EUTANÁSIA ECLESIÁSTICA


A eutanásia vem sendo assunto controverso ao longo de vários anos. Trata-se da prática pela qual se abrevia a vida de um doente incurável de maneira controlada e assistida por um profissional. Foi oficialmente aprovada na Holanda em 2001. Nesse mesmo país se discute agora o direito de pessoas acima dos 70 anos cometerem suicidio assistido. Foram levantadas mais de 125 mil assinaturas para que o assunto fosse ao parlamento.

Mas, o que nos preocupa aqui neste espaço é a eutanásia eclesiástica, a prática pela qual se abrevia a vida de uma igreja por meios controlados e assistidos por seus membros e líderes.
Temos visto isso acontecer com uma triste frequência. Igrejas que foram um dia vivas e ativas, vão esmorecendo aos poucos com claros sinais de decadência e a caminho da morte certa. São igrejas que caminham para a extinção sob o comando, por vezes bastante firme, de membros e líderes. Em geral são pessoas que se consideram "donos da igreja" que fazem essa eutanásia. Outras vezes são lideranças equivocadas ou simplesmente medrosas demais para sair do marasmo ou pedir ajuda. Outras igrejas ainda, estão na verdade mortas mas não foram encerradas e são quadro agonizante do que o evangelho não deve ser. Quais são então as práticas que compõem a eutanásia eclesiástica?

1) Deixar de Orar (ITessalonicenses 5:17)
O poder e a vida da Igreja advêm da presença e atuação do Espirito Santo de Deus. Nosso acesso a Ele se dá por meio da oração. Logo, a oração é fundamento da vida da igreja. Uma igreja que não ora, caminha para a morte. membros que não se envolvem na vida de oração de suas igrejas ajudam ao processo de eutanásia eclesiástica.

É claro que todos dirão que todas as igrejas oram. Mas não falamos daquelas orações formais dos cultos dominicais ou dos famosos cultos de oração onde na verdade se levantam duas ou três preces, em regra pelos mesmos de sempre. Quando falamos da igreja em oração falamos de reuniões exclusivas para orar, de sermões voltados para a prática da oração, de grupos na igreja voltados à intercessão pelos membros e suas dificuldades e pelo ministério. Falamos da prática sã do jejum bíblico, de intercessores durante os cultos, de visitadores que oram nos lares, de ministérios voltados só para a oração que formam cadeias de intercessão.

Sempre que o Espirito Santo explodiu em avivamento aconteceu num contexto de oração verdadeira e intensa. A oração está para a vida cristã como a respiração para a vida física. Sem ela, ficamos privados do oxigénio espiritual e murchamos dominados pelas toxinas do pecado e da vida atribulada. Uma igreja que não prioriza a oração comete eutanásia espiritual.

2) Deixar de Testemunhar (Atos 1:8)
A Igreja de Jesus é necessariamente confessante. O Senhor nos chamou à confissão com a promessa de nos confessar também nos céus (Mateus 10: 32 e 33). O testemunho surge de modo natural na vida íntima com Deus. Quando temos uma vida de oração que cresce na comunhão, o testemunho não é uma técnica que aprendemos ou uma tarefa a cumprir, é uma verdadeira necessidade, uma fluência lógica do tipo de vida que levamos.

A igreja tem deixado o testemunho para supostos "especialistas". Vemos a tarefa da evangelização como sendo de uma pequenina parte da congregação. Os pastores, os missionários, os evangelistas e alguns irmãos mais extrovertidos que não conseguem ficar quietos. A maioria do crentes porém, se exclui dessa tarefa com as desculpas mais fracas de que "não tem dom", " não tem formação", ou simplesmente porque têm vergonha.

Os evangélicos costumam criticar grupos como as autodenominadas Testemunhas de Jeová, mas eles têm cerca de 90% de envolvimento de seus membros no testemunho. Também criticamos a doutrina Mórmon, mas a maioria de seus jovens tem dois anos de experiência missionária transcultural como parte obrigatória de sua formação. Já imaginaram o que seria o testemunho do evangelho se tivessemos números assim?

