Eu, Fariseu...

Se eu vivesse nos tempos de Jesus, primeiro século, na Judeia, provavelmente seria fariseu. Digo isso com plena consciência de que a palavra fariseu hoje é conotada com hipocrisia e fingimento. Mas nem sempre foi assim. Nos tempos de Cristo era um movimento altamente respeitado e seus integrantes eram considerados os homens mais espirituais da sua época. Analisando os confrontos de Jesus com eles, vejo as suas características aparecerem, e entendo então o porquê de me identificar com o movimento:

1) ERAM PURITANOS. O movimento nasceu de uma reação contra o mundanismo da ocasião caracterizado pela helenização da cultura judaica. Os fariseus se levantavam contra isso incitando a uma volta as escrituras, a fidelidade a Deus, a separação do pecado (pecado = gentio). Eram assim os puros, os separados, Diante da tristeza que é a conduta moral de nossos tempos eu me idêntico com eles. Seria fariseu.
2) ERAM LEGALISTAS. E com isso quero dizer que gostavam de fórmulas e regras. As leis trazem limites e os limites podem trazer segurança. Além disso são uma forma prática e visual de quantificar o que não se vê, de quantificar o espiritual. Deus é Espírito, logo invisível. O valor espiritual também. Como saber se alguém é ou não cumpridor? Como avaliar um crente? Pelo legalismo é possível. Cumpriu? É bom! Falhou? Não presta. Eu me sinto bem com fórmulas. Elas me dão um senso de controle e me ajudam a saber onde estou. Seria fariseu.

3)LIDAVAM COM AS APARÊNCIAS. Se preocupavam com o que se podia ver. Para eles contava o vestuário, as cerimónias, o estar nos lugares certos, o ser bem avaliado pela multidão. Se formos sinceros creio que todos ligamos ao visual. Por isso compramos tanta roupa, por isso gastamos tempo no espelho. Se for sincero terei que reconhecer que também me preocupo com isso. Seria fariseu.

4) MANIPULAVAM AS ESCRITURAS. Os fariseus estudavam a escritura a minúcia. Com isso descortinavam os textos que serviam para seus interesses. Eram mestres em torcer a interpretação e manipular a Palavra conforme seus desejos e formas de ver e agir. Se for sincero terei que reconhecer que também gosto mais dos textos que me favorecem. Também aprecio os textos que falam de bênção, prosperidade, saúde, galardão. Procuro não manipular a palavra, mas dou ênfase no que me agrada. Prefiro ler o que é favorável. Seria fariseu.

Tendo reconhecido minhas tendências não posso deixar de me sentir acompanhado por boa parte do mundo evangélico actual. Mas, mais importante que isso, tendo reconhecido minhas tendências preciso ver o que Jesus dizia sobre tudo isso.

1) VERDADEIRA ESPIRITUALIDADE. Jesus não era contra o puritanismo ou a procura de santidade, mas ensinou-nos que a verdadeira espiritualidade se nota é na convivência com outros, no serviço amoroso e altruísta. Um puritanismo que incentiva a retracção, o isolamento, o êxtase solitário não interessava a Jesus. O verdadeiro santo só se conhece é no meio dos pecadores.

2) DEPENDÊNCIA DO PAI.  O legalismo e as fórmulas colocam o controle nas mãos vacilantes e tortuosas dos homens. Jesus nos chama a uma dependência completa do Pai. A vida do Espírito não se faz por meio da força da carne. As obras do Espírito não se produzem por esforço pessoal. Tenho que aprender a entregar, a depender por mais que isso me custe.

3) PARA DEUS, O QUE CONTA É O INTERIOR. Uma das maiores batalhas de Jesus foi contra as aparências. ELE sabia que para Deus o exterior conta quase nada. Deus vê e avalia o coração, a intenção, o desejo. Para Deus de nada serve uma aparência de espiritualidade maculada por intenções vãs e egoístas ou orgulho profano. Preciso aprender a trabalhar meu coração mais que meu exterior porque é o coração que aparece quando Deus olha.

4) A PALAVRA DO SENHOR NÃO PODE SER MANIPULADA A SEU BEL-PRAZER.. Tem que ser seguida de acordo com a orientação do próprio Pai. Não posso seleccionar o que me agrada e descartar o que não me facilita a vida. Tenho que amar e aceitar e seguir a Bíblia como um todo e isso implicará em aprender a viver conceitos e princípios que muitas vezes serão difíceis e contraditórios para mim. Afinal o SENHOR é ELE não eu.

Reconheci no começo desta meditação que, se vivesse nos tempos de Jesus, teria forte tendência para ser fariseu. Mas vivo em 2010 e conheço a Palavra. Amo ao Senhor Jesus e a sua mensagem, por isso desejo de coração renegar os conceitos fariseus e ser um digno discípulo de Cristo, um verdadeiro Cristão.

3 comentários:

Ida disse...

Sempre pensamos que a palavra fariseu era sinônimo de hipocrisia, mas, na verdade, eles eram respeitados e considerados muito espirituais. Tenho medo de certos crentes que se esforçam demais para parecerem muito espirituais. Nunca sorriem, cabeça baixa e voz fraquinha, aparentando muita mansidão. Infelizmente, na maioria das vezes, basta levantar um pouco a máscara para ver que não é bem assim. Buscar e manter a coerência é o maior desafio do cristão.
Ida Venturini

Raquel Henriques disse...

Já tinha pensado nisso... quantos de nós mereciam as mesmas palavras que Jesus diversas vezes disse a fariseus??? Na maior parte do tempo acho que não somos muito melhores que eles... Ainda assim, já é bom ter essa consciência, pelo menos é um princípio!

Liana disse...

Interessante, já me senti um fariseu... isso foi ruim demais mas importante para a reflexão final: "Amo ao Senhor Jesus e a sua mensagem, por isso desejo de coração renegar os conceitos fariseus e ser um digno discípulo de Cristo, um verdadeiro Cristão."

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