Thank God it's Friday!

MALDITO TRABALHO!!?
O individuo parecia transtornado. Os músculos da face tensos e contraidos enquanto por entre os lábios saía o impropério: "se um dia encontrar quem inventou o trabalho dou-lhe um tiro nos miolos!"  Assisti a cenas parecidas com esta por mais de uma vez. Era um desabafo contra uma atividade penosa que servia apenas para sustentar a familia.

Outras expressões menos dramáticas, mas igualmente contrárias ao trabalho são as que vemos nas tiras de banda desenhada do gato Garfield onde ele confessa: "I hate mondays" (Detesto segunda-feira) ou "Thank God it´s friday" (Graças a Deus é sexta).  Todas essas expressões servem para transmitir a mesma mensagem: o trabalho é algo detestável do qual todos nos queremos ver livres!  Será essa a visão biblica e cristã do assunto?

Devemos começar por reiterar que o cristão deve ter uma cosmovisão guiada pela Biblia em todas as coisas. A vida cristã não pode ser apenas a que se vive em algumas horas no domingo ou em dias sagrados, mas deve ser a vida diária que engloba todas as atividades que desenvolvemos.  Uma fé que não diga respeito ao meu trabalho será de pouco valor. Se gasto a maior parte do meu tempo trabalhando então minha fé deve ter algo a dizer sobre isso ou não será uma fé relevante! 

Encurralar meu cristianismo aos domingos é destituí-lo de toda influência prática e
real na minha vida! 

Logo, minha fé tem que me falar de meu trabalho.   E o que aprendemos na Bíblia sobre o trabalho?

1) O Trabalho precedeu o pecado na História Humana

Biblicamente, o trabalho aparece antes do pecado.  Deus criou o homem e o colocou no jardim para que cuidasse dele e dos animais. O primeiro homem foi jardineiro, agricultor e criador de animais. Essa atividade era plena, ocupava os dias de Adão e Eva e representava uma boa utilização das capacidades com que o Criador os dotou.   Logo, sendo algo original ao homem, estava inicialmente em estado puro. O trabalho não veio como castigo por causa do pecado como pensam alguns, mas o precedeu com o intuito de dar ao homem propósito e realização.

2) O Trabalho foi instituído por Deus
Segundo Genesis 1 e 2,  foi Deus o inventor do trabalho.  O Criador conhecia a criatura como ninguém.  Deus trabalhou e ainda hoje trabalha, criou o homem à sua imagem, logo, criou um ser trabalhador.  Deus deu ao homem trabalho especiífico e esse mandato precedeu todos os outros inclusive os da era da Igreja.  Aqueles que se insurgem contra o trabalho em si, se rebelam contra Deus.   Aqui não discutimos a existência de trabalho escravo, de trabalho injusto, de trabalho infantil ou mal remunerado(fruto do pecado e da ganância dos homens).  Falamos do trabalho como instituição!  Do trabalho honesto, que serve para sustento próprio e para prover outros.  O trabalho como tal, foi criação de Deus para valorizar e honrar o homem e por isso mesmo nenhuma cultura do mundo até hoje honrou o preguiçoso.

3) O Trabalho foi valorizado nos 10 mandamentos
Sabemos que o decálogo tem as bases de toda a lei.  Nesses 10 mandamentos encontramos o resumo daquilo que seria o guia prático para o povo de Israel.  No oitavo e no décimo mandamentos há uma clausula de proteção a propriedade privada que nos mostra o valor do trabalho. Na lei estipulada pelo Senhor há regras especificas para salvaguardar aquilo que é fruto do trabalho do homem.

4) O Trabalho era muito valorizado pelo povo de Deus
Na cultura judaica resultante da orientação divina o trabalho sempre foi valorizado. Todo menino judeu deveria aprender uma profissão mesmo que depois se dedicasse a outras atividades mais intelectuais. Isso demonstra a importância do trabalho para o povo de Deus.

5) Jesus e os lideres Cristãos foram trabalhadores
Todos sabemos que Jesus foi carpinteiro.  Até os 30 anos ele exerceu essa profissão que aprendeu de seu pai terreno dando assim uma visão elevada do trabalho humano. O Criador feito criatura não rejeitou a vida de trabalho.  Os apóstolos de modo geral eram homens simples de trabalho que o Senhor chamou para a missão.  Paulo manteve sua profissão como fazedor de tendas e em boa parte de seu tempo, mesmo como missionário, ele se sustentava com sua atividade profissional.

