SIC - Síndrome de Insatisfação Crônica

Depois do calor dos dias de verão o Outono anuncia sua chegada nos países temperados. Após dias de intenso calor aparece um amanhecer mais fresco que prenuncia a chegada do frio. Isso sucede normalmente no mês de Outubro no hemisfério Norte. Acontece então um fenômeno conhecido na etologia (ciência que estuda o comportamento dos animais) como Zugunruhe. A palavra é alemã, junção de zug (movimentação, migração) e unruhe (ansiedade, inquietação). O Zugunruhe é a agitação que toma conta dos pássaros migratórios. Eles mudam de canto, trocam de penas e mostram-se nervosos na expectativa da grande viagem de migração que em breve acontecerá.

Nossa sociedade moderna vive um zugunruhe quase que constante. Chamaria essa agitação de síndrome de insatisfação crónica. Quais aves migratórias, vivemos na expectativa de ter o que não temos, ir para onde não estamos, ser o que não somos. Um cantor popular português chamado António Variações, que morreu de SIDA, colocou isso muito bem quando cantava: "eu só estou bem aonde não estou, pois eu só quero ir aonde não vou...".

A síndrome de insatisfação crónica manifesta-se de várias maneiras. Numa fadiga constante e num permanente reclamar da vida, do trabalho, do local onde se mora. Uma ansiedade enorme por férias em lugares distantes e exóticos, um suspirar pelas vidas de estrelas de cinema e TV, compras fora de controle, na tentativa de satisfazer o vazio interior com coisas que apenas ocupam espaço e desgastam o cartão de crédito. Um descontentamento generalizado com a vida que se tem numa idealização da vida de outros. Se ao menos...

Esse fenômeno não é novo.  Já o povo de Israel no deserto reclamava de Moisés e até suspirava pelo Egito. Parece que tinham esquecido que lá eram escravos. Para tratar desse zugunruhe espiritual o Senhor prescreveu formas de culto e actividades que combatessem essa síndrome de insatisfação crónica e a receita continua válida e necessária hoje também. Eis os ingredientes principais:

1) LEMBRANÇA
O Senhor prescreveu festas variadas ao longo dos anos para que o povo se lembrasse do que Deus fizera no passado. Cada grande evento como a Páscoa deveria ser recordado de modo particular com celebrações especiais. Ao reviver e relembrar aquilo que sucedera o povo recordava a bondade de Deus, o quanto tinham progredido, do que já tinham sido libertos. Tudo isso contribuía para que ficassem menos ansiosos.

Nossa memória é muito curta. Comemos queijo demais? Precisamos relembrar as bênçãos! Recordar as libertações, os momentos de aperto onde o Senhor nos abençoou, as horas de aflição em que ELE ouviu nosso clamor. O salmista faz isso com frequência num exercício que nos aumenta a fé, devolve a paz e combate a inquietação que o mundo nos tentar impor.

2) GRATIDÃO
Boa parte das festas e celebrações e dos sacrifícios diários eram de gratidão. Tratava-se de acções de graças, de dizer simplesmente obrigado pelo recebido. A insatisfação brota de um coração que esqueceu a gratidão. Se exercitamos o agradecer dificilmente a ingratidão vai ter onde se segurar em nossas vidas.

Agradeçamos pelo pão a cada refeição, pela casa, pelo agasalho, pelo carro, pelos transportes e pela saúde. Agradeçamos pelo sol ou pela chuva, pelos familiares e amigos. Agradeçamos pelo trabalho, pelo sustento, pela escola e pelos professores, pelas crianças. Agradeçamos pela igreja, pelos líderes que nos abençoam, pelos irmãos que nos acompanham. Agradeçamos pela beleza da natureza, pelo brilho de cada dia, pelas condições que o Senhor nos dá. Há muita beleza neste mundo, muita coisa para amar e pela qual podemos agradecer. Exercitar a gratidão aquece o coração, alegra a alma e combate eficazmente a insatisfação.

3) LOUVOR
O Senhor vez após outra insta seu povo a adorá-lo. ELE não precisa de nossa adoração. Mas em seu amor sabe que a adoração nos faz bem. Fomos criados para isso e ao fazê-lo crescemos, chegamos mais perto do que devemos ser, evoluímos para outro nível nesta vida terrena.

