O Silêncio do Céu

Hoje temos muita dificuldade em viver com o silêncio. A maioria de nós já esqueceu o que isso significa. Estamos constantemente rodeados de barulho. Barulho de carros, de pessoas, de obras, de trabalho, de crianças, de animais… dos meios de comunicação, etc. É um mundo barulhento o nosso. Mas a verdade é que quando o silêncio porventura chega nós estranhamos.
Se uma pessoa fica calada e não nos fala ficamos preocupados ou irritados. SE a TV deixa de fazer barulho concluímos que ou alguém apertou o botão MUTE ou então está estragada. Resposta é essencial, barulho é vida… E quando o Céu se cala então é ainda pior… Somos incentivados a orar. Ouvimos que a oração tem poder. Cremos e oramos e… nada acontece. As doenças continuam, o desemprego se arrasta mais uma semana, a pessoa má que nos persegue parece ter ficado ainda pior, aquele problema lá em casa não se resolveu e ainda apareceram dificuldades novas que eu nem tinha percebido. Conclusão: Não vale apena orar! O Céu é mudo! A oração é inútil.
Todo crente sincero já passou por isso. Mesmo os chamados gigantes da fé, os santos do passado, já viveram essa sensação. Foi um monge dedicado ao extremo que cunhou o termo “noite escura da alma”. São João da Cruz referia exactamente ao período de silêncio do céu em que tudo parece escuro em solução. Desde o livro de Jó, provavelmente a estória mais antiga da Bíblia, passando pelos Salmos e chegando a Paulo que ouvimos e mesmo eco. O homem gemendo diante do aparente silêncio do céu que parece deixa-lo sem resposta. Afinal porque isso acontece? Temos respostas bíblicas para esse silêncio? Porque nossas orações não são, por vezes, respondidas? Quais os maiores empecilhos à oração?
Empecilho 1: Não orar
Em João 16:24 Jesus lembrava aos discípulos “Até agora nada pedistes em meu nome…” e Tiago parece fazer eco dessas palavras mais tarde quando diz: “nada tendes porque nada pedis” Tiago 4:2b A verdade maior é que falamos muito de oração, concordamos sobre a oração, discutimos sobre oração, mas oramos pouco. Passamos dias e semanas sem nos lembrarmos de clamar. E então, na hora do aperto, fazemos uma oração SOS, oração 112, rápida e urgente e ficamos zangados porque Deus não respondeu.
Mas, oração é comunhão! Oração é convívio! Imagine que fica sem falar com sua esposa durante 15 dias e então na hora da necessidade corre para ela com um pedido exigente… será de estranhar que ela tenha dificuldade em responder. Notemos bem. O Senhor mesmo assim ainda nos abençoa e responde, mas por vezes não o faz. Não fiquemos tão assustados assim. Há uma razão! Precisamos começar a levar a oração a sério.
Empecilho 2: Viver em Conflito
Jesus orientava os discípulos sobre oração e vida cristã e disse: “Se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti deixa ali a tua oferta e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão” Mateus 5:23 e 24. E novamente Tiago faz eco do seu irmão quando diz: “Cobiçais e nada tendes; sois invejosos e cobiçosos e não podeis alcançar; combateis e guerreias e nada tendes…” Tiago 4: 2. Pedro Se referia a isso também de modo específico para o casamento quando escreveu: “Vós maridos, coabitai com vossas mulheres com entendimento, dando honra à mulher… para que não sejam impedidas as vossas orações” I Pedro 3:7.
Como esperamos que o Senhor ouça nossas orações quando nossas zangas e brigas e irritações e amarguras enchem o coração e gritam em meio a nossas orações? Queremos que o Pai de Amor nos ouça quando nossas vidas estão cheias de falta de perdão, de expressões de raiva por outros, de recordações negativas que alimentamos com todo cuidado dia a dia. Um coração repleto de mau querer dificilmente poderá chegar ao céu. Fecha-se a graça porque a bênção de Deus é imerecida e quando vamos a ele cheios de auto justificação excluímos a acção do mediador que é o único que nos pode dar acesso ao trono de Deus. Perdoar é o caminho da libertação e da abertura dos céus para muita gente.
Empecilho 3: Pecado escondido
O Salmista aprendeu essa lição e a deixou para a posteridade quando declamou: “Se eu atender a iniquidade no meu coração, o Senhor não me atenderá” Salmos 66:18 e o profeta concordou plenamente ao dizer ao povo: “As vossas iniquidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós para que não vos ouça” Isaías 59:2. E o Senhor sofria com isso. Ele desejava abençoar. Não queria ficar em silencia antes fazer ouvir sua voz e sua bênção, mas o povo de Deus, que sabe o caminho do perdão e da retidão precisava lidar com seus pecados de modo sério para que as portas do céu se abrissem. Pecado é como um enorme guarda-chuva que impede que as chuvas de bênçãos cheguem a nossas vidas. A remoção foi ganha por Jesus na Cruz, a solução é I João 1:9.