Ainda a propósito da vida de trabalho de Jesus será interessante lembrar o episódio de seu batismo.  Deus o Pai falou do céu "Este é meu filho amado, em quem me comprazo!"para referir seu contentamento com Deus o Filho.  Fica a questão: Por qual milagre o Pai exaltou o Filho?  De que sermão falava Deus ao elogiar Jesus?  Na verdade, o seu ministério público ainda estava por começar, logo,  o contentamento do Pai não se referia a nenhum milagre, maravilha ou mensagem.  O Pai estava feliz com Jesus, que até então vivera como um simples carpinteiro, honesto, trabalhador, sustentando a familia e vivendo um testemunho de profunda comunhão com o Pai.  Seria bom meditarmos nisso.

6) O Ensino bíblico incentiva o trabalho
Muitas das parábolas de Jesus acontecem no ambiente do trabalho.  A famosa parábola dos talentos diz respeito ao galardão de trabalhadores esforçados.  As epístolas seguem nessa linha e Paulo incentiva mesmo os escravos a serem bons trabalhadores e darem exemplo como servos dedicados.  O trabalho recebe nas escrituras uma posição destacada como parte fundamental da vida.  Na verdade, o trabalho é um dos modos mais importantes de expressarmos nosso caráter e personalidade.  Um mal trabalhador dificilmente convencerá as pessoas de que é uma boa pessoa.  Minha forma de encarar e viver minha vida de trabalho certamente revela muito de quem eu sou. por isso a Biblia incentiva o crente a ser um bom trabalhador.

_ Se o trabalho é assim tão valioso e de origem divina, então por que é que hoje temos uma visão tão negativa do trabalho?

- Os gregos faziam uma dicotomia marcante entre o material e o espiritual.  Uma das correntes mais fortes da filosofia grega apresentava tudo o que é matértia como negativo e mal.  Nessa visão, o trabalho físico perdia valor em relação ao espiritual.  O Cristianismo bebeu nessa fonte, passando a considerar o trabalho do espírito (pregação, ensino, serviço religioso) como mais valioso que o do corpo.  Isso contribuiu bastante para uma visão negativa do trabalho no mundo de cultura judaico-cristã.

- O pecado contaminou tudo, inclusive o trabalho. Quando pecou, o homem perdeu a comunhão com Deus e nessa perda se foi o propósito para a vida, que incluía o trabalho.  O homem sem Deus não tem razão para viver e se vê como fruto do acaso.  Nessa perspectiva o trabalho é verdadeira prisão que nos impede de aproveitar a vida.  Surge uma visão negativa do trabalho.

- A mentalidade de consumo e lazer que impera hoje incentiva o entretenimento em detrimento do trabalho.  O homem moderno vê o trabalho como aquilo que tem que fazer para poder ter dinheiro para gastar em coisas e em serviços que lhe tragam prazer e bem estar.   Nessa perspectiva o trabalho é novamente o vilão que nos rouba a melhor parte da vida.  A aposentadoria se torna a terra prometida, um período em que não precisaremos fazer nada que não queiramos e vamos gozar a vida.  Muitos, senão mesmo a maioria, descobre tempos depois que era mais feliz quando trabalhava e não sabia...

_Qual deve ser a posição do cristão sincero diante do trabalho?


Propósito: Deus nos criou com um propósito e para tal nos dotou de talentos e virtudes. Devo entender como fui criado, desenvolver minhas habilidades e usa-las para experimentar toda a razão da minha existência. Dou glória a deus como Criador quando cumpro minha missão na terra trabalhando de acordo com as caracteristicas que deus me deu. Uns serão bons para certas coisas, outros para outras. Podemos e devemos todos encontrar alegria e realização no que fazemos.

Honra: O trabalho honesto deve ser valorizado e honrado no meio cristão e no seio da igreja. Não devemos cair na mentalidade errada de desacreditar certos tipos de trabalho. Precisamos de todos para viver melhor e a igreja deveria estar na linha da frente na preservação da dignidade do trabalho.