Vivi entre muçulmanos muitos anos. Alguns amigos meus muçulmanos diziam com frequência “Alhamdulillah”, que traduzido seria, Todo louvor seja dado a Allah. É um equivalente da expressão judaica e bíblica Halelu Yah, louvado seja o Senhor. Certo dia ao ouvir isso de meu amigo me senti envergonhado. Ele serve um Deus que não ama, que castiga mais que recompensa, que trata com discriminação, que exige cumprimento estrito da lei, mas vivia dando louvor. Eu dizia servir a um Deus de amor e graça, que em seu perdão e misericórdia me estende a mão e livra da morte e muitas vezes reclamava. Reclamava mais que louvava.

O louvor santifica, dignifica, exalta. O louvor no leva mais perto do que devemos ser. Nos afasta do mal, da insatisfação e da reclamação. Louvando alegramos o coração de Deus e afastamos o inimigo de nossas casas. Louvemos pois e sejamos agradecidos.

CONCLUSÃO
Vivemos cercados de sinais de zugunruhe. Uma inquietação terrível daqueles que vivem querendo fugir de suas vidas, que sonham com outras vidas e outras realidades numa insatisfação permanente e debilitante. A boa nova é que o homem não é pássaro migratório e pode ser feliz e realizado onde está, com o que tem, desde que o Senhor faça parte dessa realidade. Lutemos então contra a síndrome de insatisfação crônica com as armas do céu, lembrando as bênçãos passadas, agradecendo pelas bênçãos presentes, louvando em todo tempo.

Pedofilia na Igreja e a Disciplina Bíblica

Os recentes escândalos que têm envolvido a Igreja Católica com os actos de pedofilia trazem pesar a todo o mundo cristão. Não é possível ficar alheio ao que se passa. Toda a Cristandade sofre, porque os acontecimentos revelados levantam dúvidas e receios que se estendem a todos os ramos do Cristianismo e colocam em causa todas as lideranças espirituais. Muito tem se dito e muita é a hipocrisia reinante. Alguns fatos são porém incontestáveis:

1) É profundamente lamentável que líderes espirituais estejam tão longe da verdade do evangelho a ponto de abusarem da confiança de crianças que foram colocadas sob sua supervisão. Toda reprovação será pouca diante de tal infâmia.

2) A Igreja é muito grande e os pedófilos, embora fortemente condenáveis, são uma pequena minoria da classe sacerdotal, pelo que não é correcto passar julgamento a toda uma classe pelos actos, mesmo tão reprováveis, de uns poucos.

3) Aqueles que forem encontrados culpados devem ser punidos com todas as penalidades próprias do meio religioso bem como dos meios judiciários.

4) A discussão sobre a pedofilia não acaba com a questão da igreja. Os actos de abuso contra crianças acontecem na sua maioria no contexto da própria família e é aí que o assunto deve ser tratado com a seriedade que necessita.

5) Tem havido muita hipocrisia na condenação da igreja com muita gente se aproveitando da situação para fazer julgamentos e afirmações totalmente desproporcionais.

6) Uma disciplina Bíblica bem aplicada teria cortado o mal pela raiz e é aqui que devemos trabalhar.

A Bíblia, ao contrário de muitos outros livros religiosos, não esconde a verdade sobre seus heróis. Aqueles que fizeram grandes coisas para Deus eram homens e mulheres de carne e osso e tinham seus defeitos. Lemos das vitórias de Davi, mas também de seu adultério, mentira e assassinato. Lemos da coragem de Elias, mas também de sua crise depressiva e fuga de Jezabel. Lemos das afirmações maravilhosas de Pedro, mas também de sua negação. A Bíblia não esconde que os seguidores de Jesus são pessoas falíveis que podem pecar. Chama-os porém à uma vida santa e dá orientações claras para a disciplina de todos os que caem.

