Como o Anableps...


Já ouviu falar dele? O anableps? Tem vários nomes, mas talvez o que melhor o define é o de peixe quatro-olhos. Trata-se de um peixe que vive junto à foz dos rios da América Central e do Sul existindo espécies de anableps desde o México ao Brasil. Ele vive na zona de transição entre a água doce e salgada. É um vertebrado carnívoro e come insetos e outros peixinhos minúsculos. Passa a grande maioria de seu tempo nadando lentamente em grupo junto à superfície das águas, aparecendo com sua cabeça meio submersa e os olhos bem no topo.

 E o que há de tão extraordinário nesse peixe? Ao olharmos para ele algo nos chama a atenção. Ele parece ter quatro olhos. Na verdade, isso é uma ilusão de ótica, porque o anableps tem metade dos olhos em baixo de água e metade em cima. E é aí que reside a maravilha. Os olhos desse peixe são únicos em todas as espécies. Ele tem os olhos divididos em duas partes, de cima e de baixo, por uma leve membrana. Tem duas íris e duas pupilas e inclusive índice de refração diferente em cada parte do olho. Apesar de ter apenas um par de olhos, vê com a parte de baixo o que se passa debaixo de água e está adaptado a isso e vê com a parte de cima o que se passa acima da superfície, tendo a visão de cima adaptada para isso. Fantástico não? Lente multifocal num peixe... Isso lhe permite encontrar mais alimento e se defender mais facilmente de predadores.
E o que tem o anableps a ver comigo e com você? É que somos chamados a ser anableps neste mundo. O Cristão recebe de Deus essa visão multifocal para viver neste mundo sem ser dele. Visão para conseguir trabalhar aqui enquanto vive esta vida, mas mantendo a mente e a visão parcialmente em outra realidade, em outra vida e em outro mundo. Para as outras pessoas deve parecer estranho. Os animais têm olhos para ver debaixo de água ou ao ar livre. Animais terrestres podem até mergulhar e abrir os olhos, mas sua visão fica limitada. Peixes podem até subir a superfície e olhar, mas verão pouca coisa. Só o anableps vê perfeitamente bem em ambas as realidades. Assim deveria ser o Cristão.
Paulo escrevendo aos efésios, no capítulo 1,verso 18, orava para que tivessem "iluminados os olhos do coração". Do que ele está falando? Não é dos olhos que veem o material, mas de olhos com visão e perspectiva espiritual. Ele explica isso ao falar aos coríntios, "ora o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem (vêm) espiritualmente" 2:14.

No mesmo capítulo ele já dissera que "nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito;" 2:9 e 10a. O crente em Cristo transita em duas realidades. Uma que se vê naturalmente, com olhos materiais, com os sentidos humanos e que ele partilha com todas as outras pessoas. Mas também vê com os olhos da fé, do Espírito, realidades que são invisíveis ao olho nu. O Cristão discerne aquilo que para o incrédulo é impossível ver e por isso o chamam de louco.

Assim como o anableps, nossa visão multifocal nos permite colher alimento onde outros só vêm tribulação, ânimo onde outros só vêm dor e esperança onde o mundo só enxerga desespero. Também a visão dupla nos permite defesa nas lutas espirituais que são as mais importantes porque discernimos o inimigo da alma que na esmagadora maioria das vezes é invisível ao homem natural.

Trata-se de um recurso fabuloso e extraordinário, próprio da graça de Deus. Alguns o têm usado de modo contundente como os profetas do passado, os apóstolos do Senhor e o próprio Jesus. Quando devidamente desenvolvida, essa visão dupla é fonte de bênçãos incontáveis.

 Agora imagine um anableps tolo que desprezasse sua visão dupla e desejasse passar a vida ou apenas submerso ou apenas na superfície. Perderia imediatamente metade de seu campo de visão. Metade de seus olhos ficariam meio cegos e toda a vantagem que ele tinha se esvairia tornando-se inclusive mais vulnerável.

Infelizmente alguns crentes fazem voluntariamente isso. Ou abdicam da visão espiritual vivendo apenas deste mundo, perdendo toda a capacidade de ver as bênçãos, ficando presa fácil do maligno, deixando de enxergar as coisas maravilhosas que Deus preparou para nós. Ou então, resolve viver num mundo espiritual desfasado do real, longe das coisas práticas, perdendo a capacidade de ser útil a igreja e ao Senhor, deixando aos poucos o contacto com as verdades práticas da vida. Assim vivem na igreja tanto os materialistas como os puramente místicos. Abrem mão da preciosa metade de sua visão.

Imagino, por vezes, a vida do anableps em meio a outros peixes. Talvez os outros peixes façam troça dele, de seus olhos estranhos e de sua teimosia em ficar nadando meio submerso. Mas, o anableps não se preocupa. A vantagem é toda dele!

Se vivermos plenamente a visão dupla que o Senhor nos deu seremos mal interpretados, incompreendidos e até ridicularizados. Mas a vantagem é toda nossa. Sejamos gratos por nossa visão multifocal e não deixemos que o inimigo nos prive de nossa maravilhosa capacidade de ver bem em ambas as realidades. Que sejam iluminados os olhos do nosso coração.

3 comentários:

Breno Perdigão disse...

Gloria a Deus pela nossa visão que não se limita apenas neste mundo, mas podemos ver aquilo que outros não entendem.

DANIEL SANTANA disse...

NÃO É FÁCIL VIVER COM ESSAS "VISÕES"
MAS MUITO NECESSÁRIA NESSES TEMPOS, EM QUE MUITOS PREFEREM OLHA PARA AS COISA DO MUNDO, ESQUECENDO-SE DAS CELESTIAIS PRECISAMOS TRABALHAR MAIS ESSA "DUPLA VISÃO".
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Joed Venturini disse...

Sim, é verdade irmão, seria bom que todos os crentes tivessem esta noção. Podem nos chamar de louco, mas não podemos negar o que experimentamos em Jesus.

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