ADORAÇÃO IDÓLATRA?

" Quando as pessoas vêm as gesticulações lascivas dos cantores, os tremores e alterações adúlteras das vozes dos que cantam, não conseguem deixar de rir e pensamos que não vieram propriamente para orar, mas para um espectáculo, não para ouvir uma mensagem, mas para o teatro. Não há qualquer temor da majestade tremenda em cuja presença estão"

Estas duras palavras foram escritas por um conceituado líder religioso diante do panorama da adoração em seu tempo. Sua reflexão nos leva a meditar novamente sobre a razão de ser do louvor e a maneira como ele acontece em nossas comunidades. O interessante será saber que o excerto que colocamos acima não foi redigido por um pastor contemporâneo, mas foi escrito por um monge chamado Aelrod, no século XII. Parece que as questões ligadas à adoração são antigas...


Já na fase patrística da Igreja, Clemente de Alexandria (c. 150- c.215) era contrário ao uso de qualquer tipo de música e palmas nos cultos porque assemelhavam os encontros cristãos aos pagãos. Na época da Reforma protestante sabemos que Lutero concordava com o uso de hinos e até compôs vários, mas Zwinglio, seu contemporâneo e grande reformador do norte da Suíça era contrário ao uso de música. No período dos grandes avivamentos na América a música era muito usada, mas o pastor da Primeira Igreja Batista de Boston, Charles Chauncy (pastor nessa igreja entre 1735-43) batalhou contra o emocionalismo exagerado que essas músicas traziam aos cultos. O debate é antigo e não tem conclusão à vista.

A questão da adoração que encontramos no Antigo Testamento era ligada à idolatria. O Senhor corrigia seu povo sempre que se dedicava a adoração de falsos deuses. Mas adoração idólatra é tanto aquela que adora um falso deus quanto a que tenta adorar o verdadeiro Deus falsamente e contra isso o Senhor também falou, basta lembrarmos de Isaías 1: 11 a 20 ou 58: 1 a 14. Hoje, a Igreja corre o risco de cair em ambas as formas de idolatria: adorar líderes-carismáticos, estrelas da musica evangélica, bandas e canções de sucesso e/ou adorar por todas as razões que não a única válida, o louvor do Senhor. Recordemos alguns pontos chaves da verdadeira adoração.

1) A ADORAÇÃO TEM O FOCO NO SENHOR
Parece que cada vez mais o foco do louvor é o bem-estar do adorador. Musicas e estilos que agradem o ouvido e emocionem a plateia. Certamente vai haver emoção, mas nenhuma adoração. A pergunta certa para o louvor não é que tipo de louvor queremos, que tipo de louvor agrada o visitante, que tipo de louvor esta no top das rádios evangélicas. Isso é levar a adoração para o reino da carne e só resultará em idolatria. A pergunta certa é: Que Louvor agrada o Senhor? A Adoração é para ELE, logo é ELE que tem que ser agradado e não nós.

Por outro lado, se o foco é o Senhor, então é ELE que deve ser lembrado após o louvor. Uma adoração em que sobressai um cantor, uma banda, um líder ou mesmo uma canção rouba a honra que é devida só a Deus. Já o salmista clamava "não a nós Senhor, mas ao teu nome dá Glória". Essa prática atual de entronizar artistas e líderes de adoração é a antítese do louvor que a Bíblia advoga.

2) ADORAÇÃO É FRUTO DE EXPERIÊNCIA
Adorar (falar bem, exaltar, elogiar) é algo natural ao ser humano. Diariamente o fazemos. Quando comemos algo saboroso logo exaltamos a cozinheira. Quando vemos algo bonito logo soltamos expressões de admiração. Quando lemos um livro bom e electrizante logo recomendamos o escritor. Quando ouvimos uma música cativante logo cantarolamos o refrão. Quando vemos um atleta fazer algo extraordinário (um gol bonito, uma cesta difícil, etc.) logo louvamos seu gesto por vezes com exuberância (se for da nossa equipe). O Louvor é natural ao ser humano.