Gostaria de trabalhar apenas um dos muitos versículos que falam de disciplina. Aquele que Paulo escreveu aos Gálatas, capitulo 6 verso 1:
 “ Irmãos, se alguém for surpreendido em algum pecado, vocês, que são espirituais, deverão restaurá-lo com mansidão. Cuide-se, porém, cada um para que também não seja tentado.” NVI.

Notemos as orientações desse texto:

1) Irmãos
Paulo começa lembrando em que contexto surge a disciplina na Igreja – o contexto da família de Deus. Não somos competidores, não somos inimigos ou adversários. Não estamos num clube ou associação. Somos irmãos. Somos família. Ter isso em mente é fundamental porque na verdade temos outro tipo de atitude quando estamos em família. Tratamos de outro modo, cuidamos de outro modo. A disciplina Bíblica começa e termina na família de Cristo, entre homens e mulheres que têm entre si a união dos laços do Espírito Santo.

2) Se
O condicional é muito importante neste texto. Implica que há necessidade de confirmação. A Bíblia pode ter sido usada para fazer “caça às bruxas”, mas não foi escrita para isso e se bem interpretada não se serve a esse fim. Há aqui um cuidado fundamental. Todo irmão deve ser considerado inocente até prova em contrário. Partir do principio da culpa é um mau principio e adultera os resultados. Temos o dever cristão de confirmar as acusações, verificar as circunstâncias, ter a certeza do que se passa, antes de passarmos adiante. Se esse cuidado fosse levado a sério eliminaria muitas das desagradáveis situações que vemos acontecendo nas igrejas.

3) Espirituais
A disciplina não é para todos e nem por todos. Não somente é preciso confirmar a falta antes de aplicar a disciplina como é necessário verificar a qualidade daquele que aplica a correcção. Paulo deixa claro que não são todos que podem actuar. Só os espirituais podem agir porque a disciplina bíblica é espiritual e não carnal.

A disciplina carnal visa derrubar, vingar, destruir. É cruel e depreciativa. Deixa marcas negativas profundas e na maioria das vezes faz mais mal que bem. A disciplina necessária na Igreja é espiritual, temperada, moderada, voltada para a recuperação, não demolidora, mas construtiva. Não são todos que a podem exercer. Há que recorrer aos espirituais, aos maduros na fé, aos experientes que estão sob o controle do Espírito Santo e do Senhor.

4) Restaurar
No original grego temos a palavra Katartizo de onde obteremos em português a noção de catarse. A palavra no seu original tem a ver com ajustar, completar, colocar direito, por na sua posição correcta, adaptar, reparar, reconstruir, consertar o que se partiu, reconciliar. Temos aqui a tradicional riqueza da linguagem Paulina na definição de uma disciplina do modo que o Senhor pretende.

A disciplina bíblica visa a restauração, a recuperação, a renovação, a reutilização e não o derrube ou destruição.  A noção de excomunhão em que o indivíduo é amaldiçoado ou declarado condenado ao inferno não é algo próprio da Igreja. Há casos em que se reconhece que alguém enganou-se a si mesmo e a Igreja e é declarado alguém fora da Igreja (Mateus 18: 17), mas o objectivo sempre foi o da restauração (Mateus 18: 15 e 16).

A disciplina bíblica não visa a vergonha ou a humilhação. Tampouco se trata de julgamento. A verdade é que, na maioria dos casos, o que nos move a julgar e condenar alguém é a crença (inconsciente, mas presente) de que isso vai levar o outro a modificar-se. Só que isso praticamente nunca acontece. Só quem tem condições de receber julgamento com sabedoria é exatamente o sábio (Provérbios 9:8) e esse provavelmente nem precisaria de repreensão. A disciplina bíblica não é para condenação ou julgamento, mas para restauração.

5) Mansidão
Novamente Paulo procura deixar clara a diferença entre a disciplina do mundo, feita em geral com raiva, indignação e brutalidade, e a disciplina que deve existir na Igreja, em mansidão. Não se trata de uma posição de fraqueza, mas de controle. É um poder ou domínio que se controla para aplicar a força necessária. A disciplina da Igreja tem que ser firme, mas controlada. Aquele que disciplina não pode descer o nível, tem que mantê-lo elevado. A mansidão da disciplina bíblica tem tudo a ver com o que já vimos de seu objectivo restaurador.

