Entre as religiões
que o mundo conhece nestes milénios de História, o Cristianismo é a única que
faz a extraordinária alegação de que o Deus Supremo, Criador dos céus e terra,
se fez homem para a salvação da humanidade. E essa alegação se baseia no evento
capital do Cristianismo – a ressurreição. Se a cruz é o momento chave da
salvação pois nela Jesus ganhou a nossa justificação e pagou pelos nossos
pecados, a ressurreição é sua necessária confirmação. Sem a ressurreição a
morte de Jesus passa a ser apenas um ato heróico de mais um mártir na história,
ou a execução necessária de uma fraude terrível, ou mesmo a morte patética de
um louco totalmente enganado. Mas com a ressurreição, a cruz passa a ser aquilo
que o Cristianismo diz que ela é – a morte redentora do Filho de Deus, Deus
feito homem.
Será por isso que
os 4 evangelhos enfatizam tanto o relato da ressurreição e também por isso que
a igreja nasceu com a alegação dos discípulos sobre a ressurreição de Cristo.
Logo, Paulo pregava a ressurreição onde ia, mesmo sabendo que no mundo grego e
romano isso era considerado impossível e indesejado como podemos ver na
passagem de Paulo por Atenas. E é por isso que Paulo fica tão indignado com
aqueles que em Corinto punham em causa a ressurreição:
Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?
E, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou.
E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.
E assim somos também considerados como falsas testemunhas de Deus, pois testificamos de Deus, que ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não ressuscitam.
Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou.
E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E também os que dormiram em Cristo estão perdidos.
Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.
1 Coríntios 15:12-19
E, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou.
E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.
E assim somos também considerados como falsas testemunhas de Deus, pois testificamos de Deus, que ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não ressuscitam.
Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou.
E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E também os que dormiram em Cristo estão perdidos.
Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.
1 Coríntios 15:12-19
Em meio a todas as
dificuldades que a igreja de Corinto passava ainda havia mais esta: alguns
negavam a ressurreição. Se olharmos para a composição da igreja em Corinto é
provável que a maioria fosse grega com alguns romanos e judeus. Para os judeus
a ressurreição era possível tendo em conta o AT, mas não era considerada
verdadeiramente como real. Um ou outro caso de ressuscitação podia acontecer,
mas não era bem a mesma coisa (ressuscitação é quando um morto volta à vida,
mas depois de um tempo vai voltar a morrer e ressurreição seria o regresso de
alguém depois de morto com um corpo preparado para a eternidade). Já entre
gregos e romanos isso era impossível. Na cultura clássica, na filosofia de
Platão, a alma era considerada imortal, mas o corpo era considerado maligno.
Era a prisão da alma. Logo, a morte era um tipo de libertação. Era uma das
razões para a cremação, libertar a alma do corpo. Tudo o que era material era
considerado mau e nesse sentido a ressurreição era uma tolice impossível visto
que na morte a alma ficava livre e certamente não desejaria voltar a sofrer num
corpo maligno. E é provável que na igreja em Corinto houvesse crentes vindos de
alguma escola filosófica grega que ensinava isso e que por isso negavam a
ressurreição. Paulo reage com veemência e temos que notar em sua argumentação a
importância capital da ressurreição para o Cristianismo.
Primeiro notamos o
risco de uma afirmação ou doutrina que pode parecer inofensiva, mas que terá
implicações tremendas. A aceitação de algo que é senso comum na sociedade em
que se vive pode ter consequências fatais para a fé. Os que falavam em Corinto
não negavam diretamente a ressurreição de Jesus. Apenas negavam a ressurreição
seguindo o que era a noção da sua época. Mas se não havia ressurreição, logo
Jesus também não ressuscitara. Era implicação lógica e imediata. E vemos como
há que ter cuidado com o que diz e ensina por causa das implicações do ensino
como era o caso aqui. Notemos por exemplo em nossos dias algumas alegações
comuns que podem parecer menores, e que alguns até acham boas, mas que colocam
em causa toda a fé cristã:
•
Alguns, que até se consideram simpáticos à fé, dizem que Jesus foi um
grande Mestre, um filósofo notório, o maior psicólogo de todos os tempos. Pode
parecer simpático e até agradável, mas não nos enganemos. Se Jesus é apenas um
mestre então não é o salvador. Se é apenas um filósofo então não era o filho de
Deus que veio para nos resgatar. Alegação banal, implicação fatal.
