Foi George Ritzer que criou o termo MacDonaldização num livro em que investigou o caráter mutante da vida social contemporânea. Segundo Ritzer os princípios da indústria de fast food têm tomado conta da vida social moderna e influenciado áreas como os cuidados de saúde, o ensino e o divertimento. Ritzer distinguiu 4 princípios básicos nessa indústria: eficiência, calculabilidade, previsibillidade e controle.
Não é preciso muito esforço para verificar que o investigador captou bem essa faceta da realidade. Nossa sociedade se retrai cada vez mais num mundo em que se oferece conexões rápidas (na internet), amizades a varejo (na internet) e cada vez menos espaço para a criatividade, a espontaneidade, a vida... O mais triste disso tudo é que o homem não parece perceber que está sendo guiado para o abismo. Vivemos bombardeados por uma mídia que nos diz o que vestir, o que comer, onde passar nosso tempo, onde gastar nosso dinheiro. Somos ensinados sobre o que é felicidade, o que é realização e tentam nos convencer de que sabem do que estão falando. No entretanto a maior doença deste inicio de século é a depressão.
Mas essa MacDonaldização tem chegado à igreja também. Em qualquer livraria evangélica ou na internet (cada vez mais onipresente) podemos encontrar manuais de como tornar nossa igreja eficaz, como calcular a melhor estratégia de crescimento, como controlar as atividades, como organizar programas e eventos para ser mais bem sucedidos. Gurus de vários tipos nos ensinam de acordo com o melhor das ciências sociais atuais o que deve ser a igreja. Pelo passo atual acredito que em breve teremos uma igreja a funcionar no facebook... Pensemos um pouco nas facetas sugeridas por Ritzer no contexto da Igreja de Jesus:
1) Eficiência
Esta é daquelas qualidades que aparentemente não têm discussão. É necessariamente boa. Devemos ser eficientes, afinal a vida o exige. Ninguém gosta de ser considerado incompetente ou ineficiente. Mas eficiência é a capacidade de produzir realmente um efeito e aqui as coisas podem mudar de figura na igreja. Temos realmente desenvolvido a capacidade de causar efeito em nossas igrejas e em nossos cultos. Mas que tipo de efeito? Efeito duradouro? Efeito espiritual que reverte em vida? Ou será efeito carnal, na força do homem, que pode impressionar mas não dura e não frutifica espiritualmente.
Há muitas instituições humanamente eficientes. Fazer as coisas benfeitas é uma exigência da vida cristã e de nosso temor a Deus. Mas eficiência cheira também a controle, domínio absoluto do método de produção que é o que se exige na indústria moderna e no fast-food e isso nunca poderá acontecer na igreja porque ela é uma comunidade do espírito e não há como dominar as linhas de produção nessa área. Realmente devemos desejar efeitos na igreja e sobretudo efeitos que mudem vidas, que alcancem a alma e o espírito, mas esses dificilmente se produzirão em massa e sob encomenda. Dependem do Senhor.
2) Calculabilidade
A indústria exige cálculos. Tudo tem que poder ser resumido a uma tabela de Excel, mas na vida, e na igreja, as coisas que realmente contam não se medem. Como calcular a espiritualidade de um culto, a maturidade de um crente, o amor de um evangelista, a caridade de um obreiro social, a fé de uma oração, a dedicação de um professor de EBD, a profundidade de um sermão, a esperança de uma intercessão ou o dom de um irmão?
Podemos avaliar pelos frutos segundo Jesus nos ensinou, mas reduzir tudo a uma tabela simplesmente não funciona na vida e tira a beleza, o mistério, a maravilha que todos desejamos ver e experimentar na vida. O homem foi criado para coisas tão profundas que nem ele entende, nem pode explicar, mas que anseia e busca toda a vida. Como reduzi-las a mera matemática? Não dá e não é necessário.
3) Previsibilidade
Novamente o controle em ação. A indústria quer poder prever o que virá. Não se ajusta bem a urgências, a imprevistos. O homem moderno vai perdendo a capacidade de lidar com coisas realmente novas e classifica todos os que não se ajustam com alguma alteração psicológica. No entanto, quando alguém sai dos trilhos e é bem sucedido concluímos que era um génio. Há certamente incongruência nessa avaliação.
