
A série de TV “Guerra
dos Tronos” baseada na obra de fantasia “Game
of Thrones” (GoT) do escritor americano George Martin tem feito enorme
sucesso arrastando uma legião de fãs. A estreia da última temporada está as
portas (escrevo em Abril 2019). A série explodiu com todos os recordes de
audiência e também com os gastos de produção já que cada episódio tem o nível
de um filme classe A da melhor qualidade visual. E aqui faço minha confissão:
sou fã. Mais dos livros que da série de TV. Afinal todos sabem que os livros
são regra geral bem melhor que os filmes ou adaptações televisivas. Mas é
verdade, gosto de ler autores de fantasia. Meus favoritos são de longe J.R.R Tolkien
e C.S. Lewis. Mas quando tempo permite (poucas vezes) gosto de ler autores de
fantasia como Martin, Patrick Rothfuss, Joe Abercombrie, Steven Erikson, Mark
Chadbourn, Robert Jordan ou Brandon Sanderson. Gosto de viajar no mundo que
eles criam e admiro a capacidade imaginativa e descritiva deles. Li a obra de
George Martin na língua original bem antes de sair na TV e apreciei.
É verdade que a série televisiva abusou da nudez e das
cenas de sexo desnecessárias e que nem constavam muitas vezes dos livros. Creio
que ânsia de ter boas audiências e certa falta de confiança num enredo que
sozinho conseguisse conquistar as massas explica a opção dos produtores. Mas
para isso tenho um botão no comando que me permite passar para a cena seguinte.
E é verdade que no mundo de Martin há muita coisa ruim para ver. Seus vilões
são especialmente maus e sádicos com uma maldade que ultrapassa a pura
crueldade e por isso nos dá tanto prazer vê-los eliminados a sofrer a justiça
merecida.
É verdade que a série é marcada por pecados característicos
da época que a inspiram, a Europa Medieval. Assim temos violência muitas vezes
gratuita; luxúria que ultrapassa a prostituição e chega ao incesto; mentira,
deslealdade e vilania a cada curva; enganos e traições requintadas e fatais; vingança
como propósito de vida que mantém personagens vivos em meio a agruras
terríveis; religiosidade legalista que avança por uma hipocrisia pouco velada.
Mas não são esses pecados na idade média e da nossa idade? Não é o que vemos
quando abrimos os jornais? Não fala Martin daquilo que enche nosso cotidiano
com mais ou menos expressão? Não posso porém deixar de notar que em meio a tudo
isso ainda há nobreza que sobrevive. Lealdade a toda prova e honestidade mesmo
sob pena de morte e execução sumária. Ainda há valores familiares e de amizade
que sobrevivem e sacrifícios feitos para o bem maior. E não são esses valores
cristãos importantes? E é por isso que no meio dessa saga creio que posso
apontar para alguns pontos interessantes que corrigem a visão da série para a
verdade que nos cerca e que é revelada na Palavra de Deus:
·
Há na verdade uma guerra dos tronos em
andamento onde um usurpador senta no trono e há uma campanha para a recuperação
do trono pelo verdadeiro Rei e Senhor. Há na verdade um senhor de mortos vivos
que ameaça acabar com a humanidade e sua destruição não se faz com armas
normais mas pode perfeitamente acontecer e irá acontecer.
·
É verdade que a justiça pode tardar mas cada
um dará conta de seus pecados e quando Joffrey ou Bolton morrem de modo
dramático e terrível não são tão diferentes de Jezabel ou Herodes, de Sadan
Hussein ou Mohamad Khadafi que acabaram por sentir a justiça Divina sobre suas
vidas malignas. Mas a justiça de Deus é paciente e misericordiosa na
expectativa do arrependimento mesmo do maior pecador e não se mostra vingativa
ou maligna.