•
Há aqueles que afirmam com base na ciência que o homem é produto de
uma evolução. Não houve criação e nem desígnio. Simplesmente uma ameba um dia
resolveu ser mais que isso. É claro que cientificamente há muitos buracos na
teoria, irreconciliáveis mesmo com a boa ciência. Mas a repetição incessante e a
campanha já de décadas da média leva o homem a aceitar isso. E alguns dirão:
isso é ciência e a igreja não tem nada a ver com isso. Mas se não há criação
então não há propósito para a vida, não há Deus. Logo não há base real para a
noção de justiça, de bondade, de algo certo e errado. Alegação aparentemente
simples, implicações dramáticas.
•
Há ainda a moda de afirmar que os evangelhos não são confiáveis. E
surgem outros evangelhos que contariam uma história diferente e que apresentam
um Jesus casado e com filhos, um homem bom que nada tinha de sobrenatural. E é
claro que essas alegações são infundadas, os que as fazem não conhecem a
verdade dos evangelhos, são afirmações feitas para ganhar dinheiro. Mas
levantam dúvidas. Se Jesus não morreu e os evangelhos não são de se fiar então
toda a fé cristã é inválida… alegação banal, implicação fatal.
Há que refletir no
que falamos e pensar mais além. O que se fala tem muito poder para o bem e para
o mal. Mas o homem nem sempre é sábio para o perceber e em Corinto os que
diziam não haver ressurreição não percebiam o que significava sua palavra. E
Paulo trabalha as implicações.
Ele afirma que sem a
ressurreição são vãs a fé e a pregação. A palavra que usa no original tem o
sentido de vazio, sem conteúdo, sem qualquer valor. Ora, a fé não é um
sistema de pensamento, não é um conteúdo religioso, não é um conjunto de
doutrinas. A fé cristã é uma relação. Uma relação com Jesus como o Filho de
Deus salvador. Mas se não há ressurreição, então ele morreu e ficou morto. Como
ter relação com um morto? a mesma que se tem com personagens históricos
variados, mas isso tira todo valor e conteúdo à fé cristã. Ela é única porque
alega uma relação com um Jesus vivo. Relação com Deus Vivo que morreu, mas
ressuscitou. Mas se não há ressurreição então é vazia a nossa fé… E a
pregação Cristã é Jesus. Não pregamos uma religião, um conjunto de ritos e
cerimonias, uma igreja com suas regras e estatutos. Pregamos a uma pessoa, a
pessoa maravilhosa de Jesus, vivo e presente. Mas se ele não ressuscitou, logo
é vã a nossa pregação. Perde toda sua novidade. Fica igual a pregação muçulmana
ou budista de um mestre passado morto e enterrado cuja sepultura podemos
conhecer.
Ora, se a pregação
e a fé cristã dependem da ressurreição, sem ela somos falsas testemunhas.
A ideia usada é de uma testemunha que comete perjúrio. Vai a tribunal falar
algo com convicção, mas que se prova mentira. Alguém que tem a coragem de
anunciar algo com toda certeza, mas que o tribunal verifica ser inverdade.
Seremos falsas testemunhas de Jesus se ele não ressuscitou.
E se não há
ressurreição então permanecemos no nosso pecado. E esta afirmação pode
trazer alguma dificuldade. Nossa conclusão óbvia é que somos salvos pela cruz.
