"300"

Se o leitor acompanha a TV e o cinema, provavelmente vai ligar esse número a um filme. Já mais de uma vez o cinema imortalizou os famosos 300 de Esparta. Na verdade, trata-se de uma simplificação da batalha das Termópilas, que marcou decisivamente a tentativa do Império Persa de conquistar a Grécia. Leônidas I, um dos reis de Esparta é retratado como o herói por excelência que á frente de apenas 300 homens consegue deter por dias milhões de persas no desfiladeiro que ligava na Grécia central as regiões da Tessália e Beócia.

Há porém outros 300, também ligados a uma batalha, mas que são bem menos conhecidos: os 300 de Gideão ( Juízes 6 e 7).  Sua vitória, apesar de menos celebrada pela História, tem mais lições para nós. Comparemos um pouco esses dois grupos de 300:

1) Heródoto de Helicarnasso, o historiador grego, descreve Leônidas como um herói puro. Criado segundo o rigor da cultura belicosa de Esparta, descendente da famosa dinastia Ágida que existiria desde 930 a.C., se tornou um dos reis no sistema de diarquia espartano após a morte de seu irmão Cleómenes I.
Leônidas é um homem com coragem sobre-humana, estratégia genial, carisma impressionante e teimosia a toda prova.
Já Gideão, era um simples agricultor de uma família sem grande importância na tribo de Manassés (Juízes 6:11-24).  Não era um líder em seu povo, não mostrou ser particularmente corajoso e inclusivamente aparece com claros sinais de falta de ousadia e grande temor precisando de ser convencido por Deus de sua capacidade de vencer.

No entanto, Gideão se torna vitorioso e juiz em Israel ( Juízes 8:22 -35). Não sei quanto ao leitor, mas eu me identifico bem mais com Gideão do que com Leônidas, pois nem sempre somos fortes e corajosos e muitas vezes temos dúvidas, mas esta história de 300 nos diz que mesmo assim podemos ser vitoriosos.

2) Leônidas leva para a batalha a sua guarda pessoal de 300 homens, já que Esparta estava em plena festa da Carnéia em honra de Apolo e na Grécia se festejava as Olimpíadas o que implicava em paralisação das guerras. Gideão não tinha homens à sua disposição. Foram convocados os voluntários e descartados, os medrosos e incompetentes. Sobraram 300 homens com ele, que aceitaram sua direcção e foram vencedores. Poucas vezes teremos à nossa disposição um grupo que aceite nossa liderança, mas nessa história de 300 aprendemos que, com Deus,  sempre é possível encontrarmos gente capaz de nos acompanhar nos desafios da vida.

3) A história imortalizou os 300 de Esparta, mas, na verdade, Leônidas liderou cerca de 7 mil soldados de várias cidades gregas, inclusive várias que deram mais homens que Esparta, como Tebas. Já Gideão liderou mesmo só 300 homens na batalha com Midiã. O mundo gosta de embelezar as coisas e exagerar. Desde o tempo de Leônidas (480 a.c.) que parece que a propaganda conta bastante. Mas nós vivemos no mundo real, sem marketing, sem empolgação, sem propaganda, só a realidade. Na  história bíblica de 300 não é preciso exagerar ou encobrir a verdade para sermos vencedores.

4) Os Espartanos procuraram o Oráculo de Delfos para saber sobre o futuro da batalha. Como sempre, a resposta veio por meio de versos enigmáticos que declararam o óbvio de qualquer batalha: _ um dos dois iria perder. Gideão consulta o Deus de Israel e o faz de modo directo. Faz provas a Deus pedindo coisas aparentemente impossíveis (Juízes 7:1-25). O Senhor responde de forma clara e inequívoca, garantindo-lhe a vitória. Deus não manda versos estranhos ou previsões ocultas. Fala francamente e dá a Gideão a certeza da vitória.

5) Toda a estratégia grega na batalha das Termópilas é baseada na capacidade humana. Primeiro há o conhecimento geográfico do estreito entre as cadeias montanhosas do Eta e do Calídomo que a certa altura só deixavam passar duas carroças lado a lado e que era um local perfeito para a resistência. Depois há todo o treinamento dos soldados gregos; suas armas eram melhores que as dos persas e sua perseverança heróica. Belíssima estratégia humana, mas que termina em derrota e morte.

Gideão usa uma estratégia Divina e com efeitos especiais, auditivos e visuais. Ele conta essencialmente com a ajuda de Deus para ser vencedor. Não deixou de lutar e de usar a sua capacidade e força, mas dependeu de Deus e saiu vencedor.

No fim das contas, a solução humana representada por Leônidas se mostra acessível a muito pouca gente e termina com a morte.  A solução Divina está ao alcance de todos e leva a vitória e louvor. Aprecio a coragem destemida de Esparta e reconheço que ajudaram a Grécia, mas me identifico com as dificuldades de Gideão e me regozijo mais com sua vitória, porque me mostra que está ao nosso alcance. Fiquemos com os 300, não de Esparta, os 300 de Gideão, ou melhor, os 300 do Senhor!

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails

Manual do Corão - Como se formou a Religião Islâmica

Como entender o livro sagrado do Islão?  Origem dos costumes e tradições islâmicas. O que o Corão fala sobre os Cristãos?  Quais são os nomes de Deus? Estudo comparativo entre textos da bíblia e do Corão.  Este manual tem servido de apoio e inspiração para muitos que desejam compreender melhor o Islão e entender a cosmovisão muçulmana. LER MAIS

SONHO DE DEMBA (VERSÃO REVISADA)

Agora podes fazer o download do Conto Africano, com versão revisada pelo autor.
Edição com Letra Gigante para facilitar a leitura do E-Book. http://www.scribd.com/joed_venturini