A vida na Igreja precisa ser vivida na direção do Espírito Santo, no desenvolvimento de dons e ministérios, e isso tudo é marcado pela espontaneidade e criatividade. É por isso que a Igreja não sai de uma linha de produção, não é fotocópia de outra matriz, é vida que acontece de modo diferente em cada lugar. Essa é parte da maravilha da Igreja. Não tem que ser igual a outra, não tem que se limitar ou restringir ao que outras fazem ou planejam. Mantendo a essência dos princípios bíblicos (adoração, comunhão, ensino, evangelização e serviço) a igreja local tem liberdade para escolher as formas que melhor se adaptam a sua realidade e sobretudo aos dons e ministérios que o Senhor lhe deu.
Isso não quer dizer que as coisas na igreja aconteçam de qualquer maneira ou sem preparação, mas que a Igreja verdadeira não pode ser previsível, não cabe em planeamentos fechados, não sobrevive em organogramas rígidos.
4) Controle
Tudo parece se concentrar aqui. O homem moderno tem paixão pelo controle. Quer saber antecipadamente, quer dominar tudo. Essa tendência se tornou uma verdadeira necessidade, mas é muito antiga, na verdade começou no Éden. A origem do pecado tinha a ver também com o desejo do controle, com uma fuga ao controle Divino, uma falta de confiança no amor perfeito de Deus e uma busca por tomar o próprio destino nas mãos. Na construção da Torre de babel o princípio era o mesmo. Vamos construir para controlar.
Hoje, vemos esse princípio entronizado em filmes e livros. O homem que toma as rédeas da situação é elogiado, é colocado na ribalta. Mas se olharmos bem para a situação do planeta facilmente chegaremos a conclusão dos verdadeiros resultados de toda essa fome de controlo da humanidade. Nunca dominamos tanto a natureza como agora, nunca pudemos antecipar e prevenir tanto como agora e no entanto nunca o planeta correu tantos riscos e a humanidade no seu geral viveu tão mal. Temos luxo, glamour e abundância ao lado de miséria, fome e degradação, tudo a um quarteirão de distância. Belo trabalho!
A salvação oferecida em Jesus nos liberta entre outras coisas de nós mesmos. Descobrimos em Cristo que o aparente controle de nosso destino é, na verdade, escravidão, fardo, depressão e que o entregar a ELE a vida em submissão amorosa é, na verdade, Liberdade, Alegria, Fôlego de vida. Parece contradição, como tantas outras coisas na vida Cristã, mas é a mais pura verdade! O controlo nos oprime, pesa sobre nós. A entrega nos liberta, nos deixa leves para viver. Podemos tomar emprestada de Jesus a metáfora das crianças. Os pequeninos não controlam, dependem dos pais para tudo, não se preocupam com o que vão comer, vestir ou como se deslocarão e no entanto com toda sua falta de controlo são felizes. As crianças se alegram com pouco, celebram a vida pulando a cada esquina. À medida que crescemos e vamos aprendendo a controlar e nos tornando responsáveis por nós mesmos, mais o peso da vida aumenta e lá se vai a alegria simples dos infantes. Por isso também Jesus disse que para entrar no Reino dos Céus temos que ser como meninos.
Conclusão:
Creio que tudo que falamos pode ser resumido assim: A vida cristã e a vida na Igreja precisam ser vividas na liberdade do Espírito, que é caracterizada por espontaneidade e criatividade. É Jesus a cabeça. É o Senhor que controla e só ELE está habilitado para tal. No momento em que quisermos fazer da Igreja uma estrutura "à la Macdonald" perderemos toda a VIDA do Espírito. Aprendamos a viver na liberdade maravilhosa que é deixar o controlo nas mãos de quem realmente pode controlar - nosso Deus.
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2 comentários:
Parabéns Joed. Sensacional!
Esta é a realidade da sociedade moderna que é refletida nas igrejas das grandes metrópoles - a igreja tem essa característica urbana. Dizem que é na cidade que tudo acontece? O problema é que existem guetos, condomínios murados, ilhas de vida aparentemente controlada dando a impressão de segurança . Todo esse controle vem com um preço. A falta de espontaneidade que você fala no texto, falta de mobilidade por estarmos cada vez mais fechados em nossos mundos - físico e virtual. Essa dieta fast food dá prazer imediato mas deixa as pessoas obesas. Somos o reflexo do que consumimos, seja em forma de alimento ou do que vemos na mídia, em mensagens repetidas incessantemente ao ponto de exaustão. Ter consciência disso é um grande passo, ou pelo menos um começo para saber escolher melhor como queremos viver as nossas vidas, onde Deus seja o centro.
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