Há propósito no Sofrimento?


Todos apreciamos uma borboleta. Sobretudo as borboletas grandes e bonitas. Algumas mariposas também se tornam muito belas como as da espécie Cecropia, sobretudo a Hyalophora Cecropia. É a maior das mariposas do hemisfério Norte e quando adulta tem asas belíssimas.

Mas como todas as borboletas e mariposas antes de ter asas passa por uma fase de larva em que é um inseto feio rastejante que causa até certa repulsa. Foi criada para ter asas e voar mas inicialmente se arrasta como lagarta e se enrola num casulo onde sobre muito até sua metamorfose se completar. Por vezes acontece de alguém assistir a sua luta no casulo. Percebe toda a dor da transformação, sofre com a dificuldade da lagarta ali fechada e tenta ajudar. Tenta aliviar o sofrimento e dá “uma mãozinha” no processo com ligeiros cortes que facilitem a vida da lagarta. Sabe o que acontece? Se isso for feito as asas não se chegaram a formar e a lagarta sai do casulo com asas disformes que não se abrem e é condenada a se arrastar o resto de sua vida.

Nós fugimos de todo tipo de sofrimento. Criamos analgésicos para as dores físicas e ansiolíticos e antidepressivos para as dores psicológicas porque não queremos lidar com nenhum tipo de dor que possamos evitar. Criamos mesmo toda uma larga indústria de entretenimento onde milhões se perdem por dia evitando enfrentar a realidade de suas vidas e dificuldades. E o resultado? Muita gente rastejando a vida toda. As lutas, dificuldades e sofrimentos podiam e deviam ter-nos ajudado a abrir asas, mas interrompemos o processo e não crescemos. Mas há propósitos para as dificuldades e eles podem ser bênção para nossas vidas. Notemos biblicamente alguns dos mais notórios:
Poda
Jesus falou acerca disto claramente a seus discípulos quando disse: Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto”. João 15:1-2. A poda é um processo natural que conhecemos bem por termos muitas vinhas em Portugal. Quando uma vinha é podada ficamos com a impressão que nada sobrou. A planta cheia de folhagem luxuriosa fica com as varas aparentemente vazias e sem beleza. Mas a poda visa a frutificação. A folhagem roubaria a força da planta para dar fruto e sem poda não haveria fruto.
Todos temos muita folhagem. Coisas que apreciamos muito em nossas vidas mas que não permitem a frutificação que Deus quer ver. As dificuldades têm a capacidade de nos fazer focar nas essências e perder muito dessas folhas superficiais e vazias que não deixariam o fruto sair. Obviamente não gostamos da poda. Dói, incomoda, parece levar embora coisas tão boas. Mas depois vemos que os frutos aparecem e percebemos que havia uma razão para podar tanto e tão longe.
Santidade
Sabemos que a santidade é importante para a vida cristã. Mas o Senhor expressou de modo direto que havia relação entre a santidade e as adversidades: Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade”. Hebreus 12: 7 e 10. A adversidade serve assim para nos ajudar a ficar mais perto de Deus e do que Ele é. Será que podemos ver exemplos práticos disso?
Por exemplo. Desejamos amar como Deus ama? Pedimos isso a Ele e o Senhor coloca em nosso caminho uma pessoa bem difícil. Logo reclamamos. Que provação. Que adversidade amar essa pessoa. Mas note bem. Amar os bons é fácil, mas amar os pecadores, os perdidos, os inimigos que o odeiam. Queremos ficar mais parecidos com Ele? Então devemos vencer essa adversidade e amar os difíceis.
