Adoradores ou Expectadores



O culto correu de forma normal, sem nada de especial ou marcante. Os cânticos e hinos eram conhecidos, a mensagem musical foi bem apresentada, mas sem brilhantismo, as orações foram honestas, e a pregação foi bíblica sem ser arrebatadora. E logo que o culto termina o pastor é abordado pelos crentes: “pastor que culto abençoado, que mensagem maravilhosa, vou para casa tão cheia que até dá vontade de saltar de alegria” diz uma irmã. “Pastor obrigado pela palavra” diz outro irmão, “apesar de que notei dois erros de concordância que depois transmitirei ao irmão” diz outro membro com ar sério. O pastor agradece a ajuda construtiva, mas é logo atropelado por outra pessoa: “pastor, isso é inaceitável, a irmã fulana passou o culto mandando mensagens no telefone…” reclama uma irmã visivelmente indignada. “O Pastor tem que fazer alguma coisa em relação à filha do irmão Sicrano. Aquele vestido não é roupa que se traga para a igreja!” E é claro, muitos passam sem cumprimentar com semblante mais ou menos apressado. Dá vontade de perguntar: será que estiveram todos no mesmo culto?

Esta não é uma cena própria do culto da igreja A ou B. Creio que é universal. Todos os líderes sabem que é assim e mesmo os membros de igreja terão que aceitar que é o que acontece após um culto. Provavelmente está ligada a questão fundamental. Quando vamos ao culto somos realmente adoradores ou apenas expectadores? E nossa cultura actual facilita muito a segunda posição. Vivemos num mundo de espectáculo. Seja a TV, o cinema e agora a Internet, nossa função é assistir. E passamos horas por dia a ver actuações de outras pessoas. Ganhamos o hábito de ser expectadores e de mudar de canal ou de programação conforme nossa preferência. E acabamos por levar para a igreja o mesmo sentimento e a mesma atitude. Daí que no fim de um culto haja tantas reclamações. A apresentação não foi o que eu esperava.

Entendo que podemos dividir os expectadores/consumidores em 3 grupos simples: admiradores, avaliadores e críticos. Os admiradores são aqueles que gostam muito de sua igreja, de sua equipe de louvor e sobretudo do seu pastor. Defendem sua igreja contra tudo e todos. Ir ao culto é como assistir a um programa favorito. A predisposição é enorme e a atitude positiva leva a que o admirador veja tudo com bons olhos. É provável que esteja na igreja X por causa do pastor Y porque é só ele que gosta de ouvir. Parece que só consegue entender a palavra se for ele a pregar. E há um lado bem positivo disso porque devemos procurar mesmo um líder que o Senhor use para nos falar e a quem atribuímos autoridade espiritual de vida e palavra para transmitir o recado de Deus. Mas há também um lado menos bom porque o admirador não tem sentido critico, não faz avaliação e corre o risco de ser levado por líderes menos escrupulosos. 

O avaliador não corre esse risco. Ele assiste o culto sempre com um olhar perscrutador a procura de algo que não está bem. Uma palavra mal colocada, um cântico mal interpretado, uma vestimenta menos feliz, uma gravata mais berrante. Para ele há que avaliar, porque os bereanos o fizeram… mas esquece que os bereanos avaliavam conteúdo e pela Palavra. O avaliador assiste o culto, mas recebe pouco. No meio de sua atitude de avaliação sobra pouco espaço para o Espírito de Deus falar. E ele está pronto para mudar de igreja quando as “coisas” não estiverem “bem”. E com isso não falamos de erro doutrinário ou ético, mas simples gosto pessoal. Se as coisas não forem de seu agrado ele pode simplesmente mudar como se muda de programa. Afinal estou “pagando “meu dízimo para ser bem servido… e essa atitude certamente não vai ajudar em qualquer tipo de crescimento espiritual.

O crítico será aquele que provavelmente nem fala com o pastor. A verdade é que nem se percebe bem porque está naquela igreja. Talvez hábito, ou teimosia, ou simples vontade de ser do contra. Para o crítico há sempre algo profundamente errado em cada culto e ele sempre encontra o que não podia ser assim de modo algum. Parece que seu prazer é terminar o culto indignado. Alimenta-se de sua indignação e se alegra no confronto com os que, segundo ele, estão em falta para com a igreja e Deus (leia-se, ele mesmo). 

Infelizmente o expectador crítico também pouco ou nada leva do culto. Só um milagre fará com que uma mensagem ou música entre em seu coração e desperte nele algo mais que mera crítica que será sempre descrita como construtiva.

O contraste com tudo isso será o adorador. Aquele que vai ao culto em primeiro lugar não para receber mas para dar. Aquele que tem vida com Deus e exactamente por isso tem o que dizer ao Senhor. Depois de uma semana de experiência com seu Senhor, o adorador está ansioso para se juntar com outros que colo ele, conhecem e vivem a vida com Deus. Ele quer dizer ao Senhor de sua gratidão, alegria e consolo, ou até expressar sua preocupação e ansiedade, mas quer fazê-lo com seus irmãos em espírito genuíno de louvor e contrição. E então, porque seu coração está aberto ao Senhor e vai ao culto para dar sua adoração, o adorador recebe a bênção. Porque quando abrimos o coração para dar é então que recebemos. E o adorador é capaz de tirar bênção de um prelúdio, de uma oração de gratidão, da letra de um hino e da mensagem pregada. Tudo lhe fala de um Deus vivo que ele conhece e serve e a quem foi prestar sua homenagem num dia separado para o servir desse modo.

Creio que todos nós já fomos a cultos como expectadores/consumidores. Provavelmente já fomos admiradores, mas também já caímos na atitude de ser apenas avaliadores e até mesmo meramente críticos. Quem mais perdeu fomos nós e somos nós quando nossa atitude não é a que agrada ao Senhor. Devemos parar para deixar que o Espírito sonde nossas mentes e corações e nos ajude a ver onde erramos. O Senhor deseja nossa adoração. Fomos criados para adorar. Temos igrejas e templos para o fazer em comunidade. Que nada nos desvie desse alvo supremo da vida. Viver e louvar como verdadeiros adoradores. 


Um comentário:

Leonardo Martins disse...

Indo direto ao ponto. No caso do adorador ele faz contrate com quem vai ao culto para "recarregar as baterias". Essa expressão sempre me incomodou.
Parabéns! Belo texto.

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