Aprendendo com os mais experientes!
Pr. Silva (nome ficticio) serviu em missões por mais de duas décadas. Trabalhou em vários campos com excelentes resultados. Plantou igrejas, dirigiu trabalhos sociais, deu aulas em institutos biblicos, ganhou e discipulou muitas dezenas de convertidos. Agora está de volta à casa, aposentado e esquecido. Seus dias são passados em leituras diversas e programas de TV sem graça. De vez em quando prega em alguma igreja. Sonha muito com seu tempo na ativa e vive apertado com a aposentadoria. É um exemplo do que acontece com missionários em fim de carreira, um misto de ingratidão e desperdicio. Ingratidão pelo muito que ele fez, desperdicio do muito que ainda poderia fazer.
Os missionários regressados (não uso o termo ex-missionário, porque isso não existe) têm sido uma dificuldade na realidade das missões brasileiras. Não sabemos o que fazer com eles. Enviamos muitos missionários e começamos a ter muitos missionários aposentados em fim de carreira. O que fazer com eles? Defendo que esses servos de Deus são uma força extraordinária que temos desperdiçado. Sugiro algumas das áreas onde eles deveriam ser aproveitados.
Promoção Missionária
Com o crescimento da obra de missões no Brasil mais e mais igrejas tem se inclinado para a responsabilidade missionária. Na hora dos programs de missões e dos cultos especiais e congressos o problema é sempre o mesmo. Quem vai falar? Não há missionários de férias que cheguem para todas as igrejas. Não há dinheiro para trazer os missionários do campo para promoção. No fim, as igrejas grandes levam os poucos palestrantes disponiveis e as igrejas menos grandes tem que se contentar com noticias de segunda e terceira mão.
Os obreiros aposentados podem ser grande benção nessa área. As igrejas valorizam o testemunho de primeira mão. É evidente que fala muito mais alto a palavra de quem esteve lá, quem fez a obra, quem pode falar na primeira pessoa. Os missionários aposentados poderiam ser fonte de muita inspiração nessas ocasiões. São histórias e testemunhos incriveis que se perdem. Por vezes o missionário está ali sentado no auditório enquanto a igreja tem que se contentar com um filme ou um power point. O Espirito Santo usa homens e mulheres, não tecnologia. Temos muitos desses homens e mulheres disponiveis para a promoção missionária que deveriam ser aproveitados. Todos sairiam lucrando, a igreja, as organizações missionárias e o próprio obreiro que se sentiria valorizado.
Se desejamos enviar mais obreiros aos campos deveriamos prepara-los melhor. Para isso precisamos que nossos seminários e escolas separem mais tempo para as matérias missionárias. Aqui novamente entrariam os missionários aposentados com grande mérito. Quem melhor para falar e ensinar de missões que o missionário que fez o trabalho bem feito e viveu na prática as realidades do campo?
A missiologia tem crescido bastante. Temos professores excelentes no Brasil, mas são poucos. Por outro lado nada substitui a prática. Se os nossos obreiros aposentados tivessem mais oportunidades poderiam trabalhar um pouco os principios teóricos da missão aliados à sua experiencia prática e seriam uma benção enorme. Os alunos apreciam muito mais as histórias e as lições de quem fez do que a simples teoria. Para alguém que se prepara para o campo vale muito poder perguntar: Como foi em seu trabalho? Como lidou com esta questão? Como resolveu este dilema?
Nossas escolas deveriam valorizar todo esse rico material humano. Por vezes nos concentramos demasiado em titulos e formações academicas. Muitos de nossos obreiros aposentados podem não ter titulos e cursos de missões, mas o que aprenderam e viveram vale mais que muitas mestrados e deveriam ser usados para a formação de nossos missionários e a glória de DEus. Novamente muitos sairiam lucrando: as organizações missionárias teriam novos obreiros com melhor formação, as escolas teriam excelentes professores da prática missionária, os alunos aprenderiam pela vivência e os obreiros sentiriam a alegria de continuar sendo benção.
Aconselhamento de liderança
No mundo secular, quando um administrador ou profissional de qualidade se aposenta é muitas vezes aproveitado para consultoria. As empresas sabem que não podem desperdiçar todo esse saber. Os novos administradores e lideres podem aproveitar muito dos conselhos desses veteranos que já passaram por situações as mais variadas. Não seria interessante aprendermos com essa prática?
Temos hoje muitas organizações misionárias no meio evangelico. Existem organizações para todos os gostos, umas de ambito nacional, outras de ação internacional. Várias vezes verificamos que as lideranças desses organismos não tem experiencia de campo missionário. São lideres de missões mas nunca foram missionários. Tomarão decisões sobre realidades que desconhecem e muitas vezes ficarão em dificuldade porque é dificil opinar sem conhecer. Aqui entrariam os missionários aposentados.
