro para depois encher.
Esse foi o segredo de Jesus. Primeiro ele se esvaziou (Filipenses 2:7) para poder ser pleno do Pai. Estamos tão cheios de tanta coisa que simplesmente não é possível esse enchimento. Não se pode encher o que já está transbordando. E adivinha quem é especialista em encher nossas vidas e mentes de tal modo que não haja espaço para o Senhor? Se disse o inimigo, acertou em cheio. Se disse nós mesmos, também acertou, pois na verdade a tentação original sempre foi no sentido da liberdade e independência que quer estabelecer a própria agenda em detrimento do seguir a vontade de Deus.
Podemos viver assim. Mas é esgotante. Podemos sobreviver desse modo e até nos gabarmos de não termos tempo para nada. Acabamos porém irritados com a falta de tempo, a falta de bênçãos (percebida mas não real) e a falta de direção do Espírito (sentida, mas totalmente por nossa culpa).
Se não cabe mais nada em sua vida então pode ter a certeza de que já a encheu demais. Se não houver espaço para o melhor vai ter que viver com o que conseguir arranjar. Provavelmente vai estar longe do que poderia ser se fosse o Senhor a enchê-lo. Mas lembre-se, o caminho é esvaziar primeiro e então permitir que ELE encha. Não lute com as mãos cheias. Parafraseando um grande missionário que deu a vida pelo Senhor:
Abra mão do que não pode carregar para receber o que não pode perder.

Encarnação - Deus fez-se Homem!


Sempre que falamos de Deus, há em nossa mente alguma imagem mas pouco clara. Isso acontece porque fomos criados num contexto cristão. Se fossemos hindus, chineses ou animistas na América do sul ou África, teríamos milhares de figuras animais e humanas para relacionar com Deus. Mas, no contexto cristão aprendemos que o Deus verdadeiro é Espírito, não pode ser visto porque não tem corpo e exactamente por isso Ele é omnipresente, ou seja, pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo. No entanto, tendo isso claro e sabendo isso no coração, temos no principal rito cristão um acto que parece contraditório. Pegamos um pão e obedecendo a ordem deixada pelo Senhor Jesus lembramos que Ele tomou um pão na noite em que foi traído e disse: “Isto é o meu corpo”… e aí vem a dificuldade. Se Deus é espírito, como falar de seu corpo? Ora isso é possível por causa daquela maravilhosa doutrina cristã da encarnação. Essa é daquelas doutrinas que envolvem grande grau de mistério. Deus feito carne e habitando entre nós. Não cabe apenas na razão e exige fé apesar de nos dar boas evidências.

 Um de seus textos clássicos é Filipenses 2: 5 a 11.
“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” Filipenses 2:5-11

Muitos estudiosos da Bíblia crêem que neste texto Paulo transcreve a letra de um hino cantado pela igreja nos seus primórdios o que nos dá ainda mais um toque de valor desta passagem tão amada. Ela nos fala do caminho todo da salvação e nos deve ajudar a meditar nesse mistério da salvação. Vejamos brevemente o que a encarnação nos ensina:

Amor Gracioso

A encarnação envolveu esse amor de Deus que não se pode explicar. Só o conceito da Graça pode ajudar a entender como Deus faria isso pela humanidade caída em pecado e longe dele em rebelião. Deixar a Glória só poderia ser feito num acto de graça amorosa porque nada que o homem fizesse justificaria tal gesto. Nada nem ninguém poderia obrigar Deus a encarnar. Cada vez que olhamos o pão e o vinho e sabemos que o Senhor deixou sua Glória por nós temos que nos encantar com esse amor. O verdadeiro amor faz isso. O ser amado que entende ou percebe o amor que lhe é votado, nunca deixa de se maravilhar pelo facto de ser amado porque sabe não merecer. Encarnação é amor puro. Esse amor que é a essência de Deus. E quando somos tentados a duvidar do amor de Deus devemos encarar a encarnação como sinal e prova de um amor que não pode ser negado ou duvidado.

