
Tudo o que envolveu
a morte de Jesus foi marcante e significativo. Foi o momento chave da salvação
planeada por Deus. O culminar do seu plano para o resgate da humanidade. Fica
difícil assinalar um ou outro aspecto. Entre os eventos que marcaram a morte de
Jesus se contaram as trevas estranhas que envolveram a cidade, o terremoto e as
ressuscitações. Mas um deles, pouco trabalhado, tem um significado marcante e
implicações especiais para aqueles que entendem a Jesus como o salvador e a sua
igreja como a sequência da sua obra na terra. Esse evento foi o rasgar do véu
do templo.
O Véu do templo
era, na verdade, uma pesada cortina feita de modo semelhante ao reposteiro que
separava a entrada do lugar santo. Era feito de lã trançada com linho (só a lã
conseguiria ser tingida naqueles tempos e o pano era colorido) numa mistura que
era proibida para vestuário (Levítico 19:19 e Deuteronómio 22:11). Essa cortina
tinha uma mistura de cores com azul, púrpura e escarlate e tinha bordada
querubins. Servia para separar o lugar santo do lugar santíssimo ou santos dos
santos, mantendo o local mais sagrado do tabernáculo em escuridão e fora dos
olhares de quem estivesse no lugar santo a trabalhar. Esse véu era sustentado
por 4 colunas de madeira de acácia revestidas de ouro com bases de prata e
ficava pendurado através de colchetes de ouro. A ordem dada para o tabernáculo
foi seguida bem de perto na preparação do templo. A sustentação no templo seria
diferente, mas a cortina em si e a estrutura seria a mesma. Era uma cortina grossa
e muito difícil de rasgar. Mas, o que aconteceu de maravilhoso na crucificação
não foi o facto de o véu se ter rasgado, mas que foi rasgado de alto a baixo
abrindo o santo dos santos. Deus abriu o véu e ao faze-lo assinalou muitas
coisas maravilhosas.
"E Jesus, clamando outra vez com grande voz, rendeu o espírito.
E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu
a terra, e fenderam-se as pedras."
Mateus 27:50,51
Este evento é
estranho e significativo. Fora o Senhor que dera a planta para o tabernáculo
que depois foi usada no templo. Foi Ele que mandou reservar um lugar para ficar
separado dos demais. Foi ELE que mandou executar o véu e colocá-lo. Era ELE que
tinha o direito de mudar essas regras e o fez na hora da morte de Jesus. E o
que isso queria dizer? Certamente muita coisa e ao meditar sobre o assunto
podemos chegar a várias conclusões:
•
A implicação mais natural é o acesso à presença de Deus. Se a função
do véu era reservar o santo dos santos para apenas o sumo-sacerdote, o seu
rasgar significa a abertura deste espaço reservado, desta privacidade da
presença do Senhor para todos. Não mais um lugar fechado, mas agora aberto. Não
mais a limitação de acesso a uma pessoa só, mas agora a todos. Não mais um
ritual complicado e difícil para chegar à presença de Deus. A presença do
Senhor não se manterá algo misterioso e único, mas será algo a que todos os
homens podem aceder pelos méritos de Jesus. Sua morte nos abre a entrada no
santuário e a chegada ao trono da graça. E como deveríamos valorizar isso. Não
um Deus distante, mas um Deus acessível a qualquer um e enquanto o desejar.
Claro que apenas pelos méritos de Jesus ganhos com o seu sangue.
•
Mas a abertura não foi só em termos de presença, mas também de tempo.
Antes o santuário era acessível apenas uma vez por ano. Agora passa a estar
aberto sempre. A qualquer hora se pode entrar pois não há mais véu a separar. O
homem, qualquer homem, pode entrar na presença do Senhor a qualquer hora e esta
bênção é demasiado grande para sequer a entendermos.
•
O rasgar do véu simboliza a mudança de era e de aliança. A antiga
aliança era marcada pela lei e pela restrição. A lei, por melhor que fosse, era
marcada pelo negativo. Não faça isso, nem aquilo nem aquilo outro… agora na
graça somos livres, não para fazer o que queremos, mas para andar com Deus e
nessa comunhão desejar o que ELE deseja e aprova e desse modo usufruir de uma
comunhão sem paralelos. Não mais a velha aliança que se provou incapaz de salvar,
mas a nova que sendo aberta é livre e trás liberdade a todos.
•
Mas o rasgar do véu nos fala de revelação. Um véu serve para ocultar,
para manter em segredo, para esconder. O seu rasgar abre a todos os olhos o que
era oculto. A salvação era dada em figuras, em símbolos, em imagens e parábolas
ligadas ao sistema sacrificial. Agora está patente. Não há mais dúvida do que
ela é e significa. Agora podemos entender a salvação de um modo mais claro como
nunca. Agora vemos o que ela representou e significa. Agora a temos bem patente
e isso faz toda diferença. Agora podemos compreender o Senhor e seu amor de um
modo novo muito mais amplo que antes. Ainda não vemos tudo mas temos muito mais
clareza que na velha aliança porque o véu foi rasgado.
•
O rasgar do véu abre a possibilidade de um sacerdócio universal. Antes,
só o sacerdote especial entrava no santo dos santos. Para que? Para interceder
pelo povo. Para fazer expiação pela nação, para pedir a Deus pelos seus pecados
e pelos dos outros. Era necessário um sacerdote. O homem não podia fazer isso
sem essa ajuda. Agora, com a abertura, todos têm acesso e o quadro muda. Não
mais limitados em relação a entrada não temos também mais necessidade de um sacerdote,
mas podemos nós mesmos nos tornar sacerdotes de Deus. E na igreja somos
sacerdócio real. Cada crente um intercessor, cada crente um sacerdote que leva
a Deus as vidas e lutas dos outros e pode fazer sua parte para a bênção da
nação. Uma igreja feita não de duas classes distintas (sacerdotes e povo, clero
e laicado) mas de irmãos e irmãs que juntos fazem a obra de Deus.
•
O rasgar do véu faz com que cada crente, com acesso pleno a presença
de Deus, com sacerdócio universal reconhecido, passe a levar consigo essa
glória do Senhor. Não mais um santo dos santos fechado e separado, mas um
santuário ambulante. De certo modo voltamos ao tabernáculo, mas ainda mais
abrangente, com todos os crentes servindo de templos vivos para a manifestação
da graça de Deus onde quer que se desloquem.
O rasgar do véu foi muito mais que um capricho ou um evento menor. Foi mais um dos modos do Senhor
nos mostrar a maravilha que estava a acontecer e a bênção que a humanidade
estava a receber. Hoje, quando lembramos novamente esse evento, sejamos gratos
e celebremos. O véu foi rasgado. Não criemos mais mistérios e nem nos cansemos
em inventar novas restrições. A graça nos alcançou. Entramos na presença do
Altíssimo pelos méritos de Jesus com corações lavados no sangue do cordeiro.
Entramos para receber, para interceder, para levar a glória connosco e
testemunhar dessa salvação.