Empecilho 4: Egoísmo/Pedir mal
Novamente Tiago com seu coração pastoral prática exortava a igreja: “Pedis e não recebeis porque pedis mal, para os gastardes com vossos deleites” Tiago 4:3. Jesus havia avisado aos discípulos: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz e siga-me” Marcos 8:34. Por vezes oramos sem discernimento, sem sensibilidade, sem a devida submissão a vontade de Deus. Achamos que sabemos o melhor e por vezes até que o merecemos. Com corações egoístas e fechados rogamos ao Senhor por coisas que na verdade não são da sua vontade e são apenas desejo nosso. Será que Ele nos prometeu dar tudo que quiséssemos? Sem discriminação? Isso seria possível? Seria correto? Creio que mesmo se desejarmos de outro modo podemos ver que não há sentido nisso. O Senhor nem pode nos dar tudo que pedimos porque não seria nem bom para nós nem para os outros. Aprender a orar de acordo com a vontade do Pai é meio caminho andado para recebermos as bênçãos e respostas desejadas.
Empecilho 5: Falta de perseverança
O Senhor deixou claro que Deus esperava perseverança da nossa parte. Seria como que um exercício espiritual, parte da disciplina. “E contou-lhes uma parábola sobre o dever de orar sempre, e nunca desfalecer” Lucas 18:1. Onde está o tempo da fé? Onde exercemos nossa confiança em Deus? Se recebermos sempre tudo que pedimos na hora que pedimos onde fica o exercício da fé. Ninguém aprende uma língua na primeira semana de aulas. Ninguém fica musculado no primeiro mês de ginásio. Ninguém perde 20 kg nos primeiros dias de dieta.
Nesta vida aquilo que têm real valor exige persistência. Porque seria diferente com a oração? O que está pedindo a Deus? É algo de valor? Então merece a sua perseverança. Não desanime no início da luta-Não baixe os braços no início da caminhada. Persevere com o Senhor, Insista em sua presença. Valorize seu tempo com ELE. Entenda que a oração é bênção mesmo quando as respostas não acontecem exactamente quando queremos, porque quanto mais tempo investirmos nela, mais forte seremos na comunhão com Aquele que nos ama e que é nosso Pai Celeste.
Empecilho 6: Ele Sabe…
Mas há aquelas situações em que nada do falado cabe. O crente ora, persevera e não tem respostas. Avalia sua vida e vê que não pecado escondido, não há zangas retidas e amarguras guardadas, os motivos de oração são puros, os pedidos não são egoístas e mesmo assim não há alivio nem solução. Como entender?
Nem sempre será claro. A verdade é que vivemos numa dimensão física e a maioria das coisas do mundo espiritual nos passa ao lado. Jó é uma dos maiores exemplos da Palavra. Ele era justo, correto, benevolente, ajudava os outros, aconselhava a todos, cria em Deus e se guiava de modo correto e no entanto sofreu de modo atroz. Fez perguntas, e no fim reconheceu que estava arguindo o Senhor sobre aspectos que não conhecia. A verdade nua e crua era essa: Ele não sabia. Não sabia o que se passava no mundo espiritual. Não sabia mas confiava. Sua afirmação mais duradoura para nós foi: “Porque sei que meu redentor vive e por fim se levantará sobre a terra” Jó 19:25.
O Próprio Senhor Jesus viveu seu momento de solidão e dor quando no Getsémani e na cruz se sentiu abandonado. Mas sua conclusão foi: “Seja feita a tua vontade e não a minha”. E em última analise será essa a questão em alguns casos. Não sei porque mas confio que o Senhor é amor, sabe o melhor e se não agiu é porque não seria o melhor. Não entendo, não faz sentido para mim, mas reconheço que nem tudo posso entender e confio que seu amor é perfeito e um dia entenderei. Vivo nessa dependência porque aprendo que “o justo viverá da fé” Romanos 1:17

Contrição


Arrependimento é uma palavra conhecida do Cristão. Não faz necessariamente parte do vocabulário de outras grandes religiões do mundo, mas é essencial no entendimento cristão de salvação. Arrependimento e Fé são os 2 aspectos básicos da salvação. A mensagem do evangelho transmitida no Novo Testamento começa por “arrependei-vos e crede”. Mas a contrição, o acto em si do arrependimento, confissão de pecados em busca de perdão, nem sempre está presente na vida cristã. Quando pensamos em contrição vem logo a nossa mente o episódio de Davi com Bate-Seba e o Salmo 51, talvez o maior texto de contrição da Bíblia.