Os nosso lideres de missões poderiam aprender e lucrar muito com os obreiros em fim de carreira. Eles conhecem as realidades no campo, as politicas locais, as lideranças evangelicas da região, as tendecias do povo e da cultura de cada zona. Seus conselhos poderiam poupar dinheiro, facilitar estratégias e guiar planos. Como consultores esses obreiros usariam todo o conhecimento adquirido de modo a abençoar as lideranças missionárias. Algumas dessas organizações tem missionários em tantos lugares diferentes que é impossivel um lider conhecer bem cada realidade. Os conselhos de quem viveu lá e ministrou lá seriam certamente valiosos como ouro.
Pastoreio de Missionários
Uma das grandes deficiencias das organizações missionárias é a falta de pastoreio dos seus obreiros. Ainda continuamos com a estranha idéia que missionário é superhomem. Parece que no momento em que é consagrado ao ministério para o campo de missões passou a ser um gigante espiritual. COntinuamos não aceitando dos missionários coisas que consideramos normais em outros obreiros como depresão, desanimo ou esgotamento. Precisamos de pastores para nossos missionários.
As organizações missiopnárias nos dizem que pastoreiam seus obreiros. Com isso estão falando de viagens esporádicas (com muitos anos de intervalo) de um lider ao campo ou então de cartas (tambem esporádicas) de quem tem que lidar com várias dezenas de missionários de cada vez. Isso não chega. Isso não é o pastoreio que os obreiros precisam e os resultados se vem no regresso prematuro dos campos, coisa em que o Brasil continua sendo campeão.
Os missionários aposentados são uma força tremenda nessa área que simplesmente tem sido ignorada. Esses homens e mulheres de Deus sabem o que é missões. Sabem o que é sofrer nos campos, conhecem as lutas, os dissabores e as alegrias. Criaram seus filhos nas zonas por vezes remotas de missões. Viram o trabalho crescer e minguar. Eles realmente podem dizer ao obreiro no campo: sei o que voce esta passando, já estive aí. E o missionário na ativa aceitaria essa palavra porque reconhecira a verdade das palavras.
Poderiamos perfeitamente aproveitar os obreiros aposentados para esse tipo de apoio e pastoreio. Esse pastoreio se daria via carta, email, msn etc. Os meios hoje disponiveis para o contato com o campo são muito melhores. Desse modo poderiamos ter uns poucos missionários ativos ligados a cada obreiro aposentado o que facultaria um aconselhamento e pastoreio verdadeiro e regular. A oportunidade de receber alimento espiritual, ter com quem abrir o coração, poder compartilhar dificuldades do campo, seria algo maravilhoso. Quantas vezes o obreiro no campo se sente perdido. Não tem com quem se abrir. Não pode faze-lo com novos convertidos e não pode faze-lo com outros colegas (infelizmente), mas poderia vir a faze-lo com um mentor que conhece missões na vivência e no coração.
Conclusão
Voltamos ao inicio. Nossos missionários em fim de carreira tem sido tratados com ingratidão e desperdicio. Podemos e devemos mudar isso. Apresentamos maneiras bem práticas de aproveitar todo esse potencial. Oramos para que nossas lideranças abram os olhos e ouvidos para essa verdade e passem a ser mais gratos por aqueles que deram tanto ao reino e os aproveitem para que todos saiam lucrando. Uma vez missionário, sempre missionário. Vamos dar aos nosso obreiros aposentados a oportunidade de serem a benção que todos precisamos.
6 comentários:
Ida Venturini escreveu: podemos e devemos aproveitar os missionários que retornam dos campos na preparaçào de novos missionários. A experiência dele no país em que irào novos missionários pode poupar a estes anos de aborrecimentos e equívocos que impedem a `proclamaçào do evangelho. Ah! Se os novatos ouvissem mais os experientes!
Tema bastante oportuno. Estamos correndo para enviar missionários. Mas precisamos ter o cuidado de recebê-los com gratidão, como heróis de guerra.
G/P
Jair
líder na IBCA
Caro Jair, essa é a visão!Receber bem os nossos missionários e aproveitar todo o seu potencial é uma questào de gratidão e sabedoria.
cromero.concremat@petrobras.com.br
Prezado Pr. Joed
Espero de coração que esse artigo seja lido e refletido por nossos líderes batistas brasileiros e que os missionários esperientes sejam valorizados e honrados.
abraços,
Cesar Romero
Caro Cesar Romero, a melhor forma de honrar os nossos missionários é exatamente aproveitando todo o seu potencial! Espero que os nossos líderes assim entendam.
Saudações aos colegas missionários que, mesmo no Brasil não deixaram de amar missões e continuam trabalhando em prol do Reino. Uma vez missionária sempre missionária!
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