Conselhos à noiva

Temos refletido sobre a aparente contradição de um mundo que até parece apreciar Jesus, mas que rejeita profundamente sua noiva - a Igreja. Vimos algumas razões para a atual rejeição da Igreja. Pensemos agora em como a noiva pode se tornar a adorável criatura que Deus idealizou e que conquistaria corações.

1) DUPLICIDADE

Se desejamos que o mundo veja refletido na igreja os ensinos do Mestre, temos que passar a levar esses ensinos a sério. A conversão tem se tornado algo banal. As pessoas dizem que se converteram quando na verdade aceitaram participar de certo numero de atividades no intuito de receberem bençãos e beneficios correspondentes. Afinal, nosso mundo vive da oferta e procura. Vive do pragmatismo que pensa no custo-benefício. "Serei desta igreja enquanto for abençoado". Isso não é conversão bíblica, é clientelismo.

Crentes que se converteram de verdade são aqueles que viram em Jesus o salvador e o Senhor. Que entenderam que sua forma de vida estava toda errada e que querem agora em Cristo uma nova vida, marcada por seus ensinos e mandamentos. Cristãos, na plena acepção da palavra, são aqueles que vivem de acordo com o que Jesus ensinou. Isso é viver na contramão da filosofia barata de novelas e filmes, na contramão da psicologia moderna utilitária e egocêntrica. É viver pelo que Jesus mandou, pelo que ELE disse ser o certo e o errado.

Quando o mundo observar cristãos que são discipulos verdadeiros então sentirá o cheiro suave do qual fala a escritura. Muitos poderão até não entender, poderão até não aceitar, mas não poderão dizer que a noiva não tem nada a ver com o noivo.

2) INSTITUCIONALIZAÇÃO

A alergia do homem pós-moderno às instituições não deveria ser problema para a Igreja de Jesus, porque Ele não a idealizou como instituição. A Igreja, antes de tudo, deveria ser uma familia, um grupo de irmãos com um interesse comum na vida de Cristo e em seus ensinos. Jesus deixou discipulos e mandou fazer discipulos. Homens e mulheres que, no cotidiano, buscariam viver de acordo com suas instruções e se reuniriam para recordá-las, apoiarem-se mutuamente e louvá-lo por suas bênçãos.

Quando o homem pós-moderno, sedento de paz, de intimidade, de amor prático e aceitação se defronta com um grupo que vive assim, descobre a boa nova, a salvação, JESUS.  Uma das maneiras de termos isso é valorizando os pequenos grupos de comunhão. Podemos chamá-los de grupos familiares, igrejas nos lares ou qualquer outro nome técnico. O importante é vivermos essa comunhão que se perde na instituição, essa simplicidade que se afoga nas organizações, esse apoio que se esvai nas estruturas pesadas. Quando isso acontecer, a noiva aparecerá em sua beleza.

3) MARGINALIDADE

A dicotomia sagrado-secular é anti-bíblica e nos foi imposta de fora. Está na hora dos crentes a rejeitarem primeiro em suas vidas e depois em seus trabalhos e atividades. O Cristianismo não é uma fé subjetiva e irrealista que serve apenas a um bando de desorientados sem raciocinio. É o único caminho para o homem com as respostas às questões mais importantes da vida e a razão de ser da humanidade. Nossa fé tem sido abraçada e vivida pelas mentes mais brilhantes da história e não é um escape fácil para quem não quer pensar.

Precisamos levar nossa fé e nossa ética conosco para o trabalho, para a escola, no lazer. Precisamos dessa vida de fé e prática nas cidades, nos campos, nas universidades, nas fábricas, nas escolas, nos parlamentos, hospitais, tribunais, empresas e parques de diversão. Precisamos mostrar ao mundo que nossa fé é relevante exatamente vivendo essa fé a cada instante e em cada circunstância. E quando assim fizermos, iremos incomodar, mas a noiva resplandecerá como deveria e mostrará o brilho do noivo.

4) SEPARATISMO

Somente quando começarmos a viver vidas íntegras (e não marcadas pela dicotomia sagrado-secular) começaremos a ver o mundo com outros olhos. Perceberemos o quanto nosso testemunho é necessário e pode ser relevante. Mas temos que parar de ver aqueles que pensam de modo diferente como inimigos. A Igreja de Jesus tem um adversário, mas não são as pessoas por quem Jesus morreu e a quem amou e nos mandou amar. Precisamos parar de olhar para o mundo com raiva e desagrado. Se vivermos como Jesus deseja olharemos o mundo como Ele olhava, com olhos de compaixão, vendo ovelhas desagarradas que precisam de pastor.