Humilhação

Mas a encarnação envolveu um grau inimaginável de humilhação. Não há como o entender. Podemos fazer algumas conjecturas e propor algumas analogias mas sempre estarão muito abaixo da realidade. Imagine um rei, acostumado a todos os confortos, a todo luxo, à criadagem e serviçais e a tudo o que há de bom na terra. E um dia ele deixa o palácio e vai viver como um desabrigado, um sem tecto. Fica na rua, pede esmolas, vasculha caixotes de lixo. Dorme numa lixeira. Que imagem impressionante, mas não suficiente. Porque ao encarnar o Senhor não somente deixou sua Glória mas veio tomar a forma de um ser infinitamente inferior e na verdade criado por ele. Um rei a viver na rua ainda teria a mesma natureza dos outros mendigos porque na prática são todos seres humanos. Mas Deus deixou o céu para viver com criaturas menores. A analogia mais próxima seria nós nos tornarmos insectos para ficar um pouco mais perto. Insectos com consciência humana vivendo entre insectos… nem dá para imaginar o que seria. Que humilhação. O Senhor fez isso por nós. Mas porque?

Identificação

Por amor, para identificação. O amor verdadeiro se identifica. Não fica de longe mandando ajuda. Entra na realidade, vive a realidade para poder entender e ser entendido. Quando queremos falar sobre entender alguém ou entender sua situação falamos em nos colocarmos nos sapatos de alguém. Jesus fez isso por nós. Ele calçou nossos sapatos, vestiu nossa humanidade. Esse amor prático que vai ao encontro do ser amado é o grau mais avançado de amor. E ao viver entre nós ele entendeu como ninguém nossas lutas e fraquezas. Costumamos pensar em Deus como um ser zangado com o pecado. Mas na verdade sua ira é manifestação de sua santidade e de sua tristeza. Imagine a dor que Deus sente porque Ele na verdade sabe. Quando vê um refugiado em terra estranha, quando vê alguém perseguido por sua etnia ou fé, quando assiste a alguém a passar fome, quando percebe um homem ou mulher abandonado pelos que julgava serem seus amados, quando vê alguém a ser torturado e morto, ELE sabe. Ele passou por tudo isso. Encarnação é identificação. Daí que Deus não veio a nós adulto e formado. Isso seria tão fácil e aparentemente pouparia tanto tempo. Mas não seria identificação plena e Ele faz tudo perfeito. Veio como um bebé, para passar por tudo que passamos e poder entender ainda melhor tudo que somos. E sua identificação implicou em sofrimento.

Sofrimento

Toda encarnação leva a sofrimento, porque é impossível entrar na vida de outro sem sofrer o que ele sofre. E Jesus veio viver como servo e como servo se submeteu a tudo e mesmo a tortura e a morte. Quando tomamos o pão, é um pão que simboliza um corpo torturado e morto. Ele não ficou por palavras e instigações. Não veio ao mundo para nos animar ou dar incentivos. Não veio apenas para ser um bom exemplo. Deu a si mesmo por nós. A encarnação levou a essa dor e ele sabia e por isso teve que se humilhar de tal modo. Foi seu amor que o levou a suportar tudo e a Palavra diz mesmo que suportou com alegria. Quando uma mãe se sacrifica por um filho, ela pode até sofrer, mas sofre com alegria se pensar nas vantagens que seu filho terá. Uma mãe, se tiver que escolher entre a sua vida e a de seu filho, pode escolher morrer e com alegria pela satisfação de pensar no futuro de sua criança. Com Jesus vemos esse tipo de amor ao máximo. Deus criador de tudo, Ele sofreu por sua humanidade pelo prazer de saber que isso a levaria a restauração e aqui chegamos ao coração da encarnação.