Mas Davi era culpado de luxúria, adultério, mentira e homicídio. Não temos dúvida da sua culpa e talvez por isso, sua contrição, por mais bem entendida e exemplar, pode não se encaixar em nossa experiência. E se não adulterei? E se não matei ninguém? E se meus pecados forem bem mais prosaicos, mais corriqueiros. Haverá lugar para a contrição? E é por isso que em vez do Salmo 51 vamos nos focar num homem justo em Daniel 9: 1 a 20.

Daniel é outra história. Ele não era um homem em pecado flagrante e com um profeta em seu calcanhar. Era um homem íntegro, justo, correcto, acima de qualquer acusação. Sua vida devocional era tão leal que preferia ir parar a uma cova de leões do que parar de orar. Ele vivera sob dois impérios e fora considerado homem superior por 2 culturas que não a sua. Este era um exemplo de homem. Um candidato a canonização imediata. E no entanto sua oração é de pura confissão. Seu clamor é de pura contrição e com ele aprendemos alguns aspectos fundamentais do verdadeiro arrependimento:

Seriedade na Avaliação

Daniel não fora interrogado por um profeta como Davi para chegar a conclusão de seu pecado. Fizera uma avaliação cuidadosa de sua vida e da vida de seu povo. E como o fizera? Avaliando à luz das escrituras, em particular dos escritos de Jeremias. Ele lera a palavra com espírito de submissão a palavra de Deus e deixara que fosse essa a falar ao seu coração. Ele encarara essa tarefa com a maior seriedade, em oração e jejum, em separação de tempo e sem pressa. Ele queria permitir que o Senhor o sondasse e revelasse sua vontade e sua presença e diante disso ele caiu em oração arrependida.

É provável que não tenhamos corações mais contritos pela simples razão de que não buscamos o Senhor com seriedade. Não lemos sua palavra com avidez a espera do que ELE tem para nos dizer. Não deixamos de lado tempo para que seu Espírito Santo nos toque profundamente. Não permitimos nenhuma sondagem. Paulo dizia aos Coríntios: examine-se o homem a si mesmo… uma vida sem exame, sem avaliação, não tem valor. Mas também uma avaliação superficial e rápida não terá mérito pleno. Daniel era um homem justo mas depois de uma avaliação séria, e com a palavra como base, não pode deixar de sentir o seu pecado e o da sua gente.

Se não temos o peso do nosso pecado diante de nós é porque não nos avaliamos com seriedade, não deixamos o Espírito Santo falar aos nossos corações, não permitimos que seja a Palavra a nos dar os padrões. E em nossas avaliações superficiais e tendo como comparação outros teoricamente piores que nós, acabamos por nos achar “bonzinhos”. Sentimos como o fariseu, que nem somos assim tão maus. Nem sequer merecemos estar entre os pecadores. Esse tipo de exame não faz jus a palavra de Deus. Não é a sondagem do Espírito Santo. Não serve para nos encaminhar na senda da santidade. Ficamos insensíveis aos nossos males e não chegamos a ver o poder de Deus a agir. Não vemos o céu aberto, não recebemos revelação clara, não temos intimidade porque não se pode ver a Deus e andar com ELE sem contrição de verdade.

Humildade Total

Mas a contrição de Deus, que faz um exame sério nos leva a humildade. O Senhor resiste aos soberbos, ELE não tolera os orgulhosos. O orgulho fez cair a Lúcifer, não nos derrubaria a nós, míseros pecadores? Todos os verdadeiros servos do Senhor, que se chegaram a ELE de verdade foram caracterizados por uma humildade genuína e total. Paulo se apresentava como o pior dos pecadores. Ele dizia de si mesmo: miserável homem que eu sou… e nesta passagem vemos o justo e íntegro Daniel a se arrepender no pó, com saco e cinza.