Há muito que podemos ver de belo, de verdadeiro, de digno, de valoroso em qualquer lugar que procuremos. A Igreja não tem o monopólio da ação de Deus e não pode negar a atuação do Senhor e seus reflexos em tantos lugares. Temos que desenvolver a capacidade de ver a mão de Deus mesmo nos lugares menos prováveis, porque isso nos devolve um senso de humildade que parece que perdemos. Saber que a verdade é de Deus onde quer que a vejamos nos ajuda a ser mais cuidadosos nas avaliações. A Igreja que levanta a cabeça para isso passa a ser mais compreensiva, menos altiva e mais compassiva, menos dona da verdade e mais compartilhadora desta. Essa noiva conquistará mais corações certamente.

5) DIVISÃO INTERNA

O Senhor nos disse que a união seria nossa marca registrada. Não admira que o inimigo da Igreja tenha trabalhando tanto para destruir essa união. Seu objetivo foi sendo alcançado nas inúmeras denominações e igrejas que surgiram e ainda surgem. Cada novo grupo atesta nossa incapacidade de perdoar, entender, buscar e reconciliar.

Por outro lado, sempre que a Igreja se uniu, o Espirito agiu. Sempre que as igrejas de vários quadrantes deixaram a vaidade denominacional de lado e se juntaram para orar e clamar, o Senhor abençoou tremendamente. Isso se repetiu tantas vezes na história que já deveriamos ter aprendido a lição. Nossa união foi desejada e pedida por Jesus. Quando aprendermos a valorizá-la como ELE a valorizava então a noiva aparecerá  radiante e atraente e não em confusão.

Ainda há tempo. Talvez muito pouco, mas ainda há. O desbarato da Igreja vem crescendo. Provavelmente seremos a minoria se buscarmos aquilo que se falou acima. Mas seremos a noiva em seu esplendor. Então o mundo verá a glória do noivo refletida em nós e cumpriremos a nossa parte na missão redentora de Deus à humanidade.

É a noiva que eu não suporto!

Provavelmente, você até já passou por essa experiência. Um amigo, parente, talvez seu primo, ou mesmo seu filho, um dia, trás à casa sua noiva para apresentar aos seus. Você fica confuso. O sujeito é simpático, até bonito e charmoso. Tem excelente formação, bom emprego, ótimo salário. Poderia "conseguir" qualquer moça. O que foi que ele viu nessa? Ela parece não encaixar, não combinar com ele. Na verdade, ela chega a embaraçá-lo, se não mesmo envergonhá-lo. Parece que só ele não vê! Você vaticina um casamento frustrado, senão mesmo fadado ao fracasso. No fim do encontro você comenta com um conhecido: "Eu gosto dele, a noiva é que eu não suporto".

Não se assuste se eu lhe disser que é isso que a Igreja tem enfrentado em nosso tempo. A Bíblia diz claramente que o Senhor Jesus vê a Igreja como sua noiva (Apocalipse 21:9) pela qual Ele se deu sacrificialmente (Efésios 5:25 a 27). Se avaliarmos as estatísticas e as pesquisas descobriremos que de modo geral o mundo admira Jesus e seus ensinos. Mas, quando falamos de Igreja a reação muda de figura. As pessoas podem ter uma ideia errada de Jesus, mas a verdade é que Ele não parece ser o problema. Elas até gostam do noivo, a noiva é que eles não suportam!

Por que essa atitude? Por que o mesmo mundo que parece ser até simpático a Jesus não tolera sua Igreja? Se as pessoas são capazes de aceitar o valor de Jesus e chegam a admirá-lo por que não apoiam ou pelo menos se aproximam de sua noiva? Pensemos um pouco nisso enquanto reflectimos na busca de soluções para a situação da Igreja em nosso mundo.

