Há já algum tempo o compositor evangélico João Alexandre lançou uma música que fez furor intitulada "É Proibido pensar". João Alexandre é um daqueles músicos que fazem sempre falta em nosso meio. Suas melodias são ricas e variadas usando múltiplos ritmos e sabores e as letras poéticas, inspiradas e muitas vezes doutrinárias. Na música "É Proibido pensar", João Alexandre se insurge contra um evangelicalismo moderno, onde as ações são artificiais e os crentes são convidados a aceitar sem questionar. Na verdade, há muitos meios onde, realmente, é proibido pensar!
O escritor Clyde Reid verificou o mesmo fenómeno nos Estados Unidos e chamou-o de "Conspiração do Silêncio" a essa atitude de passividade da esmagadora maioria dos crentes quanto a questões fundamentais da fé. Parece que os crentes não querem pensar e não ousam perguntar. O mundo tem, via de regra, uma visão bastante negativa sobre o nível intelectual dos crentes. Em muitos meios, crente é sinónimo de simplório, de ignorante. Uma cultura inibida numa conspiração de silêncio onde é proibido pensar só vai agravar esse quadro. Mas afinal, por que é que não pensamos? Por que é que não perguntamos?
Muitos não levantam questões e não indagam porque temem que os outros os julguem e não os considerem espirituais. Afinal, no coração de multidões, perguntar e crer parecem coisas que se excluem. Se pergunto é porque não tenho fé. Logo, é melhor ficar calado e mesmo que as dúvidas me assaltem ficarei silencioso para não passar por incrédulo.
Muitos não perguntam por medo de que não haja respostas ou de que as existentes os levem a perder a fé. Nesses casos até há vontade de perguntar, de refletir, mas há também o medo: e se não houver resposta? E se a resposta ainda me deixar pior do que estava antes de perguntar? Prefiro ficar sem questionar a colocar minhas dúvidas e ver minha fé ruir como castelo de cartas.
Muitos não questionam porque não desejam embaraçar lideres que amam, mas que provavelmente não saberiam responder a suas indagações. Vivem duas realidades diferentes, a do mundo cheio de especialistas e mestres em várias áreas e a da igreja com um líder amado e respeitado, mas que na verdade não domina as questões mais recentes. Questionar esse líder, procurar respostas aos dilemas modernos parece impossível. Só traria embaraço e dor. Então é melhor calar e viver com as respostas do mundo.
Muitos não questionam simplesmente porque não gostam de refletir, não gostam de gastar tempo pensando. Como o povo de Israel lá no deserto, preferem que outro pague o preço de subir o monte e trazer a lei porque isso de meditar, refletir, pensar, gasta muito tempo e dá muito trabalho. Querem a comidinha feita e servida e se contentam com o que conseguirem.
A questão principal diante disso deve ser: O que o Senhor pensa disso? Será que nosso Deus tem medo de nossas perguntas? Será que ELE se satisfaz com uma prática desprovida de entendimento? Será que ELE se contenta com seguidores limitados numa conspiração de silêncio, temendo as questões e as respostas? Creio que, biblicamente, a resposta clara é NÃO!
De Génesis a Apocalipse o Senhor respeitou e valorizou a reflexão e o debate. Nunca vemos o Senhor repreendendo o homem por perguntar. Nem sempre ELE respondeu, até porque, muitas vezes, o homem não entenderia as respostas. O próprio Jesus reconheceu, em certa ocasião, que seus discípulos não estavam capacitados para suportar as respostas (João 16:12). Por vezes se dá o mesmo conosco. No caso de Jó, por exemplo, o Senhor colocou a ele a situação nesses termos. Jó não podia entender o que se passava na esfera espiritual sendo limitado até na terrena. Mas o Senhor veio a ele, lidou com suas questões, deu-lhe uma satisfação, e o deixou elucidado. O facto de não podermos entender tudo não pode nos fazer desistir de entender o máximo que pudermos.
Paulo elogiou os moradores de Bereia exatamente porque não se deixavam levar por oratória, mesmo a mais inspirada, como no caso do Apóstolo. Os de Bereia questionavam, procuravam, debatiam, refletiam e conferiam antes de aceitar (Atos 17:11). Isso não foi visto como falta de fé, desconfiança ou incapacidade, mas como algo valoroso e a ser imitado.
Escrevendo aos Coríntios Paulo incita os crentes a fazerem exame de si mesmos, a se questionarem: "Examine-se o homem a si mesmo..." I Cor. 11:28; "Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos." II Cor. 13:5. Não fomos chamados a uma fé cega, a uma prática sem raciocínio, a uma vida cristã sem reflexão. Somos convidados a pensar, a questionar, a crescer na graça mas também no conhecimento (II Pedro 3:18) porque o Senhor deseja que todos os homens "cheguem ao pleno conhecimento da verdade" (I Timóteo 2:4).
Na Igreja de Cristo não pode ser proibido pensar, não pode haver conspiração de silêncio. Precisamos crescer em maturidade, aprendendo a fazer as questões pertinentes, a refletir em conjunto, a buscar na Palavra as respostas para a Vida.
Não tenhamos medo de usar o raciocínio que Deus nos deu. ELE nos dotou dessa capacidade como parte de sua imagem e semelhança. Deseja filhos amados, devotos mas conscientes, dedicados mas inteligentes, espirituais, mas também sábios.
Louvemos a esse DEUS maravilhoso e ao nosso fantástico Salvador, o homem mais inteligente que já viveu na terra e sejamos seus seguidores nisso também.
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