ANOSOGNOSIA ESPIRITUAL

Joseph Babinski nasceu em Paris, em 1857.  Filho de refugiados poloneses, se formou em Medicina e se dedicou a Neurologia.  Dedicou-se à clínica de casos neurológicos que descreveu com rigor.  Discorreu sobre os vários reflexos neurológicos e um deles leva seu nome. Tornou-se com o tempo professor de Neurologia da Universidade de Paris.  Em 1914 cunhou o termo anosognosia quando percebeu que muitos doentes neurológicos, principalmente com lesões cerebrais à direita, apresentavam dificuldade em reconhecer suas limitações e deficiências, mesmo que essas fossem evidentes.  Havia casos de doentes hemiplégicos, que não conseguiam movimentar o lado esquerdo do corpo, mas que negavam ter qualquer problema.   A anosognosia é assim um problema grave e infelizmente tem seu correspondente espiritual.

Um dos casos mais conhecidos de anosognosia espiritual é o descrito no primeiro livro de Samuel capítulo 15.   Deus enviara por meio de Samuel uma ordem clara, directa e especifica a Saul. Deveria derrotar Amaleque e destruir tudo na sua passagem.   Nada deveria ser tomado.  Nenhum despojo deveria ser tomado.  O líder do povo, primeiro rei de Israel descumpriu a ordem.  A ganância tomou conta e ele poupou o que havia de melhor.  Na sua visão não havia nada de errado em mudar um pouco a ordem de Deus.   Por que destruir tanta coisa boa? Por que desperdiçar um tão rico saque? Por que não aproveitar para encher um pouco a própria bolsa e a de seus homens? Não seria uma recompensa justa por todo seu esforço?

Quando Samuel o confrontou, Saul mostrou sinais evidentes de anosognosia.    Satisfeito da vida cumprimentou o profeta tranquilamente, pois pensava ter obedecido a Deus.  Quando Samuel chamou sua atenção para o barulho que os animais do despojo faziam ele agiu como se não houvesse nada de errado.  Negou o óbvio, o evidente, o inegável.  Achava mesmo que deveria ser congratulado por sua solicitude quando, na verdade, estava sendo rejeitado pelo Senhor, pois além de desobediente não era sequer capaz de reconhecer seus erros, que literalmente berravam ao seu lado.

Outros casos de anosognosia espiritual na Bíblia são, por exemplo, os líderes do templo de Jerusalém onde Jesus fez uma limpeza.  Não conseguiam ver o que era óbvio: que um lugar de adoração se transformara num antro de lucro e corrupção que impedia qualquer devoção. Num lugar onde as pessoas deveriam se juntar para orar em espírito de meditação havia bancas de vendas, barracas de animais, mesas de câmbio e um barulho ensurdecedor. Também Ananias e Safira, na igreja primitiva de Jerusalém, não conseguiam ver o mal em sua mentira ao Espírito Santo e à Igreja.  Achavam que sua mentira, sua falsidade e hipocrisia era coisa pequena e até digna de louvor.  Pelo seu erro pagaram com a vida!  Parece que a incapacidade de ver seus próprios males, mesmo os mais evidentes é doença comum.

Em nossos dias a anosognosia espiritual tem tomado proporções epidémicas.  Hoje é comum e triste vermos líderes no meio evangélico que abusam do poder, usam influência para conseguir vantagens, fazem mercado do ministério da Palavra e da Adoração, negociam com as igrejas, manipulam as multidões usando técnicas de psicologia de massa, usam de mentira nos púlpitos inflando seus números e actividades para impressionar. Vemos gente com títulos espirituais fazer o jogo sujo da política, burlando as leis e os impostos, deixando de pagar os direitos devidos a seus empregados, abusando da boa fé de muitos crentes, administrando as leis em benefício de seus caixas particulares. 

Temos líderes dominados por luxúria que adulteram sem medo ou vergonha, que jogam com o divórcio como se fosse uma brincadeira e que pensam poder passar incólumes. Quando vemos que a Igreja Católica se debate com a crise da pedofilia, os evangélicos não deviam sorrir numa satisfação despropositada mas avaliar as próprias fileiras e chorar diante do Senhor.

De pouco serve dizer a um hemiplégico com anosognosia que seu lado está paralisado. Todos podem vê-lo.  Ele se arrasta de modo dramático, mas não reconhece e ainda se zanga com quem o contraria.  Devemos exortar àqueles que padecem deste fenômeno, mas nossa verdadeira esperança está primeiro em clamar ao Senhor, depois em examinar nossos próprios caminhos, corrigindo o necessário e por fim em fazer valer a justiça possível sobre aqueles que estão denegrindo o bom testemunho da Palavra.  Saul teve que ser derrubado através do exército Filisteu, o templo teve que ser purificado de um modo brusco, Ananias e Safira tiveram que morrer.

O grito humano tem sido muitas vezes
"Liberdade ou Morte",
o grito da Igreja de hoje deveria ser
"SANTIDADE OU MORTE!"
Dá-nos Santos, Senhor! Faz-nos Santos, Óh Pai!

2 comentários:

Julio Albernaz disse...

Me fez refletir sobre as ocorrências dos ventos doutrinários e do emprego da idolatria de uma forma não muito distante, mas que vale a pena, e muito, em observar com maior riqueza de detalhes como as colocadas por ti.
Obrigado.

Unknown disse...

O texto nos arremete a uma reflexão generalizada e cabal do nosso modo de vida e da igreja como um todo.Pensar que temos pessoas sofrendo com esse mal é tambem nos preocuparmos com nois mesmos e o que temos feito para sermos mais relevantes na igreja de Cristo..

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