Adoração verdadeira nasce de experiência com Deus. Se lermos seu livro, se saborearmos suas bênçãos, se virmos sua glória, se percebermos sua actuação não há como não louvar. Nosso problema é passar uma semana inteira sem tomar conhecimento dele e depois irmos a um local de culto para o adorar. Não admira que nessas circunstâncias precisamos que o grupo de louvor desperte em nós algo. E esse algo dificilmente será louvor sincero. Vai ficar bem mais perto de idolatria.

Um ato de adoração experimental, comum no Antigo Testamento e muito útil para compreender o louvor, era a prática de dar nomes a Deus. Se notarmos no AT os nomes de Deus são muitas vezes compostos. Eram Jeová-Shaddai por exemplo. Esses nomes surgem de experiências práticas com o Senhor que levavam a uma nova compreensão do Senhor. Por exemplo: Jeová-Nissi, o Senhor é a nossa bandeira, depois de uma vitória militar em que a bandeira permaneceu inabalável. Nosso louvor deveria ser assim, natural, fruto de experiência e acrescentando conhecimento e compreensão do Senhor.

3) ADORAÇÃO, SEGUNDO JESUS, É VIDA!
Jesus deixou claro que tipo de adoração Deus desejava em João 4: 23 e 24. No encontro com a samaritana o Mestre explicou de modo específico que Louvor Deus deseja e procura: Em Espírito e em Verdade. Em Espírito ao contrário de em superfície, em carne. Os samaritanos, assim como nós, estavam demasiado presos às formas. Queriam saber onde adorar, com que liturgia, com que liderança, com que grupo de louvor. Jesus disse que isso não era minimamente importante. Louvor que depende de formas é proveniente da carne. Satisfaz as emoções, mas fica-se pela epiderme. É como receitar uma pomada para quem precisa de um injectável. É somente uma solução paliativa e certamente não vai curar.

Adorar em Espírito é adorar para além das emoções e do raciocínio. É adorar naquele nível que só se atinge quando nascemos de novo. Só o Espírito renascido pode ter comunhão com Deus. A Bíblia fala de paz que excede o entendimento (Filipenses 4:7) ora essa paz acontece no Espírito. O verdadeiro louvor é desse nível. É também adoração que surge na direção do Espírito Santo, e essa certamente será do agrado de Deus.

Adoração em Espírito tem, evidentemente, a ver com a Verdade. Verdade da Vida do adorador, das palavras, dos atos de louvor. Um adorador como Deus procura é alguém que vive uma vida com ELE. Conhece-o bem e por isso mesmo não pode deixar de o adorar. E quando abre a boca, seja em palavras, em cânticos ou discursos, o que sai é pura verdade, reflete experiência, mostra intimidade. Podemos tão facilmente perceber se o louvor que nos dão é genuíno ou não, porque então não somos capazes de entender o louvor que DEUS merece? Sabemos quando alguém nos quer apenas bajular e isso é, em ultima análise, ofensivo. Porque entendemos que para o Senhor não será?

4) O LOUVOR AUTÊNTICO DEMANDA EXCELÊNCIA
Uma adoração genuína e que agrade a Deus exige de nós excelência moral e artística. Excelência moral. Vidas que caminham no rumo da santificação e que por isso podem levantar mãos santas. Vidas que não fazem do louvor um comércio, mas uma forma de ser e estar no mundo. Vidas que brilham com a glória do Senhor em vista. Mas também excelência artística. Excelência da música, da letra, da apresentação. Musica para Deus tem que ser a melhor. As letras têm que ter conteúdo e valor e não apenas refrões chamativos. A apresentação tem que ser honesta, digna e não apelativa ou apeladora. Louvor ao Senhor tem que ser o melhor de tudo.

