A primeira dessas experiências aparece em Êxodo 32 e é
a do bezerro de ouro. Um povo liberto e que vira maravilhas não suportou
nem 40 dias sem a liderança de Moisés e já estavam prontos a adorar imagens.
Precisavam de algo visível. Depois de 400 anos vendo a idolatria egípcia diária
foram tentados a ter eles também imagens. Acabam por optar por um boi ou
bezerro, um dos símbolos do Osíris egípcio. É difícil crer que viam nesse
bezerro em Deus. O que eles queriam era um culto à sua medida, do seu jeito. Arão,
que segundo a tradição assistira ao apedrejamento de Hur por tentar impedir a
idolatria, cede ao povo e decreta uma festa ao Senhor (32:5). “Transformaram a
Glória de Deus na figura de um boi que come erva” Salmo 106:20. Chamam a sua
bacanal de celebração ao Senhor. Adoração totalmente equivocada.
Esse episódio é símbolo máximo do culto humano, um
culto feito para agradar o homem, voltado para os sentidos, para emoções fortes.
Surge da falta de um líder verdadeiro e da direção fraca que vai onde o povo
quiser ir. Um culto assim pode até agradar a multidão mas fica longe de louvar
a Deus e é para Ele abominação que exige punição.
Pouco tempo depois vemos o povo murmurar novamente e ser
punido com uma praga de serpentes mortíferas (Números 21). O Senhor providencia
a cura por meio da fé que exigia a visualização de uma serpente de bronze
que Moisés ergue no centro do acampamento. Muitos sãos salvos pela fé ao
avista-la. Era um símbolo da graça e do perdão de Deus. Mas o povo facilmente
cria superstições e passados séculos encontramos Israel adorando a serpente (II
Reis 18:4) e o rei Ezequias em seu zelo destrói Neustã, o pedaço de bronze.
Este episódio nos ensina o risco de tomar algo bom de
Deus e idolatrá-lo. Pode ser um programa, uma organização, um método, um
templo, um local de culto. Algo que o Senhor inspira e abençoa mas que com o
tempo é elevado a uma posição errada e ocupa o lugar que só o Senhor pode ter.
Este é um erro comum no meio evangélico. Infelizmente tiramos os olhos de Deus
muito facilmente e logo nos fixamos em coisas, em pedaços de bronze. Passamos a
adorar os métodos, as formulas, os locais e as organizações e deixamos de
servir ao Senhor. Nesses casos vai haver necessidade de alguém com zelo de Deus
chamar o povo a verdade e mostrar que barro é barro, bronze é bronze e só o
Senhor é Deus!
Já depois da entrada na terra prometida temos mais dois
momentos de adoração equivocada. Um aparece após as vitórias de Gideão (Juízes
8). O servo de Deus tem uma vitória retumbante e histórica sobre os midianitas.
Apazigua os efraimitas e recusa ser rei. Até aí tudo certo, tudo bem. Mas então
pede ouro e faz um éfode sacerdotal que coloca em sua própria cidade de
Ofra e isso foi por tropeço para Israel e para a casa de Gideão (8: 27). Gideão
estivera tão bem mas falha exatamente no que viera combater. Toma uma posição
que não é sua (ele é de manasses e não levita), faz uma vestimenta que não lhe
cabia (ele é homem do campo e chefe militar e não sacerdote), cria um local de
culto em sua cidade desviando o culto de seu lugar certo que seria em Siló
(talvez porque na verdade não se entendera com os de Efraim em cujo território
ficava Siló) e provavelmente usa esse éfode como oráculo quando o Senhor
estabelecera Urim e Tumim como oráculos Divinos.
Aqui a adoração equívoca advém de um líder que perde a
noção de seu lugar, usurpa um ministério que não é seu e estabelece uma
primazia em sua cidade que não tem lugar. Um líder equivocado pode
facilmente levar a uma adoração espúria. Grande é a responsabilidade daqueles
que o Senhor chama.
Por fim temos o estranho episódio de Mica, seus ídolos
e seu levita em Juízes 17 e 18. Mica cria seu próprio santuário (capela
privativa), constrói seus próprios deuses e consagra seus próprios sacerdotes,
primeiro, seu filho e depois, um levita errante. O levita, foge da terra que
lhe fora designada a procura de uma situação mais favorável. Primeiramente
aceita ser sacerdote de Mica quando não podia ocupar tal posição e depois vai
se vender aos Danitas por um salário melhor (18:19 e 20). Essa história é um
exemplo refinado de culto conveniente.
Ministérios mercenários são hoje comuns. Não há paciência
e nem perseverança na obra. Quando as coisas ficam difíceis e principalmente
quando há uma melhor oferta algures o “servo” de Deus logo entende que “seu
tempo naquele trabalho terminou”. Facilmente muda de visão e de função. Tudo
que vá ao encontro de sua comodidade e sucesso. “É melhor ser sacerdote de uma
tribo do que de um só homem e família...” E devemos notar que a história não acaba
necessariamente mal para Jônatas, filho de Gérson. Ele e seus descendentes vão
manter o cargo (18:30). Mas a custo de que? Que satisfação o Senhor teria com
essa situação?
Neste Natal lembremos a adoração dos anjos. Feita na hora
certa, do modo certo, sob a ordem específica de Deus, aqueles a quem Deus
envia, com o intuito de proclamar a boa nova. Nós provavelmente preferiríamos
usar um coro de anjos no palácio real ou na praça central de Jerusalém. Mas o
Senhor os mandou aos pastores em Belém e lhes deu um repertório específico.
Adoração genuína terá que ser sempre feita para o
louvor da Glória Divina e
dentro da sua vontade e da
sua revelação.
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