É a noiva que eu não suporto!

Provavelmente, você até já passou por essa experiência. Um amigo, parente, talvez seu primo, ou mesmo seu filho, um dia, trás à casa sua noiva para apresentar aos seus. Você fica confuso. O sujeito é simpático, até bonito e charmoso. Tem excelente formação, bom emprego, ótimo salário. Poderia "conseguir" qualquer moça. O que foi que ele viu nessa? Ela parece não encaixar, não combinar com ele. Na verdade, ela chega a embaraçá-lo, se não mesmo envergonhá-lo. Parece que só ele não vê! Você vaticina um casamento frustrado, senão mesmo fadado ao fracasso. No fim do encontro você comenta com um conhecido: "Eu gosto dele, a noiva é que eu não suporto".

Não se assuste se eu lhe disser que é isso que a Igreja tem enfrentado em nosso tempo. A Bíblia diz claramente que o Senhor Jesus vê a Igreja como sua noiva (Apocalipse 21:9) pela qual Ele se deu sacrificialmente (Efésios 5:25 a 27). Se avaliarmos as estatísticas e as pesquisas descobriremos que de modo geral o mundo admira Jesus e seus ensinos. Mas, quando falamos de Igreja a reação muda de figura. As pessoas podem ter uma ideia errada de Jesus, mas a verdade é que Ele não parece ser o problema. Elas até gostam do noivo, a noiva é que eles não suportam!

Por que essa atitude? Por que o mesmo mundo que parece ser até simpático a Jesus não tolera sua Igreja? Se as pessoas são capazes de aceitar o valor de Jesus e chegam a admirá-lo por que não apoiam ou pelo menos se aproximam de sua noiva? Pensemos um pouco nisso enquanto reflectimos na busca de soluções para a situação da Igreja em nosso mundo.

1) Duplicidade
Provavelmente, a principal razão pela qual as pessoas rejeitam a igreja seja a discrepância entre os ensinos de Jesus e a vida dos seus seguidores. As pessoas ouvem o que Jesus dizia e ensinava e depois olham para a Igreja e não conseguem reconhecer "cristãos" naqueles que sentam em seus bancos. A hipocrisia de proclamar algo e viver exatamente como todo mundo vive, tem afastado mais gente da igreja do que qualquer argumento ateísta. A suposta superioridade dos crentes que se esvai quando avaliamos as vidas marca pontos contra a Igreja.

Sabemos que a Igreja não é feita de gente perfeita e que essa desculpa pode ser apenas isso, uma desculpa. Mas não podemos deixar de pensar como seria a reação do mundo se nossas vidas refletissem mais os ensinos do Mestre. Jesus viveu e ensinou uma vida de amor ao próximo, de serviço a comunidade, de investimento nas pessoas sofridas da sociedade, os rejeitados e abandonados. A Igreja como instituição se fecha a essas pessoas e muitos seguidores de Jesus se julgam bons demais para estar próximos delas. Em vez de incorporar o bom samaritano engolimos o sacerdote...

Escândalos de vários tipos que têm assolado as várias vertentes do Cristianismo apenas acrescentam razão a quem já vê na duplicidade de vida dos Cristãos uma forte razão para dizer que até respeitam Jesus, mas não suportam sua noiva.

2) Institucionalização
Jesus não deixou uma instituição. Ele não fundou uma denominação nem mesmo uma religião. Ele deixou uma família. Um grupo de discípulos que deveriam perpetuar seu discipulado. Juntos esses homens e mulheres tinham descoberto o modo de voltar a comunhão com Deus e aprendido a apoiarem-se mutuamente nessa caminhada imitando a vida de Cristo no poder do Espírito.

Com o tempo a força desse movimento decaiu e o Cristianismo foi se tornando, para muitos, apenas mais uma religião com seus rituais, liturgias e profissionais religiosos. A Instituição tomou o lugar do Espírito e hoje não conseguimos pensar em Igreja sem ela. Mas é essa mesma instituição que desperta a suspeita do mundo. Principalmente em nossos tempos pós-modernos, as instituições estão sob suspeita e crítica. Muita gente não quer nem se aproximar daquilo que vê como mais uma organização que visa seu dinheiro. Não admira que o formato de igreja que se apresenta ao mundo de hoje desperte tão pouco interesse e provoque tanta rejeição.