5) ADORAÇÃO É ATITUDE
As principais palavras no Antigo e Novo Testamento para adoração são Schachah e Proskunai respectivamente e são traduzidas por prostração. Proskunai é por exemplo a palavra usada em João 4 para falar de adoração. Parece que adorar tem a ver com prostrar-se. Adorador é o que reconhece a superioridade do Senhor e cai de joelhos com o rosto em terra diante da sua presença. Essa onda moderna de querer mostrar intimidade com Deus falando com ELE com palavras de gíria urbana pouco têm a ver com adoração bíblica. O Senhor é Pai mas é também o Todo-Poderoso, Senhor do Universo, Criador e sustentador de toda Vida. Como nos lembra Aelrod no texto inicial, há que mostrar temor de Deus na adoração. Intimidade não se pode inventar e não tem a ver com algo que se mostra apenas em público. Cansamos de cantar que nos rendemos, nos prostramos, entregamos a vida e depois saímos do culto e dirigimos nossas vidas em ter a menor preocupação com o que a Palavra diz ou o Espírito orienta e ainda respondemos: é a vida!

Uma adoração superficial agradará a carne e pode satisfazer a alma momentaneamente. Exatamente como um concerto de uma boa banda de pop ou a apresentação de uma orquestra conceituada. Mas isso passa rápidamente. Logo é preciso um novo concerto, um novo show para manter o nível da adrenalina. Uma adoração epidérmica deixa de ter efeito minutos após o culto, por vezes ainda no estacionamento da igreja quando alguém fecha nossa saída.

Meditemos nisso. Precisamos de aprender a adorar. Chorar nosso pecado, nossa idolatria e clamar por sabedoria e autenticidade no louvor. Há urgência de experiência genuína com Deus que resulte em adoração em Espírito e em Verdade.

Ó Pai, faz de nós verdadeiros adoradores!

Um comentário:

Marcio disse...

Meu caro Rev. Joed, amigo e irmão em Cristo
Verdadeiramente, não podemos deixar de falar do que temos visto o e ouvido. Este é deveras o cerne daquele que não se conformam com as artimanhas do mundo secular, mas transforma-se progressivamente pela constante renovação do entendimento, à luz da mente de Cristo.
Lamentavelmente o que se vê a nível de adoração, está mais para o antropocêntrico (culto personalista ao ego), do que para o cristocentrico (adoração centrada em Jesus).
O comportamento de grande parte das consideradas “Estrelas da Música Gospel” parece conspirar contra a adoração verdadeira. Muitos estão tomando para si, a adoração que deveria ser tributada somente a Deus. Já tive a ingrata insatisfação de passar por alguns outdoors, onde os anunciantes afirmavam o seguinte: “O Show que vai mudar sua vida”. Portanto, os organizadores destes shows, atribuem ao evento, a capacidade de transformar vidas, em detrimento do nosso Senhor Jesus. Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo não passam de meros coadjuvantes. Certa vez, ao acionar o rastreamento automático de FM do carro, a emissora estava retransmitindo um desses “shows gospel”, e com pesar ouvi claramente o brado da multidão de adoradores direcionado à pessoa da “celebridade gospel”: “Eu vim aqui só prá te ver”. É como se a pessoa da triunidade, Deus Pai, Filho e Deus Espírito Santo não existissem. Algumas destas “celebridades”, quando convidadas para ser a “atração” de um evento, a primeira coisa que a “celebridade” faz questão de priorizar é a base contratual do cachê. Algumas “celebridades” exigem Hotel cinco estrelas, e há até quem exija limusine do Hotel ao Palco do evento e vice versa.
E aí heim? Jesus, além de não exigir qualquer mordomia, não tinha nem mesmo onde reclinar a cabeça. Em muitas ocasiões o relento foi seu teto.
Essas “celebridades” e esses tais adoradores estão nada mais, nada menos do que; seqüestrando a adoração devida única e exclusivamente ao Deus dos deuses e ao Senhor dos senhores. Penso que eles estão adotando para si o mau exemplo daquele querubim, da guarda que no Éden andava ao brilho das pedras preciosas, do ouro, ao som dos pífaros, até o dia em que seu coração elevou-se por causa desta formosura, e ele quis para si mesmo todo esse esplendor pertencente a Deus que o criou.
Todos nós sabemos de quem se trata. Lúcifer, mais conhecido como Satanás, o anjo que tentou seqüestrar a adoração de Deus.
Infelizmente, muitos não se apercebem de que estão imitando esse anjo caído, no que diz respeito à Glória devida somente a Deus.

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