Sonhos Reveladores - II parte

Joed Venturini de Souza

Os Sonhos e o Missionário

Pensando no contexto pessoal, cremos que os missionários deveriam estar mais atentos à possibilidade do Senhor se comunicar através de sonhos. Temos visto muitas situações tristes e mesmo acontecimentos dramáticos que poderiam ter sido evitados se os obreiros tivessem valorizado mais seus sonhos. Com isto não queremos dizer que vamos partir para uma interpretação precipitada de tudo que sonhamos. Estamos falando daqueles sonhos especiais, marcantes, que confirmam situações que estamos vivendo e que após oração e busca da palavra percebemos serem recados do Senhor. Bênçãos podem ser obtidas e lutas evitadas se estivermos mais atentos ao Senhor.

Na realidade familiar, as crianças são particularmente sensíveis a sonhos, mais especificamente pesadelos e é responsabilidade dos pais protegerem seus filhos. Evitar que vejam cenas de filmes pouco apropriados é imperativo. Filmes de terror, filmes com violência gratuita ou que envolvem bruxarias.

É preciso ter também a percepção de que, no contexto missionário, a guerra espiritual pode afetar as crianças. São os missionários que devem manter vigilância sobre os sonhos de seus filhos. Devem ensiná-los a resistir aos sonhos malignos e orar por proteção a cada noite, assumindo autoridade no Senhor sobre seu descanso.

Em nosso primeiro ano na Guiné, nosso filho de dois anos foi atormentado por pesadelos terríveis. Tendo sido anteriormente uma criança que dormia bem, passou a acordar apavorado, gritando assustadoramente. Foi somente quando fizemos um período de louvor e adoração em seu quarto e passamos a orar especificamente por seu sono que esses pesadelos o deixaram. Ele mesmo aprendeu a orar especificamente pelos seus sonhos e rogar a proteção do senhor para uma noite tranquila. Lembremos que o inimigo é mau e covarde e nossas crianças podem ser seu alvo.


Os Sonhos e o Ministério

Quanto à área ministerial devemos considerar duas possibilidades. Aqueles que ainda não se converteram e os já convertidos. Muitos são os relatos sobre visões e sonhos que o Senhor tem dado a muçulmanos para a conversão. Em nossa igreja, no leste da Guiné Bissau, de maioria muçulmana, dos vinte primeiros convertidos dois vieram por meio de sonhos muito especiais. Isso representa 10%. Será representativo? Não posso afirmá-lo, mas ao dialogar com outros missionários entre muçulmanos vejo que o Senhor tem usado esse meio para falar aos corações no mundo islâmico. Concordo com o professor O'Donovan (1994:268) quando escreve que:

“Em certas circunstâncias hoje em dia, Deus ainda pode usar métodos mais incomuns de direção... esses métodos podem ser sonhos, visões, e situações especiais que envolvem a intervenção direta de anjos. É mais provavel que Deus use esses métodos quando a Biblia não esta disponivel, como entre pessoas que não sabem ler”

Nesses casos o missionário deve estar preparado para, com humildade, receber do Senhor, a ajuda necessária para guiar essa pessoa e, em oração, lhe mostrar o sentido evangelistico de seus sonhos. Em meio a muçulmanos, esse pode ser um acontecimento marcante que leve a conversões genuínas e ao testemunho forte.

Foi o que aconteceu com o homem do qual falamos no início deste artigo. Oramos pedindo direção ao Senhor após o que ele relatou seu sonho e a interpretação noas pareceu óbvia. Naquele dia ele se ajoelhou conosco entregando a vida a Jesus e tem se mantido fiel até hoje. Portanto, não desprezemos o que o Senhor está fazendo.

No que toca àqueles que já se converteram, devemos considerar também duas possibilidades. Por um lado, o individuo que veio de um meio onde o misticismo é muito forte e o inimigo pode se aproveitar disso. O novo convertido deve ser instruído a resistir aos sonhos malignos e a interpretar tudo de acordo com a palavra de Deus, para não ser enganado e levado a praticar rituais ou sacrifícios influenciados por sonhos malignos.