Quando a igreja deixa de ter os seus membros envolvidos efetivamente no testemunho, pode ter muitas coisas, e até crescer numéricamente, mas no mundo espiritual está cometendo eutanásia.

3) Deixar de Discipular (Mateus 28:19 e 20)
Normalmente, a fraqueza precede à morte. O corpo perde vigor, vai ficando cada vez mais fraco até que deixa de funcionar. Muitas igrejas hoje estão em fase adiantada deste processo. Enfraquecem a olhos vistos. Seus membros são fracos, suas familias são fracas e logo, a igreja é fraca. E porque isso? A resposta é simples: falta de discipulado!
A orientação de Jesus foi tão clara que dispensava comentários. Ele enviou os discipulos a reproduzir o tipo de ministério que Ele teve. "Assim como o Pai me enviou, eu vos envio a vós" João 20:21. Jesus investiu em discipulado. Deixou homens preparados para o trabalho. Paulo seguiu a mesma linha. Plantou igrejas, pregou e evangelizou, mas investiu em lideres, em futuros pastores e mestres. Discipulou a muitos para que o trabalho continuasse.

Hoje, o discipulado é resumido a uma aula de preparação para o batismo. O novo convertido não recebe apoio fora disso. Ninguém o acompanha para ajudar na formação de uma nova cosmovisão de acordo com a Biblia. Não admira que tenhamos candidatos a batismo que saibam repetir certas respostas fáceis, mas que continuam pensando essencialmente como pensavam antes da conversão. Sem acompanhamento, como poderão mudar da mentalidade mundana por uma bíblica?

Crentes sem discipulado são crentes fracos, que não crescem. Depois de anos na igreja mal sabem abrir a Biblia e ainda pensam como o mundo, na maioria das coisas. Não foram discipulados e evidentemente não sabem e não podem discipular. O caminho de Jesus foi abandonado, deixando em seu lugar crentes raquíticos e igrejas enfraquecidas. Verdadeira eutanásia eclesiástica!

4) Deixar de combater o mal (Mateus 15:18)
O Senhor não nos chamou para fugir do mundo ou sair dele (João 17:15). Ele nos envia como luzes no mundo para brilhar e sal para fazer a diferença (Mateus 5:13 a 16). Os servos de Deus incomodam e deve ser assim. No Antigo Testamento lemos de Elias como o perturbador de Israel porque se opunha ao mau governo de Acabe (I Reis 18:17) e no Novo Testamento os cristãos eram aqueles que tinham transtornado o mundo (Atos 17:6).

Infelizmente, a Igreja atual tem se mostrado covarde e/ou incipiente na sua luta contra o mal. Limita-se, na maioria das vezes, a criticar de dentro da segurança das quatro paredes, mas não toma atitudes condizentes e não se mobiliza contra o mal. Tudo o que homens maus precisam para triunfar com mais facilidade é de uma igreja retraída e escondida atrás de suas portas.

Sabemos por exemplo do mal que a TV tem feito com seus programas banalizando a violência, a prostituição, o divórcio, o homossexualismo, o aborto e a corrupção. Mas não vemos a igreja tomando uma posição clara sobre nenhum desses temas. Trata-se do medo de sermos perseguidos ou talvez o receio de incomodar a maioria. Ora, o pecado incomoda e porque não temos lidado com ele de forma direta, está incomodando nossos lares. Imagine se a igreja, por exemplo, boicotasse as novelas, deixasse de comprar certos produtos ou de usar certas marcas ligadas ao mal? A diferença seria imensa! Mas, o que vemos são crentes e  filhos de crentes sendo influenciados pelo mal e levando-o para dentro da igreja.

Há um risco inerente ao combate contra o mal. Durante a segunda guerra mundial aqueles da Igreja que tiveram a coragem de se erguer para falar contra o nazismo foram presos, torturados e mortos. Hoje, na maioria dos países ocidentais não corremos esse risco. Mas, poderemos vir a ser maltratados, injuriados, perseguidos e até podemos ir para à cadeia. Mas, não foi isso que Jesus disse que seria o normal para seus seguidores fiéis? (Mateus 5:11; 10: 16 a 23 e 34 a 39; 24:9 a 11).