Notemos bem: este seria provavelmente o melhor homem de Israel. Ele que fora jovem para a Babilónia, que resistira aos manjares do rei, que enfrentara Nabucodonosor, que se mantivera puro no meio da luxúria de uma corte oriental, que servira a reis e imperadores e que agora na velhice se mantinha sábio e consciente. Ele que passara a noite entre os leões por não deixar de orar. É ele que se arrepende no pó.

Quando o Senhor falou com Ezequiel, apresentou a ele 3 homens que seriam o exemplo de piedade. Devemos perceber que não é avaliação humana. É Deus falando e o Senhor disse: “Filho do homem, quando uma terra pecar contra mim, se rebelando gravemente, então estenderei a minha mão contra ela, e lhe quebrarei o sustento do pão, e enviarei contra ela fome, e cortarei dela homens e animais. Ainda que estivessem no meio dela estes três homens, Noé, Daniel e Jó, eles pela sua justiça livrariam apenas as suas almas, diz o Senhor DEUS.” Ezequiel 14:13-14. Percebemos o texto? Deus classifica estes 3 homens como especialmente justos e puros diante dele. Daniel faz parte dessa lista. Ele era um favorito do Senhor e no entanto se humilha no pó.

Vivemos demasiadamente obcecados pela nossa honra, pelo nosso nome, pela nossa posição e não percebemos que isso é tudo vão diante do Senhor. O que o Pai busca é gente sincera, sem mascaras, que o busquem de verdade, que o adorem sem rodeios. O Senhor quer gente humilde e diante dele só a humildade é resposta válida. Corações altivos não conhecem a contrição e não sofrem pelo seu pecado. Não entendem o coração do Senhor.

Solidariedade com o pecador

Mas uma terceira coisa que aprendemos neste texto é que a verdadeira contrição nos leva a chorar por nosso pecado e o pecado dos outros ao nosso redor. Daniel clama pelo seu pecado mas pelo pecado de seu povo que chama de nosso. Quando alguém aprende a olhar para o pecado como Deus olha, não pode deixar de se horrorizar com o mal a sua volta. E não se horroriza para amaldiçoar ou incriminar mas para chorar e clamar por perdão. Daniel olhou a idolatria de Israel, sua rebeldia, sua falta de compromisso, sua imoralidade, sua falha em seguir a lei e viu tudo isso como seu também. Não parou para acusar Israel mas para pedir ao Senhor perdão em lágrimas e em arrependimento.

Quando foi a última vez que choramos pelo pecado do nosso povo? Que olhamos para as manchetes de nossos jornais e sofremos? Que vimos a maldade a nossa volta e isso nos levou a clamar por nossa gente? Vivemos num país onde a idolatria domina, a ganância impera, os pobres sofrem cada vez mais, os idosos morrem sem apoio, os poderosos riem da justiça. Diariamente lemos de atrocidades cometidas em casas de família, por pais contra filhos, maridos contra esposas, filhos contra pais envelhecidos. E como reagimos? Choramos? Lamentamos? Clamamos?


Os protestantes retiraram a confissão da ordem do dia. Deixou de ser uma actividade religiosa obrigatória. Mas ao fazê-lo esqueceram de colocar algo em seu lugar. Sem arrependimento e confissão não há perdão de pecados. Sem contrição não há crescimento espiritual e na sensibilidade ao mau que Deus deseja ver em nós. Está na hora de chorarmos, de lamentarmos, o nosso pecado e o pecado do nosso povo que levou Jesus a cruz. 

Está na hora de confessarmos nossos pecados uns aos outros em humildade e humilhação e de nos prostramos diante do Senhor em busca de misericórdia. Corações contritos e submissos não serão rejeitados pelo Senhor.


Related Posts with Thumbnails

Manual do Corão - Como se formou a Religião Islâmica

Como entender o livro sagrado do Islão?  Origem dos costumes e tradições islâmicas. O que o Corão fala sobre os Cristãos?  Quais são os nomes de Deus? Estudo comparativo entre textos da bíblia e do Corão.  Este manual tem servido de apoio e inspiração para muitos que desejam compreender melhor o Islão e entender a cosmovisão muçulmana. LER MAIS

SONHO DE DEMBA (VERSÃO REVISADA)

Agora podes fazer o download do Conto Africano, com versão revisada pelo autor.
Edição com Letra Gigante para facilitar a leitura do E-Book. http://www.scribd.com/joed_venturini