Imaginem comigo a cena de um filme de suspense. O jovem espião, altamente treinado, entra num restaurante e pede um sanduíche. Pouco tempo depois, se lhe perguntarmos, é capaz de descrever ao pormenor tudo o que está à sua volta. Sabe o número de clientes, a raça, idade aproximada e sua aparência. Contou os carros no estacionamento, lembra-se das marcas e dos números das placas. Já verificou onde estão as saídas de emergência e a atitude do gerente e dos garçons.
Tudo isto ele pode deduzir em pouquíssimo tempo, e nós, como expectadores, admiramos sua incrível capacidade de observação. Como é que ele pode ter visto tanto em tão pouco tempo? Isto só acontece nos filmes? Não, pois sabemos que realmente há indivíduos altamente treinados que agem assim! Como conseguem? A resposta é bastante simples: TREINO!
Pensando nisto e analisando nossa capacidade de vermos Deus neste mundo concluímos que estamos falhando, e muito!
Ver Deus é um anseio natural do homem. A visão é nosso órgão privilegiado, uma janela para a realidade que nos cerca, logo, torna-se um parâmetro para a vida. Naturalmente cremos no que vemos, mesmo que seja apenas um truque de ilusionismo e no fundo, a maioria de nós é sócio do "Clube do Tomé" !
Na prática, a vida de quem crê apenas no que pode ver é muito pobre, mas muitos continuam dependendo apenas das sensações que a vista lhe fornece. Em nossas igrejas é comum ouvirmos afirmações como estas:
_ Quero ver o milagre acontecendo na minha vida!_ Eu não estou vendo o agir de Deus neste lugar...
_Por que é que eu não consigo ver a ação de Deus no mundo?
_ Se Deus é Espírito, e espíritos não são visíveis aos nossos olhos, então como veremos a Deus?
Para crescermos na capacidade de ver Deus neste mundo devemos seguir três princípios básicos: Treino, Intenção e Afinidade.
1) TREINO
Este primeiro ponto nos recorda o espião e sua capacidade de observação. Outro bom exemplo é o médico. Depois de tantos anos exercendo medicina costumo andar pela rua e comentar com minha esposa sobre um problema físico ou doença que observo nas pessoas que passam por nós. Muitas vezes encontro patologias bem evidentes, mas minha esposa não consegue perceber, porque ela não viu do mesmo modo.
O médico é treinado para ver de modo diferente.
Igualmente o artista plástico ou pintor é treinado para ver um estilo, identificar uma técnica ou interpretar uma escola que passa despercebida para o leigo. Quando alguém que tem o treino adequado nos mostra algo que viu, nós também conseguimos ver. E, de repente, tudo parece tão claro! Nos sentimos meio tolos, porque estava tão evidente e não tínhamos percebido.
Ver a Deus é algo que requer treino e pode ser desenvolvido como capacidade na vida dos crentes. Encontramos pessoas que aprendem a ver Deus nos detalhes, nas pequenas coisas e crescem nessa percepção. Com o passar dos anos tornam-se crentes muito mais completos porque adquiriram o senso desta constante presença divina.
Esse treino se adquire através da Palavra, da meditação no que o Senhor é e faz. Lendo sobre seu modo de agir no passado crescemos no entendimento de sua ação nos dias de hoje.
2) INTENÇÃO
Esse segundo princípio desdobra-se do anterior. Aprendemos a ver pela intenção, ou seja, pela busca. Aqui vamos pensar no exemplo do investigador criminal, ou examinador forense. Ele entra na cena do crime e vê uma evidência, não porque a observou imediatamente, mas porque procurou. Foi sua intenção, sua busca que o levou a encontrá-la. O investigador sabe o que procurar e ao entrar na cena, baseado no que já conhece, examina os sinais que confirmam o seu pensamento. O mesmo acontece com um psicólogo, na consulta. Ele conhece os quadros clínicos, conhece os sinais e os padrões de comportamentos. Baseado nisto, procura despertar no paciente estes comportamentos e poderá até mesmo provocá-lo com o objetivo de confirmar o que já suspeitava.
No dia a dia também usamos a intenção para ver. Basta perder algo e colocamos esse princípio em causa. Passamos a procurar ver por intenção e achamos. Achamos a caneta perdida, os óculos deslocados, o celular escondido e a moeda que caiu. A intenção foi o segredo da visão.
Ver a Deus também é ver com intenção. À medida que o procuramos de verdade, nós o vemos. Ele prometeu que não estaria longe de quem o procurasse de verdade. Dias gastos em interesses pessoais, mergulhados em trabalho e ansiedade passam sem a visão do Senhor. Somente quando reagirmos e a intenção ou o desejo de vê-lo encher nosso coração, o veremos como ele deseja.
3) AFINIDADE
O terceiro princípio é a afinidade e todos a conhecemos bem. Já notaram como reparamos mais naquilo que nos interessa? Imagine que você quer comprar um carro novo. Escolheu o modelo e passa a "namorar" este veículo. De repente, parece ver esse modelo em toda a esquina, ele aparece na sua frente a cada sinal. É a lei da afinidade.
E o que dizer das grávidas? Logo se imaginam com um grande barrigão, andando com cuidado pela rua. Ao sair para comprar o enxoval do bebê encontram montes de grávidas no caminho, no shopping ou no supermercado. Até parece que meio mundo engravidou! Isto é a afinidade. Reparamos mais no que nos toca, naquilo em que temos algo em comum.
Ver a Deus também é ver com afinidade. Quanto mais perto do Senhor estivermos, mais tempo de comunhão teremos. Quanto mais afinidade tivermos com ele, mais visível será em nosso dia a dia. Aquele que anda afastado de Deus não consegue vê-lo ou não repara tanto, por falta de afinidade.
Yuri Gagarin, o astronauta russo, chegou ao espaço e disse: não vi a Deus!
Quantos milhões têm olhado as estrelas daqui mesmo, com telescópio ou a olho nu e podem dizer como o salmista: "Vi a Glória do Senhor, porque os céus o declaram!"
Você tem conseguido ver a ação de Deus na sua vida? Podes ver Deus à sua volta? É capaz de identificar a ação divina no mundo? Então, siga os princípios!
Dr. Joed Venturini
Um comentário:
Nós crentes estamos sendo influenciados pela mídia e acabamos acreditando que Deus não se importa com o mundo. Mas Ele se importa! Nós é que perdemos a capacidade de vê-lo em açào nas nossas vidas e no mundo. Temos que voltar a ver Deus.
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