1) Duplicidade
Provavelmente, a principal razão pela qual as pessoas rejeitam a igreja seja a discrepância entre os ensinos de Jesus e a vida dos seus seguidores. As pessoas ouvem o que Jesus dizia e ensinava e depois olham para a Igreja e não conseguem reconhecer "cristãos" naqueles que sentam em seus bancos. A hipocrisia de proclamar algo e viver exatamente como todo mundo vive, tem afastado mais gente da igreja do que qualquer argumento ateísta. A suposta superioridade dos crentes que se esvai quando avaliamos as vidas marca pontos contra a Igreja.

Sabemos que a Igreja não é feita de gente perfeita e que essa desculpa pode ser apenas isso, uma desculpa. Mas não podemos deixar de pensar como seria a reação do mundo se nossas vidas refletissem mais os ensinos do Mestre. Jesus viveu e ensinou uma vida de amor ao próximo, de serviço a comunidade, de investimento nas pessoas sofridas da sociedade, os rejeitados e abandonados. A Igreja como instituição se fecha a essas pessoas e muitos seguidores de Jesus se julgam bons demais para estar próximos delas. Em vez de incorporar o bom samaritano engolimos o sacerdote...

Escândalos de vários tipos que têm assolado as várias vertentes do Cristianismo apenas acrescentam razão a quem já vê na duplicidade de vida dos Cristãos uma forte razão para dizer que até respeitam Jesus, mas não suportam sua noiva.

2) Institucionalização
Jesus não deixou uma instituição. Ele não fundou uma denominação nem mesmo uma religião. Ele deixou uma família. Um grupo de discípulos que deveriam perpetuar seu discipulado. Juntos esses homens e mulheres tinham descoberto o modo de voltar a comunhão com Deus e aprendido a apoiarem-se mutuamente nessa caminhada imitando a vida de Cristo no poder do Espírito.

Com o tempo a força desse movimento decaiu e o Cristianismo foi se tornando, para muitos, apenas mais uma religião com seus rituais, liturgias e profissionais religiosos. A Instituição tomou o lugar do Espírito e hoje não conseguimos pensar em Igreja sem ela. Mas é essa mesma instituição que desperta a suspeita do mundo. Principalmente em nossos tempos pós-modernos, as instituições estão sob suspeita e crítica. Muita gente não quer nem se aproximar daquilo que vê como mais uma organização que visa seu dinheiro. Não admira que o formato de igreja que se apresenta ao mundo de hoje desperte tão pouco interesse e provoque tanta rejeição.

Houve um tempo em que a igreja como instituição até representava uma boa alternativa a outras instituições. Hoje, o homem pós-moderno desconfia de todas as instituições e prefere muito mais se ligar a grupos de interesse. Enquanto a igreja mantiver sua estrutura pesada e seu ar institucional continuaremos vendo gente que até respeita Jesus, mas não tolera sua noiva.

3) Marginalidade
A Igreja aceitou a imposição mundana da divisão entre sagrado e secular. Essa divisão não é Bíblica e nem nasceu na igreja. Veio de fora. A famosa directriz de separação entre igreja e estado é apenas uma das vertentes de algo que se tornou marcante na sociedade e facilitou a duplicidade de vida de muitos cristãos. Agora temos uma divisão clara: A vida diária, secular, colectiva, de senso comum, regida por leis e ciência e os dias religiosos (domingo e alguma festa), sagrados, pessoais e regidos por ideias e filosofias subjectivas de um mundo de fé totalmente individualizado.

Um exemplo físico desta marginalidade é a capela de um hospital. Sabe onde fica a capela do hospital mais próximo? Não interessa. É algo pequeno, acanhado, normalmente num lugar bem escondido, por regra vazia e sem interesse. O quotidiano se passa no hospital onde ocorre vida e morte, onde a ciência manda, onde todos circulam. A capela é marginal, procurada muito esporadicamente por aqueles com "fé", algo subjectivo e que não faz muita diferença para a maioria.

A Igreja aceitou essa dicotomia e por conseguinte a marginalização. Acomodou-se a ocupar só os dias sagrados, só os espaços litúrgicos. Recolheu-se em si mesma abrindo mão do diário, da palavra activa, da importância vital. Sendo assim não admira que a maioria considere a Igreja sem interesse e sem valor.