Salvação

A encarnação era necessária porque só um homem poderia saldar a dívida do homem com Deus. Logo, o salvador tinha que ser um homem. Fora um homem a pecar. Fora o representante da humanidade a ofender a Deus e se tornar rebelde. O problema com Deus era do homem, só um homem poderia tratar dele. Mas todos os homens nascem sob a sombra do pecado e acabam por sucumbir. Todos trazem no coração a inclinação para o mal e não o conseguem vencer. Logo, só Deus poderia viver uma vida sem pecado necessária para redenção. Assim, Deus teve que se fazer homem para poder nos ganhar a salvação. Novamente as obras são uma afronta a Deus. Só Ele poderia fazer o necessário para nossa salvação. Pensar algo diferente é fazer pouco da encarnação do Senhor. Afinal é o homem que tenta a salvação pelas obras que se mostra orgulhoso. Só o Deus encarnado, Deus e Homem, poderia, então, tratar de saldar a dívida que existia e fazer a reconciliação entre Deus e o Homem. E ao fazê-la temos o retorno à Glória.

Glorificação

A exaltação do Senhor Jesus veio quando a missão estava cumprida e a encarnação tinha feito sua função. Ele volta a Glória do Pai mas de certo modo diferente. Aqui entramos em terrenos santos e onde temos que pisar com todo cuidado. Mas, ao pensar na encarnação, percebemos que Deus muda sua própria essência de modo sublime, extraordinário e misterioso para nos salvar. Jesus faz-se homem e ao voltar ao céu leva essa encarnação ao alto do trono e nos promete a Glória com ele. Não dá para entender, mas dá para nos maravilharmos. Como pode ser isso possível? Por amor. Voltamos ao começo. O amor fez possível. Deus é amor e sua essência fez isso possível. O Deus que encarnou e nos salvou é o soberano que recebe nome mais exaltado e senta-se à direita do Pai.

Para nós a encarnação é então motivo de louvor apaixonado. Como não adorar um Deus que de tal modo se dá por nós pecadores sem merecimento. Cada vez que tomamos o pão e bebemos o vinho devemos meditar na maravilha misteriosa da Encarnação e o quanto ela representou para que pudéssemos cantar a redenção do Senhor.

Thank God it's Friday!

MALDITO TRABALHO!!?
O individuo parecia transtornado. Os músculos da face tensos e contraidos enquanto por entre os lábios saía o impropério: "se um dia encontrar quem inventou o trabalho dou-lhe um tiro nos miolos!"  Assisti a cenas parecidas com esta por mais de uma vez. Era um desabafo contra uma atividade penosa que servia apenas para sustentar a familia.

Outras expressões menos dramáticas, mas igualmente contrárias ao trabalho são as que vemos nas tiras de banda desenhada do gato Garfield onde ele confessa: "I hate mondays" (Detesto segunda-feira) ou "Thank God it´s friday" (Graças a Deus é sexta).  Todas essas expressões servem para transmitir a mesma mensagem: o trabalho é algo detestável do qual todos nos queremos ver livres!  Será essa a visão biblica e cristã do assunto?

Devemos começar por reiterar que o cristão deve ter uma cosmovisão guiada pela Biblia em todas as coisas. A vida cristã não pode ser apenas a que se vive em algumas horas no domingo ou em dias sagrados, mas deve ser a vida diária que engloba todas as atividades que desenvolvemos.  Uma fé que não diga respeito ao meu trabalho será de pouco valor. Se gasto a maior parte do meu tempo trabalhando então minha fé deve ter algo a dizer sobre isso ou não será uma fé relevante! 

Encurralar meu cristianismo aos domingos é destituí-lo de toda influência prática e
real na minha vida! 

Logo, minha fé tem que me falar de meu trabalho.   E o que aprendemos na Bíblia sobre o trabalho?