6) Guarda-te
A recomendação final parece explicar todos os cuidados referidos anteriormente. A razão pela qual a disciplina na igreja deve ser exercida só depois de confirmação e deve visar a restauração num espírito de mansidão é que todos somos falhos e temos que nos vigiar para não cair como aquele que está sendo corrigido.

Trata-se de grande presunção disciplinar os demais numa atitude de superioridade como se fossemos melhores ou estivéssemos acima da mesma falha. Devemos ter todo o cuidado antes de afirmar que nunca cometermos certa falha mesmo que ela nos pareça a coisa mais absurda do mundo. Pedro pensava e até afirmou que nunca negaria a Jesus. Mas, nas circunstâncias certas caiu e aprendeu na amargura a ser menos arrogante.

Conclusão:
Devemos clamar ao Senhor pelas vidas de todas as crianças que foram molestadas num contexto religioso cristão. Ter a esperança que seus corações não se fechem ao amor genuíno de Deus em Jesus. Essas pessoas devem receber todo o apoio necessário para vencerem suas dificuldades e crescerem como indivíduos livres na vida. Os culpados devem ser castigados segundo as leis de Deus e dos homens. Sobretudo a Igreja deve voltar às escrituras e lembrar que a disciplina bíblica é fundamental para a vida da Igreja. A vigilância é o preço, a oração o método, o Senhor o guia para que a Igreja se mantenha pura e digna de ser usada como luz no Mundo.

SEMPRE...( TODOS OS DIAS)

Todos os dias faço o que milhões de pessoas fazem no mundo todo. Levanto-me cedo, tomo meu café e saio para o trabalho. Pego um transporte público, no caso o comboio/trem e vou trabalhar. Costumo pegar sempre o mesmo trem, à mesma hora. Comecei a reparar em coisas que via todos os dias e que tinham algo a me ensinar. Todos os dias há um senhor que pega o mesmo trem que eu. Muitos outros o fazem, mas o que este senhor tem de diferente é que traz sempre o jornal esportivo do dia. Pega sempre o mesmo comboio, senta-se sempre no mesmo lugar e lê sempre o mesmo jornal. Fiquei pensando, se os crentes tivessem a mesma constância na leitura da Bíblia...

Quando saio da estação perto do meu trabalho quase sempre na mesma hora, cruzo por várias pessoas cujas faces começam a ser costumeiras. Há um homem porém que me chamou a atenção. Todos os dias o vejo na rua onde passo. Ele teve um acidente grave e ficou com grandes limitações nos movimentos. Diariamente o vejo se esforçando com as suas muletas fazendo um sacrifício visível na busca da recuperação. Faça chuva ou sol, frio ou calor, lá está ele se arrastando pela rua. É visível a dor em seu rosto, mas não falha. Sabe que precisa disso para poder melhorar e persevera na sua prática. Se ao menos os que dizem confiar no Senhor se exercitassem com a mesma fidelidade nas disciplinas espirituais da oração, meditação, testemunho...

Provavelmente a maior dificuldade da igreja de Jesus hoje é o crescimento do nominalismo. A vida dupla que os crentes vivem. Verdadeira dupla personalidade. Algumas pessoas que vemos na igreja seriam irreconhecíveis no trabalho ou na escola. Uma postura, uma linguagem, um conjunto de principios e convicções para o domingo, na igreja e outra vida, por vezes totalmente diferente para o resto da semana. Há pouca constância em nossa fé, em nossa prática, em nossa disciplina espiritual.

Poderíamos dizer que o cristianismo da maioria dos crentes é dissimulado. Foi sobre isso que Canon Westcott escreveu quando disse que "temos dissimulado com tanta persistência o poder do evangelho que é desculpável que aqueles que o julgam por nós duvidem que ele seja mais eficaz e inspirador do que os patéticos palpites que adornam os escritos filosóficos".