4) Separatismo
Consequência lógica da duplicidade hipócrita de muitos crentes e da marginalização da Igreja é o separatismo que se vê na maioria das congregações. Nossos discursos enfatizam o mal do "mundo". Falamos em "nós" (os que fazemos parte da elite salva e santificada) e "eles" (os mundanos, perdidos e sob a dominação do maligno). Pior ainda é que em muitas congregações fazemos com que o visitante sinta essa divisão de modo claro e desagradável.

Nesse tipo de contexto os cristãos vêm a igreja como um refúgio, quase uma catacumba onde se podem esconder do mal e respirar o "bom ar" do evangelho. Qualquer um que venha comprometer essa tranquilidade é mal recebido. A evangelização é nula, ou então toma o aspecto da imposição de ideias, costumes e tradições que passam até pelo modo de falar e vestir. Se quer ser um de nós então tem que ser exatamente como nós.

Essa visão pode parecer caricata mas infelizmente não é. Representa ainda uma boa parte do Cristianismo e tem contribuído bastante para que a noiva seja rejeitada e mesmo odiada.

5) Divisão Interna
Uma última característica da igreja que trabalha contra sua posição neste mundo é a profunda e variada divisão interna da Igreja que se diz Cristã. É comum ouvimos as pessoas falarem: "Há tantos grupos e denominações, mas qual é a verdadeira?" E nossa resposta, em vez de apontar para Cristo, é gastar um precioso tempo explicando porque nosso grupo é o "dono" da verdade. Diante de tantas opções as pessoas perdem de vista o principal, JESUS.

Não fazemos apologia de uma unidade a qualquer preço, mas que as divisões destroem a igreja não é novidade. Se coisas tão peque nas são capazes de nos trazer tanta divisão como esperar que as pessoas vençam as barreiras? Se nós não somos capazes de valorizar as coisas boas de nossos irmãos como esperar que outros o façam? Não admira que respeitem o noivo, mas fujam da noiva.

Reagindo
Nenhuma solução fácil será honesta ou relevante. O inimigo nos tem muitas vezes exatamente onde quer, mas há passos específicos que podem ser dados para vencer. Na próxima semana reflectiremos mais sobre eles.

Filhos de Missionários: Cidadãos do Mundo

Hoje meu filho retornou de um acampamento evangélico. Ele amou todas as actividades. Durante seus 16 anos só havia participado de um acampamento no Brasil, da nossa Igreja  Batista de Campo Grande. Foi tão bom ver seu entusiasmo e principalmente conhecer outros jovens, de diversas nacionalidades, que passam pelos mesmos problemas e dilemas, como a dificuldade de falar de Cristo para um colega aqui na Europa, que é tão cética e secularista. Sentiu que não estava sozinho como um jovem crente que deseja realmente fazer a vontade de Deus.

Todas as suas expressões me fizeram agradecer a Deus por nos ter chamado para Missões. Não estou a falar de todas as vezes que ficamos sem água, das noites passadas à luz de velas nem da dificuldade para encontrar alimentos na longínqua Bafatá, mas louvo a Deus porque meus filhos se sentem à vontade com pessoas de várias nacionalidades.

No liceu Gabriel convive e é bem querido por vários grupos: guineenses, portugueses ( pois nasceu nos Açores), ucranianos ( pois parece mesmo russinho) e brasileiros. Quando entra na escola conversa em várias línguas e sente-se bem com isto.  Sem problemas!

Minha filha sente-se à vontade na escola, mesmo sendo uma mistura de Barbie com a Polly brinca e dança com suas colegas de turma da Guiné, Cabo Verde e Angola. Tem amigas brasileiras, portuguesas e romenas e brincam de maneira multicultural, cada qual ensinando sua versão do mesmo jogo.

Creio que no céu será assim, enganam-se aqueles que pensam que na glória haverá compartimentos estanques para as raças e as denominações.  Muitos crentes vão se surpreender, pois o Senhor será louvado em todas as línguas.

Dou graças a Deus e me emociono quando lembro que o Cordeiro será louvado em Fula também,  pois cantaremos juntos com nossos irmãos Fulas e Mandingas da Guiné, graças também  à nossa pequena contribuição em Bafatá.

Uma vez, Gabriel com 5 anos perguntou-me porque Deus havia criado pessoas com tantas cores: ele era cor de rosa, mamãe cor de creme, Tia Edna cor de caramelo, o irmão Demba cor de chocolate e seu melhor amigo era bem negro, como carvão.  Respondi que Deus amava a criatividade e, com certeza, conheceríamos pessoas com muito mais cores.  Terminou com outra pegunta:
_ Tem alguma pessoa azul? 
Quem sabe? E estas também precisam ouvir do Senhor e estão a colorir nosso mundo.
Que o Senhor nos faça cada vez mais unidos, nos preparando para o porvir.