1) O Trabalho precedeu o pecado na História Humana

Biblicamente, o trabalho aparece antes do pecado.  Deus criou o homem e o colocou no jardim para que cuidasse dele e dos animais. O primeiro homem foi jardineiro, agricultor e criador de animais. Essa atividade era plena, ocupava os dias de Adão e Eva e representava uma boa utilização das capacidades com que o Criador os dotou.   Logo, sendo algo original ao homem, estava inicialmente em estado puro. O trabalho não veio como castigo por causa do pecado como pensam alguns, mas o precedeu com o intuito de dar ao homem propósito e realização.

2) O Trabalho foi instituído por Deus
Segundo Genesis 1 e 2,  foi Deus o inventor do trabalho.  O Criador conhecia a criatura como ninguém.  Deus trabalhou e ainda hoje trabalha, criou o homem à sua imagem, logo, criou um ser trabalhador.  Deus deu ao homem trabalho especiífico e esse mandato precedeu todos os outros inclusive os da era da Igreja.  Aqueles que se insurgem contra o trabalho em si, se rebelam contra Deus.   Aqui não discutimos a existência de trabalho escravo, de trabalho injusto, de trabalho infantil ou mal remunerado(fruto do pecado e da ganância dos homens).  Falamos do trabalho como instituição!  Do trabalho honesto, que serve para sustento próprio e para prover outros.  O trabalho como tal, foi criação de Deus para valorizar e honrar o homem e por isso mesmo nenhuma cultura do mundo até hoje honrou o preguiçoso.

3) O Trabalho foi valorizado nos 10 mandamentos
Sabemos que o decálogo tem as bases de toda a lei.  Nesses 10 mandamentos encontramos o resumo daquilo que seria o guia prático para o povo de Israel.  No oitavo e no décimo mandamentos há uma clausula de proteção a propriedade privada que nos mostra o valor do trabalho. Na lei estipulada pelo Senhor há regras especificas para salvaguardar aquilo que é fruto do trabalho do homem.

4) O Trabalho era muito valorizado pelo povo de Deus
Na cultura judaica resultante da orientação divina o trabalho sempre foi valorizado. Todo menino judeu deveria aprender uma profissão mesmo que depois se dedicasse a outras atividades mais intelectuais. Isso demonstra a importância do trabalho para o povo de Deus.

5) Jesus e os lideres Cristãos foram trabalhadores
Todos sabemos que Jesus foi carpinteiro.  Até os 30 anos ele exerceu essa profissão que aprendeu de seu pai terreno dando assim uma visão elevada do trabalho humano. O Criador feito criatura não rejeitou a vida de trabalho.  Os apóstolos de modo geral eram homens simples de trabalho que o Senhor chamou para a missão.  Paulo manteve sua profissão como fazedor de tendas e em boa parte de seu tempo, mesmo como missionário, ele se sustentava com sua atividade profissional.

Ainda a propósito da vida de trabalho de Jesus será interessante lembrar o episódio de seu batismo.  Deus o Pai falou do céu "Este é meu filho amado, em quem me comprazo!"para referir seu contentamento com Deus o Filho.  Fica a questão: Por qual milagre o Pai exaltou o Filho?  De que sermão falava Deus ao elogiar Jesus?  Na verdade, o seu ministério público ainda estava por começar, logo,  o contentamento do Pai não se referia a nenhum milagre, maravilha ou mensagem.  O Pai estava feliz com Jesus, que até então vivera como um simples carpinteiro, honesto, trabalhador, sustentando a familia e vivendo um testemunho de profunda comunhão com o Pai.  Seria bom meditarmos nisso.

6) O Ensino bíblico incentiva o trabalho
Muitas das parábolas de Jesus acontecem no ambiente do trabalho.  A famosa parábola dos talentos diz respeito ao galardão de trabalhadores esforçados.  As epístolas seguem nessa linha e Paulo incentiva mesmo os escravos a serem bons trabalhadores e darem exemplo como servos dedicados.  O trabalho recebe nas escrituras uma posição destacada como parte fundamental da vida.  Na verdade, o trabalho é um dos modos mais importantes de expressarmos nosso caráter e personalidade.  Um mal trabalhador dificilmente convencerá as pessoas de que é uma boa pessoa.  Minha forma de encarar e viver minha vida de trabalho certamente revela muito de quem eu sou. por isso a Biblia incentiva o crente a ser um bom trabalhador.