Afinal foi na cruz que Jesus pagou nossos pecados. Foi na cruz que a dívida foi
paga e a declaração “está consumado” feita e é natural que haja alguma
dificuldade com a afirmação de Paulo. Estaria Paulo a desvalorizar a cruz para
fazer seu ponto? Aquele que dizia que não queria saber de mais nada a não
Cristo crucificado podia agora dizer que afinal não era a cruz o ponto chave?
Certamente que não. Mas há que entender o ponto e é até simples. Não somos
salvos pela cruz. Não somos salvos pela cruz objeto e nem pela cruz
acontecimento. Somos salvos por Jesus Cristo. Ele é o Salvador, não a
cruz. Foi na cruz que ele ganhou a nossa salvação, mas apenas se ele é o
salvador de Deus. E Ele só é o salvador se é quem dizia ser, ou seja, se é o
Filho de Deus, se é um com o Pai, se é Emanuel, Deus connosco. Ele só ganha a
nossa salvação na cruz sendo o Filho de Deus, o Senhor da Vida. E Ele só prova
que é isso na ressurreição.
A lógica de Paulo é
simples. Se não há ressurreição então Jesus não ressuscitou. Se Ele não
ressuscitou então não pode ser quem disse que era porque o Messias Salvador era
o Filho de Deus que afirmou categoricamente que ia ressuscitar ao 3º dia. Se
ele não ressuscitou era como outro homem qualquer e não pode ser o salvador.
Logo o que aconteceu na cruz não foi a nossa redenção porque ela só podia ser
feita pelo Filho de Deus e se não fomos salvos por ele então estamos ainda em
nossos pecados. E naturalmente se isso é assim aqueles que morreram pensando
estar salvos em Cristo na verdade morreram sem salvação pois ela não aconteceu
no calvário como pensávamos. A lógica é dura e pode até ser um tanto violenta,
mas Paulo tem que deixar claro para os Coríntios que o assunto é demasiado
sério para ser encarado de outra maneira. É a base da nossa fé.
E há ainda outra
conclusão a chegar. Se não há ressurreição, Paulo conclui que nossa esperança
de Glória não existe. Se Jesus não ressuscitou, não é então o Filho de Deus
e não houve salvação na cruz. Nesse caso estamos ainda perdidos e nossa
expectativa de glória com Deus é vazia. O que significa que tudo que abdicamos aqui
nesta vida, tudo que abrimos mão aqui neste mundo é por nada. Se tudo que
esperamos desta vida é sofrimento e aflição porque sabemos que há a Glória
depois, e se não há Glória, então somos uns tristes. Renunciamos a tudo para
que? Tomamos a nossa cruz para que? Perdemos a vida para que? Ou seja, se não
há Ressurreição Jesus é apenas mais um mártir, nossa fé é vazia, nosso pecado
permanece e nossa esperança de glória é um mito tolo. Mas…Cristo
verdadeiramente ressuscitou.
Comentando este
trecho Willian Barclay escreveu:
A ressurreição é essencial para o
Cristianismo e para a humanidade porque nela temos a confirmação de que
A Verdade é mais forte que a mentira (a verdade da vida de Jesus é maior que
as mentiras dos religiosos que o condenaram);
O Bem é mais forte que o Mal
(visto que Jesus viveu fazendo o bem);
O Amor é mais poderoso que o ódio (já
que a vida toda de Cristo foi uma grande e permanente demonstração de amor);
A Vida é mais forte que a morte (já que o Senhor da Vida não pode ser contido
pela sepultura).
Louvado seja Deus pela nossa certeza da ressurreição!
Um comentário:
Pastor, a paz! Seguindo o pensamento de Platão (Sócrates qdo tomou a sicuta disse que havia encontrado seu benfeitor, pois, seu carrasco o havia curado de uma doença, o corpo físico)! Por que então colocar tanta ênfase na ressurreição do corpo físico se a alma eterna sobrevive à morte?
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