Em certa ocasião, um novo convertido nos procurou por causa de um sonho repetitivo com seu falecido pai. No sonho o pai lhe exigia certas cerimônias. O irmão tinha prometido ao pai fazer as cerimônias enquanto este ainda vivia. No entanto, se convertera e deixara de lado essas práticas. O sonho recorrente, porém, trazia confusão e ele se sentia inclinado a obedece-lo.
Nós procuramos valorizar seu sonho, mas mostramos que se tratava de um engodo do inimigo para desviá-lo de Deus e levá-lo a realizar atos contrários à Bíblia.

O outro lado dessa situação é quando o crente sente que seus sonhos são de orientação divina. Nesse caso devemos basear todas as decisões na Bíblia. Não desejamos que os crentes vivam a vida cristã somente baseada em impressões subjetivas. A Palavra é o crivo dessas situações, já que o Senhor não vai dar orientação contrária à sua revelação escrita.

Nesses casos, o crente deve orar e ler sua Biblia no sentido de buscar uma confirmação clara de Deus. Em outra ocasião, um irmão de nossa igreja entendeu, por um sonho, que o Senhor desejava que ele abrisse um ponto de pregação no quartel local, através do oferecimento de aulas de alfabetização. O projeto foi levado em oração e uma vez executado teve muito sucesso, já que não levantava nenhuma objeção bíblica.

Concluímos então que os sonhos são parte importante da vida diária de muçulmanos na África e também deveria ser uma parte relevante de nossa vida. Não devem ser desprezados e nem supervalorizados, mas interpretados com discernimento do Espírito, reconhecendo que podem ser de Deus e podem servir de orientação, desde que estejam dentro daquilo que é estabelecido pela Palavra de Deus.

Bibliografia Referida

BÂ, Amadou Hampatê . Contes Initiatiques Peuls. Stock, Paris: 1994.
FORD, Clyde W. The Hero with an African Face – Mythic Wisdom of Traditional Africa. Bantana Books, New York: 1999.
GEERTZ, Clifford. Observando o Islã. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro:2004.
LIDÖRIO, Ronaldo. Comunicação Missionária – Comparando a Cultura Ocidental com a Cosmovisão Konkomba. Junta de Missões Estrangeiras - IPB, São Paulo: 1998.
MBITI, John S. African Religion and Philosophy. Anchor Books, New York: 1969.
_____________ Concepts of God in Africa. SPCK, London: 1970.
MUSK, Bill. The Unseen Face of Islam: Sharing the Gospel with ordinary Muslim. MARC, East Sussex: 1989.
O'DONOVAN, Wilbur. O Cristianismo Bíblico da Perspectiva Africana. Tradução: Hans Udo Fuchs, 1999.
SANNEH, Lamin. West African Christianity – The Religious Impact - Orbis Books, New York: 1983.
VAN DER MEER, Antônia Leonora. Ética Bíblica no Contexto Africano. Publicações Didaque, Luanda:1995 .

3 comentários:

HeriSt@neck disse...

Somente a realização de um sonho de Deus pode trazer alegria verdadeira ao coração de um adorador, como você.
A Bíblia nos relata que José ousou receber de Deus os sonhos que seriam as diretrizes de toda a sua vida e, por eles, se dispôs a pagar um alto preço. (Gn 37.5)
Devemos estar "dispostos" ao que Deus pode fazer, inclusive através dos sonhos.

Anônimo disse...

Uma visão equilibrada e relevante não só para o contexto dos mulçumanos. Este ano na PIBN ouvi um testemunho dado por uma médica brasileira, com mestrado na Inglaterra e Católica de criação, sobre como Deus usou de sonhos para levá-la ao conhecimento de Jesus como seu salvador pessoal. No início achei estranho ouvir alguém falar de sonhos que antecederam uma conversão, mas ficou claro que se tratava de sonhos especiais e coerentes com fatos que ocorreram na vida dela.

Leonardo Martins disse...

Diante de tantas doutrinas profetizantes e revelacionistas nós muitas vezes, evitamos os sinais de Deus. Ficou claro no artigo que não se deve superestimar os sonhos nem subestimar o poder de Deus de agir através deles.
Mesmo ao ímpio Deus fala de forma clara como no caso da mulher de Pilatos a respeito de Jesus “Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele.” (Mt. 27.19b).
Tão ruim como não levar em conta qualquer sonho como sendo do Senhor, é não levar em conta nenhum como sendo de Deus. Sim, a Bíblia é nossa única regra de fé e prática.

Parabéns pelo belo artigo.

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