O grupo de mais de 100 crianças levantou à hora habitual e
fez suas orações. A algazarra comum nas casas de banho encheu a casa de risos e
correrias. Logo, estavam todos no refeitório onde as assistentes os aguardavam.
As mesas do pequeno-almoço estavam vazias, mas o Senhor à cabeceira sorria como
todas as manhãs e depois de cumprimentar as crianças as dirigiu numa oração de
gratidão pela que iriam comer. Enquanto oravam ouviu-se uma batida na porta. No
fim da oração foram atender e um padeiro entrou com vários cestos cheios de pães.
Olhou o responsável e disse: Esta noite não consegui dormir, sentia uma forte
impressão de que devia fazer pão para o orfanato, não deu para resistir e
levantei as 3 da manhã para os fazer e aqui estão, admiro o trabalho que o
Senhor está a fazer, é algo nobre, que Deus o abençoe. Assim já tinham pão e
puderam orar novamente agradecendo e enquanto o faziam nova batida na porta
trouxe o leiteiro… esse é um dos episódios bem conhecidos da vida e obra de George Muller.
Fé é uma das atitudes mais comuns do homem. Deus nos criou
com a capacidade de crer. Fomos feitos assim e temos prazer em acreditar. O
cepticismo, a ironia, a falta de confiança é um defeito que aflige muitos
corações por causa de experiências negativas. Mas o coração que se fecha para a
capacidade de crer perde a grande maioria das bênçãos da vida e por fim deixa
mesmo de poder viver em comunidade.
Todas as pessoas têm fé. Todos a exercem de um modo ou de
outro. É preciso fé para as coisas mais simples como entrar num autocarro,
tomar um galão no café da esquina ou sentar numa cadeira em local público.
Esses atos são atos de fé na capacidade de motorista do autocarro, na correcção
do empregado no café e na perícia do carpinteiro que fez a cadeira. As pessoas
são capazes de crer nas coisas mais estranhas. Por exemplo, no fim do ano
passado houve muita gente que creu que o mundo ia acabar por causa de uma
antiga profecia maia… há quem creia que as pirâmides foram construídas por seres
extra terrestres… e diariamente vemos gente que acredita novamente naqueles que
já provaram não ser dignos de confiança…
A Bíblia nos fala de 3 tipos de fé:
O primeiro tipo é o tipo
salvífico, a fé para a salvação. Vemos isso de modo claro na vida de Jesus.
Várias vezes ele disse as pessoas sobre a sua fé como a base da salvação. Em
Lucas 7 ele diz a mulher pecadora que lhe lavou os pés: vai, a tua fé te
salvou. Em Lucas 8 ele diz a mulher com fluxo de sangue que o tocou: tem bom ânimo
filha, a tua fé te salvou. Em Lucas 17 ele diz ao leproso agradecido no meio
dos 10 curados, levanta-te e vai, a tua fé te salvou. E em Lucas 18 o Senhor
diz a Bartimeu o cego, vê, a tua fé te salvou.
Essa fé salvadora é a fé em Jesus como o salvador, o Filho
de Deus, Deus encarnado que veio para nos resgatar. É a fé que entende sua obra
na cruz como a obra da redenção da humanidade, que se rende ao que Ele fez por
nós. É a fé sobre a qual Paulo escreveu aos Efésios ao dizer: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e
isso não vem de vós, é dom de Deus, não vem das obras para que ninguém se
glorie." A fé salvadora não é de todos. Muita gente crê em muitas coisas,
mas a fé pura e simples não salva. O que salva é a fé em Jesus. Fé sim, mas no
lugar certo, na pessoa certa.
O segundo tipo de fé é um dom o ES dado a alguns crentes. Na
listagem de dons dados por Paulo em I Coríntios 12 ele diz: e a outro pelo
mesmo Espírito a fé… Essa fé é uma capacitação especial para crer que o Senhor
concede a alguns salvos para que por meio dela possam abençoar e edificar a
igreja. Sendo dom cai na categoria dos demais. Não é de todos, é dada a alguns
para o benefício comum. Tem que ser identificada, entendida e exercitada para
crescer.
E há um terceiro tipo de fé que o Senhor pede de todos os salvos.
Aquela descrita em Hebreus: Ora, a fé é o
firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não
vêem. Hebreus 11:1 e Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário
que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador
dos que o buscam. Hebreus 11:6
A palavra é clara na medida em que deixa bem explícito que
sem esse tipo de fé não é possível agradar ao Senhor. Essa não é a fé que salva
e nem a fé dom do ES pois só alguns a têm. É a fé que o Senhor espera de todos
os salvos. A fé que faz remover montanhas. Foi Jesus que disse aos seus
discípulos em Mateus 17:20: Por causa de
vossa pouca fé; porque em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de
mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e há de passar; e nada
vos será impossível.