Bênção: Se estou a trabalhar naquilo em que sou bom, porque Deus me criou assim, então vivo para a glória de Deus e posso ser bênção para os demais!  Por exemplo: um pintor de parede:  num mundo escuro, sujo e sem graça por causa do pecado, o pintor pode se ver como aquele que traz vida, cor e alegria.  Depois de terminar seu trabalho, um lugar que antes era feio e sem vigor pode ter graça, beleza e animar os espíritos. O pintor pode se ver como sócio de Deus no propósito de recuperar as cores que o pecado manchou.

Eu sou médico. Entendo que a doença não fazia parte do plano de Deus para o homem e surgiu como consequência do pecado. Quando luto contra a enfermidade e trabalho para a saúde entendo que estou engajado na tarefa Divina de recuperar o homem por inteiro.

Cada profissão pode entender sua atividade como uma sociedade com o Criador na restauração da Criação e desse modo cada profissional passa a ser um agente de salvação na terra.  Essa visão madura e abençoada do trabalho deveria encher o coração de cada cristão. Como seria diferente um trabalho feito assim!  Deixe-se contagiar e contagie outros com essa visão e estaremos trabalhando por um mundo melhor para a glória de Deus!

Joed Venturini

Meu avô, Pr. Reis Pereira

Dia 15 de outubro completará o 20o aniversário da morte do pr. José dos Reis Pereira, diretor do Jornal Batista por 24 anos, pastor, jornalista e professor. Um homem de uma inteligência extraordinária e de uma visão do Reino de Deus especial para o seu tempo.  Mas hoje, poucos lembram de suas palavras e do seu ensino, ou mesmo de seus editoriais que influenciaram milhares de crentes no Brasil e no mundo.  Hoje, quero lembrar-me apenas de meu avô, o vovô Reis.

Juntamente com minhas 5 irmãs, amava visitar vovô Reis, o que acontecia pelo menos 3 vezes por semana, dada a nossa proximidade.  Era delicioso sair da escola e passar as tardes na casa do vovô Reis, pois sempre havia novidades. 

Um missionário da JMM que passava pelo Brasil, um pastor, ou mesmo crentes de diversas partes do Brasil sempre o visitavam.  No natal as portas ficavam repletas dos cartões de natal recebidos de todas as partes do mundo.  Ele se correspondia com irmãos e amigos de tantos lugares que me espantava a forma como mantinha sempre os contatos e as amizades. Sim, ele era fiel aos seus amigos.

Gosto de lembrar e sonhar com nossas caminhadas...mesmo quando estava doente caminhávamos por duas horas, sempre a conversar.  Foi assim que ele me mentoriou e instruiu da melhor maneira, no dia-a-dia.  Iniciava uma conversa com uma pergunta:  Ida, o que você sabe sobre os grandes poetas portugueses?  Em cinco minutos despejava o que lembrava e nas duas horas seguintes absorvia todos os detalhes que o avô acrescentava. Ouvia poemas magníficos com suas críticas e impressões como se os tivesse conhecido pessoalmente.

Amava ouvir suas aulas de mestrado em História da Igreja.  Para ele Lutero e Zuinglio não eram apenas personagens num livro enfadonho, mas crentes especiais que transformaram sua época.  Quando ensinava, seus olhos brilhavam, sua voz se animava e conseguíamos reconhecer naqueles personagens seus melhores amigos.  Contava detalhes de suas vidas que tornavam toda a História num momento vivo e divertido!

Amava passear com vovô e principalmente estar à mesa, em família. Uma grande família, sempre com seminaristas e iberistas a participarem ativamente do colóquio.  Gostava de piadas inteligentes e era leitor assíduo de revistas, jornais, entre elas o Times e Readers Digest.  Todas as editoras enviavam-lhe seus livros de lançamento, ele lia e memorizava-os, numa técnica impressionante! Jamais esquecia-se de um nome!

Quando ficou doente o médico restringiu-lhe a alimentação, porém, quem conheceu vovô sabe que comer era o seu hobby predileto.  Quando eu e Joed namorávamos e almoçávamos com ele, sempre invejava o prato de Joed dizendo:
_ Darcília, o que é que o Joed está comendo? Eu quero o que Joed está comendo, pois parece bem melhor...
Vovó Darcília, morta de preocupação respondia: 
_Mas, Reis, você não pode comer desta comida...o médico já disse....
_Darcília, eu quero...vou pegar só um pedacinho.  E lá se ia o grande bife que Joed pretendia...
Amava a culinária portuguesa, mas também era fã dos queijos franceses!! Infelizmente, esse apetite agravou-lhe a saúde.

