O Marketing de Jesus!

A Propaganda é a alma da Igreja?

"A Publicidade é a Alma do negócio", parece ser uma das máximas que domina hoje o meio evangélico. Num mundo que vive de intenso consumismo, as igrejas tem bebido com sofreguidão na fonte das ciências sociais na busca de sucesso (leia-se templos superlotados e receitas altas). Imbuídos desse espírito de concorrência, os ministérios recorrem ao marketing com freqüência cada vez maior a fim de "bombar".
Os líderes evangélicos modernos têm que ser mestres na arte da comunicação de massa conhecendo bem os princípios psicológicos e sociais de manipulação de multidões.

Parece que o objetivo é ser cada vez mais conhecido, mais convidado e com cachê mais alto. Bandas, cantores e pastores vão cobrando cada vez mais para "abençoar" o povo de Deus. E esse caminho tem realmente produzido mega igrejas. Será esse o rumo certo? O que diria Jesus disso tudo? Quais os princípios de marketing que Jesus seguia? Há quem queira nos convencer que Jesus era um líder no estilo moderno já no primeiro século. É isso que os evangelhos mostram?

Meditemos em alguns dos princípios de marketing à luz do ministério de Cristo:

1) A propaganda é a alma do negócio.
Afinal de que serve ter um bom produto se as pessoas não o compram? E só o comprarão se houver uma publicidade adequada. Não interessa se nesse afã de vender exagerarmos um pouco. Afinal ninguém presta muita atenção ao que se diz nas propagandas. O importante é "passar a mensagem", ganhar o cliente. A Igreja tem embarcado nessa onda e muitos ministérios tem orçamentos espantosos só para a propaganda.

Jesus nos aparece nos evangelhos bastante avesso à publicidade. Ele censurou os fariseus exatamente porque eram os mestres do marketing de seu tempo. Na cabeça do fariseu a questão era: de que serve ser piedoso se ninguém vê? Eles teriam amado a Internet... Jesus orientava o contrário e insistia para que se fizessem devoções em particular e mesmo atrás de portas fechadas (Mateus 6:5). Vários milagres mais marcantes de Jesus foram feitos da forma mais discreta possível. Ele tirou o cego de Betsaida do meio do povo (Marcos 8:23), tirou o mudo e gago da multidão (Mateus 7:33). Curou o cego de nascença só diante dos discípulos (João 9) e ressuscitou a filha de Jairo com o menor auditório possível (Marcos 7:37 a 40). Jesus se transfigurou no monte e só Pedro, Tiago e João o viram e ele ainda insistiu para que não contassem a ninguém (Mateus 17:1 a 9). Até os espíritos maus que queriam anunciar sua soberania eram repreendidos por Jesus (Lucas 4:41).

Essas e outras ocasiões teriam sido ideais para fazer publicidade. Os irmãos de Jesus discutiram com ele exatamente porque não fazia mais milagres em Jerusalém. Mas não era esse o método de Cristo e se sua fama se espalhou pelo mundo não foi porque fizesse da publicidade a alma de seu negócio ou ministério.

Há lugar para a publicidade na igreja. Mas esse deve ser um lugar subalterno e controlado. Fazer da propaganda o segredo do sucesso é armadilha mundana que devemos evitar. O principio de Jesus é o de trabalhar para Deus e este que vê tudo em todo lugar e em todo tempo. Para receber o galardão do pai não precisamos publicar nossas atividades na Internet.

2) O visual é Fundamental
O líder moderno gasta muito com seu visual. Há hoje especialistas que  trabalham na elaboração da imagem das personalidades públicas. Há que vestir de certo modo, ter o carro de tal marca, morar em tal bairro, usar este e aquele produto, etc. Infelizmente já vemos muitos líderes evangélicos copiando o mundo nisso também. Até parece que é um terno de marca ou um carro de tal empresa que vai mudar o ministério. A procura fútil por visuais que ajudem mostra falta de conteúdo e evidencia vaidades mal controladas.

Jesus era um judeu em meio a judeus. Não tinha casa própria, não tinha vistosidade e já Isaías profetizara que el não chamaria a atenção pelo visual (Isaías 53:2 e 3). Cristo chamou a atenção de seus discípulos para isso quando os instruiu a não buscarem títulos (Mateus 23:8 a 10). O Senhor não queria nem que os discípulos assumissem títulos relativamente simples como mestre ou pai. Como se sentiria nosso salvador diante da onda atual de bispos e apóstolos?