Precisamos urgentemente de um Cristianismo para todos os dias. Precisamos urgentemente de Cristãos integrais, inteiros, diários que vivam no cotidiano aquilo que dizem crêr no domingo. A Palavra é aliás bastante enfática nisso. Paulo ensina que "quer comais, ou bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a Glória de Deus " I Corintios 10:31, pois "tudo que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus dando por Ele graças a Deus Pai" Colossenses 3:17. A gratidão e alegria deveriam ser permanentes já que "em tudo dai graças" I Tessalonicenses 5:18, "dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai " Efésios 5:20 e "alegrai-vos sempre no Senhor" Filipenses 4:4. A oração deveria ser constante, "orai sem cessar" I Tessalonicenses 5:17, já que "em tudo sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições pela oração e pela súplica, com ações de graças" Filipenses 4:6.

Essa constância na vida cristã envolve inclusivamente a vida intelectual, já que, segundo a Bíblia, devemos "levar cativos todos os pensamentos à obediência de Cristo" II Coríntios 10:5b e sendo assim "tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há, se algum louvor existe, seja isso que ocupe o vosso pensamento" Filipenses 4:8. Se realmente usássemos esse filtro para nossa vida intelectual, que raciocínios teríamos e que diferença isso faria para nosso quotidiano?

Vencer a dicotomia que o mundo tenta nos impor é algo que está ao nosso alcance.  A começar pelos nossos pensamentos podemos mudar, com a ajuda de Deus, a forma como vivemos.  Podemos agir e falar de modo coerente com o que dizemos crer.  Não precisamos temer ser ofensivos ou virar fanáticos.

Nossa inconstância ofende a Deus, prejudica a igreja e acaba sendo uma negação de Cristo.  Nossa convicção na vida diária seria um testemunho mais fiel e util que mil sermões.  O mundo pode até estranhar, mas a maioria das pessoas procura exatamente esse tipo de firmeza e de vida integral que a Bíblia nos estimula a viver. Não a dupla personalidade tão frequente na igreja, mas a transparência e a coerência que atraem para Jesus.

O HOMEM QUE INVESTIA EM PERDEDORES

Para quem gosta de futebol este é um período intenso. Os campeonatos terminam na Europa e a cada semana há novos campeões. Logo começará o Campeonato do Mundo e o planeta vai acompanhar e torcer até a grande final e ao grande campeão. Ninguém vai falar do segundo classificado, ninguém vai lembrar do segundo classificado. Há que vencer. Há que triunfar. No nosso tempo há que ser um vencedor a todo custo.

Empresas e instituições apostam em vencedores. No Brasil há escolas secundárias particulares que pagam a alunos com médias altas para estudarem em sua escola. O objectivo é obterem as melhores notas nas provas nacionais a fim de servirem de propaganda da escola. Nos Estados Unidos as grandes faculdades são vasculhadas a procura de talentos. Os melhores alunos já terminam os cursos com emprego garantido. Todos querem investir nos melhores. Mas o evangelho nos conta uma história diferente. Jesus foi um líder que investiu em perdedores.

Do ponto de vista dos recursos humanos modernos, episódios como os de Jesus com Nicodemos ou o Moço Rico, ou ainda o fariseu rico em cuja casa jantou, são de arrepiar. Ali estavam homens vencedores. Líderes na sociedade, vistos com bons olhos por todos. Mostravam claro interesse em Jesus. Estavam dispostos a ser vistos com Ele e fazer parte de seu grupo. Seriam excelentes "aquisições". Imagine um Nicodemos ao lado de Cristo em público. Seu ministério cresceria em status da noite para o dia. E o que Jesus fez com esses vencedores? Não se impressionou com seus currículos e títulos e colocou a fasquia da adesão ao seu grupo tão alta que se retiraram em silêncio. Um director de recursos humanos moderno desesperaria.

Jesus investiu em pessoas que eram perdedores aos olhos do mundo. A maioria dos discípulos (Judas foi a excepção) era da Galiléia. Desprezados por serem de uma região pobre, por seu sotaque e seus modos provincianos. Jesus investiu em Mateus e Zaqueu, publicanos odiados pelas massas. Em zelotes, famosos por sua violência; em Pedro, um pescador voluntarioso mas descontrolado; em Maria Madalena, uma mulher que fora liberta de demónios. Jesus conversava com samaritanos, parava para atender uma mulher cananéia, tocava em leprosos, elogiava uma viúva pobre. Que grupo! O que Ele esperava deles? Como colocar o futuro do evangelho nas mãos de tais pessoas? O que Jesus viu neles?