Os discípulos tinham falhado na libertação de um
menino que era atormentado por espíritos maus. A causa? Pouca fé. Jesus não
estava falando de montanhas literais, mas de obstáculos que surgem em nossas
vidas e que não sabemos ultrapassar. Nossa maior dificuldade é que tentamos
removê-los com as mãos e pela nossa força. Seria tolo tentar mover uma montanha
com as mãos… também o é tentar deste modo com as montanhas que aparecem em
nossas vidas. Temos que aprender a confiar.
A fé que todo crente precisa ter é desenvolvida. Como um
músculo ela exige pouco no começo e vai crescendo na medida de nosso
compromisso com Deus. O triste é que há crentes que passam a vida cristã
inteira sem nunca crer, sem nunca exercitar um pouco de fé. Estão salvos mas
não usufruem de nada do que o Pai tem separado para eles, porque não conseguem
crer, não conseguem dar o primeiro passo de fé em direcção ao Senhor. Biblicamente,
podemos pedir mais fé, podemos rogar por fé no meio da incredulidade, mas
precisamos começar em algum ponto.
George Muller é um exemplo moderno de fé digno de figurar
entre os heróis de Hebreus 11. Nasceu em 1805 no então reino da Prússia,de um
pai que era funcionário público e que desejava ver George no ministério da Palavra
não por ser crente, mas porque era uma profissão respeitável e de boa
remuneração. No entanto, George aprendeu o triste hábito de roubar desde cedo.
Seu pai colectava impostos e George roubava o saco dos impostos e entrou numa
vida de enganos e golpes que o levaram à prisão com 16 anos. Ficou um mês preso
até que seu pai pagou a fiança e o enviou a Halle para estudar para o
ministério. Ali ele conheceu um jovem crente chamado Christofer e este o levou
a um estudo bíblico na casa de Johan Wagner. Foi ali que George conheceu a fé simples
e uma vida cristã genuína e se converteu.
O caminho de George foi difícil desde então. Decidido a
viver na vontade de Deus ele entendeu que deveria se dedicar ao trabalho
missionário pelo que seu pai o deserdou e parou de pagar sua pensão. George
recorreu a oração e surgiram alunos americanos que precisavam aulas de Inglês e
assim ele pode continuar seus estudos. No fim destes seguiu para a Inglaterra
de onde deveria ser enviado para o campo missionário entre os judeus que era seu
plano, mas estourou a guerra entre a Turquia e a Rússia e ele não pode ir.
Liga-se então a um pastor escocês batista de nome Henry Craig e conhece por
meio dele os escritos de Antony Groves.
Antony era um missionário que defendia
a vida pela fé na dependência total de Deus. George passa a orar nesse sentido
e quando conhece a irmã de Groves se apaixona por ela e acabam por casar com o
propósito de viverem apenas da graça de Deus. Decidiram não pedir nada a
ninguém e viverem daquilo que Deus colocasse em suas mãos. Foram morar em
Bristol.
Bristol era um porto importante na Inglaterra mas que
perdera boa parte de seu lucro como cancelamento do tráfico de escravos. A
crise era profunda e havia milhares de órfãos vivendo nas ruas sendo que na
Inglaterra só havia orfanatos para crianças de classe mais alta. Os pobres
moravam e morriam nas ruas. George tem seu coração tocado por isso e em oração
decide iniciar um orfanato para as crianças abandonadas de Bristol. Com que
meios? Apenas os que Deus mandasse. Ele começou o trabalho assim em 1836 e em
um ano já tinha 90 crianças em 2 casas alugadas. Depois de 2 anos de alguma
facilidade por causa da novidade o trabalho se tornou árduo e por vezes a
comida só chegava na hora da refeição. George nunca mudou seu modo de agir.
Nunca fez propaganda, nunca pediu fundos, nunca fez publicidade. Orava e
confiava e Deus provia.
Quando os moradores da rua seus vizinhos reclamaram do
barulho dos orfanatos George entendeu de Deus que era hora de construir suas
próprias instalações. Novamente orou e procurou terreno. O projecto era orçado
em meio milhão de euros (valores actuais) e ele não tinha nada! Mas o Senhor como sempre
foi dando. Ele só começou as obras quando tinha toda a verba e em 1849 eles
inauguraram as novas instalações com 4 casas para duas mil crianças. Ao longo dos
tempos o ministério de George e Mary Muller alcançou cerca de 120 mil órfãos e
recebeu mais de 100 milhões de euros. Ele nada guardou para si e sempre viveu
com os órfãos. As crianças eram ensinadas e treinadas para uma vida adulta e
conseguiam bons empregos quando era hora de sair do orfanato. George Muller
sabia o que era confiar. Um gigante da fé.
Não serão muitos de nós a ser chamados para viver assim. Não
serão muitos a viver pela fé de modo integral como Muller, mas certamente temos
que aprender com ele. Se um homem pode viver assim, se Deus abençoa um filho seu desta maneira, o que poderia Ele fazer de sua igreja? Fé é requisito obrigatório para a
vida cristã. Vamos começar hoje, agora mesmo! Leve a Deus a sua mente e peça ao
Senhor um desafio. Ele continua sendo o Deus de Abraão, de Elias, de Paulo e de
Muller. Confiemos e cresçamos.
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