Surpreendia-me quando queria cozinhar um pão de ló com 12 ovos! Ou quando me ensinava a receita de um frappé de coco que levava sorvete de coco e um vidro inteiro de leite de coco...gordura para matar qualquer um...mas, que delícia! E depois, sobrava para mim o trabalho de limpar toda a sujeira na cozinha, antes que vovó descobrisse nossa estripulia!

Divertido era ver vovô assistindo a uma luta de boxe.  Como ele gostava de boxe! Eder Jofre e outros lutadores...vovô treinou boxe quando novo e gostava de "tentar" nos ensinar.  Podem imaginar vovô dando uma "gravata" nas netas, que em vão tentavam jogá-lo ao chão.  Um dia a cama do quarto da vovó foi abaixo porque as quatro netas pulavam tanto e lutavam com o avô que esta não resistiu.  E vovó Darcília ficou uma fúria! Hoje a compreendo bem, que trabalhão e que gangue nós fazíamos!

Vovô gostava de uma boa argumentação, gostava de uma discussão intelectual.  Não lhe agradava aqueles que em nada podiam contribuir, ou que simplesmente concordavam e abaixavam a cabeça.  Mesmo sendo muito nova, sempre gostei de perguntar e instigar e com isso vovô se abria e ensinava ainda mais. Foram as lições mais preciosas, que não se aprendem numa cadeira de seminário ou faculdade. Foram anos maravilhosos!

Vovô deu-me meu primeiro emprego: secretária particular.  Deveria organizar sua biblioteca e seus milhares de pequenos cartões com anotações.  Seus sermões eram guardados nestes cartões e muitas vezes havia apenas o texto bíblico e 4 palavras.  Achava incrível como conseguia lembrar-se de uma mensagem completa com apenas estas anotações. Ajudava-o a elaborar o boletim da igreja e organizar sua correspondência.  Foi confidente de tantos missionários,  pastores e esposas de pastores, mas sempre manteve total sigilo e antes de falecer lembro-me que queimou a maior parte de seu arquivo de cartas, não fossem cair em mãos erradas.  Através destas cartas orientou e guiou o meio batista no Brasil.  Hoje sua firmeza doutrinária, suas convições profundas e seu amor pela Palavra fazem falta.  Sua amizade era genuína, sem preconceitos, sem interesse nem acepção de pessoas.  Os doutores e os mais iletrados eram ouvidos da mesma maneira e todos eram recebidos à volta de sua mesa.

Pr. Reis não era um homem fechado e não o considero um batista fundamentalista, era um batista sincero e convicto, pois sua crença vinha do muito estudo e meditação. Muitos que o conheceram apenas de púlpito podiam considerá-lo reservado, mas conosco era alegre, descontraído e muito, muito espirituoso.

Hoje, após  vinte anos de sua morte ainda sonho com seus conselhos, ainda recordo-me de seus exemplos, histórias e anedotas.  Suas marcas permanecem em minha vida e na vida de meus filhos, que mesmo não o conhecendo ouvem suas histórias e aprendem sua maneira de ver a vida.

Sua última oração foi no dia 12 de outubro de 1991, o dia de meu casamento.  Vovô não assistiu, já estava de cama.  Saímos da igreja do Rocha diretamente para a casa do vovô.  Vovó Darcília surpreendeu-se, pois ele sentou-se, apoiado pelo pr. Tiago Lima e nos ajoelhamos junto à cama.  Ele uniu nossas mãos, apertando-as com força entre as suas mãos e durante longos minutos orou abençoando nosso ministério e nossa vida de casados. Depois disto nunca mais falou.

Era o dia mais feliz de minha vida, mas também o mais triste, pois sabia que vovô estava indo e não podia segurá-lo mais.  Esperou até o meu casamento e nos abençoou. Vovô faleceu três dias depois, e as mesmas flores do meu casamento estavam no funeral na igreja do Rocha. 

Obrigada, vovô, pela sua vida, pelas bênçãos que eu e meus filhos desfrutamos até hoje, pela proteção no campo missionário e pelo exemplo que nos deixou.  Não nos esqueceremos jamais, pois sempre será para mim o vovô Reis.

Uma neta saudosa
Ida Venturini de Souza



Cronologia José dos Reis Pereira - Jornal Batista 29.12.1991
 


Homenagem ao Pr. Reis. Jornal Batista de 29.12.1991
 
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