Jurgen era um jovem cheio de vida e planos como seria de
esperar que qualquer jovem aos 18 anos. Inclinava-se para o estudo da
matemática e idolatrava Einstein. Ia fazer seus exames de admissão a faculdade
quando foi admitido... ao exército. O ano era 1944 e Jurgen era um alemão de
Hamburgo no fragor da segunda grande guerra. Foi incorporado ao exército alemão
e colocado no front já na floresta alemã onde se rendeu a tropas britânicas.
Jurgen foi enviado como prisioneiro de guerra para um campo
na Bélgica onde a verdade sobre a guerra foi vomitada sobre os soldados alemães
e fotos dos campos de concentração de Auchwitz e Buchenwald eram colocadas em
suas barracas para que sentissem o peso do mal feito pelos nazis. O jovem que
fora criado sem qualquer principio cristão e cujo avô era um conhecido maçon
afundou-se no desespero e no remorso. Depois de um tempo foi levado para um
outro campo na Escócia. A boa receção dos locais o surpreendeu e um NT dado
pelo capelão americano o despertou para a fé. Por fim, seu último campo na
Inglaterra o colocou em contato com jovens cristãos e Jurgen encontrou a fé
voltando a casa no firme propósito de estudar teologia. Seu contributo para a
área teológica não poderia estar mais distante de seu inicio na fé. É conhecido
por sua obra que tem como título, Teologia da Esperança. Estou falando de
Jurgen Moltman.
O dicionário nos diz que Esperança é uma disposição de
espirito que nos leva a esperar algo que se vai realizar. Esperança tem como
sinónimos expectativa e confiança. Trata-se de uma das mais básicas disposições
humanas e quando falta leva a desespero e muitas vezes suicídio ou atos de
loucura. Como é possível que em meio ao horror de uma guerra e as angústias de
uma prisão um jovem venha a desenvolver justamente essa disposição de espirito
e não outra? Como pode alguém suportar situações como privação e crise mantendo
a cabeça levantada e confiante? Provavelmente esperança é a resposta. Algumas
pessoas tem expectativa e confiança que
as coisas irão de certo modo , outras não. A esperança é fundamental para a
sanidade neste e em qualquer tempo.
O Cristão tem sua esperança em Deus. Confia na sua
soberania, em sua justiça e amor e que no futuro (mesmo que desconhecido) o
Senhor vai fazer tudo certo? Mas haverá base para essa esperança? Onde se
baseia a esperança? Como podemos saber se é válida ou não? Olhando para as
evidências, para a história. Um dos episódios da vida de um dos maiores
profetas ajuda-nos a entender melhor isso.
Elias tinha sido usado poderosamente por Deus para desafiar
um rei e uma rainha maus e perversos, do tipo que parecem saídos de um conto de
fadas. Acabe e Jezabel entram na história como símbolos de maldade e governo
despótico. Elias é um homem simples e aparentemente rude mas cheio da presença
de Deus que os desafia e por fim obtém uma vitória retumbante contra os falsos
profetas de Baal no monte Carmelo. A vitória descrita em I Reis 18 é uma das
mais extraordinárias da Bíblia. E o que sucede então? Como reage o homem de
Deus? Entra em profunda depressão quando percebe que sua vitória não levou a
queda de Jezabel, não mudou o coração do povo e sua própria vida está em risco
máximo. A crise desta vez é forte demais e ele foge e pede para morrer (I Reis
19:4). O Tratamento inicial do Senhor é descanso e sossego. Resolver questões a
quente não funciona. Mas depois de dar a Elias 40 dias de repouso e solidão o
Senhor vai tratar de o reanimar e reacender a esperança que se fora. E como foi
que o Senhor fez isso? Como é que deu a Elias um retorno a forças para
continuar? Vejamos o texto e aprendamos com o Criador que melhor conhece o
funcionamento do coração humano (I Reis 19: 8 a 21).
Ele está Presente
A primeira coisa que o Senhor faz Elias perceber é sua
presença. No entanto este texto é tão extraordinário porque nos mostra que essa
presença nem sempre acontece do modo como pensaríamos de Deus. Temos a
tendência de só entender a presença do Senhor nos grandes acontecimentos.
