A BANALIZAÇÃO DOS MILAGRES

Culto dos Milagres!
 Dia dos milagres! 
Receba hoje a cura que estava procurando!
 Curandeiro à toda prova!
Seu amor de volta em 3 dias...
Quanto mais a ciência tenta negar a existência de milagres mais estes se tornam um produto desejado e oferecido, numa dinâmica semelhante à de mercado.  O meio evangélico não fica atrás. Os curandeiros e médiuns que oferecem milagres por certo preço são coisa já antiga. Igrejas oferecendo milagres em troca do dízimo é mais recente, mas igualmente preocupante. Em que ficamos nessa banalização dos milagres?

A filosofia moderna procura ridicularizar a noção de milagre. O homem sempre desejou poder para realizar seus sonhos e desejos e muitas vezes é essa atitude egoísta que o leva à procura de milagres. O cinema tem feito sua parte nessa ridicularização, através de filmes como aquele em que Jim Carey recebe de deus o poder supremo e o utiliza para coisas ridículas, como abrir a sopa de seu prato (como o mar vermelho) ou levantar a saia de uma jovem na rua.  Desse modo, a mente moderna procura rejeitar a possibilidade real de milagres.

O outro lado da moeda é a oferta publicitária de milagres fáceis que se vê hoje no meio do evangelicalismo. Os milagres têm dia e hora marcados e são apresentados como infalíveis.  Há muita ênfase dos nomes de poder. Certos pastores e lideres se pavoneiam, apresentando curas e outras maravilhas como a prova de sua superioridade espiritual. Essa banalização prejudica em muito a Igreja e o Reino de Deus. Incentiva a busca egoísta de Deus, engana o povo com pseudocuras que regridem no dia seguinte e servem para desacreditar o evangelho e a Igreja de Jesus.

Instintivamente, o homem acredita no sobrenatural. Essa crença pode ser usada de muitas maneiras. Infelizmente, muitos usam-na para lucrar, e é aqui que mais se vê a ganância do coração humano, naqueles que lucram da miséria alheia e não têm pudor de se aproveitar do sofrimento do próximo numa completa negação do princípio bíblico e da verdadeira natureza dos milagres.

Biblicamente, os milagres existem, mas como sua própria definição o mostra, são excepcionais! Há períodos bíblicos de muita ação milagrosa como no tempo de Moisés e do êxodo, na época de Elias e Eliseu e no ministério de Jesus e dos apóstolos. Entre esses períodos há, por vezes, séculos sem referências a milagres. Isso, só por si, deveria nos fazer refletir sobre sua frequência e relevância. O Senhor não faz milagres quando o homem quer, não tem nenhuma obrigação para com a criatura e não pode ser julgado pela existência ou ausência de milagres.

Guardemos então, alguns pontos importantes sobre essa questão que acaba nos tocando a todos mais cedo ou mais tarde:

1) Milagres são a exceção e não a regra!
Mesmo no tempo de Jesus houve milhares que não foram curados e o Senhor repreendeu aqueles que o procuravam apenas para ver maravilhas ou delas aproveitavam. Os profetas que fizeram maravilhas muitas vezes foram até martirizados e não foram necessariamente salvos milagrosamente. João Batista que Jesus considerou o maior dos profetas não fez milagres e foi decapitado por Herodes e não salvo como Pedro. Paulo curou a muitos, mas não pode se livrar do famoso espinho na carne, não curou a Timoteo a quem receitou vinho para o estomago e tampouco pode curar a Epafrodito a quem o Senhor livrou por misericordia após doença prolongada. Logo, não podemos e não devemos achar que milagres são obrigação de Deus e muito menos exigir que aconteçam. Podemos pedi-los, esperá-los e crer neles mas sempre na noção clara que estão no reino da soberania e sabedoria Divina.

2) A falta de milagre no meu caso não torna irreal a sua existência.
Temos a tendencia de julgar tudo pelo que se passa conosco. Se o Senhor não me livrou, não me curou , não me dirigiu então é porque talvez não livre, não cure e não dirija. É evidente que em primeiro lugar deveria me arguir sobre minha situação com Deus. É comum ver gente que não liga a mínima para o Senhor ou a Igreja e na hora da necessidade corre para Deus e depois reclama que não foi logo atendida. Por outro lado, há bilhões de pessoas no mundo. Você pode imaginar quantos milhares foram libertos hoje? Quantos foram curados ou dirigidos neste dia? Então só porque comigo não aconteceu devo negar a benção nas vidas de tantos outros? É para isso tambem que existe a igreja. É nela que o testemunho dos muitos pode me ajudar nas lutas e dificuldades e me lembrar que mesmo quando não vejo pessoalmente o Senhor continua ativo e abençoador.