_ Se o trabalho é assim tão valioso e de origem divina, então por que é que hoje temos uma visão tão negativa do trabalho?

- Os gregos faziam uma dicotomia marcante entre o material e o espiritual.  Uma das correntes mais fortes da filosofia grega apresentava tudo o que é matértia como negativo e mal.  Nessa visão, o trabalho físico perdia valor em relação ao espiritual.  O Cristianismo bebeu nessa fonte, passando a considerar o trabalho do espírito (pregação, ensino, serviço religioso) como mais valioso que o do corpo.  Isso contribuiu bastante para uma visão negativa do trabalho no mundo de cultura judaico-cristã.

- O pecado contaminou tudo, inclusive o trabalho. Quando pecou, o homem perdeu a comunhão com Deus e nessa perda se foi o propósito para a vida, que incluía o trabalho.  O homem sem Deus não tem razão para viver e se vê como fruto do acaso.  Nessa perspectiva o trabalho é verdadeira prisão que nos impede de aproveitar a vida.  Surge uma visão negativa do trabalho.

- A mentalidade de consumo e lazer que impera hoje incentiva o entretenimento em detrimento do trabalho.  O homem moderno vê o trabalho como aquilo que tem que fazer para poder ter dinheiro para gastar em coisas e em serviços que lhe tragam prazer e bem estar.   Nessa perspectiva o trabalho é novamente o vilão que nos rouba a melhor parte da vida.  A aposentadoria se torna a terra prometida, um período em que não precisaremos fazer nada que não queiramos e vamos gozar a vida.  Muitos, senão mesmo a maioria, descobre tempos depois que era mais feliz quando trabalhava e não sabia...

_Qual deve ser a posição do cristão sincero diante do trabalho?


Propósito: Deus nos criou com um propósito e para tal nos dotou de talentos e virtudes. Devo entender como fui criado, desenvolver minhas habilidades e usa-las para experimentar toda a razão da minha existência. Dou glória a deus como Criador quando cumpro minha missão na terra trabalhando de acordo com as caracteristicas que deus me deu. Uns serão bons para certas coisas, outros para outras. Podemos e devemos todos encontrar alegria e realização no que fazemos.

Honra: O trabalho honesto deve ser valorizado e honrado no meio cristão e no seio da igreja. Não devemos cair na mentalidade errada de desacreditar certos tipos de trabalho. Precisamos de todos para viver melhor e a igreja deveria estar na linha da frente na preservação da dignidade do trabalho.

Bênção: Se estou a trabalhar naquilo em que sou bom, porque Deus me criou assim, então vivo para a glória de Deus e posso ser bênção para os demais!  Por exemplo: um pintor de parede:  num mundo escuro, sujo e sem graça por causa do pecado, o pintor pode se ver como aquele que traz vida, cor e alegria.  Depois de terminar seu trabalho, um lugar que antes era feio e sem vigor pode ter graça, beleza e animar os espíritos. O pintor pode se ver como sócio de Deus no propósito de recuperar as cores que o pecado manchou.

Eu sou médico. Entendo que a doença não fazia parte do plano de Deus para o homem e surgiu como consequência do pecado. Quando luto contra a enfermidade e trabalho para a saúde entendo que estou engajado na tarefa Divina de recuperar o homem por inteiro.

Cada profissão pode entender sua atividade como uma sociedade com o Criador na restauração da Criação e desse modo cada profissional passa a ser um agente de salvação na terra.  Essa visão madura e abençoada do trabalho deveria encher o coração de cada cristão. Como seria diferente um trabalho feito assim!  Deixe-se contagiar e contagie outros com essa visão e estaremos trabalhando por um mundo melhor para a glória de Deus!