O ensino bíblico sobre o visual dos profetas nos mostra que os servos de Deus vestiam de modo simples (Isaías 20:2). A moderação é o mote a a contextualização o principio. O servo de Deus não deve se vestir de modo a usar o visual para impressionar ou se distinguir. O que o eleva no meio do povo deve ser seu caráter e vida, seu serviço e humildade. O visual não é fundamental.

3) Não desperdice os grandes momentos
O momento pode fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso. Essa é uma lei da liderança moderna que coloca o peso dos resultados sobre o bom ou mau aproveitamento de momentos que são pouco definidos mas considerados fundamentais. Há que criar o momento e há que aproveitar o momento. Esta visão tem algo de verdade no sentido em que há que fazer a coisa certa na hora certa. Mas seu risco é colocar peso demais em momentos, que como todos sabem, são passageiros.

Jesus foi perito em desperdiçar aquilo que os lideres modernos chamariam de grandes momentos. Dois dos mais significativos foram a multiplicação dos pães e a entrada triunfal. No primeiro o povo queria fazer dele Rei. Era o momento. O auge de seu ministério. As multidões estavam com Ele. Mas Jesus praticamente foge do povo e se isola para orar (João 6:14 e 15). O Mestre sabia que simplesmente não dá para confiar nas multidões. A reação do momento não representa, 99,9% das vezes, a verdade do coração.

Na outra ocasião Jesus foi aclamado pela multidão. Jerusalém estava repleta de gente que aceitaria prontamente sua liderança. Os discípulos pareciam esperar que isso acontecesse (Mateus 20:21) os fariseus estavam pressionados pelo apoio que Jesus obtinha do povo. Era o momento. Mas Jesus fura o balão com a expulsão dos vendedores no templo e a retirada para Betânia (Mateus 21:17). Analistas modernos diriam que perdeu o momento.Em outras ocasiões também o Mestre agiu assim quando rejeitou o moço rico e antagonizou Nicodemos (que belas aquisições eles seriam) e quando se indispôs com o fariseu rico que o recebia em casa (Lucas 7:36 a 50). Jesus nào se preocupava nada com a aprovação popular.

Devemos cuidar para não manipular situações e para não sermos encontrados tirando partido da sensibilidade do povo que confia em nosso ministério. Usar momentos para crescer é arriscado. Nós lidamos com a eternidade e com o Espírito o que exige bem mais que meros momentos mesmo que especiais.

4) Grandes Eventos, Grande Sucesso
As coisas se medem matematicamente. Quantas pessoas estavam no culto? Quanto se arrecadou? Quantos por cento crescemos neste ano? Reuniões de multidões atraem multidões. As multidões não tem alma e nem espírito, apenas impulso e por vezes histeria. O mundo vive de eventos e a igreja quer seguir seus passos. Conta mais a igreja que junta mais gente. Toda uma lista de estrelas está pronta a participar de seu evento mediante o pagamento de uma quantia certa. Mas muitas dessas "estrelas"evangélicas já lhe perguntarão quantos membros tem sua igreja porque não se deslocam a igrejas menores. Muitos pastores têm acreditado que o que falta em seus ministérios é a capacidade de produzirem eventos. Culpam essa falta de recursos pela falta de crescimento da igreja. Acabam investindo na contratação de "nomes" para poder competir com a igreja mais próxima que tem cultos mais mediáticos.

Jesus viveu boa parte de seu ministério cercado de multidões mas não protagonizou nenhum evento. Aquelas ocasiões que poderiam ter sido eventos (como a transfiguração ou a entrada triunfal) ou aconteceram por acaso ou então foram presenciadas por um grupo bem pequeno porque Jesus não confiava em manifestações.
Há apenas um momento da vida e ministério de Jesus que se encaixa na definição moderna de evento. Foi planejado com bastante antecipação, foi anunciado com freqüência, foi protagonizado como previsto diante de uma grande multidão e teve grande impacto. Esse "evento" foi a crucificação. Não me parece que seja o tipo de evento que interessa os lideres modernos.