3) Há uma economia Divina na questão dos milagres também.
 Se o Senhor colocou à nossa disposição meios para lidar com certas situações e capacidade de raciocinio para tratar de nossas vidas não devemos ficar esperando atuações milagrosas a cada esquina. Muita gente se mete em problemas por falta de prudencia e de discernimento e depois clama por milagres. Outros desprezam os recursos disponiveis e depois querem milagres.

Conheci um jovem que foi para o campo missionário na Africa Ocidental, uma região de malária endemica. Ele era epiletico e tomava medicação diariamente. Ao viajar para o campo deixou de fazer os antiepiléticos e não fez profilaxia para a malária. Segundo ele o Senhor tinha que tomar conta de seus servos que eram chamados para missões. O resultado foi apanhar malária em cima de crises epiléticas diárias que tornaram sua permanencia no campo impossivel. É claro que ele queria um milagre. Mas nesse caso, como em tantos outros, o Senhor já colocara a disposição meios para tratar dos problemas. Devemos lembrar que o Senhor não fará por nós aquilo que nós podemos fazer.

4) Milagres são para a Glória de DEUS, não dos homens.
 Quando vemos cartazes com nomes de lideres em letras garrafais e um versiculo bem pequenininho em baixo já devemos desconfiar do que ali se passa. Quanto mais próximo do Senhor maior a humildade do servo. Aqueles que realmente se aproximam do Senhor entendem sua grandeza e se humilham naturalmente. É, e será sempre uma contradição profunda, um suposto servo de DEus que é cheio de poder e se orgulha disso publicamente. Vai contra tudo o que a Palavra, a história da igreja e a experiência dizem. Os milagres existem para que o Senhor seja exaltado, o homem dê graças e conheça mais de seu amor. Tudo que passar disso para exaltação humana é espúrio e deve ser rejeitado.

5) O inimigo também faz milagres.
 Moisés teve que enfrentar magos egipcios que eram peritos em artes mágicas. Pedro lidou com Simão em Samaria e Paulo com Elimas em Chipre. Homens e mulheres dotados pelo inimigo da capacidade de fazer maravilhas reais existem e estão por aí para se ver e confirmar. Logo, milagre não é garantia de coisa de Deus e nem de espiritualidade santa. Jesus foi muito claro em Mateus 7:22. Gente que profetizou, fez milagres e exorcismos em nome de Jesus serão rejeitados no dia do julgamento. Precisamos desenvolver o dom de discernimento e avaliar a vida e obra daqueles que se apresentam como homens de Deus.

6) Conversão por meio de milagres não é garantia de firmeza cristã.
Os defensores dos milagres em larga escala normalmente usam o argumento do milagre para a fé. Segundo essa ideía é preciso que haja muitas maravilhas para que o povo se converta em massa. Essa argumentação cai diante do registro biblico e da experiência milenar da igreja. Que povo viu mais milagres e mais grandiosos que o povo de Israel que saiu do Egito? No entanto só Josué e Caleb entraram em Canaã. Elias derrotou os profetas de baal com ação poderosa, mas o culto pagão continuou a florescer. Jesus fez maravilhas como ninguém mas o povo gritou: crucifica-o. Conversão baseada em milagres é em geral superficial, egoista e requer uma dose continua de maravilhas para crescer.

Não negamos que alguns sejam salvos após a intervenção do Senhor de um modo especial, mas biblicamente não é assim que a fé funciona. A fé vem pelo ouvir a palavra. Jesus chamou de bem aventurado os que não viram e creram. Oremos por milagres sim , mas não criemos dependência deles porque o justo vive pela fé e não pela vista.

