“Deus é amor” ouvimos com frequência, mesmo de quem não sabe
que isso é uma citação bíblica direta de João. “Somos todos filhos de Deus”
também se ouve no sentido de enfatizar que todos temos algum direito a receber
dele algo de bom. Por outro lado, a maior acusação dos ateus é que diante do
sofrimento não se pode aceitar um deus de Amor. O que significa que eles também
partem do princípio de que Deus é amor. A noção geral parece ir no sentido de
que Deus é bom, amável e que no fim há de salvar a todos com exceção talvez de
algumas figuras como Hitler, Pol Pot e outros grande criminosos. Dizer que Deus
é amor é entender, na maioria das vezes, um Deus que não julga e que sobretudo não
condena. Não foi Jesus que proibiu o julgamento das pessoas? Não foi ele amigo
dos pecadores? O verso mais conhecido da Bíblia talvez possa ajudar pois nos
fala de Deus em amor. Em João 3:16 vemos um Deus que ama e dá. Será por isso
que temos facilidade de pensar assim? Porque temos tanta facilidade em falar de
um Deus de amor?
Talvez seja porque a ideia nos veio do tempo de Jesus quando
Deus era visto assim. Será? Uma avaliação mesmo superficial negará isso. A
esmagadora maioria da população no Império Romano era pagã, seguindo uma lista
quase infindável de deuses. Os deuses pagãos eram fortes, poderosos, por vezes
justos, por vezes cruéis, por regra arbitrários e seletivos, mas nunca
apresentados como amor. As deusas apresentadas como do amor eram deusas do amor
físico, do sexo, não da compaixão ou amor altruísta. Nada no meio pagão falava
de um Deus que se auto sacrificasse pelo homem. Na visão pagã os deuses viviam
por regra em total indiferença para com os humanos, daí que eram necessárias
ofertas e presentes para os atrair e agradar.
Talvez a ideia tenha vindo dos judeus de onde surgiu o
Cristianismo. Novamente errado. Para a maioria dos judeus Deus era um Ser
tremendo em poder e majestade e deveria ser temido e respeitado. Era poderoso,
justo e fiel mas sobretudo legalista e rigoroso além de muito ciumento. Não
havia a noção de um Deus amoroso no sentido cristão de amor incondicional e
sacrificial. A noção de um messias que era Deus encarnado e que vinha para viver
uma vida de serviço aos pobres e depois morrer pelo homem era ridícula e mesmo
ofensiva. Jesus foi morto por a proclamar essa mensagem e assumir esse papel.
Talvez a noção venha então da população mundial atual. Mas
se olharmos melhor ficaremos assustados. Os Budistas não aceitam um Deus
pessoal e a vida para eles é só sofrimento (são cerca de 380 milhões), as
religiões tradicionais chinesas com perto de 400 milhões de adeptos são
filosofia sem um Deus central, a religião Hindu tem milhões de deuses e nenhum
deles é amor no sentido cristão e eles são cerca de 1 bilhão, para os
Muçulmanos Deus é justo e fiel mas muito longe de ser amoroso mesmo que falem
dele como misericordioso, na verdade é vingativo e por vezes cruel e os
muçulmanos são mais de 1,2 bilhões. Se acrescentarmos os ateus que não aceitam
a Deus e as religiões tradicionais Africanas em que Deus é em geral distante e
sem interesse no homem teremos mais algumas centenas de pessoas. Ou seja,
desses mais de 4 mil milhões de pessoas, mais de metade da população mundial,
nenhum vê Deus como amor. Porque então nós falamos assim?
Falamos de Deus como amor porque vivemos no ocidente numa
cultura que ainda tem muito de influência cristã, que aprendeu e cresceu com a
noção bíblica de um Deus que ama, que dá, que se sacrifica pela sua criatura.
Vivemos ainda numa cultura que foi marcada pelos princípios de bondade e
altruísmo, de sacrifício pessoal. Uma cultura que deu origem a serviços
públicos, escolas, hospitais, leprosários, bibliotecas, bombeiros e outras
instituições de apoio ao povo. Essa mentalidade nos faz pensar em Deus como
amor. Mas o que significa isso? O que a Bíblia realmente diz sobre o amor de
Deus? Estará o povo correto em sua visão de um Deus que ama de um modo
incondicional? Será correto pensar em um Deus que não julga e não condena
porque ama? Pensemos na revelação Bíblica.
Deus Ama
Realmente a Bíblia revela um Deus que ama. Novidade especial
na revelação e surpresa para os povos em geral. Um Deus pessoal, relacional e
que ama é algo bom demais. Mas é o que a Bíblia diz dele. Deus nos criou em
amor e deseja ter uma relação de amor connosco e esse é todo o enredo da
Bíblia. Como tivemos esse amor em modo perfeito, como o perdemos no Éden e como
Deus agiu para que o recuperássemos.
