O
Jogo
Reflexões
sobre o relativismo

Uma das formas de percebermos a contradição da cultura
marcada pelo relativismo positivista que nos cerca é olhar para um jogo popular
com o futebol. Eis um jogo que movimenta milhões em dinheiro e pessoas e
levanta paixões, muitas vezes exageradas mas, verdadeiramente arrebatadoras.
Imaginemos o diálogo entre um amante de futebol e um relativista, que nunca viu
um jogo de futebol antes.
O estádio está cheio e há electricidade no ar. As
equipas se esforçam para vencer as defesas adversárias com lances técnicos e
tacticamente treinados à exaustão. O público reage a cada lance com emoção
contida comentando e gritando. Os personagens que queremos ouvir estão numa das
laterais observando. O amante de futebol será F e o relativista moderno R.
R: isto é tudo muito interessante, o povo parece mesmo
envolvido
F: é claro, joga-se um clássico que vai decidir o
campeonato…
R: o que são aquelas linhas a volta do campo e dentro
dele?
F: são os limites do campo e das áreas de jogo
R: Como assim limites?
F: o jogo só pode acontecer dentro delas. Se a bola
sair o jogo para até que volte ao campo dentro das linhas.
R: mas, isso é muito limitativo. Linhas são barreiras,
fronteiras que impedem o progresso, cerceiam a liberdade.
F: pois mas é obrigatório ficar dentro das linhas
R: e porque só há uma bola? Alguma dificuldade
financeira?
F: não, o jogo se joga com apenas uma bola
R: mas isso significa que a maioria dos jogadores só
toca nela de vez em quando, é muito limitativo
F: mas é assim que funciona. Cada um tem seu lugar e
há posições que jogam com a bola mais que outras
R: parece muito injusto, claramente uma má
distribuição de recursos. E porque só usam os pés para rematar a bola
F: Porque isto é futebol, como o nome indica no seu
original é bola no pé. Só se pode tocar com o pé.
R: e se alguém quiser “sair da caixa”, ser criativo e
pegar a bola com a mão?
F: é falta e dependendo de onde for ou como for merece
uma sanção disciplinar ou mesmo uma penalidade máxima
R: isso é horrível, significa que não há liberdade de
expressão para os jogadores, estão presos em regras predefinidas, não podem se
expressar ou ser criativos (e nesse momento a bola chegou ao guarda-redes que a
tomou nas mãos tranquilamente). Mas veja, aquele jogador com roupa diferente,
ele pegou a bola com a mão, e não foi falta
F: é o guarda-redes, é suposto ele usar as mãos.
R: mas isso é descriminação. Só ele pode usar as mãos
e os outros não. E ele pode usar os pés também?
F: sim claro. Pode pegar com a mão e rematar para a
frente. É parte da sua função no jogo
R: E os outros jogadores não ficam irritados com a
diferença de critérios? O guarda-redes é claramente beneficiado
F: não há discriminação, são as regras do jogo (nesse
momento o juiz apitou uma falta e o jogo parou, o árbitro aproximou-se do jogador
faltoso e lhe mostrou um cartãozinho amarelo ao que o público reagiu)
R: O que foi aquilo? Porque aquele jogador está de
preto?
F: não é um jogador é o juiz, o árbitro do jogo.
R: como assim?
F: a função dele é fazer cumprir as regras. Se algo
for feito fora das regras ele para o jogo e administra as devidas sanções como
agora mesmo
R: porque mostrou aquele cartãozinho amarelo?
F: O jogador fez falta e foi punido. Se receber outro
cartãozinho terá que sair do jogo.
R: Que cena perturbadora. Que figura macabra e
retrógrada. Julga-se superior aos outros. Uma atitude castradora e antiquada.
Claramente um símbolo da velha guarda, do paternalismo machista. Mostrar
cartões é simplesmente horrendo.
F: Mas ele é fundamental para que se cumpram as regras,
para que haja disciplina. Sem ele os jogadores fariam o que queriam e seria o
caos
R: haveria liberdade de expressão, deverias dizer…
haveria a possibilidade de cada jogador ser ele mesmo sem limitações e castigos
estabelecidos por regras antigas criadas certamente por mentes malignas e
viciadas. Aquilo a que chamas disciplina eu declaro como limitações castradoras
e repressoras (e nesse momento aconteceu um golo e a multidão explodiu em
alegria e comemoração). O que foi isso?
