Manual do fabricante:
é aquilo que vem junto de cada produto novo que compramos. Por regra nós o
vemos, folheamos e então guardamos. O manual não é propriamente boa leitura e
cansa um pouco. Técnico, maçador e pouco claro. Deixamos guardado até porque, a
maioria do que compramos, tem funcionamento intuitivo. Fica mais fácil ter alguém
que explique como funciona ou vamos apertando botões a ver o que acontece. O
manual só é procurado quando há uma emergência, o aparelho deixa de funcionar
ou faz o que não queremos. Ver a Bíblia como manual do fabricante é assim.
Deixamos de lado para as emergências. Achamos de difícil leitura e pouco
esclarecedor e fica de lado até que haja uma crise e então, como com os manuais
em geral, não sabemos o que procurar nem onde fazê-lo.
Manual de Computador:
esse é aquele manual que não lemos e nem guardamos. Ele vem necessariamente com
o material adquirido, mas é demasiada matéria (um verdadeiro calhamaço) e
demasiado complexo para pegarmos nele. Nem nas urgências o procuramos. É mais
fácil ir ter com um profissional. Um pouco como se a Bíblia fosse apenas um
manual de teologia. Não é para leigos. Só profissionais entendem realmente o
que diz. E, nesse caso, a Bíblia é lida raramente e sempre com estranheza.
Manual escolar:
aqueles que lemos porque é obrigatório. Uma vez lidos, deixamos de lado.
Não voltamos a ler o manual da quarta classe, do 3º ano do secundário ou
mesmo da faculdade. Não interessa mais. Já sei aquela matéria. Já passei
naquela prova. Já tenho aquela nota. E, quantas vezes, a Bíblia é deixada de lado
porque já sabemos a história, já lemos o episódio. O pastor anuncia a passagem
da mensagem e colocamos a mente em ponto morto porque já conhecemos aquela
passagem e já ouvimos outras mensagens nela. Como manual escolar, a Bíblia fica
de lado como ultrapassada. Uma vez esvaziada de seu conteúdo informativo pode
ser descartada.
Por isso, creio que usar a analogia da Bíblia como
manual do fabricante não é na verdade muito boa. Traz muitas implicações
prejudiciais que não fazem jus à Palavra vida de Deus, que é poderosa e penetra
até à alma e muda corações e transforma vidas. Outras analogias são
necessárias. Sugerimos alternativas:
História de uma relação:
gosto de biografias e de ler o modo como um personagem famoso foi evoluindo e
sendo moldado. A Bíblia é a biografia da humanidade em sua relação com Deus.
Como sou parte da humanidade, acaba por ser a história da minha relação com
Deus. Basta olhar para ela e ver o quanto nos relacionamos. Por vezes, somos o
caos da criação a precisar da palavra para conseguir direcção. Por vezes, somos o
homem a cair em tentação outra vez. Nos sentimos escravizados como Israel no
Egipto ou cansados de caminhar no deserto. Por vezes, somos como o povo no tempo
dos Juízes, independente e burro, a cair e levantar vez após vez. Mas também,
nos elevamos com os salmos, nos deleitamos nos heróis vitoriosos, nos
relacionamos com profetas e apóstolos, duvidosos, queixosos, vitoriosos e
competentes. A Bíblia nos fala ao coração porque nela vemos a nossa história e
ela é completa e complexa, mas nela achamos o Senhor presente e abençoador. Eu
quero ler essa história. Eu quero saber mais de como me relacionar com Deus. Eu
quero perceber como Ele actua e mexe nas vidas. Eu quero aprender a viver
melhor, a viver bem, a viver certo.
Cartas de Amor:
namorei à distância num tempo anterior à Internet (eu sei, estou a ficar
velho). O namoro era feito por carta e essas eram tudo que nutria a paixão e
fazia desenvolver a relação. Quando uma carta de minha amada chegava tudo
parava. O mundo ficava em stand by
até que lesse e relesse aquelas palavras. Analisava o sentido, a intensidade, a
forma das letras e me alimentava do escrito. Era tudo que precisava. E uma
carta fazia maravilhas no meu humor, na minha disposição e energia. Sentia-me
amado, apreciado, desejado e isso devolvia um ânimo especial para cada novo
dia. Tudo pela carta de uma namorada.
Uma carta de amor mostra querer, vontade de quem a
escreve, não é algo formal, foi feito com prazer. Revela o coração de quem
escreve visto que fala de sentimento, pensamento e ação em prol do ser amado.
Revela o que se pensa e deseja da pessoa a quem se escreve. E creio que temos
tudo isso na Bíblia. O Senhor se revela porque quer. Nada o obriga a fazê-lo e
poderia nos ter deixado no escuro mas quis nos dar sua revelação. Nela temos
seu coração, seu pensamento, aquilo que Ele pensa de nós e o que deseja para
nossas vidas. É um escrito de amor do Criador para a criatura e eu quero ler.
Quero saber quem Deus é e o que Ele tem para mim. Este livro me interessa vivamente
porque sei que nele encontrarei seu amor revelado e dele vou tirar vida e direcção.
As implicações disso farão muita diferença na
leitura. Quando leio uma carta de amor da minha amada não avalio a sintaxe e
não faço estudo apurado do significado original das palavras. A escrita não foi
feita para isso. É uma forma de comunicação. Como não estava presente, ela
comunicou assim, mas a escrita continua a ser palavra dita, mesmo que colocada
no papel por meio de um código. Ao ler quero realmente ouvir, sentir a
presença, perceber a pessoa que comunica e transmite. E ler a Bíblia assim é
muito diferente de a ler como manual de estudo ou do fabricante.
Basicamente quero repetir o valor da Bíblia para
nossas vidas e a maneira de a encarar como leitura não apenas obrigatória, mas
deleitosa, apaixonante, maravilhosa. Como o salmista, queremos dizer da lei de
Deus: “A lei do Senhor é perfeita e
revigora a alma. Os testemunhos do Senhor são dignos de confiança e tornam
sábios os inexperientes. Os preceitos do Senhor são justos e dão alegria ao
coração. Os mandamentos do Senhor são límpidos e trazem luz aos olhos. O temor
do Senhor é puro e dura para sempre. As ordenanças do Senhor são verdadeiras,
são todas elas justas. São mais desejáveis do que o ouro, do que muito ouro
puro; são mais doces do que o mel, do que as gotas do favo. Por elas o teu
servo é advertido; há grande recompensa em obedecer-lhes.” Salmo 19: 7 a 11
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