A turma se espremia numa pequena sala de aula, em carteiras toscas de madeira. O ar quente e seco enchia o ar, enquanto a professora tentava manter a atenção das crianças.
- O que você quer ser quando crescer? perguntou a mestra aos alunos de olhos arregalados.
- Eu quero ter um quarto só meu (disse um menino na ponta)
- Eu quero não morrer ao ter meu primeiro filho (disse uma menina tristemente)
- Quero casar e ter muitos filhos (sorriu uma garota bem na frente)
- Quero ser motorista de candonga (van)! Falou o mais ousado da turma.
E as mãos iam se levantando e enquanto as crianças falavam revelavam uma quase completa falta de ambição. Afinal, o que aquelas crianças no interior de um dos países mais pobres do mundo poderiam aspirar? No seu bairro, a única escola até então era um velho container de alumínio onde se tinham aberto janelas e uma peuqena porta.

O fim do primeiro ano letivo foi dramático, com uma guerra civil estourando na capital e ameaçando toda a leve estabilidade do país. A equipe missionária tinha recebido o acréscimo de Edna Ferreira Dias, mas a certa altura tornou-se impossível continuar. Os obreiros deixaram a escola e o país com o coração apertado. Mas voltaram no ano seguinte e a escola não fechou. Logo as instalações ficaram pequenas demais e outra casa nativa foi usada até que em 2002 passaram para suas próprias instalações construídas com a oferta de um crente fiel no Brasil.
Os anos se passaram. Analita nos deixou porque o Senhor a chamou em 2007 e já goza da glória na presença do Pai. Pr. Joed e Ida Helena tiveram que sair em finais de 2007 para dar seguimento aos estudos dos filhos. Só Edna ficou da equipe inicial. No entanto, a Igreja fundada em 2000 cresceu e hoje tem 150 membros. Os obreiros da terra, treinados pelos missionários, foram assumindo suas responsabilidades e a escola chegou a 700 alunos com classes de jardim de infância a fim de segundo grau.
O ano de 2009 trouxe a festa de formatura da primeira turma que fez toda a escolaridade no Colégio Batista. Eram aqueles alunos que em 97 não tinham grandes ambições. A formatura mobilizou a cidade. Alguns pais ofereceram até vacas para a festa e a comida foi tanta que tiveram que voltar no dia seguinte à festa para terminar de comer tudo. Durante um mês não se falava de outra coisa na cidade. Nunca haviam presenciado uma cerimônia tão bela!
Aquelas crianças que em 97 tinham perspectivas tão limitadas agora eram jovens com novos sonhos. Na capital submeteram-se às provas para a entrada nas faculdades (equivalente ao vestibular no Brasil). E os resultados surpreenderam! Dos 20 formandos da Escola Batista de Bafatá, 98% ingressou na faculdade, sendo metade do sexo feminino (o que é muito raro acontecer na Guiné-Bissau).
A primeira aluna aprovada passou com louvor para Medicina! No total 8 alunos passaram para Medicina, 2 para Economia, 2 para Enfermagem, 1 para Farmácia e 1 para Pedagogia, 1 para informática, 1 para jornalismo, 1 para administração, 1 para Sociologia. Apenas dois alunos não tiveram condições financeiras de estudar na capital, pois só há faculdades em Bissau. Antes da Escola Batista, primando a excelência no ensino, estes alunos do interior simplesmente não teriam condições de competir por essas vagas, pois só os da capital entravam nas faculdades.
Por dois anos seguidos a Associação Islâmica de Bafatá reconheceu o trabalho da Escola Batista entregando-lhe um prêmio de excelência pela sua contribuição para o desenvolvimento da região, mas o melhor ainda estava por vir.
Nesse momento estão sendo desenvolvidos vários projetos empreendedores na Escola Batista, que conta com 692 alunos do jardim ao 11º ano, entre os quais a implantação de Pepes nas aldeias, apoio às escolas filiadas, campeonatos desportivos e sonha-se até mesmo com uma Faculdade Batista!
A Escola Batista recriou os sonhos, abriu as fronteiras das possibilidades, deu vida a uma região empobrecida e esperança para inúmeras famílias que não encontravam perspectivas para o futuro de seus filhos. Afinal, o evangelho é isso! Possibilitar nova vida, nova dignidade para o homem, nova visão do futuro.
A Escola da Missão Batista é hoje referência nacional sob a direção do Professor Demba Canté e da missionária Edna Dias. E continuará crescendo mais ainda com o apoio da missionária pedagoga Adriana Justino, que se juntou à equipe em setembro de 2009.
A Obra de Missões é também isso!
Soli Deo Glória.
(artigo baseado em depoimento de nossa amiga e colega Edna Ferreira Dias)