Creio que Jesus investiu nessas pessoas por várias razões, a primeira é que eram e são ainda hoje a maioria. Representavam de modo muito mais fiel a realidade da humanidade sem Deus. Se Ele tivesse investido nos nicodemos da vida, nós certamente ficaríamos de fora. Mas o evangelho era para todos. Era para a maioria, era para os que são considerados perdedores pela cosmovisão dominada por sucesso e fama.

Jesus investiu nesses porque os vencedores, segundo o mundo, têm a tendência de se acharem suficientes. Pensam que por terem sucesso não precisam de ninguém e podem seguir sozinhos. Na verdade vivem sós, porque o sucesso é um lugar extremamente solitário. Descobrem que o sucesso segundo o mundo na maioria das vezes representa fracasso nas áreas mais importantes do viver: a vida espiritual e familiar. Esses vencedores não queriam se dobrar ao Senhorio de Cristo e Ele veio para ser Rei e Senhor.

Jesus investia em perdedores porque essas eram as pessoas que estavam mais abertas a sua mensagem. O mundo não lhes podia oferecer nada mais. O que o mundo mostrava de apetecível estava fora de seu alcance. A própria religião dominante lhes dizia que eram perdedores exatamente porque Deus não gostava muito deles. Então Jesus veio e lhes disse "Felizes são os pobres de espírito, os perdedores segundo o mundo, porque estão mais perto de se deixarem dominar pelo senhorio de Deus e viverem o reino dos céus". Que alivio! Que consolo! Que EVANGELHO!

Jesus investiu em perdedores porque viu neles o que mais ninguém via. Atrás de um Pedro descontrolado Jesus viu um líder dinâmico e poderoso. Atrás de um Zaqueu ladrão Jesus viu um generoso benfeitor. Atrás de uma Madalena possuída pelo mal Jesus viu uma discípula amorosa e dedicada. Atrás de um Mateus controlador Jesus viu em evangelista criterioso. Os olhos do Criador são capazes de ver o potencial da criatura porque Ele os criou e sabe do que poderão ser capazes se receberem o incentivo certo, as condições certas e sobretudo se tiverem a atitude e o Espírito certo.

Louvo a Deus ao ver o investimento de Jesus. Ele me leva a duas conclusões principais. Primeiro que a Igreja deve investir do mesmo modo. Deve ser capaz de alcançar os que o mundo despreza. Deve ter a capacidade doada por Deus de ver além da superfície e antever o potencial. Evangelho será sempre a mensagem eterna do resgate completo do homem para sua salvação e potencial máximo.

Mas também concluo com gratidão que se Jesus investiu em gente menos bem sucedida irá investir em nós. Nem sempre somos exemplos de sucesso. Muitas vezes o mundo nos faz sentir como fracassados. Isso não muda nem o amor nem o investimento do Senhor em nós. Aleluia! Ele investe em mim apesar de tudo. Aleluia! Por causa de seu investimento, e sem me importar com o julgamento do mundo, podemos ser "mais que vencedores por aqueles que nos ama". Amém! Certo desse amor e desse investimento podemos crescer no Senhor, ser melhores, desenvolver nosso potencial e viver de tal modo a reflectir a Glória do Senhor para que o "mundo veja as nossas boas obras e glorifique nosso Pai que está nos céus". Que assim seja.

PRÁTICA CRISTÃ DO JEJUM

O jejum é a abstinência voluntária de alimentos. Pode ser realizado por razões de protesto, política ou manifestação de rebeldia ou revolta. Pode ser usado por razões religiosas.

Em muitas religiões o jejum é usado como forma de sacrifício que teria valor em si. Nesses casos aquele que pratica o jejum acredita que seu sacrifício tem valor para a sua salvação. É o caso no catolicismo, no islamismo e outras religiões. Era o caso dos fariseus que Jesus repreendeu porque não entendiam o valor e a verdadeira razão do jejum (Mateus 6:16). Já no Antigo Testamento, o Senhor condena um jejum falso e interesseiro (Isaías 58).