Contribuição de Ida Venturini

CERVEJA RASTRUM OU VINHO MALMSEY?


Essa poderia ser a questão no bar mais próximo. Qual é melhor? A cerveja Rastrum ou o vinho Malmsey? E o caro leitor dirá que não faz a menor idéia, até porque nem bebe cerveja ou vinho ou nunca ouviu falar dessas duas marcas. Mas, na verdade não estamos falando de discussão de bêbados, mas de teologia.
Foi Martinho Lutero que colocou essa questão. Ele falava sobre a má utilização das escrituras. Falava sobre aqueles que tiravam a palavra de seu contexto e a usavam de acordo com seus interesses. Lutero sugeriu que pela simples junção de textos desconexos da Bíblia poderia se provar qualquer coisa, até que a cerveja Rastrum era melhor que o vinho Malmsey.

Essa é uma questão muito actual. Vivemos dia de tão grande diversidade no meio evangélico que temos dificuldade em nos identificar como tais. Hoje evangélico pode ser praticamente qualquer coisa. Muito disso se deve á visão individualista que o evangelicalismo trouxe à salvação. Hoje as pessoas querem uma igreja à sua medida. Que lhes agrade 100%.  Se não gostar, mudo de igreja.  Se não achar uma que me satisfaça fico sozinho, eu e minha Bíblia. Se me der na cabeça, abro uma igreja nova e arranjo um nome bem chamativo. E assim vamos retalhando o cristianismo.

Há hoje muita gente que pensa que um indivíduo sozinho, com a sua Bíblia é o coração da vida cristã. Essa visão individualista do evangelicalismo foi sua força, na medida em que fomentou a relação pessoal com Deus, mas mostrou-se também a sua fraqueza, porque tem levado à perda da noção de reino. A visão individualista da religião leva a um egoísmo onde Deus serve o crente e este apenas usufrui do que recebe, sem nada contribuir.

O membro é corpo, mas não é e não pode ser a totalidade do corpo ou a realidade final dele. Fora do conjunto, o membro se torna uma apresentação grotesca do corpo, uma aberração. Imagine se a mão resolver que é corpo, ou que o nariz decida que é corpo. Por ver ou conhecer a mão ou o nariz fico entendendo como é o corpo? Certamente que não. Confundir a mão ou o nariz com o corpo é um erro grosseiro. Essa visão distorcida tem prejudicado imensamente a igreja.

O individualismo tem levado a interpretações erradas e mesmo aberrantes das escrituras, a um arrefecimento na fé. O crente isolado vai sofrendo uma crescente influência do mundo, da mídia, dos amigos e nem percebe. Perde todo o apoio, consolo e edificação que só pode existir na igreja como um todo, um corpo reunido e unido.

É claro que a desculpa mais comum (e muitas vezes única) daqueles que se afastam é que há muito erros na igreja, muitos pecadores. É mais ou menos como o doente que reclama que há muitos doentes no hospital onde foi internado... Ora, a igreja é de origem Divina, mas de composição humana e sabemos que daí advém suas fraquezas, ambiguidades e limitações. Mas é também aí que se manifesta a graça, a unção do Espírito Santo e os dons. Fomos salvos tanto de como para. Salvos da perdição, do pecado, do inimigo, para a graça, para as boas obras, para a vida de edificação em comunhão com os outros crentes.

A noção hoje comum de "Cristo Sim, Igreja Não" é anti-bíblica e vem de origem maligna e os maiores prejudicados são exactamente aqueles que acreditam nessa mentira. Necessitamos da Igreja Para:

1) Uma Interpretação Bíblica Sadia
Ninguém sozinho pode ter o monopólio da verdade interpretativa. è na comunhão da igreja, no debate sadio de ideias, na união daqueles que são ungidos com o Espírito, que aprendemos a compreender a Palavra de modo prático e relevante para nós e o mundo de hoje.

