Atualmente, vivemos num mundo de escolhas múltiplas. Há sempre duas ou mais opções a fazer. Quando se fala sobre uma vida de riscos também há opiniões diferentes. Há aqueles que nos dizem que não é possível viver realmente sem correr riscos. Há outros que dirão que a vida é exatamente uma longa caminhada em que procuramos evitar todos os riscos possíveis. E há as empresas de seguros que se oferecem para nos compensar pelos riscos vividos.
Ser um missionário cristão é viver em paradoxo e transitar em meio a riscos, mas benditos são os riscos que nos aproximam do Senhor. Muito mais arriscado seria correr o risco de nunca O conhecer.
Jesus foi uma daqueles que não temia arriscar. Em sua vida e ministério, Ele fez várias opções que nos deixam perplexos e se revelaram bastante arriscadas. Pensemos nas mais evidentes.
Jesus veio ao mundo abdicando de uma demonstração de poder absoluto como poderíamos esperar do Todo Poderoso criador do universo. Ele veio como um bebê, dependente em tudo de sua mãe. Desde esse momento e ao longo de toda a sua vida, Ele viria a demonstrar uma clara opção pelo caminho do amor. Jesus se recusaria a ganhar os corações através da força, do poder ou do medo. Resistiu às tentações satânicas de andar pelos atalhos da fama e das manifestações maravilhosas para trilhar o caminho da conquista pelo amor. Ao fazê-lo, o mestre correu o tremendo risco de ser rejeitado.
Nossa visão de Deus não aceita facilmente um Deus rejeitável. Teríamos preferido ver mais aparato, mais fogos de artifício, mais músculos. Na verdade, nos identificamos com os judeus que esperavam um messias militar, um conquistador armado, um líder irresistível.
Mas Jesus não foi e não é irresistível. Ele optou pelo amor e este não pode ser forçado, tem que ser doado voluntáriamente. Uma das características mais conhecidas do amor é justamente a possibilidade de ser negado. Durante a vida de Jesus no mundo muitos o rejeitaram e ainda hoje multidões ouvem sua mensagem e tornam as costas. Foi o risco que Ele correu ao optar pelo amor.
Jesus escolheu um ministério que incluía uma grande ênfase social. Os rabis de seu tempo eram essencialmente professores. Jesus era mais que isso, curava os enfermos, expulsava demônios e alimentava multidões. Nunca pareceu confiar que isso fosse resultar em muitas conversões, pois não se deixava enganar pelos entusiasmos passageiros da multidão.
Apesar disso continuou curando, aliviando o sofrimento e alimentando o povo. Ao fazer tal escolha o mestre correu o risco de ver pouco retorno de seus investimentos. Afinal, Ele gastou tanto tempo em curas, exorcismos e atendimentos à multidão, e esta no fim gritou: Crucifica-o!” Para nossas mentes modernas isso parece pouco lucro para tanto investimento.
No Getsemani, Jesus confirmou sua decisão pela cruz porque na verdade não havia outro caminho para a salvação da humanidade. Por mais que a idéia do calvário o atormentasse, Ele avançou para a cruz convicto de que era essa a vontade do Pai. Já avisara seus discípulos que esse seria seu destino, que para isso viera ao mundo. Diante de tantas outras possibilidades que se abriram em seu ministério, Jesus morreu como um criminoso e ao fazê-lo correu o tremendo risco de ser considerado um perdedor.
Ele morreu abandonado, sozinho e vilipendiado por seus acusadores e pela multidão que o aclamara 5 dias antes. Em qualquer avaliação racional foi um enorme fracasso. Tanto talento desperdiçado! Uma vida tão rica, uma mente tão brilhante, um carisma tão especial, morto aos 33 anos de idade como um pária da sociedade.
Depois Jesus ressuscitou, para provar que suas reinvindicações eram reais. Ele era realmente quem dizia ser. Era o Filho de Deus. Era Deus feito homem e vivendo entre nós. Mas, por que não apareceu ao sinédrio? Por que não fez uma visitinha a Pilatos ou a César? Por que o maior milagre de todos, a definitiva prova de sua divindade, foi presenciada apenas por uns poucos e simples seguidores? Por que Ele ascendeu aos céus logo depois? Não poderia ter ministrado até aos 50 ou 70 anos?
Essas perguntas, mais uma vez, trazem dificuldade à nossa capacidade de raciocínio lógico e nos mostram o quanto a fé cristã está longe da razão humana. Jesus ressuscitou, mas logo ascendeu, e ao fazê-lo, nas palavras de Philip Yancey, correu “o terrível risco de ser esquecido”. Deixou o ministério nas mãos de um grupo de pescadores fujões que menos de dois meses antes tinham desertado. Ele deixou a responsabilidade do surgimento da Igreja sobre os ombros dos discípulos, e ao fazê-lo, correu o terrível risco de que falhassem.
Os riscos de Jesus foram especiais porque Ele era especial. Deus sabia que eram riscos necessários. A situação se torna mais complicada quando lembramos que o mestre disse: “Assim como o Pai me enviou, eu vos envio a vós”. Os primeiros discípulos e todos os missionários ao longo da história e em nossos dias aprenderam, por vezes de forma bastante dura, que os riscos que Jesus correu em seu ministério são os que precisamos correr hoje.