Para o crente em Jesus o jejum não é um sacrifício religioso com intuito de buscar a salvação. Nada podemos acrescentar à obra de Jesus na Cruz. O Jejum cristão verdadeiro serve para nos ajudar na caminhada espiritual.

ELE TEM COMO OBJETIVO:

1-Nos lembrar de nossas fraquezas, o que ajuda a aumentar nossa dependência de Deus.
2-Nos ajudar a criar momentos de silêncio e solidão diante de Deus para meditação e nesse caso o jejum é sempre praticado com oração.
3- Nos ajuda a crescer na disciplina da negação de nossas vontades.
4-Aprender a controlar nossos desejos é muito útil na vida espiritual e a disciplina do Jejum é uma prática que nos faz crescer nessa direção.

PODEMOS JEJUAR DE VÁRIAS MANEIRAS:

1-Fazendo abstenção completa de alimentos e líquidos;

2-Deixando de comer comida sólida e só tomando líquidos;

3-Deixando de comer coisas saborosas e se alimentando de coisas simples como Daniel que só comeu salada e bebeu água (Daniel 1)

O JEJUM, EM RELAÇÃO AO TEMPO DE DURAÇÃO, PODE:

1- Ser de 12 horas, começando por não tomar café e cortá-lo no almoço.

2-De 24 horas. Janta num dia e não come mais até o jantar do outro dia.

3- Vários dias conforme a capacidade de cada um.

Aquele que jejua deve ter cuidado para não ficar desidratado e nesse caso deve beber água principalmente em dias e locais quentes. Especial cuidado com diabéticos que não podem fazer jejuns prolongados. Será bom confirmar com seu médico antes de fazer jejuns mais prolongados.

O Jejum deve ser feito com períodos de oração durante o dia. Será preferível jejuar por motivos específicos como Daniel e Neemias. Esse motivo deve ser apresentado a Deus em Oração e no fim do jejum ao entregá-lo ao Senhor.

Biblicamente, o jejum deve ser utilizado sem propaganda e estrelismos. Muitas vezes jejuamos sem que ninguém perceba. E hoje em dia até não é difícil, pois muitos não fazem as refeições diárias em casa, em família.
Em momentos cruciais de minha vida optei por jejuar e esperar no Senhor e sempre obtive respostas, não as que planejara, mas recebi a resposta inequívoca do Senhor. No entanto, precisamos lembrar que Ele é Soberano, e não se curva aos nossos caprichos. Não podemos chantagear nem barganhar com Deus. Ele não quer nossos sacrifícios vazios, mas nossas vidas plenas no Seu controle.

Caro leitor,  se desejar poderá colocar suas dúvidas ou compartilhar sua experiência  a este respeito nos comentários abaixo. Estaremos respondendo o mais rápido possível!  Sua questão pode ser resposta para abençoar a outros irmãos.

SIMPLESMENTE MÁRCIA...

A noite já se tornara madrugada quando a sede me acordou. Estava de férias da faculdade de medicina que fazia em Lisboa e aproveitava uns dias em casa de meus pais, em Barcelos, norte de Portugal. Fui à cozinha buscar água e no caminho passei pela porta da sala. Vi então uma cena que todo filho deveria poder ver pelo menos uma vez na vida. Mamãe estava ajoelhada em frente a um sofá, com a cabeça pousada suavemente sobre a almofada e orava. Para evitar o sono ela orava em voz baixa porém audível. No momento em que passei na frente da entrada da sala ouvi meu nome sair de seus lábios. Era madrugada ainda, mas mamãe já orava. Orava por muita gente, por muitas coisas. Orava por mim!