Joed Venturini

Meu avô, Pr. Reis Pereira

Dia 15 de outubro completará o 20o aniversário da morte do pr. José dos Reis Pereira, diretor do Jornal Batista por 24 anos, pastor, jornalista e professor. Um homem de uma inteligência extraordinária e de uma visão do Reino de Deus especial para o seu tempo.  Mas hoje, poucos lembram de suas palavras e do seu ensino, ou mesmo de seus editoriais que influenciaram milhares de crentes no Brasil e no mundo.  Hoje, quero lembrar-me apenas de meu avô, o vovô Reis.

Juntamente com minhas 5 irmãs, amava visitar vovô Reis, o que acontecia pelo menos 3 vezes por semana, dada a nossa proximidade.  Era delicioso sair da escola e passar as tardes na casa do vovô Reis, pois sempre havia novidades. 

Um missionário da JMM que passava pelo Brasil, um pastor, ou mesmo crentes de diversas partes do Brasil sempre o visitavam.  No natal as portas ficavam repletas dos cartões de natal recebidos de todas as partes do mundo.  Ele se correspondia com irmãos e amigos de tantos lugares que me espantava a forma como mantinha sempre os contatos e as amizades. Sim, ele era fiel aos seus amigos.

Gosto de lembrar e sonhar com nossas caminhadas...mesmo quando estava doente caminhávamos por duas horas, sempre a conversar.  Foi assim que ele me mentoriou e instruiu da melhor maneira, no dia-a-dia.  Iniciava uma conversa com uma pergunta:  Ida, o que você sabe sobre os grandes poetas portugueses?  Em cinco minutos despejava o que lembrava e nas duas horas seguintes absorvia todos os detalhes que o avô acrescentava. Ouvia poemas magníficos com suas críticas e impressões como se os tivesse conhecido pessoalmente.

Amava ouvir suas aulas de mestrado em História da Igreja.  Para ele Lutero e Zuinglio não eram apenas personagens num livro enfadonho, mas crentes especiais que transformaram sua época.  Quando ensinava, seus olhos brilhavam, sua voz se animava e conseguíamos reconhecer naqueles personagens seus melhores amigos.  Contava detalhes de suas vidas que tornavam toda a História num momento vivo e divertido!

Amava passear com vovô e principalmente estar à mesa, em família. Uma grande família, sempre com seminaristas e iberistas a participarem ativamente do colóquio.  Gostava de piadas inteligentes e era leitor assíduo de revistas, jornais, entre elas o Times e Readers Digest.  Todas as editoras enviavam-lhe seus livros de lançamento, ele lia e memorizava-os, numa técnica impressionante! Jamais esquecia-se de um nome!

Quando ficou doente o médico restringiu-lhe a alimentação, porém, quem conheceu vovô sabe que comer era o seu hobby predileto.  Quando eu e Joed namorávamos e almoçávamos com ele, sempre invejava o prato de Joed dizendo:
_ Darcília, o que é que o Joed está comendo? Eu quero o que Joed está comendo, pois parece bem melhor...
Vovó Darcília, morta de preocupação respondia: 
_Mas, Reis, você não pode comer desta comida...o médico já disse....
_Darcília, eu quero...vou pegar só um pedacinho.  E lá se ia o grande bife que Joed pretendia...
Amava a culinária portuguesa, mas também era fã dos queijos franceses!! Infelizmente, esse apetite agravou-lhe a saúde.

Surpreendia-me quando queria cozinhar um pão de ló com 12 ovos! Ou quando me ensinava a receita de um frappé de coco que levava sorvete de coco e um vidro inteiro de leite de coco...gordura para matar qualquer um...mas, que delícia! E depois, sobrava para mim o trabalho de limpar toda a sujeira na cozinha, antes que vovó descobrisse nossa estripulia!