Os riscos de Jesus foram especiais porque Ele era especial. Deus sabia que eram riscos necessários. A situação se torna mais complicada quando lembramos que o mestre disse: “Assim como o Pai me enviou, eu vos envio a vós”. Os primeiros discípulos e todos os missionários ao longo da história e em nossos dias aprenderam, por vezes de forma bastante dura, que os riscos que Jesus correu em seu ministério são os que precisamos correr hoje.
Jesus fez a opção pelo caminho do amor. Os missionários também são chamados a fazê-lo e por isso ficam vulneráveis. Sonhamos em ser missionários poderosos, que entram em choque com as trevas, vencendo triunfalmente o mal e salvando etnias inteiras de uma vez, para descobrirmos que lutamos para aprender a fazer as compras diárias numa língua estranha. Somos chamados à encarnação em culturas diferentes das nossas e nos sentimos crianças incapazes de entender os gestos mais simples ou as palavras mais fáceis.
Não é em poder sobrenatural e manifestações vistosas que fomos chamados a ministrar, mas em fraqueza, debilidade, vulnerabilidade. E vivendo em amor, entre povos esquecidos, corremos o risco de sermos rejeitados. Experimentamos, muitas vezes, a ingratidão e traição, além da falta de compreensão. Ouvimos histórias de missionários que deram suas vidas inteiras ministrando para depois serem expulsos, presos, torturados e até mortos. O padrão é conhecido? Sim! Foi o risco que o salvador correu, e que todos os missionários precisarão seguir.
Jesus ministrou socialmente e os missionários são chamados a fazê-lo também. Milhares de obreiros têm gastado suas vidas em escolas, hospitais, orfanatos, dispensários e clínicas apenas para descobrir que correm o mesmo risco que Jesus correu. O risco de verem pouco retorno para seu investimento.
Mas Jesus não ajudou o próximo com intuitos propagandistas. Ele não era proselitista e nunca deixou de fazer o bem porque o retorno era pequeno. Ele ajudava porque era assim sua natureza. O missionário ajuda, cura, trata, alimenta, ensina, auxilia, liberta, porque essa é a essência da vida cristã: o amor a Deus que se manifesta de forma prática em amor ao próximo. Mesmo que haja o risco do baixo retorno, o missionário continua sendo bênção.
Jesus escolheu a cruz e o risco de ser considerado um perdedor e cada missionário que vai para o Campo sabe o que é isso. Quantas carreiras brilhantes deixadas para trás, quantas habilidades artísticas esquecidas, quantos títulos e cursos superiores “enterrados” em áreas remotas, quantos milhões de dólares em salários preteridos. Missões é, por excelência, um “perder a vida” na visão do mundo.
O missionário corre o risco de ser considerado um perdedor pelos que só valorizam o status, a fama e as realizações visíveis. Trabalhando para um Reino que não é deste mundo, o obreiro não tem muito a mostrar aqui na terra, mas acumula tesouros no céu. Sim, correm o risco de serem chamados de perdedores, mas seguem os passos do Mestre.
Jesus subiu ao céu deixando a responsabilidade da Missão com seus discípulos. Correu o risco de ser esquecido e de que seus seguidores falhassem. Os missionários também correm esse risco. Ao treinarem os obreiros da terra, ao passarem o bastão da liderança, e enfim, ao voltarem às suas terras, cansados e entrados em anos, correm o risco de serem esquecidos. Esquecidos pelos de sua terra que se acostumaram a ouvir falar dos obreiros como personagens distantes de um conto meio irreal.
Os missionários regressados são peças raras e, na maioria das vezes, não se sabe onde recolocá-los. Foram esquecidos em sua terra. E esquecidos serão em seu país de adoção, pois o coração humano é pouco propenso à gratidão e esquece com uma rapidez desconcertante.
Assim como Jesus, os missionários correm o risco de que seus discípulos falhem. Os obreiros da terra que foram treinados poderão dar conta do recado? Conseguirão levar o trabalho adiante? A igreja nascente, frágil e pequena, sobreviverá? São essas as angústias que o missionário leva em seu coração e fazem parte do risco de passar adiante. Foi um risco que Jesus correu. Os missionários são chamados a corrê-lo também.
No entanto, nossa meditação não acaba aqui. O tom final tem que ser necessariamente positivo, pois, se os missionários correm o risco de serem rejeitados pelos homens, podem ter a certeza do amor maravilhoso e da graça eterna de nosso salvador.
Se correm o risco de verem pouco retorno terrestre de suas labutas, podem ter a convicção de que o justo galardão os espera no céu e que ainda nesta vida, a providência divina não faltará.
Se correm o risco de serem chamados de perdedores por um mundo calculista, sabem com garantia que para o Pai são filhos queridos e um novo nome celestial os aguarda.
Se correm o risco de serem esquecidos por seus compatriotas e companheiros aqui na terra, têm como seguro que nosso Senhor nunca os deixa e um dia ouvirão de seus lábios : “Bem está servo bom e fiel... entra no gozo de teu Senhor”.
Ser um missionário cristão é viver em paradoxo e transitar em meio a riscos, mas benditos são os riscos que nos aproximam do Senhor. Muito mais arriscado seria correr o risco de nunca O conhecer.
Um comentário:
Muito edificada !!!!
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