2) Uma Edificação Mútua
Os dons foram dados para edificação comum. O meu dom abençoa meu irmão, o dom dele me abençoa. Como temos perdido ao deixar de partilhar na igreja. Uma das maiores tragédias da igreja moderna é exatamente a falta de conhecimento e exercício dos dons espirituais. É nessa interdependência que crescemos mais e a igreja mostra a sua força.

3) Uma Maturidade Sólida
A maturidade vem da convivência, da tolerância, do convívio. Ser santo no isolamento talvez nem seja tão difícil. Mas o Senhor não nos convida a sair do mundo, mas a ser luz em meio a trevas. É no meio do povo de Deus que crescemos. É necessário nos adaptarmos, aceitarmos e sermos aceitos, compreendermos e sermos compreendidos, isto nos faz crescer e desenvolver. Como o Provérbio já dizia, é "o homem que afia o homem!"

4) Uma Base para a Vida
A solidez dos relacionamentos e da comunhão que adquirimos na Igreja nos dá uma base para a vida que não existe fora da Igreja. O Senhor deixou a Igreja por isso também. ELE sabia o quanto precisamos uns dos outros e o quanto essa relação pode ser bênção entre aqueles que provaram a graça e o Espírito Santo. Privar-nos disso é tolice pura, é desperdício fatal.

Conclusão:
Fora da Igreja têm surgido todas as heresias. Aqueles que dispensam a comunhão, a exortação, mas também a edificação da Igreja como corpo de Cristo privam-se de muitas bênçãos e se colocam em posição muito arriscada para os ataques do maligno. As escrituras não nos foram dadas para as usarmos a nosso bel prazer. Devemos buscar uma igreja onde a doutrina seja sã e onde nos sintamos edificados. Aí devemos permanecer, dando bom testemunho, servindo de bênção aos demais. Quando surgirem os erros e as dificuldades devemos lidar com eles em amor e não sair logo falando mal da congregação. Respeitemos o corpo de Cristo e seremos muito abençoados.

Quero Sentir a Presença de Deus


"Eu quero sentir a presença de Deus!", é o clamor quase geral que se ouve num dia de culto, num momento de angústia, numa hora escura de problemas incontornáveis. O que daríamos para ver a Deus! Alguns coros modernos falam até em tocar a Deus provavelmente pensando em Jesus em sua forma física neste mundo. Mas onde esta Deus? Como sentir a sua presença?
As respostas sobre onde Deus está passam em geral por duas possibilidades: Ele está no Céu ou está no nosso coração. Quando digo que Deus está no céu fico com a ideia de que esta distante, em algum lugar muito longe, praticamente inacessível de onde, de vez em quando pode nos fazer uma visita rápida, tipo médico de urgência. Quando digo que esta em meu coração corro risco de transmitir a noção de que Ele é no fundo apenas parte de minha vívida imaginação.

Biblicamente, o Senhor não está em lugar nenhum. Sendo espírito Ele não pode ser definido em termos de lugar de morada ou residência. Quando a Palavra fala de Deus no Céu não esta definindo um lugar mas uma realidade existencial diferente da nossa. O céu que Deus "habita" não é distante mas presente, ao nosso redor, perto de nós, porém invisível a olhos materiais pois se trata de uma realidade espiritual.

A noção de que Deus está no meu ou no nosso coração pode advir de textos como o de Apocalipse 3: 20 que fala de Jesus entrando, mas não é propriamente uma noção bíblica. Na verdade não tem a ver com nossa imaginação mas com a presença espiritual. Podemos entendê-la como entendemos a "presença" de pessoas que não estão conosco fisicamente ou porque estão distantes ou porque já morreram. Mesmo assim falamos que as carregamos em nosso coração. Sua influência se faz presente. Com Deus é algo muito mais marcante, quão marcante é a pessoa de Deus.

Mas continuamos com a questão: como perceber a presença de Deus? Usemos algumas de nossas experiências comuns que podem ajudar já que fomos criados a semelhança de Deus.

1) Nosso espaço Físico
Pense no seu espaço físico. Pode ser sua casa, seu quarto, seu escritório. Visitando seu espaço, aquele que você criou, posso aprender bastante sobre você. Se é organizado ou não, de que coisas gosta, qual sua cor favorita, seus hobbies ou preferências, os livros que lê e as figuras que gosta de ter expostas. Seu espaço físico me dá uma boa noção de quem você é e nele posso "sentir" de certo modo sua presença, sua influência ou "força".