F: foi gol, um golaço!
R: como assim?
F: não vês as balizas, servem para a marcação de
golos. O objectivo do jogo é colocar a bola na baliza adversária. Vence quem
fizer mais golos
R: que coisa horrível!
F: como assim?
R: isso significa que uma equipa pode perder?
F: claro, senão onde estaria a graça?
R: isso é terrível. A equipa que perde fica marcada,
classificada como perdedora, já imaginou o trauma que isso pode representar.
Isso pode deixar cicatrizes psicológicas tremendas que não se recuperam
facilmente.
F: o que proporias então? Quem leva a taça no fim?
R: devia haver taças para todos. São todos vencedores.
F: isso seria falso porque sem regras e sem golos não
haveria só vencedores mas na verdade só haveria perdedores. Todos teriam
perdido seu tempo
R: pois eu acho que este jogo deveria ser proibido
F: mas isso não seria estabelecer uma regra? Que o
jogo não deve existir?
R: sim, mas com razões devidamente estabelecidas
F: e quem decidiria isso?
R: mentes superiormente esclarecidas
F: um juiz, um árbitro
R: sim, mas legitimado pela maioria que elegeu essa
forma de política
F: então haverá perdedores…
R: naturalmente aqueles que estão na contramão do
sucesso devem ser vencidos pela força do progresso positivo
F: e as marcas psicológicas da derrota?
R: fazem parte do jogo…
E a conversa poderia certamente se estender por mais
algum tempo. E todos acharemos que foi uma conversa meio louca, ridícula mesmo.
É evidente que o jogo precisa de regras, limites no campo, objectivos claros,
um juiz para manter a disciplina e golos para que no fim se saiba quem ganhou.
Se o relativista pudesse levar suas ideias adiante não haveria linhas definindo
o campo, nem balizas, cada jogador teria a sua própria bola e cada um poderia
fazer o que quisesse com ela e certamente não haveria juiz. Ou seja, não
haveria jogo. Acho difícil que alguém pagasse para ver isso. Tiraria todo o
propósito do jogo e sem propósito não há jogo e nem como definir
verdadeiramente sucesso ou fracasso.
Muitas vezes, a vida é comparada a um jogo. Pode ser
uma comparação boa ou má, mas até faz sentido. Na vida há limites, regras e
objectivos. Não se pode fazer o que se quer sempre. Há disciplina, e certamente
há um juiz. E qualquer pessoa que pensar um pouco vai perceber que é mesmo
assim. A vida não existe com liberdade total. Não podemos voar (só os pássaros
o fazem) e nem respirar dentro de água (é para os peixes) por mais injusto que
pareça. Não podemos prejudicar o próximo porque há sanções. A vida tem sentido
e razão e fazemos bem em conhece-los para usufruir mais e melhor deste tempo
maravilhoso que temos. Querer tirar as linhas do campo e abolir as regras trás
apenas confusão e falta de sentido. Podemos tentar viver como apetece mas as
consequências serão graves para nós e para os outros. Podemos querer negar a
existência do juiz e fazer de conta que Ele não apita nada, mas isso não muda o
facto de que há disciplina e no fim o Juiz vai passar uma sentença.
Esta cultura moderna que quer abolir todas as regras
como castradoras e impor uma liberdade de expressão total sem disciplina vai
levar o mundo ao caos e a um crescimento da violência. Em vez de paz e
prosperidade, expressão livre e maior realização, vamos ter muita gente ferida
sem saber para onde ir e com angústia crescente. É o que vemos acontecer diante
de nossos olhos numa cultura onde cresce a depressão, os distúrbios de
ansiedade e de burnout. O que precisamos não de uma suposta liberdade que nos
torna ainda mais escravos, mas a liberdade que vem de conhecer a Verdade que é
Jesus. Nele, em sua vida, sacrifício por nós, morte e vitória na ressurreição
recuperamos a ligação com Deus e o sentido que perdemos por causa dos nosso
pecados e podemos entrar no jogo da vida conhecendo as regras, amando o Juiz e
certamente jogando para vencer.
4 comentários:
Muito boa mensagem DE ENSINAMENTO !!! AMÉN.
DEUS O ABENÇOE.
Já guardei no meu Facebook, para quem quiser ler.
DEUS O ABENÇOE.
Excelente argumento.
Excelente reflexão de um cristão. É assim mesmo.
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