7) Orar pela vontade de Deus é o princípio bíblico.
Há muitos que se irritam quando oramos por uma cura ou maravilha e acrescentamos "se for da tua vontade". Dizem que isso anula o milagre porque é falta de fé. Ora, orar segundo a vontade de DEus é uma das principais lições de Jesus. Foi sua oração no momento supremo do getsemani ( Mateus 26:39). Tiago, pastor da igreja de Jerusalém orientou os crentes a não pressumir sobre o futuro (Tiago 4:15). Como pode uma oração feita segundo a orientação biblica ser errada ou faltosa?

Segundo o Dr. Dallas Willard, quando oro para que seja feita a vontade de Deus não estou mostrando falta de fé e sim de conhecimento. Não é falta de fé em Deus (estou falando com Ele), não é falta de fé na oração (estou orando), não é falta de fé no poder de Deus (estou pedindo o milagre), é falta de conhecimnto porque não posso ter a certeza de que aquilo é o melhor, mas creio que o Deus que tudo pode também é o Deus que ama e conhece todas as coisas. Oremos pois dentro da orientação biblica sem medo de errar.

Conclusão: Que os milagres existem o crente sabe. A graça de Deus, por vezes, ultrapassa mesmo as leis da natureza em providenciar para os seus aquilo que precisam. Orar por milagres, pedi-los ao Senhor e esperar por eles é biblico e devemos fazê-lo. Mas sempre na busca da vontade de Deus. Confiemos no amor de Deus que supre nossas necessidades. Desenvolvamos o discernimento espiritual necessário para não sermos levados por enganadores.

Trabalhemos para a Glória do Senhor e alegremo-nos, porque o nosso Deus é o Deus dos impossiveis e dos milagres também.

Deus numa Mnemónica

Quando andava na escola aprendi a criar fórmulas mnemónicas para decorar assuntos difíceis ou listas complicadas. Podia ser os nomes dos planetas ou os reis da primeira dinastia em Portugal. Na faculdade, com todos aqueles nomes impronunciáveis, próprios da medicina, a necessidade se tornou ainda maior. Até hoje recorro a elas para informações diversas, como lembrar a localização dos impérios da meso América. Do norte para o sul seria AMI (Astecas, Maias e Incas) sendo os primeiros no México e os últimos no Peru.
Gostamos de arquivar, catalogar e explicar as coisas porque isso nos traz um estranho sentimento de controle, de domínio, de conhecimento. Usava as mnemónicas sobretudo quando lidava com temas que não conseguia dominar. A criação da fórmula permitia “agarrar” o assunto e desse modo controlar a sua utilização. Era útil, sobretudo em provas e exames orais. Mais de uma vez fui ajudado por fórmulas que hoje já nem recordo.

Algo parecido se dá com a teologia. Temos a tendência de querer catalogar e arquivar o Senhor. Arranjamos seus atributos e grupos reconhecíveis e os postamos em ordem alfabética. Decoramos os respectivos versículos e os credos necessários. Não é assim que passamos nas provas do seminário? Não é assim que acontece a avaliação de um candidato ao ministério pastoral? Se souber responder bem, então está pronto a ser pastor! Queremos Deus numa mnemónica...

O problema é que ELE se recusa a ser catalogado. Não cabe numa fórmula, por mais magnífico que seja o intelecto que a crie. Quando achamos que já o entendemos, surge uma situação e ficamos perplexos, confusos e até irritados. Como pode o Senhor sair de nosso arquivo? Como ousou fugir de nossa conveniente explicação? Porque não se sujeita a nossa bela fórmula?

Muito se poderia escrever em resposta. Darei apenas a pergunta que Jesus fez aos discípulos: “E vós, quem dizeis que Eu Sou?” Eles conheciam a catalogação dos outros. Sabiam como o mundo classificava e interpretava Jesus. Eram capazes de explicar e discorrer sobre a visão mundana de Cristo. Mas o Senhor buscava uma relação pessoal. Queria uma convicção própria. Não interessava as explicações dos outros. Ele queria o amor deles.

A única resposta válida que podemos dar ao Senhor é um amor que conduza a adoração genuína. Tudo o mais poderá ter utilidade como exercício mental e como ensino da verdade, mas nada pode substituir a necessidade de uma relação pessoal e íntima com o Senhor. Jesus morreu para que pudéssemos tê-la. O Espírito veio para que a pudéssemos desfrutar. Nada menos que isso satisfaz o coração. Nada menos que isso deveríamos buscar.
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