O escritor Clyde Reid verificou o mesmo fenómeno nos Estados Unidos e chamou-o de "Conspiração do Silêncio" a essa atitude de passividade da esmagadora maioria dos crentes quanto a questões fundamentais da fé. Parece que os crentes não querem pensar e não ousam perguntar. O mundo tem, via de regra, uma visão bastante negativa sobre o nível intelectual dos crentes. Em muitos meios, crente é sinónimo de simplório, de ignorante. Uma cultura inibida numa conspiração de silêncio onde é proibido pensar só vai agravar esse quadro. Mas afinal, por que é que não pensamos? Por que é que não perguntamos?
Muitos não levantam questões e não indagam porque temem que os outros os julguem e não os considerem espirituais. Afinal, no coração de multidões, perguntar e crer parecem coisas que se excluem. Se pergunto é porque não tenho fé. Logo, é melhor ficar calado e mesmo que as dúvidas me assaltem ficarei silencioso para não passar por incrédulo.
Muitos não perguntam por medo de que não haja respostas ou de que as existentes os levem a perder a fé. Nesses casos até há vontade de perguntar, de reflectir, mas há também o medo: e se não houver resposta? E se a resposta ainda me deixar pior do que estava antes de perguntar? Prefiro ficar sem questionar a colocar minhas dúvidas e ver minha fé ruir como castelo de cartas.


De Génesis a Apocalipse o Senhor respeitou e valorizou a reflexão e o debate. Nunca vemos o Senhor repreendendo o homem por perguntar. Nem sempre ELE respondeu, até porque, muitas vezes, o homem não entenderia as respostas. O próprio Jesus reconheceu, em certa ocasião, que seus discípulos não estavam capacitados para suportar as respostas (João 16:12). Por vezes se dá o mesmo conosco. No caso de Jó, por exemplo, o Senhor colocou a ele a situação nesses termos. Jó não podia entender o que se passava na esfera espiritual sendo limitado até na terrena. Mas o Senhor veio a ele, lidou com suas questões, deu-lhe uma satisfação, e o deixou elucidado. O facto de não podermos entender tudo não pode nos fazer desistir de entender o máximo que pudermos.

Escrevendo aos Coríntios Paulo incita os crentes a fazerem exame de si mesmos, a se questionarem: "Examine-se o homem a si mesmo..." I Cor. 11:28; "Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos." II Cor. 13:5. Não fomos chamados a uma fé cega, a uma prática sem raciocínio, a uma vida cristã sem reflexão. Somos convidados a pensar, a questionar, a crescer na graça mas também no conhecimento (II Pedro 3:18) porque o Senhor deseja que todos os homens "cheguem ao pleno conhecimento da verdade" (I Timóteo 2:4).
Na Igreja de Cristo não pode ser proibido pensar, não pode haver conspiração de silêncio. Precisamos crescer em maturidade, aprendendo a fazer as questões pertinentes, a reflectir em conjunto, a buscar na Palavra as respostas para a Vida. Não tenhamos medo de usar o raciocínio que Deus nos deu. ELE nos dotou dessa capacidade como parte de sua imagem e semelhança. Deseja filhos amados, devotos mas conscientes, dedicados mas inteligentes, espirituais, mas também sábios. Louvemos a esse DEUS maravilhoso e ao nosso fantástico Salvador, o homem mais inteligente que já viveu na terra e sejamos seus seguidores nisso também.