Divertido era ver vovô assistindo a uma luta de boxe.  Como ele gostava de boxe! Eder Jofre e outros lutadores...vovô treinou boxe quando novo e gostava de "tentar" nos ensinar.  Podem imaginar vovô dando uma "gravata" nas netas, que em vão tentavam jogá-lo ao chão.  Um dia a cama do quarto da vovó foi abaixo porque as quatro netas pulavam tanto e lutavam com o avô que esta não resistiu.  E vovó Darcília ficou uma fúria! Hoje a compreendo bem, que trabalhão e que gangue nós fazíamos!

Vovô gostava de uma boa argumentação, gostava de uma discussão intelectual.  Não lhe agradava aqueles que em nada podiam contribuir, ou que simplesmente concordavam e abaixavam a cabeça.  Mesmo sendo muito nova, sempre gostei de perguntar e instigar e com isso vovô se abria e ensinava ainda mais. Foram as lições mais preciosas, que não se aprendem numa cadeira de seminário ou faculdade. Foram anos maravilhosos!

Vovô deu-me meu primeiro emprego: secretária particular.  Deveria organizar sua biblioteca e seus milhares de pequenos cartões com anotações.  Seus sermões eram guardados nestes cartões e muitas vezes havia apenas o texto bíblico e 4 palavras.  Achava incrível como conseguia lembrar-se de uma mensagem completa com apenas estas anotações. Ajudava-o a elaborar o boletim da igreja e organizar sua correspondência.  Foi confidente de tantos missionários,  pastores e esposas de pastores, mas sempre manteve total sigilo e antes de falecer lembro-me que queimou a maior parte de seu arquivo de cartas, não fossem cair em mãos erradas.  Através destas cartas orientou e guiou o meio batista no Brasil.  Hoje sua firmeza doutrinária, suas convições profundas e seu amor pela Palavra fazem falta.  Sua amizade era genuína, sem preconceitos, sem interesse nem acepção de pessoas.  Os doutores e os mais iletrados eram ouvidos da mesma maneira e todos eram recebidos à volta de sua mesa.

Pr. Reis não era um homem fechado e não o considero um batista fundamentalista, era um batista sincero e convicto, pois sua crença vinha do muito estudo e meditação. Muitos que o conheceram apenas de púlpito podiam considerá-lo reservado, mas conosco era alegre, descontraído e muito, muito espirituoso.

Hoje, após  vinte anos de sua morte ainda sonho com seus conselhos, ainda recordo-me de seus exemplos, histórias e anedotas.  Suas marcas permanecem em minha vida e na vida de meus filhos, que mesmo não o conhecendo ouvem suas histórias e aprendem sua maneira de ver a vida.

Sua última oração foi no dia 12 de outubro de 1991, o dia de meu casamento.  Vovô não assistiu, já estava de cama.  Saímos da igreja do Rocha diretamente para a casa do vovô.  Vovó Darcília surpreendeu-se, pois ele sentou-se, apoiado pelo pr. Tiago Lima e nos ajoelhamos junto à cama.  Ele uniu nossas mãos, apertando-as com força entre as suas mãos e durante longos minutos orou abençoando nosso ministério e nossa vida de casados. Depois disto nunca mais falou.

Era o dia mais feliz de minha vida, mas também o mais triste, pois sabia que vovô estava indo e não podia segurá-lo mais.  Esperou até o meu casamento e nos abençoou. Vovô faleceu três dias depois, e as mesmas flores do meu casamento estavam no funeral na igreja do Rocha. 

Obrigada, vovô, pela sua vida, pelas bênçãos que eu e meus filhos desfrutamos até hoje, pela proteção no campo missionário e pelo exemplo que nos deixou.  Não nos esqueceremos jamais, pois sempre será para mim o vovô Reis.

Uma neta saudosa
Ida Venturini de Souza



Cronologia José dos Reis Pereira - Jornal Batista 29.12.1991
 


Homenagem ao Pr. Reis. Jornal Batista de 29.12.1991
 
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