Através da Criação não podemos saber profundamente quem é Deus, mas podemos perceber bastante (Salmo 19). Veja a criação como o espaço físico preparado por Deus, seu escritório ou oficina de trabalho. Note a exuberância de cores e padrões e verá que é um Deus criativo, belo, extremamente organizado e amoroso. Veja as leis da natureza como a organização desse espaço e perceberá o quanto o Senhor cuida, protege e orienta tudo que é seu. Não é por isso á toa que nos sentimos mais "perto" de Deus diante de uma bela paisagem ou ao ver um lindo por de sol. Precisamos explorar melhor esse recurso maravilhoso que é a criação de deus no intuito de conhece-lo e senti-lo.

2) Nossa Presença pessoal
Pense agora na nossa capacidade de nos fazermos presentes. Somos capazes de estar fisicamente num lugar e não estar presentes. As pessoas por vezes nos dizem: "parece que estas noutro lugar"... E é verdade. Para que minha presença se faça sentir preciso de certas condições. Não me abro com facilidade, não me dou a conhecer a estranhos ou em condições adversas. Não mostro quem sou numa entrevista corrida com o relógio na mão. Mas, se as condições forem certas, se o ambiente for propício, se a companhia for aberta e houver tempo e liberdade posso me abrir, mostrar quem sou, mostrar meu interior e me dar a conhecer.

Creio que algo semelhante se passará com nosso Senhor. Queremos intimidade mas só o procuramos em momentos marcados, com relógio na mão, com pressa de ouvir resultados, com uma atitude mercantilista. Será a mais propícia para que ELE se abra a nós? Será a maneira certa de induzir intimidade? Vejo crentes orando nos cultos para sentir a presença de Deus, mas quanto tempo ou atenção ou pensamento lhe dedicaram durante a semana? Eu não me abro por pressão. Não me exponho por comando. E o Senhor?

Temos até em nossos cultos um momento chamado "oração invocatória". Parece-me algo sem sentido, biblicamente falando. O Senhor prometeu estar onde 2 ou 3 se reunissem em seu nome, então porque invocá-lo? Não seria uma forma de desconfiança? De duvidar de sua palavra? Por outro lado, se minha presença é mecânica, se minha reunião não é na verdade em seu nome então de nada me servirá invocar. ELE esta presente quando é desejado de verdade. Por isso diz que esta perto do coração quebrantado porque esse realmente o busca de todo.

Provavelmente, a maioria das vezes que sentimos Deus distante, fomos nós que nos deslocamos. Fomos nós que deixamos de criar condições para suas manifestações amorosas. Está na hora de parar de reclamar e aprender a me abrir e a receber.

3) Amigos Comuns
Pense por último em pessoas que você valoriza muito. Talvez pessoas importantes ou não. Talvez ainda vivas ou já na eternidade. Agora imagine que passa um bom tempo falando sobre essa pessoa com alguém que também a ama e conhece. Durante essa conversa, trocam experiencias sobre a pessoa em causa. Talvez possam rir e até chorar lembrando episódios e momentos. No fim desse encontro você vai embora com uma sensação de maior comunhão com o amigo com quem falou mas também de que de algum modo ficou conhecendo melhor aquele de quem falaram.

Essa é uma das razões de ser da igreja. Comungarmos daquilo que Deus é e faz por nós. Conversarmos, compartilharmos com outros que conhecem o Senhor sobre nossas experiências com ELE. Essa comunhão fortalece nossa amizade e união e nos aumenta o conhecimento sobre o Senhor fazendo com que sua presença fique mais próxima. Por isso também não deveríamos deixar a igreja e os tempos de comunhão.

Conclusão: Afinal, sentir a presença do Senhor parece não ser tão etéreo. Há muitas maneiras de desenvolvermos a sua presença em nossas vidas. E o mais extraordinário é que ELE deseja isso! Não será ELE a dificultar. Desde o inicio nos criou para essa comunhão. Sendo assim, aproveite mais os momentos que puder passar em contemplação da natureza no intuito de conhecer o Senhor. Faça sua presença sentida claramente numa abertura genuína a manifestação do Senhor. Converse mais com seus irmãos em Cristo sobre a maravilha de nosso Deus. Cresça nessa consciência e seja abençoado.
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