Outro exemplo. Sabemos que devemos ter paciência. Oramos por ela. Então vem uma tribulação física. Por meio dela ficamos limitados. E logo reclamamos. Isso dói. Isso não serve de nada. Mas na verdade aquela situação pode nos ajudar a crescer em paciência e nos tornar mais próximos do Senhor.
Ainda outra situação. Queremos mais fé. Oramos por isso a Deus. E como Ele responde? Nos apresenta um desafio tremendo no qual trememos. E clamamos então: passa essa dificuldade de mi, dá-me vitória já. E o Senhor deixa a dificuldade, mantém o desafio para que minha fé se fortifique.
Dependência
Todos sabemos o quanto confiamos em nós mesmos. Essa é a verdade. Confiamos em nossa mente, nosso conhecimento, nossa visão, nossa experiência, nossa força, nosso bom senso, nossa capacidade de vencer, etc. E gostamos de nos orgulhar e falar de nossas capacidades para mostrar o quanto somos capazes. Curioso que a maioria dos doentes que me chegam ao consultório em depressão fazem questão de relatar que não percebem o que se passa porque na verdade eles são bastante “fortes”.
Mas o Senhor disse distintamente: “Sem mim nada podeis fazer” João 15:5. Daí que Paulo ao passar por várias lutas tremendas entendeu que tinham servido para confiar e depender mais de Deus: “Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos. Mas já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos"; 2 Coríntios 1:8-9. Por meio dessa adversidade Paulo se aproximou do Senhor, percebeu toda a limitação das suas muitas capacidades e cresceu em dependência.
Moisés é um exemplo clássico desse princípio. Enquanto príncipe do Egipto ele se achava capacitado para dirigir seu povo. Note bem a reflexão de Estevão sobre o tema: E Moisés foi instruído em toda a ciência dos egípcios; e era poderoso em suas palavras e obras…E ele cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus lhes havia de dar a liberdade pela sua mão”. Atos 7:25. Mas enquanto confiou em sua capacidade a única coisa que conseguiu foi se transformar num assassino e exilado político com a cabeça a prémio. Foram precisos 40 anos para perceber que não era nada. Como alguém já disse: Moisés passou 40 anos entendendo que era alguém; mais 40 descobrindo que era um ninguém; e então 40 anos descobrindo o que Deus faz com um ninguém. Mas foi a adversidade que o levou a dependência necessária.
Perseverança
Se há algo que precisamos para vencer nesta vida é de perseverança. Aquela persistência positiva e madura que leva a prosseguir e alcançar as metas valiosas da vida. Mas o homem naturalmente desiste. Prefere a “papinha feita”. Deseja a estrada larga e as coisas facilitadas. E quanto mais evolui tecnologicamente mais acomodado fica. Afinal vivemos na era do controle remoto. Por isso o autor de Hebreus disse: “Porque necessitais de perseverança, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa”. Hebreus 10:36. E onde ganhamos a perseverança? Como ela entra em nossas vidas acomodadas? Por meio das lutas e tribulações: “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência” Romanos 5:3 e Sabendo que a prova da vossa fé opera a paciência Tiago 1:3.
Exemplos de perseverança e paciência extraordinários nos são dados exatamente por aqueles que passaram por maiores provas. Willian Carey é considerado o Pai do movimento de Missões modernas. No século XVIII ele deixou a Inglaterra para ministrar na India. O primeiro de uma linhagem de milhares de missionários. Suas tribulações foram tremendas. Lutou com falta de recursos, com línguas dificílimas, com filhos doentes e uma esposa que ficou louca.

