Narciso de joelhos (oração auto-centrada)

Na mitologia grega Narciso era um jovem de beleza rara filho do deus-rio Cefiso e da ninfa Liríope. Há várias versões da sua história, mas todas concordam em que ele se apaixonou pela própria imagem refletida no rio e aí permaneceu em admiração permanente definhando e por fim morrendo ficando em seu lugar uma flor a que se denominou narciso. Esse mito deu origem ao termo narcisismo que é definido como vaidade, orgulho, auto-admiração.

Nos nossos tempos, o narcisismo deixou de ser algo visto como errado e passou mesmo a ser requisito fundamental para se triunfar na vida. Em filmes, e músicas se admite e defende que o mais importante de tudo nesta vida é amar-se a si mesmo. A cantora Whitney Houston teve um grande sucesso nas paradas com uma música que dizia exatamente isso. A mensagem é: o fundamental é amar-se, aceitar-se e estar seguro de si mesmo. O homem com dúvidas a respeito de si mesmo já está em desvantagem. O mundo moderno admira o homem totalmente seguro mesmo que isso implique em grau elevado de vaidade e auto-admiração. Narciso reina!

Preocupante é notar que por meio das ciências comportamentais, essas ideias tem penetrado sorrateiramente na Igreja. Passamos nós também a admirar líderes "fortes" e com isso estamos falando de homens e mulheres com um discurso de auto-aceitação marcante e em quem se pode notar altos índices de vaidade. Líderes que estão totalmente seguros de sua chamada, de sua superioridade, de sua pregação. Líderes que apresentam ao público uma face sempre altiva e dominadora, que sabem sempre o que querem e como consegui-lo. Narcisos no púlpito!

Evidente será referir que é benéfico ter um líder seguro, pois ninguém seguirá um comando frouxo, o que rejeitamos é a auto-suficiência pregada pelo mundo. Paulo era um homem de Deus poderoso em ações e palavras, mas dizia "não julgo que o haja alcançado" (Filipenses 3:13). Ele instava seus discípulos a se "examinarem" a ver se ainda estavam no caminho. O salmista tinha comunhão profunda com Deus, mas clamava "sonda-me ó Deus e conhece o meu coração" (Salmo 139: 23). O profeta referia que nossas obras são como "trapos de imundície". Esses líderes eram fortes, mas não tinham a atitude narcisista dos líderes modernos influenciados pelo mundo.

Grave também é perceber o quanto essa visão do homem moderno tem tomado conta de nossas orações. Quando ouvimos muitos irmãos orarem ficamos com a impressão que Deus só existe para nos salvar e depois fazer tudo que quisermos lhe pedir. É um deus menor, um deus servo. Ouvimos orações onde parece que o crente exige de deus certas atitudes, demanda tomada de posição e chega a decretar ou declarar aquilo que acha que deve acontecer. Muito distante da oração valorizada por Jesus: "Tem misericórdia de mim pecador" (Lucas 18:13). Nessas orações pseudo-poderosas o que vemos claramente é Narciso de joelhos!

Jesus ensinou seus discípulos a orar (Mateus 6: 9 a 12). Mais que uma reza a oração conhecida como "Pai Nosso" é uma lição na arte da oração. Um guia direcionando o seguidor de Cristo a orar. Nessa oração tudo é direcionado ao Senhor. Começamos por lembrar que é ELE o foco da oração e não nós. Mesmo quando pedimos perdão, livramento ou sustento devemos ter consciência de que estamos na dependência total da misericórdia de Deus que é a razão de não sermos consumidos (Lamentações 3:22).

Precisamos deixar de ouvir o mundo e sua mensagem antropocêntrica e ouvirmos mais a Palavra. A glória de Deus é a razão de nossa existência e é nele que encontramos a verdadeira vida e a verdadeira satisfação. Nossa visão tem que crescer no sentido da grandeza de nosso Deus e então narciso nos parecerá aquilo que realmente é: um tolo inútil. Quero enterrar o meu narciso e crescer na graça. Convido-o a fazer o mesmo.

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