Talvez se possa
dizer que a atual discussão começou em 25 de Julho de 1978, em Oldham, na
Inglaterra onde nasceu Louise Joy Brown a primeira criança a nascer na sequência
de fertilização in vitro (bebé de proveta). Não demorou muito para que
esse método fosse usado para a fertilização de mulheres com o intuito de
produzir bebes para casais inférteis. O primeiro caso registado foi o de
Elizabeth Kane (nome fictício) que deu à luz uma criança em 1980, sendo o
primeiro caso de barriga de aluguer.
Nesse tempo, o método usado era a
inseminação artificial da mãe portadora com esperma do pai. O casal infértil
assinava um contrato com a mãe que oferecia a barriga de aluguer e a criança
era-lhes entregue logo ao nascimento. As coisas se complicaram com o caso que
ficou conhecido como o do bebé M. Em 27 de março de 1986, Mary Beth Withehead
deu à luz uma menina num contrato de barriga de aluguer, mas logo a seguir
decidiu que não queria dar a criança.
O caso foi parar aos tribunais onde o
juiz do Supremo Tribunal de New Jersey entregou a menina ao casal Willian e
Elisabeth Stern que fizera o contrato com a afirmação de que era o melhor para
a criança. Assim, Melissa foi criada longe de sua mãe biológica. De realçar que
o casal Stern não era infértil. A Sra. Stern era pediatra e temia ter Esclerose
Múltipla (diagnostico não confirmado) o que dificultaria (apesar de não impossibilitar)
uma gravidez. Desde então o assunto tem levantado muita celeuma e debate,
havendo hoje muitas mudanças na legislação dos países que aceitam essa forma de
maternidade. Um extremo desta situação terá sido o caso de uma mulher que em
2001 deu à luz um filho para a sua própria filha. Ou seja, foi mãe do neto...
Diante disto, qual
seria uma posição cristã biblicamente defensável? Algo não muito fácil de
dizer. A Bíblia não lida de modo direto com essas questões porém, os avanços da
ciência moderna devem ser tratados com base nos princípios cristãos mais
profundos que são regra eterna de fé e prática. Começamos por um caso de
barriga de aluguer que é na verdade milenar. Abraão e Sara não tinham filhos. A
solução foi usar uma mãe que pudesse ser portadora de um bebé de Abraão e a
escolhida foi a escrava Agar. Todos sabemos como correu esse episódio e que consequência
trouxe até os dias de hoje. Baseados nessa experiência, diríamos que a ideia
não foi boa e o Senhor não a aprovou, apesar de abençoar a criança nascida que
não tinha culpa dos erros paternos.
Recentes estudos
científicos têm mostrado uma ligação profunda entre mãe e feto. Os doutores
John Wilheim (1992), Alessandra Piontelli (1992) e M.C. Busnell (1997)
mostraram, usando técnicas de visualização e avaliação de fetos in útero,
que os bebes antes de nascer já se relacionam profundamente com suas mães. Os
fetos reconhecem vozes familiares e entre elas a da mãe de modo particular,
sentem o que a mãe sente (alegria, medo, ansiedade, tristeza, satisfação),
reagem a estímulos tácteis, sonoros e gustativos. Essa ligação, evidentemente,
passa para além do momento do nascimento, havendo claras indicações de traumas
e limitações quando existe separação entre mãe biológica e bebé recém-nascido. O
Trauma acontece tanto para o bebé como para a mãe. Esta é uma verificação
baseada na ciência, não na fé ou religião.
Essas descobertas
científicas não espantam o leitor da Bíblia. Biblicamente, encontramos textos
que nos mostram claramente uma identificação dos fetos como seres vivos com
valor individual já estabelecido mesmo no útero. “Antes que eu te formasse
no ventre materno te conheci e antes que saísses da madre te consagrei” disse o
Senhor a Jeremias (1:5). “Os meus ossos não te foram encobertos quando no
oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus
olhos me viram substância informe” dizia Davi com convicção (Salmo 139:15).