Deus Convida
O amor de Deus na Bíblia é um amor convidativo. Deus apela,
chama, convida, apela. Como amante que tenta puxar para si o ser amado o Senhor
age em relação ao homem. Desde o pecado de Adão que temos o Senhor na história
bíblica a chamar o homem para si de muitas formas, por meio de bênçãos,
milagres, libertação e profecias. E o homem resiste a esse chamado de forma por
vezes violenta, mas sempre insensata.
Deus ama incondicionalmente
E a Bíblia nos fala realmente de um amor incondicional. Deus
nos ama quando somos pecadores, quando somos inimigos, quando fazemos o mal.
Ele ama o pecador, o criminoso o adúltero, o ofensor. Esse amor é por vezes descrito
como o de um marido traído ou um pai abandonado. Na parábola do filho pródigo,
Jesus coloca Deus como um pai que corre e beija um filho que ofendera,
violentara, roubara e desperdiçara a fortuna do Pai de maneiras as mais
terríveis. É figura máxima de um amor sem condições. Deus ama mesmo quando o
deixamos de lado e nada queremos com Ele.
Amor seletivo e relativo
Mas não é só isso que a Bíblia diz. Ela também diz que o
amor de Deus é seletivo. Ele ama o justo e aborrece o impio. Ele abençoa o
justo e condena o pecador. E dizemos: há contradição? Será? Pensemos. Amo meu
filho. Amo-o incondicionalmente. Ele é um bom filho que fez seu curso na
faculdade e está a trabalhar para fazer carreira. Eu o amo por isso também.
Agora imagine que ele fosse em vez de um bom aluno e um trabalhador dedicado um
traficante de drogas? Imagine que fosse um criminoso na noite de lisboa?
Deixaria de o amar? Não. Mas poderia lhe dar o mesmo tipo de amor e aprovação?
Não. Não se for justo, se for honesto, se for verdadeiro e correto em meu
amor. Posso ainda ama-lo e o amarei por ser meu filho mas terei que o condenar
pelo que faz. Posso apelar para que ele se emende e continuar a amar mesmo que
me rejeite, mas se ele recusar terei que o entregar a polícia para correção,
para seu bem e dos outros.
Ora, se eu que sou limitado sei isso e posso agir
assim. Como é que um Deus santo e justo seria diferente? Como iria Deus amar
sem sentido dando a salvação a um malvado criminoso que não se arrepende ou a
um homem que simplesmente faz de conta que Ele não existe se fazendo Deus em
sua vida? Não é possível. Não é isso que a Bíblia diz. Seria isso julgamento?
Não disse Jesus não para julgarmos? O que Jesus disse foi para não nos fazermos
juízes quando não sabemos a estória toda, não sermos preconceituosos em nossos
relacionamentos e não limitarmos a nossa boa ação mas também disse: pelos
frutos os conhecereis. Também falou de hipócritas e mentirosos e falou da
condenação mais do que qualquer outro pregador do NT. Não nos enganemos, Deus não
pode amar todos como gostaria. Simplesmente não pode salvar todos como gostaria
porque seria simplesmente errado, injusto e Ele é Deus santo e perfeito.
A medida do Amor
A medida desse amor é Jesus. A medida maior que nenhum pagão
poderia conceber e nenhum judeu conseguiu naturalmente entender. O amor de Deus
em Jesus foi escândalo total para todos. Só quem recebeu a iluminação do ES no
seu espirito pode entender esse amor tão extraordinário. Um Deus que vem viver
entre nós, que vive a nossa dor, que partilha a nossa vida de sofrimento mas
que mais que isso, leva o nosso pecado, carrega as nossas culpas, passa pela
nossa vergonha para nos dar uma vida nova. Essa é a medida infindável e
gigantesca do amor de Deus. E foi necessária porque não havia outra maneira de
haver reconciliação. Deus amou em Jesus até a cruz para que nós pudéssemos
voltar a viver dentro de seu amor gracioso.
Amor que exige Resposta
E esse amor exige resposta. Não é um amor que recebamos
simplesmente deixando estar. Deixa avida, vive como queres e Deus te ama… não é
assim. Ficamos felizes de ouvir de um amor tão grande, mas algo assim não pode
ser adquirido sem alguma resposta, sem uma entrega verdadeira. Deus deu, mas só
usufrui da dádiva o que nele crê. Se não aceitar, se não crer, se não houver
arrependimento e fé, haverá morte eterna mesmo com todo amor que Deus tem.
Como responderemos? Que o amor de Deus, tão anunciado, não
seja motivo para deixarmos de fazer a nossa parte. Esse amor maravilhoso exige
resposta e aí entra novamente a graça de Deus que nos dá liberdade para
escolher. Escolhamos Vida e recebamos de forma plena esse amor maior.
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