A Igreja pode se calar e pensar que ao fazê-lo ganha a simpatia do mundo e facilita a pregação. A verdade é que ao agir assim torna-se alvo do desprezo geral, perde sua capacidade de salgar e comete eutanásia direta.

Conclusão
Temos vivido tempos em que o mundo está assustado. Assustado com as catástrofes naturais e a falta de esperança generalizada. Os países pobres não sabem como sair da crise e os países ricos sabem que seus sistemas sociais caminham para a bancarrota. O homem precisa de Deus, mas, em seu orgulho, cada vez mais se afasta dele. É a Igreja de Jesus que detém a palavra da vida que pode dar ao homem o que ele precisa.

Não deixemos a Igreja morrer! Não contribuamos para que morra por meio de atos que a levam a definhar. Lembremos que a Igreja precisa da oração como base da comunhão, do testemunho e discipulado para um crescimento sólido e de um combate sério contra o maligno no mundo como parte fundamental do nosso chamado profético.

Assim, teremos lutas,
mas teremos, certamente,
 vitórias e sobretudo
uma IGREJA VIVA!

6 comentários:

Anônimo disse...

Gostei muito dos artigos "Eutanasia Crista " e "Uma nuvem do tamanho da mao de um homem" . Sinto que a igreja precisa ser despertada para o genuino evangelho. Aqui no Brasil se pensa em evangelho apenas em se dar bem na vida , prosperidade material e nada de tranformacao em Cristo. Continue, Joed , com este ministerio de despertar o povo de Deus. Abracos
MVirginia

Anônimo disse...

Olá Pastor Joed e Família,
Espero que estejam bem com a Graça a Deus.
Nós por cá estamso bem graças a Deus.
Gostei muito deste seu artigo sobre a Eutanásia Eclesiástica e gostaria de saber se posso publicá-lo no nosso boletim da igreja?
Com os melhores cumprimentos
Clara Barcelos
Terceira Açores

Anônimo disse...

Amado Joed,
Agora já não me importo de ler os teus artigos tão grandes.O artigo de hoje sobre a eutanásia,gostei imenso.Estamos vivendo um pouco isso.
Obrigado,pelos teus artigos que enchem os nossos corações.
um abraço.
mizé

Juliana Gonçalves disse...

Olá!
Não sei se lembra mas me deu aula no CIEM. Sou Juliana, uma magra, alta de cabelos enrolados. Não sabia que estava no "IDE" em Portugal. Percebi sua volta para JMM. Eu e meu noivo estamos orando e gostaríamos de atuar na Europa. Divididos ainda entre Portugal e Itália. Já entramos em contato com a Junta mas não tivemos retorno. Gostaria de algumas dicas. Ele está no seminário e eu já terminei o CIEM. Estamos impolgados com a idéia de "Fazedores de Tenda". No entanto não sabemos o caminho a tomar. Ele tem formação técnica na área de informática e eu sou formada em publicidade mas não atuo. Penso em fazer um mestrado. Isso nos ajudaria no campo??
Se puder nos ajudar, segue me e-mail: jujucsg@yahoo.com.br

Lindos textos e que Deus abençoe muito a família.
Juliana Gonçalves

vilma disse...

Se me permitir pastor,gostaria de acrescentar que a igreja não pode esquecer o cuidado mútuo.Sem o cuidado,os récem nascidos morrem prematuramente.A igreja de Jesus tem esquecido de cuidar dos seus.Excelente artigo.

Joed Venturini disse...

Caras leitoras:
agradecemos o apoio, os comentários e sugestões. Temos tentado escrever artigos mais curtos, porém mais incisivos e concordamos que o apoio mútuo é essencial à sobrevivência da Igreja, sem este apoio os crentes enfraquecem e a igreja morre.

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