Quanto ao
reconhecimento de vozes familiares, que o Dr. Wilheim provou em 1992, já há 2
mil anos lemos que Isabel grávida de 6 meses disse a Maria: “Logo que me
chegou aos ouvidos a voz da tua saudação a criança estremeceu de alegria
dentro de mim.” Lucas 1:44. Pesando tudo isso, e diante dessas evidências,
temos que reconhecer que a barriga de aluguer é algo não natural, que altera de
modo claro uma ligação sagrada entre mãe e filho e que pode trazer danos
profundos à psicologia de ambos. Então, porque tem se tornado tão popular?
Normalmente os
defensores desta modalidade falam do profundo sofrimento psicológico que a
infertilidade pode trazer e de como casais nessa situação podem hoje, por meio da
ciência, ter a alegria de serem pais. Ter filhos foi um dos primeiros
mandamentos de Deus ao homem, mas dado a pais biológicos dentro do casamento
(Gênesis 1:28). Recorrer à ciência pode parecer a solução, mas a que custo? Há
também a defesa da opção das mulheres que alugam seus úteros numa sociedade que
enfatiza cada vez mais a liberdade da mulher sobre seu corpo. Mas estas sabem
realmente o que estão fazendo? Entendem que as mudanças sofridas numa gravidez
não são apenas físicas mas psicológicas? Percebem que estão dando origem a uma
vida e que irão abdicar dessa vida por dinheiro? Não podemos deixar de ver esta
situação como um forçar da vontade humana que não sabe ouvir NÃO. “Queremos um
filho nosso e pronto e se preciso pagaremos para tê-lo, mesmo que por meios não
naturais”. E quando as coisas correm mal?
Todos sabemos que
nem sempre a gravidez termina bem. A mãe de aluguer Judy Stives de Michigan foi
inseminada com esperma contaminado com Herpes vírus. O bebé nasceu com danos
cerebrais e os pais não o quiseram. Ela teve que ficar com a criança
deficiente. A mãe de aluguer Patty Nowakovski deu a luz gémeos, mas os
“compradores” só quiseram ficar com a menina. Patty acabou por processá-los e
ficar com os dois filhos. Isto para citar apenas dois casos. O que nos impede
de ter em pouco tempo pais rejeitando bebés porque não são bonitos como queriam
ou não têm olhos azuis? E o que dizer do caso em que a mãe de aluguer percebe
durante a gravidez que não quer deixar seu filho? A simples legislação servirá
para resolver os traumas que esta situação certamente causa? Não estamos
falando de coisas, mas de seres humanos, produzidos e comprados como objectos
de estimação.
Qual seria então a
solução válida para um casal infértil que deseje cumprir os princípios
cristãos? Creio que a tecnologia de tratamento da infertilidade é algo que
podem e devem usar se tiverem acesso a ela. Há muitos tratamentos a disposição
sem a necessidade de envolver outras pessoas e outras vidas no processo. Se
mesmo assim o casal não conseguir engravidar há a opção da adoção. Há multidões
de crianças necessitadas do amor e carinho que esses casais podem dar. Há
milhares de histórias comoventes de crianças adotadas e de pais adotivos tanto
inférteis como outros que já tinham seus próprios filhos. Em última análise
porém, será uma decisão pessoal. Entendemos o drama da infertilidade, mas não
cremos que o recurso a uma barriga de aluguer seja um método aprovado pelo
Senhor.
Judy Stives e Patty Nowakovski O site anterior
2 comentários:
Mais uma vez parabéns pelo artigo.
Centrado e muito bem colocado.
Não creio que tenha sido por acaso. A reportagem do Fantástico do dia 05-maio fala justamente sobre isso. Puro comércio porque na China o aluguel é mais barato.
Confira ...
http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1680147-15605,00-CASAIS+QUE+NAO+PODEM+TER+FILHOS+VAO+A+INDIA+EM+BUSCA+DE+BARRIGA+DE+ALUGUEL.html
Querido Leo, aqui em Portugal este tema também tem sido muito debatido e não há consenso. Creio que nós cristãos temos que explicitar nossas posições mesmo que pareçam politicamente incorretas.
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