Quando saio da estação perto do meu trabalho quase sempre na mesma hora, cruzo por várias pessoas cujas faces começam a ser costumeiras. Há um homem porém que me chamou a atenção. Todos os dias o vejo na rua onde passo. Ele teve um acidente grave e ficou com grandes limitações nos movimentos. Diariamente o vejo se esforçando com as suas muletas fazendo um sacrifício visível na busca da recuperação. Faça chuva ou sol, frio ou calor, lá está ele se arrastando pela rua. É visível a dor em seu rosto, mas não falha. Sabe que precisa disso para poder melhorar e persevera na sua prática. Se ao menos os que dizem confiar no Senhor se exercitassem com a mesma fidelidade nas disciplinas espirituais da oração, meditação, testemunho...
Poderíamos dizer que o cristianismo da maioria dos crentes é dissimulado. Foi sobre isso que Canon Westcott escreveu quando disse que "temos dissimulado com tanta persistência o poder do evangelho que é desculpável que aqueles que o julgam por nós duvidem que ele seja mais eficaz e inspirador do que os patéticos palpites que adornam os escritos filosóficos".
Precisamos urgentemente de um Cristianismo para todos os dias. Precisamos urgentemente de Cristãos integrais, inteiros, diários que vivam no cotidiano aquilo que dizem crêr no domingo. A Palavra é aliás bastante enfática nisso. Paulo ensina que "quer comais, ou bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a Glória de Deus " I Corintios 10:31, pois "tudo que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus dando por Ele graças a Deus Pai" Colossenses 3:17. A gratidão e alegria deveriam ser permanentes já que "em tudo dai graças" I Tessalonicenses 5:18, "dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai " Efésios 5:20 e "alegrai-vos sempre no Senhor" Filipenses 4:4. A oração deveria ser constante, "orai sem cessar" I Tessalonicenses 5:17, já que "em tudo sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições pela oração e pela súplica, com ações de graças" Filipenses 4:6.
Essa constância na vida cristã envolve inclusivamente a vida intelectual, já que, segundo a Bíblia, devemos "levar cativos todos os pensamentos à obediência de Cristo" II Coríntios 10:5b e sendo assim "tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há, se algum louvor existe, seja isso que ocupe o vosso pensamento" Filipenses 4:8. Se realmente usássemos esse filtro para nossa vida intelectual, que raciocínios teríamos e que diferença isso faria para nosso quotidiano?
Vencer a dicotomia que o mundo tenta nos impor é algo que está ao nosso alcance. A começar pelos nossos pensamentos podemos mudar, com a ajuda de Deus, a forma como vivemos. Podemos agir e falar de modo coerente com o que dizemos crer. Não precisamos temer ser ofensivos ou virar fanáticos.
Nossa inconstância ofende a Deus, prejudica a igreja e acaba sendo uma negação de Cristo. Nossa convicção na vida diária seria um testemunho mais fiel e util que mil sermões. O mundo pode até estranhar, mas a maioria das pessoas procura exatamente esse tipo de firmeza e de vida integral que a Bíblia nos estimula a viver. Não a dupla personalidade tão frequente na igreja, mas a transparência e a coerência que atraem para Jesus.
Um comentário:
Excelente texto! Direto e objetivo.
Uma bela confrontação entre o cristão de hoje e cristianismo de Jesus Cristo. Jesus de Nazaré está cada mais distante da eclesiolatria e da bibliolatria teológica a respeito de Dele. E mais, uma reflexão ao interior de cada, entre o homem ético (seguidor da Bíblia) e o homem moral (seguidor do Senhor da Bíblia).
Parabéns!
Leo.
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