Independentemente de concordarmos com o irmão empresário, a verdade é que todos já tivemos de algum modo essa mesma sensação. A noção de que o culto é bom, a mensagem animadora, o ambiente acolhedor e a membresia amiga, mas que logo deveremos deixar aquilo tudo e mergulhar de cabeça no mundo real, na vida dura e cruel como ela realmente é. Será mesmo? O que queremos dizer quando deixamos a igreja e suspirando admitimos: de volta a vida real?
Para alguns voltar a vida real pode querer dizer voltar ao mundo onde a ciência dita os fatos. Os que assim pensam veem a igreja e o mundo religioso como território da fé, algo muito subjectivo e não explicado e que na verdade tem a ver com a individualidade. Lá fora; fora da igreja, está o mundo real dirigido pela ciência, fatos devidamente comprovados, especialistas certificados, leis bem estabelecidas e indubitáveis. Mas será mesmo assim? Será a ciência tão confiável assim?
Eu sou médico e tenho lidado com o mundo científico toda minha vida e descoberto que a ciência falha bem mais do que admite. Medicamentos que eram cura garantida até há pouco tempo hoje estão fora do mercado por causa de efeitos secundários letais. Cientistas famosos e galardoados falsificam resultados, eliminam os dados que não lhes agradam. Os grandes laboratórios pagam para ter suas drogas aprovadas, enquanto pesquisas valiosas, mas que dão pouco lucro são engavetadas. Mas, na televisão, o cientista aparece com o título de Doutor e as pessoas o ouvem falar como se fosse o dono da verdade! Não, senhores! A ciência ainda tem muito que crescer para ser a vida real.
Para outros voltar à vida real é voltar ao mundo controlado pelo dinheiro. A visão religiosa é bonita e generosa, mas o mundo real é movido pelo dinheiro e pelos poderosos. É assim que muitos pensam. São eles que ditam as regras, que controlam nossas vidas. Mas será mesmo? Houve um tempo em que Madoff era um nome de poder nos bastidores financeiros. Era sinônimo de poder, influência, luxo. Ele era a coisa real! O Senhor investimento! Hoje perdeu tudo... Há poucas semanas Dominic Straus-Kahn era patrão do FMI. Ele determinava não somente as vidas de pessoas mas de países inteiros. Uma vida de opulência e hotéis de 5 estrelas. Hoje ele está preso, esperando julgamento, envergonhado mundialmente.
O dinheiro pode ser poderoso, mas não dita as regras no coração e não controla as mentes mais seguras. Ele acaba depressa, perde seu valor, erra em seus cálculos. Não, senhor! O dinheiro não é a vida real! Há gente demais com dinheiro que não sabe o que é viver e gente demais sem dinheiro que vive bem para que eu aceite essa suposta verdade.Haverá outros que dirão que a vida real é a vida do prazer, do divertimento, do gozo e da diversão. Verão a igreja como lugar opressivo e obscuro e o mundo do entretenimento como a vida real. Apresentarão as manchetes dos jornais cheias de artistas e as revistas de fofocas repletas de cantores como prova de que essa é a vida verdadeira: fama, reconhecimento, beleza e luxo. Mas temos demasiadas histórias de suicídio entre artistas e famosos para acreditar nessa versão da realidade. Muitos são os testemunhos de gente que viveu essa vida e que descobriu-se vazio para aceitarmos tal verdade. Não senhor, essa não é a vida real!
Haverá ainda os que dirão que na igreja há muito boa vontade mas a vida mesmo é um lugar cruel e duro onde reina a competição e o trabalho árduo sem valor. Essa será a visão pessimista de que a igreja é um refúgio para a realidade mordaz de um mundo devorador e sem piedade. E reconhecerei que vemos muita crueldade no mundo e muita coisa triste.
Mas falarei também dos milhões que honestamente sustentam suas famílias e que se orgulham disso. Dos milhões que não se curvam à injustiça mas, com pequenas ações, porém relevantes, combatem o mal com o bem e vão tornando a vida algo mais doce e se dedicam a minorar a dor nem que seja de um de seus próximos. Recusar-me-ei a aceitar que a vida real seja a maldade. Há suficiente bondade neste mundo de pecadores para que eu me curve ao mal como sendo a verdade última.
Um dia, há muito tempo atrás, um exército inteiro cercou a cidade onde dormia o profeta de Deus (II Reis 6: 15 a 17). O servo do profeta ouvia o homem de Deus falar da grandeza de seu criador e das maravilhas de seu poder, mas quando viu a cidade cercada desesperou: “Estamos perdidos, esta é a vida real. Estamos cercados por homens armados e poderosos na guerra. Essa é a realidade que nos cerca e não há como fugir. Estamos condenados!” E o profeta tranquilo e sereno fez uma oração simples: “Senhor abre os olhos deste moço por um instante para que conheça a verdade da qual fala mas da qual nada sabe”. E o Senhor concedeu ao jovem ver a REALIDADE que o cercava e nessa verdade inequívoca de Deus havia anjos dos exércitos celestiais cercando as tropas que se julgavam dominadoras.
Não sirvo a um Deus menor.
Não vou à igreja por falta de opção ou por ter uma mente acanhada.
Não manifesto fé por falta de raciocínio ou para fugir à crueldade que me cerca.
Não declaro Jesus por achá-lo bonitinho ou porque fui criado em certa tradição.
Sou Cristão porque Jesus é o Filho de Deus vivo, Rei e Senhor, nome sobre todo nome, Senhor da eternidade e a verdade é conhecê-lo.Sou seu seguidor e discípulo porque um dia, com a autoridade de quem tinha poder sobre tudo inclusive a morte, declarou: “A vida eterna é esta: que te conheçam a ti o único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo a quem enviaste” João 17:3. Aquele que afirmou isso morreu, ressuscitou e voltou ao céu conforme profetizado centenas de anos antes. Essa é a verdade! Por ela viverei!
2 comentários:
Querido Pastor,
Segundo o falecido Milton Santos o grande fundamentalismo de nossa época é o CONSUMISMO. Como o senhor bem disse, somos valorizados ou medidos por nosso poder de compra. Deus é quem sabe nosso valor.
É sempre muito bom ler suas reflexões. Assim continuamos tendo um pouquinho de vc aqui em Campo Grande.
Nossos caminhos, quase sempre são dirigidos por sentimentos diversos que, em resumo, traduzem o quanto às emoções podem entusiasmar e interferir em nossas decisões. Em contrapartida, a racionalidade é um instrumento quase matemático na escolha de uma ou outra opção.
Na verdade, a emoção é o diferencial da espécie humana em relação aos outros animais e por mais que tentamos, não conseguimos de forma alguma deixa-la de lado. Se isso acontecesse, deixaríamos a nossa condição humana e passaríamos a agir apenas por instinto.
Emoções são efêmeras; passageiras, duram pouquíssimo tempo; assim como nascem, morrem, já as consequências das atitudes tomadas num rompante de emoção, essas duram para sempre.
Deus e razão; o ponto de partida para as explicações das minhas emoções, minha cognição e minha conduta.
“Semelhanças nos unem, diferenças nos completam”.
Um grande abraço para um grande pastor.
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