Houve um tempo em que a igreja como instituição até representava uma boa alternativa a outras instituições. Hoje, o homem pós-moderno desconfia de todas as instituições e prefere muito mais se ligar a grupos de interesse. Enquanto a igreja mantiver sua estrutura pesada e seu ar institucional continuaremos vendo gente que até respeita Jesus, mas não tolera sua noiva.

3) Marginalidade
A Igreja aceitou a imposição mundana da divisão entre sagrado e secular. Essa divisão não é Bíblica e nem nasceu na igreja. Veio de fora. A famosa directriz de separação entre igreja e estado é apenas uma das vertentes de algo que se tornou marcante na sociedade e facilitou a duplicidade de vida de muitos cristãos. Agora temos uma divisão clara: A vida diária, secular, colectiva, de senso comum, regida por leis e ciência e os dias religiosos (domingo e alguma festa), sagrados, pessoais e regidos por ideias e filosofias subjectivas de um mundo de fé totalmente individualizado.

Um exemplo físico desta marginalidade é a capela de um hospital. Sabe onde fica a capela do hospital mais próximo? Não interessa. É algo pequeno, acanhado, normalmente num lugar bem escondido, por regra vazia e sem interesse. O quotidiano se passa no hospital onde ocorre vida e morte, onde a ciência manda, onde todos circulam. A capela é marginal, procurada muito esporadicamente por aqueles com "fé", algo subjectivo e que não faz muita diferença para a maioria.

A Igreja aceitou essa dicotomia e por conseguinte a marginalização. Acomodou-se a ocupar só os dias sagrados, só os espaços litúrgicos. Recolheu-se em si mesma abrindo mão do diário, da palavra activa, da importância vital. Sendo assim não admira que a maioria considere a Igreja sem interesse e sem valor.

4) Separatismo
Consequência lógica da duplicidade hipócrita de muitos crentes e da marginalização da Igreja é o separatismo que se vê na maioria das congregações. Nossos discursos enfatizam o mal do "mundo". Falamos em "nós" (os que fazemos parte da elite salva e santificada) e "eles" (os mundanos, perdidos e sob a dominação do maligno). Pior ainda é que em muitas congregações fazemos com que o visitante sinta essa divisão de modo claro e desagradável.

Nesse tipo de contexto os cristãos vêm a igreja como um refúgio, quase uma catacumba onde se podem esconder do mal e respirar o "bom ar" do evangelho. Qualquer um que venha comprometer essa tranquilidade é mal recebido. A evangelização é nula, ou então toma o aspecto da imposição de ideias, costumes e tradições que passam até pelo modo de falar e vestir. Se quer ser um de nós então tem que ser exatamente como nós.

Essa visão pode parecer caricata mas infelizmente não é. Representa ainda uma boa parte do Cristianismo e tem contribuído bastante para que a noiva seja rejeitada e mesmo odiada.

5) Divisão Interna
Uma última característica da igreja que trabalha contra sua posição neste mundo é a profunda e variada divisão interna da Igreja que se diz Cristã. É comum ouvimos as pessoas falarem: "Há tantos grupos e denominações, mas qual é a verdadeira?" E nossa resposta, em vez de apontar para Cristo, é gastar um precioso tempo explicando porque nosso grupo é o "dono" da verdade. Diante de tantas opções as pessoas perdem de vista o principal, JESUS.

Não fazemos apologia de uma unidade a qualquer preço, mas que as divisões destroem a igreja não é novidade. Se coisas tão peque nas são capazes de nos trazer tanta divisão como esperar que as pessoas vençam as barreiras? Se nós não somos capazes de valorizar as coisas boas de nossos irmãos como esperar que outros o façam? Não admira que respeitem o noivo, mas fujam da noiva.

Reagindo
Nenhuma solução fácil será honesta ou relevante. O inimigo nos tem muitas vezes exatamente onde quer, mas há passos específicos que podem ser dados para vencer. Na próxima semana reflectiremos mais sobre eles.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá pastor amigo,
Quanto tempo! Como estão as coisas em além-mar?
Em tempo: "É a noiva que eu não suporto!" é fantástico.
Abraços,
Lucas

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