Marcia Venturini de Souza, é o nome de mamãe. Ela não tem cursos, nem títulos ou posições. Nunca foi doutora, mestra, pastora ou outra coisa assim. Simplesmente Márcia. Mas, que Márcia! Onde esteve deixou saudades profundas e marcas indeléveis. Mamãe tinha o dom de conquistar. Um sorriso meio tímido, uma boa voz de contralto, e uma simpatia natural, pura, genuína, sem enganos ou tentativas de agradar. Mas era quando contava hstórias que ela se transformava!  Bastavam duas crianças e a paixão dela subia como um vulcão.  Mamãe era capaz de contar histórias como ninguém!  Ela fazia 3, 4 até 5 vozes diferentes, voz de criança, de idoso, de homens bravos ou medrosos apenas mudando o tom, o jeito e até acrescentando um certo tremor na voz. Dava vida aos cenários, encontrava os pormenores mais incríveis e tornava tudo mágico e especial. Quem alguma vez ouviu mamãe contar uma história nunca mais esqueceu.

Após 15 anos morando fora de Portugal voltei ao país. Onde vou as pessoas me falam da Márcia. A maioria com lágrimas nos olhos. Mamãe tinha caracteristicas que fazem falta em nosso mundo e em todas as mães.  Em primeiro lugar ela era uma mulher de Deus. A vida espiritual para mamãe não era algo para apenas alguns dias, era diário, constante, permanente. Ela não filosofava, não se preocupava com discussão doutrinária. Apenas vivia com Deus e para Deus a cada momento. Respirava essa relação e transmitia realidade ao contato espiritual, o que nos marcava profundamente.

Mamãe era uma missionária que amava missões de todo coração!  Ela não se limitava a estar no campo missionário e trabalhar. Ela amava as histórias misionárias, os heróis de missões, tudo que fosse relacionado com o alcance daqueles que ainda não conheciam seu Mestre amado. Ela nos fazia entender que não havia nada mais valioso neste mundo que levar alguém a Jesus e que tudo o mais era passageiro e fugaz.

Mamãe era incansável! Fazia 2 e 3 coisas ao mesmo tempo e fazia parecer que era fácil. No meio de tantas atividades  preparava um almoço gostoso e ainda era capaz de fazer uma sobremesa saborosa que ela mesma nem podia comer, por causa de sua diabetes. Ela nunca reclamava, apesar dos seus vários problemas de saúde. Quando mamãe precisava parar e se deitava era melhor correr para o hospital porque era grave. Mas, para ela os outros estavam sempre em primeiro lugar.

Mamãe não escondia que a vida do obreiro era dificil e dolorosa. Seu grande amor foi traído muitas vezes por pessoas a quem se dedicara com sacrificio. Se minha irmã e eu seguimos para os campos missionários não foi por ilusão de facilidades ou de glória.  Aprendemos com nossa mãe que a obra requer desprendimento material, entrega total e que muitas vezes ainda traz dor, lágrimas e sofrimento.
Mas também aprendemos com seu salmo favorito, o 126:
 "Aquele que leva a preciosa semente andando e chorando voltará sem dúvida
 com alegria trazendo consigo os seus molhos".
Apesar das muitas desilusões mamãe também deixou muitos apaixonados, de todas as idades e de várias raças diferentes.

Foi um grande privilégio ser filho de Márcia. Que falta que ela faz! Quando acompanhava seus últimos dias no hospital em Campinas, a médica que a atendia veio falar comigo.  Era uma professora universitária, acostumada a ver de tudo e experiente. Conhecia bem a medicina e estava familiarizada com a morte. Porém,quando me falou de mamãe, chorou. Ela me disse entre lágrimas: "Conheci sua mãe e depois de 20 minutos e já estava apaixonada por ela... não vamos deixar que ela sofra mais".  Mamãe era assim, ela sempre conquistava por sua beleza e simplicidade. E ela já não sofre mais. Desde 28 de fevereiro de 2007 que está na paz de seu querido mestre.

Depois que mamãe se foi já sonhei muitas vezes com ela. Numa dessas vezes tive um vislumbre de como pode estar. Eu a vi no céu, rodeada de crianças, contando uma história bíblica. As crianças a acompanhavam hipnotizadas, como sempre vi acontecer. A única diferença é que ela não estava usando figuras, apenas apontava para o personagem biblico alí perto e contava sua história. Ela estava feliz, muito feliz. Estava radiante! Estava onde nunca mais sofreria dor ou desilusão. Estava junto de seu amado Salvador onde será para sempre, simplesmente Márcia.

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