Quando o mar se abre, quando o milagre acontece, então entendemos que o Senhor
está presente, mas quando não há barulho... tendemos a achar que Ele se
ausentou. Mas nesta passagem não aparece o Senhor no vento ciclópico, nem no
terremoto tremendo, nem no fogo consumidor, mas numa brisa suave e delicada.
Que extraordinário! Que mensagem confortante. Ele está presente na brisa que
nos afaga mesmo quando não o vemos.
Avalia tua Situação
O Senhor chama Elias a uma autoavaliação. Há razões reais
para esse desespero? Há razão para tanta angústia e duvida? Várias vezes na
Bíblia o Senhor faz isso. Principiando no Eden quando pergunta a Adão: Onde
estás? O Senhor nos chama a parar de vez em quando para olhar nossas vidas e
perceber se há realmente motivos para nos afundarmos em autocomiseração. A
autopiedade é um inimigo terrível. Leva-nos a pensar que somos as criaturas
mais miseráveis do planeta. Isso não só é falso como é uma posição que não nos
permite a reação. No caso de Elias (como na maioria) a simples avaliação não
chegou a ajudar. Ele reiterou o que já dissera antes.
Volta pelo teu Caminho
O Senhor parte então para o restaurar da esperança e da vida
em Elias. Volta pelo teu caminho, é a ordem. E porque? Duas razões principais.
O voltar pelo mesmo caminho era uma forma de ajudar Elias a recordar. O caminho
que ele percorrera era cheio de memórias da peregrinação do povo de Israel
antes de entrar em Canaã. Ao regressar por esse caminho Elias iria recordar
como o Senhor agira na história de seu povo suportando, abençoando, dando
vitória e por fim uma nova terra. Volta para recordar como Deus agiu no passado
e abençoou o povo.
Mas volta pelo teu caminho era também uma forma de mostrar
que Deus agira na vida dele, Elias. Ao passar novamente pelos mesmos lugares
ele lembraria da oração para que não chovesse, dos confrontos com o rei, do
suprimento de alimento pelos corvos, da farinha da viúva, da ressurreição do
filho da viúva, da vitória no Carmelo. O regresso pelo mesmo caminho seria uma
forma de levar Elias e ver como Deus já agira de modo tão maravilhoso em sua
vida e continuaria a fazê-lo. A base da esperança está exatamente no que o
Senhor já fez e que nos leva a confiar em suas promessas para o futuro.
Tens ainda o que Fazer
O Senhor mostra então a Elias que ele ainda tinha o que
fazer nesta vida. O Senhor tem propósitos para nós, planos para nós. Há coisas
que Deus deseja fazer que só nós podemos fazer. Ele decidiu que assim seria. Se
nós não fizermos talvez Ele chame outras pessoas, mas é também possível que
ninguém o faça. Que responsabilidade, mas também que privilégio. Que riqueza.
Pensar que o Senhor criador do céu e terra tem planos para mim, deseja-me para
suas obras. Saber isso também me ajuda a crescer na esperança. O que o Senhor
tem para minha vida afeta a de outros e vice-versa. Que riqueza para mim e para
os outros. Que alegria para minha expectativa de vida.
Não estás Só
Se há uma coisa que nos deixa sem força é a sensação de
estarmos sós. Elias se sentia só e sem qualquer apoio. Ele julgava que só ele
sobrara de todos os que adoravam a Deus. Só ele era justo. Só ele sofria
daquele modo. O Senhor o ajuda a perceber que não está sozinho. Há muitos
outros que partilham a fé, a luta, a dor, o sofrimento mas também a esperança.
Uma esperança já é algo bom, uma esperança partilhada é algo contagioso e que
pode mudar a realidade a nossa volta.
No meio da guerra e da miséria Moltman entendeu a esperança
que temos no Senhor. A história do seu povo, a história em geral, a história de
pessoas a nossa volta, a história da igreja e a nossa própria história servem
para lembrar a base dessa esperança. Minha esperança está no Senhor que fez o
Céu e a Terra e que tem se provado vez após vez presente, atuante e
benevolente. Volta pelo teu caminho, descobre o que ainda tens a fazer, não
estás só, o Senhor e uma multidão de fiéis te acompanha. Louvado seja o Senhor!
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