·
É verdade que viver pela verdade e lealdade
sem dar lugar ao mal pode acabar por levar à morte como foi o caso de Ned
Stark. Este mundo não reconhece os mansos e nem valoriza os sinceros mas
aplaude as Cerseis da vida que com engano e malícia vão subindo a escala social
até o topo. Mas o cristão é chamado a ser diferente e viver de modo a honrar
seu Senhor.
·
É verdade que há um Senhor da Luz que pode
até ressuscitar mortos mas é bem diferente do deus da série com suas previsões
pouco claras e sua indefinição mesmo para seus mais fervorosos seguidores. O
verdadeiro Senhor da luz fala de modo claro, revela-se de forma coerente e faz
sua vontade bem conhecida de quem o busca.
·
É verdade que muitas vezes são os menos
prováveis que se tornam heróis. Um anão indesejado e lascivo, uma garotinha
indefesa e tolinha, um bastardo indeciso e infeliz, um garoto gordinho mas bem-intencionado,
são alguns dos heróis bem pouco prováveis da estória. Faz lembrar a saga dos
hobbits que sendo os habitantes mais fracos da terra Média serão os heróis do
“Senhor dos Anéis”. Mas que é isso se não uma reedição do livro de Juízes? Lá,
temos um canhoto desconhecido, um covarde que malhava o cereal escondido, uma
mulher de um aliado, um filho de prostituta, todos tornando-se os heróis. O
Senhor da Glória não usa os mais capacitados mas certamente capacita os que se
dispõe a servi-lo.
·
É verdade que há sempre personagens
secundários que salvam o dia. Trata-se de uma técnica de escrita criativa
manter vivos esses personagens de quem já nem lembramos para na hora H os
termos como salvadores normalmente a custo de grande sacrifício. E isso nos
lembra a graça geral. Nosso Deus não se limita a trabalhar com os personagens
principais mas tem em suas mãos uma multidão de gente que pode e serve de
bênção quando muitas vezes já não tínhamos esperança e nem saída. Ele usa quem
deseja em sua santa vontade e salva quem quiser e quando quiser pelos meios que
lhe aprouver mesmo que estejam totalmente fora da nossa imaginação ou
perspectiva.
·
É verdade que há necessidade de uma guarda da
noite que proteja o reino dos homens a custo de muito sacrifício e dedicação.
Mas a verdadeira guarda da noite é a igreja de Jesus que pelo poder do Espírito
Santo impede como muralha o total avanço do maligno sobre a humanidade. Como
guardas da raça servimos ao Senhor verdadeiro e somos seus instrumentos para
proteger as pessoas da maldade do maligno mesmo que isso signifique sacrifício
e sofrimento de um povo que nem entende nosso trabalho e valor.
No fim dessas linhas lembro-me que na “Guerra dos Tronos”
cada casa nobre tem um símbolo e uma frase que serve de lema. Cada leitor e fã
acaba por se identificar com uma casa. No meu caso, aprecio a casa Stark muito
pela dignidade de seu líder maior que morre no começo da série. Os Stark têm
como símbolo uma cabeça de lobo e sua frase é “Winter is coming”. Trata-se de
um mote realista e pessimista. Por um lado lembra o óbvio, o inverno
eventualmente sempre chega. Mas não é um inverno qualquer que eles anunciam. É
o inverno dos invernos em que o senhor dos caminhantes brancos derrubará a
muralha e destruirá o reino dos homens. Sendo assim, o mote é pessimista e
fatalista. Avisa que a raça tem seu tempo contado e um dia desses o inverno
fatal vai chegar.
Mas nós não somos Stark. Deles tomamos apenas as virtudes
morais que nos ajudam a honrar o Senhor. Nosso símbolo não é um totem animal
mas uma cruz e um cordeiro de sacrifício. Nosso mote não poderia ser mais
diferente porque em vez de anunciar a vinda da morte anuncia a chegada da VIDA.
“Christ is Coming” é o nosso lema e com Ele o reino verdadeiro será
estabelecido e terminada a verdadeira guerra dos tronos. Maranata! Vem Senhor
Jesus!