SIC - Síndrome de Insatisfação Crônica

Depois do calor dos dias de verão o Outono anuncia sua chegada nos países temperados. Após dias de intenso calor aparece um amanhecer mais fresco que prenuncia a chegada do frio. Isso sucede normalmente no mês de Outubro no hemisfério Norte. Acontece então um fenômeno conhecido na etologia (ciência que estuda o comportamento dos animais) como Zugunruhe. A palavra é alemã, junção de zug (movimentação, migração) e unruhe (ansiedade, inquietação). O Zugunruhe é a agitação que toma conta dos pássaros migratórios. Eles mudam de canto, trocam de penas e mostram-se nervosos na expectativa da grande viagem de migração que em breve acontecerá.

Nossa sociedade moderna vive um zugunruhe quase que constante. Chamaria essa agitação de síndrome de insatisfação crónica. Quais aves migratórias, vivemos na expectativa de ter o que não temos, ir para onde não estamos, ser o que não somos. Um cantor popular português chamado António Variações, que morreu de SIDA, colocou isso muito bem quando cantava: "eu só estou bem aonde não estou, pois eu só quero ir aonde não vou...".

A síndrome de insatisfação crónica manifesta-se de várias maneiras. Numa fadiga constante e num permanente reclamar da vida, do trabalho, do local onde se mora. Uma ansiedade enorme por férias em lugares distantes e exóticos, um suspirar pelas vidas de estrelas de cinema e TV, compras fora de controle, na tentativa de satisfazer o vazio interior com coisas que apenas ocupam espaço e desgastam o cartão de crédito. Um descontentamento generalizado com a vida que se tem numa idealização da vida de outros. Se ao menos...

Esse fenômeno não é novo.  Já o povo de Israel no deserto reclamava de Moisés e até suspirava pelo Egito. Parece que tinham esquecido que lá eram escravos. Para tratar desse zugunruhe espiritual o Senhor prescreveu formas de culto e actividades que combatessem essa síndrome de insatisfação crónica e a receita continua válida e necessária hoje também. Eis os ingredientes principais:

1) LEMBRANÇA
O Senhor prescreveu festas variadas ao longo dos anos para que o povo se lembrasse do que Deus fizera no passado. Cada grande evento como a Páscoa deveria ser recordado de modo particular com celebrações especiais. Ao reviver e relembrar aquilo que sucedera o povo recordava a bondade de Deus, o quanto tinham progredido, do que já tinham sido libertos. Tudo isso contribuía para que ficassem menos ansiosos.

Nossa memória é muito curta. Comemos queijo demais? Precisamos relembrar as bênçãos! Recordar as libertações, os momentos de aperto onde o Senhor nos abençoou, as horas de aflição em que ELE ouviu nosso clamor. O salmista faz isso com frequência num exercício que nos aumenta a fé, devolve a paz e combate a inquietação que o mundo nos tentar impor.

2) GRATIDÃO
Boa parte das festas e celebrações e dos sacrifícios diários eram de gratidão. Tratava-se de acções de graças, de dizer simplesmente obrigado pelo recebido. A insatisfação brota de um coração que esqueceu a gratidão. Se exercitamos o agradecer dificilmente a ingratidão vai ter onde se segurar em nossas vidas.

Agradeçamos pelo pão a cada refeição, pela casa, pelo agasalho, pelo carro, pelos transportes e pela saúde. Agradeçamos pelo sol ou pela chuva, pelos familiares e amigos. Agradeçamos pelo trabalho, pelo sustento, pela escola e pelos professores, pelas crianças. Agradeçamos pela igreja, pelos líderes que nos abençoam, pelos irmãos que nos acompanham. Agradeçamos pela beleza da natureza, pelo brilho de cada dia, pelas condições que o Senhor nos dá. Há muita beleza neste mundo, muita coisa para amar e pela qual podemos agradecer. Exercitar a gratidão aquece o coração, alegra a alma e combate eficazmente a insatisfação.

3) LOUVOR
O Senhor vez após outra insta seu povo a adorá-lo. ELE não precisa de nossa adoração. Mas em seu amor sabe que a adoração nos faz bem. Fomos criados para isso e ao fazê-lo crescemos, chegamos mais perto do que devemos ser, evoluímos para outro nível nesta vida terrena.

Vivi entre muçulmanos muitos anos. Alguns amigos meus muçulmanos diziam com frequência “Alhamdulillah”, que traduzido seria, Todo louvor seja dado a Allah. É um equivalente da expressão judaica e bíblica Halelu Yah, louvado seja o Senhor. Certo dia ao ouvir isso de meu amigo me senti envergonhado. Ele serve um Deus que não ama, que castiga mais que recompensa, que trata com discriminação, que exige cumprimento estrito da lei, mas vivia dando louvor. Eu dizia servir a um Deus de amor e graça, que em seu perdão e misericórdia me estende a mão e livra da morte e muitas vezes reclamava. Reclamava mais que louvava.

O louvor santifica, dignifica, exalta. O louvor no leva mais perto do que devemos ser. Nos afasta do mal, da insatisfação e da reclamação. Louvando alegramos o coração de Deus e afastamos o inimigo de nossas casas. Louvemos pois e sejamos agradecidos.

CONCLUSÃO
Vivemos cercados de sinais de zugunruhe. Uma inquietação terrível daqueles que vivem querendo fugir de suas vidas, que sonham com outras vidas e outras realidades numa insatisfação permanente e debilitante. A boa nova é que o homem não é pássaro migratório e pode ser feliz e realizado onde está, com o que tem, desde que o Senhor faça parte dessa realidade. Lutemos então contra a síndrome de insatisfação crônica com as armas do céu, lembrando as bênçãos passadas, agradecendo pelas bênçãos presentes, louvando em todo tempo.

Um comentário:

Viviana disse...

Olá

Que imenso prazer encontrá-lo!

Não o imaginava por aqui...

Pensava-o bem longe.

Talvez África, talvez Brasil.

Foi através da Maria José Salgueiro que cheguei aqui.

Quanta saudade!

Quanta saudade e boas lembranças da sua mãe, minha querida e boa irmã e amiga, Dª Márcia Venturini.

Preciso de falar consigo.
Incumbiram-me de lhe fazer um convite...

Deixo aqui o meu e-mail e pedia-lhe o favor de contactar-me . Pode ser?

Agradecia imenso.

vivianabengelsdorff@gmail.com

ou

vivianabengelsdorff@sapo.pt

Já andei por aqui lendo o seu blogue e gostei muito.

Se quiser visitar o meu, aqui fica o endereço:

http/olhaioliriodocampoblogspot.com

Desejo-lhe uma boa noite

Um abraço

viviana

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