Trata-se de uma velha história repetida até a exaustão com frequência assustadora. Acontece em Igrejas, ministérios para-eclesiásticos, campos missionários, seminários e escolas de treinamento e até na direção de uma EBD ou classe de estudo bíblico.
Um novo líder se levanta ou é indicado. À chegada traz as suas experiências, seu conhecimento, seus preconceitos e dramas pessoais. Chega, avalia a obra feita e rapidamente, com o olhar claro de quem veio de fora sentencia: está tudo errado!
Por vezes, a história até acaba menos mal. O novo líder com o tempo vai se adaptando e tendo sucesso. Outras vezes é complicado ou mesmo desastroso porque em sua ânsia de resolver os "problemas" deixados pelo antecessor, o recém-chegado destrói mais do que constrói e logo tem que ser substituído para que algo sobreviva. Já vimos isso em muitos lugares e realidades diferentes, desde ministérios pastorais locais de igrejas pequenas e grandes a ministérios missionários transculturais.
Haverá princípios a ter em conta que possam ajudar essas transições?
Podemos vencer os traumas que elas trazem?
Meditemos um pouco nessa realidade à luz da verdade bíblica evangélica.
1) Respeito
Provavelmente o princípio inicial deva ser o do respeito. A Palavra ensina a amar o próximo, a considerar os outros mais do que nós, a ser paciente, a mostrar um amor altruísta. Certamente tudo isso se manifesta também em respeito. No caso em conta respeito significa cuidado com o que se fala, cuidado com os comentários, criticas e sentenças, valorização do trabalho dos outros.
Segundo Jesus a regra áurea é fazer aos outros o que gostariam que fizessem conosco. É uma regra pró-ativa. Não apenas não fazer o mal mas fazer positivamente o bem. Como gostaria de ser lembrado de onde saiu? Como gostaria que falassem de si nos lugares onde já trabalhou? Que cuidado desejaria que fosse dado a sua memória? Responda a isso com sinceridade e saberá como tratar aquele que vai substituir.
Facilmente encontramos quem tenha algo para falar criticando o trabalho do seu líder. Devemos lembrar que alguém que faz isso com facilidade também nos irá criticar com facilidade, talvez em pouco tempo. Dar corda a essas conversas é começar da pior maneira.
Procure os fiéis do ministério anterior porque , uma vez que tenham entendido a nova visão, serão os seus auxiliares.
2) Paciência
A paciência necessária aqui deve existir por duas razões. Uma para se conhecer a verdade do ministério em causa, outra porque mudança precisa de tempo. Comecemos pela primeira. Antes de criticar ou mesmo avaliar precisamos conhecer. Chegar tirando conclusões é sinal de imaturidade e precipitação. É preciso paciência para se conhecer e entender um trabalho. Com o tempo perceberemos porque as coisas são como são, o que levou a certas decisões, que razões estão por trás de tradições e costumes que podem nos parecer estranhos ou incorretos. Com tempo poderemos chegar a admirar quem inicialmente tínhamos disposição para criticar, mas é preciso paciência.
Trata-se de coisa fácil a arte de encontrar defeitos. Todos temos e nenhum trabalho será perfeito. Entender porque as coisas caminharam como caminharam é bem mais demorado mas também muito mais elucidativo. Abster-se de comentar o que na verdade não entendemos é uma medida sensata, afinal, até o louco quando se cala passa por sábio.
Mas é evidente que novo líder significa em geral mudanças.
Mudanças são necessárias constantemente. Posso entender porque algo é feito de certo modo e até concordar com o rumo tomado na altura em que foi tomado e mesmo assim entender que agora é preciso outra abordagem. Aquilo que era natural há 10 anos, 5 anos ou mesmo 1 ano pode já não ser o ideal hoje. Mas mudanças exigem paciência. Mudar sem entender, sem estar preparado e suficientemente motivado pode muitas vezes significar mudar para pior. Nesses casos há em breve um regresso ao modo antigo e muito mais enraizado porque já se tentou "novidades" e não funcionaram.
A regra então é paciência. A sabedoria demanda paciência e perseverança para qualquer alvo digno de ser alcançado. Então caminhemos com a paz do Senhor e a certeza de que ELE nos auxilia nas medidas necessárias.
3) Principio vs Forma
Vivemos hoje obcecados pelas formas. Desde a forma física ao design, tudo parece se render ao domínio dos sentidos que nos dizem que a formas mandam. Poucas coisas tem prejudicado tanto as vidas e mesmo a obra do Reino porque, na verdade de Deus, o mais importante são o princípio. Quando olhamos para a criação vemos que as formas de vida são incontáveis, mas os princípios de vida são os mesmos sempre se repetindo seja em animais sejam em vegetais.
Normalmente o que mais discutimos são as formas. Vemos algo dando certo e logo queremos copiar a forma. Se não temos o mesmo sucesso é porque não conseguimos ter a mesma forma. Se um casal amigo tem um casamento sólido e faz férias nas Bahamas logo julgamos que é por isso e lamentamos não ter condições para tirar essas férias. Se a igreja X tem um ministério bem sucedido com certos tipos de eventos logo lamentamos não poder ter o mesmo resultado porque não há condições de ter os eventos.
A verdade é que o casamento bem sucedido nunca depende apenas de umas férias anuais e um ministério feliz não é produzido só por certo tipo de eventos. Imitar formas leva a desilusão, traz cansaço e irritação e depois ainda deixa o gosto amargo do fracasso. Precisamos aprender a reconhecer os princípios que fazem a diferença. Numa sucessão pastoral algumas formas podem até mudar, mas não é isso que fará a diferença se não houver respeito pelos princípios básicos do reino de Deus.
Avalie os princípios bíblicos, veja que estejam sendo aplicados e o mais, lembre-se, é passageiro, mutável e negociável.
4) Amor à Obra
Seja uma igreja, uma campo missionário, um ministério ou uma classe de EBD, o importante numa sucessão é o amor que preserva e respeita. Certas sucessões avançam por meio da quebra de padrões e costumes, sem o menor respeito ou cuidado com a obra, sem o menor respeito aos que lá estão e sem o cuidar dos corações.
Sob a capa das mudanças necessárias e com auto justificação autoritária atitudes são tomadas que até poderiam ser necessárias, mas que por sua maneira de acontecer causam escândalo, tristeza, desânimo e derrubam corações. Não temos o direito de agir assim.
Antes do orgulho pessoal está a Igreja pela qual Jesus morreu, mesmo que tenha que me sacrificar.
Paulo lembrava os crentes das igrejas a quem escrevia que se algo escandalizava o irmão, mesmo que não fosse pecado, mesmo que não fosse errado, mesmo que pudesse faze-lo de consciência livre, deixaria de o fazer por amor ao irmão e a obra. A isso se chama maturidade, a capacidade de suportar em prol do bem de outro
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