Eventos podem ter seu lugar e utilidade. Não podemos é viver deles. Podem ser benção no sentido do despertamento, mas raramente mudam vidas. Vidas são feitas de princípios e hábitos e nem um nem outro mudam do dia para a noite mas através de um processo em geral demorado e doloroso que exige disciplina. O evento pode catalizar o inicio da mudança e nesse sentido pode ser valioso. Ministérios que vivem de eventos não geram discípulos de Jesus e sim dependentes psicológicos desses eventos. Não é isso que queremos se temos por objetivo seguir os ensinamentos de Cristo. Igrejas não crescem solidamente com base em acontecimentos pontuais. Criemos e usemos eventos na sua utilização correta e eles poderão até ser benção.

5) Apareça sempre no seu Melhor
Este princípio está ligado ao do visual e diz que devemos sempre mostrar em público o nosso melhor.
O líder moderno não mostra fraqueza. Ele é perito em esconder defeitos, poupar-se diante do público e só apresentar sua face mais positiva. Mesmo os momentos mais "sinceros" ou "familiares" dos famosos são, na verdade, representações muito bem orquestradas. Não dá para aparecer sem maquiagem. Não dá para baixar a guarda.  Mostre sempre seu lado brilhante. E novamente verificamos que lideranças evangélicas incorporam um princípio do mundo. Temos lideres que parecem grandes atores com representações bem ensaiadas e até uma vida familiar orquestrada.  Mas será que o povo não vê a diferença? Será que a igreja não percebe as coisas na hora da verdade?

Jesus tinha o persistente hábito de ser autêntico onde quer e com quem quer que estivesse. Isso implicava em fugir de representações e negar orquestrações. Ele agia não para agradar ou mostrar a face que os outros mais apreciariam, mas de acordo com a verdade e a vontade do Pai. Sendo assim nós o vemos em vários momentos que poderiam ser considerados menos bons. Ele expulsou os vendedores do templo nem ataque de ira justificada (Mateus 21: 12 e 13 e João 2: 13 a 16) e repreendeu os principais lideres do povo publicamente em clara demonstração de desgosto com eles (Mateus 23). Jesus repreendeu seus discípulos mais de uma vez e duramente bem como pregou sermões que ninguém queria ouvir (João 6:60) e quando muitos o deixaram ao ver essa faceta menos agradável ao publico Ele não se incomodou e até convidou os poucos restantes a se retirarem (João 6:67).

A representação não cai bem na vida dos servos de Deus. O que se pede de nós não é que sempre agrademos mas que sejamos sempre fiéis e autênticos. Líderes que só mostram seu melhor podem encantar e até encher auditórios, mas dificilmente poderão ajudar na hora das dificuldades. Dificilmente chorarão com os que choram ou terão tempo para acompanhar as ovelhas nas horas de mais luta e tribulação.

O homem de Deus não se preocupa em mostrar-se 
sempre no seu melhor,
mas em viver de tal maneira que agrade a Deus!

5 comentários:

Claudio Chagas disse...

As relações entre marketing e ministério foram bem colocadas, especialmente no que diz respeito à utilização de momentos e eventos. A Internet é uma grande bandeira, quando usada como forma de conectar pessoas e para divulgar idéias - mesmo que parece um paradoxo.

Joed Venturini disse...

Concordo Cláudio, e mesmo na internet vemos que há alguns blogs evangélicos que exageram nos ad sense e no comércio, de modo que a mensagem do blog fica perdida. Pra tudo há que ter equilibrio. Já participei de exelentes eventos, realmente marcantes, mas com pouca divulgaçào e propaganda, e em outros, com meses de marketing em que víamos que era só palha!

Joed Venturini disse...

Creio que no fim de contas precisamos de equilíbrio e cuidado. Devemos utilizar com sabedoria as técnicas sociológicas e de marketing, pois podem mesmo se virar contra nóse surtir o efeito contrário.

Claudio Chagas disse...

...é verdade - no final de tudo é sempre Deus quem faz a obra, independente dos nossos esforços tecnológicos e de relações pública.

Joed Venturini disse...

Claudio, não havia problema em publicar 2x o mesmo comentário, mas vamos lá... É difícil estar na linha entre a modernidade e a espiritualidade. alguns pensam que tudo que é moderno é do diabo, e para ser espiritual temos que ser retrógrados. Creio que podemos ser modernos, mas atentos. utilizando a mídia e a net, mas mantendo as convicçòes cristãs, não tornando a Casa de Deus em covil de ladrões e salteadores, sem visar o lucro e enganar os incautos.

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