A certa altura, depois de anos de trabalho as instalações onde trabalhava arderam queimando anos de trabalho de tradução. O que fez Carey? Voltou ao trabalho e ficou conhecido por ter traduzido porções da Bíblia para várias línguas da India. Amy Carmichael, também missionária na India, lutou com a adversidade de ser obreira solteira no século XIX. Perto do fim de sua vida sofreu de doença debilitante que a lançou numa cama mas continuou a ministrar, escrever e dirigir a missão que estabelecera mesmo no leito.

A vida cristã não é um cruzeiro em direção ao céu com direito a pensão completa. É uma caminhada de perseverança. É algo ativo, não passivo. As tribulações nos fazem mais perseverantes e assim nos ajudam na caminhada.
Serviço
Muitas das tribulações que passamos acabam nos capacitando para o serviço ao Senhor. Paulo percebeu isso e explicou aos Coríntios: Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação; Que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus”. 2 Coríntios 1:3-4. Notemos bem as implicações. Segundo o apóstolo, certas adversidades podem acontecer para nos equipar pois por meio delas aprendemos o bastante para ajudar outros e desse modo nos tornamos mais úteis nas mãos do Senhor. Pensemos em exemplos:
Sofrer uma perda é terrível. Seja um amigo, um pai ou mãe e ainda um filho ou filha. Mas quem melhor preparado para ajudar outros nessa hora de que quem já viveu isso e foi consolado e confortado pelo Senhor. Por meio da dor tremenda de perder minha mãe vivi momentos e tive compreensões que me ajudaram a crescer e que tem-me ajudado a apoiar outros de maneiras que nunca poderia antes. Estou dizendo que o Senhor deu um cancro a minha mãe para que eu aprendesse a lidar com isso? Certamente que não. Não é isso que creio. Mas a verdade é que ao passar por essa prova fui capacitado para o serviço ao Rei.
A Igreja poderia ser um celeiro de ministérios de ajuda desde que os crentes entendessem isso. Aqueles que venceram suas lutas e cresceram em suas adversidades poderiam abençoar muitos outros. Imagine grupos de apoio para lidar com divórcio, perda de parentes, luta com o cancro, desemprego, depressão, doenças debilitantes, idade avançada. E muitas outras áreas. Há no meio dos filhos de Deus um verdadeiro arsenal de possibilidades de bênção esperando para acontecer.
Comunhão
Quero terminar com outro propósito fácil de se perceber e que é tão valioso nas adversidades – a aproximação do Senhor em termos de comunhão. Notemos dois exemplos clássicos. No AT temos Jó: “Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem os meus olhos”. Jó 42:5. Lembremos que Jó era considerado justo e bom. Mas seu conhecimento de Deus era superficial até que viveu seu sofrimento maior. Não foi nada fácil e ele chegou a desesperar. Mas no fim reconheceu que isso o aproximara de Deus.
Paulo dizia o mesmo em outras palavras: E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo”, Filipenses 3:8. Repare que Paulo precisou passar pelas perdas para ganhar esse conhecimento. Foi por meio de situações dolorosas que ele cresceu em sua comunhão e conhecimento do Senhor.
Infelizmente, a verdade humana é que a prosperidade nos afasta de Deus. Nos traz um falso senso de conforto e segurança e paramos de buscar a Senhor e ansiar por sua presença. É por regra em meio as lutas e dificuldades que acabamos por nos aproximar dele e seu sua verdade. É nas lutas que ansiamos por tê-lo e investimos na oração e na procura do Senhor.
Terminemos então com as palavras do apóstolo inspirado pelo ES: “…nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, E a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. Romanos 5:3-5

Não tenho Vontade de Ler a Bíblia?

Ciganos brasileiros vão ler a Bíblia em sua própria língua

A mãe estava irritada com as notas baixas do filho. O garoto passava a maior parte do tempo vendo televisão ou jogando no computador. A mãe tentara várias estratégias para o motivar mas, aparentemente, nada resultava. Tentara oferecer prémios, tentara ameaçar com represálias. O menino reagia impávido e sereno e quando a mãe perguntava: Filho não vai estudar? A resposta era invariavelmente a mesma: estou esperando que me dê vontade…

Há coisas que fazemos com vontade como comer um gelado, passear na praia, ir a uma exposição de arte de um pintor que admiramos ou a um concerto de uma banda favorita. Há coisas que fazemos por necessidade, como tomar os remédios diários, ir ao trabalho ou fazer exercício. Se esperarmos que nos dê vontade de tomar a medicação, provavelmente, nunca o faremos. Mas, há momentos na vida em que descobrimos que é necessário e precisamos dela, sabemos que sem ela a nossa tensão dispara ou as dores voltam com força.
 Na vida espiritual esta regra também se aplica. Há quem nunca ore porque simplesmente não sente vontade de orar. Vai orar só na hora da urgência, da crise, da fatalidade apenas para descobrir que não sabe orar e que não tem intimidade com Deus. Há quem espere para ler a Bíblia só quando vontade e por isso nunca o faz. Enfim chega o dia em que precisa de direcção do Senhor e então corre para as escrituras mas descobre que as páginas parecem em branco e não fazem sentido. Há quem deixe para vir a igreja só quando bate o desejo e então nunca vem. E quando num dia especial o faz é para perceber que não conhece quase ninguém, não entende bem o funcionamento do culto e não se sente bem como achava que deveria.
Assim como há muitas coisas na vida que devemos fazer independente do nosso desejo, também na vida espiritual precisamos aprender o sentido da disciplina. Oro diariamente, leio a Bíblia e medito todos os dias, participo dos cultos e actividades da igreja porque aprendi que são vida para minha alma e força para meu espirito. É assim que Deus preparou as coisas para acontecerem e é assim que caminho com Ele de modo a enfrentar as lutas e ter vitórias nas adversidades. Não espere pela vontade, meu irmão. Pratique, participe e verá a bênção descendo sobre sua vida.

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