Natal – Adoração Genuína

Uma das figuras mais comuns no Natal é a dos anjos. Vemos anjos nas árvores, nos presépios, nos papéis de embrulho e cartões de boas festas. Os anjos verdadeiramente tiveram um papel importante no primeiro natal como mensageiros de Deus a Zacarias, Maria e José mas lembramos em especial do coro angelical que proclamou o nascimento aos pastores de Belém. Quando pensamos em anjos cantando pensamos em adoração pura. Quando dizemos de alguém que “cantou como um anjo” é um elogio enorme. Significa beleza e pureza de adoração. Eles representação a adoração genuína que o Senhor merece. Mas pensando nessa adoração sou levado a meditar em outras experiências de adoração do povo de Israel que se provaram erradas e nas lições que isso nos traz.

A primeira dessas experiências aparece em Êxodo 32 e é a do bezerro de ouro. Um povo liberto e que vira maravilhas não suportou nem 40 dias sem a liderança de Moisés e já estavam prontos a adorar imagens. Precisavam de algo visível. Depois de 400 anos vendo a idolatria egípcia diária foram tentados a ter eles também imagens. Acabam por optar por um boi ou bezerro, um dos símbolos do Osíris egípcio. É difícil crer que viam nesse bezerro em Deus. O que eles queriam era um culto à sua medida, do seu jeito. Arão, que segundo a tradição assistira ao apedrejamento de Hur por tentar impedir a idolatria, cede ao povo e decreta uma festa ao Senhor (32:5). “Transformaram a Glória de Deus na figura de um boi que come erva” Salmo 106:20. Chamam a sua bacanal de celebração ao Senhor. Adoração totalmente equivocada.

Esse episódio é símbolo máximo do culto humano, um culto feito para agradar o homem, voltado para os sentidos, para emoções fortes. Surge da falta de um líder verdadeiro e da direção fraca que vai onde o povo quiser ir. Um culto assim pode até agradar a multidão mas fica longe de louvar a Deus e é para Ele abominação que exige punição.

Pouco tempo depois vemos o povo murmurar novamente e ser punido com uma praga de serpentes mortíferas (Números 21). O Senhor providencia a cura por meio da fé que exigia a visualização de uma serpente de bronze que Moisés ergue no centro do acampamento. Muitos sãos salvos pela fé ao avista-la. Era um símbolo da graça e do perdão de Deus. Mas o povo facilmente cria superstições e passados séculos encontramos Israel adorando a serpente (II Reis 18:4) e o rei Ezequias em seu zelo destrói Neustã, o pedaço de bronze.

Este episódio nos ensina o risco de tomar algo bom de Deus e idolatrá-lo. Pode ser um programa, uma organização, um método, um templo, um local de culto. Algo que o Senhor inspira e abençoa mas que com o tempo é elevado a uma posição errada e ocupa o lugar que só o Senhor pode ter. Este é um erro comum no meio evangélico. Infelizmente tiramos os olhos de Deus muito facilmente e logo nos fixamos em coisas, em pedaços de bronze. Passamos a adorar os métodos, as formulas, os locais e as organizações e deixamos de servir ao Senhor. Nesses casos vai haver necessidade de alguém com zelo de Deus chamar o povo a verdade e mostrar que barro é barro, bronze é bronze e só o Senhor é Deus!

Já depois da entrada na terra prometida temos mais dois momentos de adoração equivocada. Um aparece após as vitórias de Gideão (Juízes 8). O servo de Deus tem uma vitória retumbante e histórica sobre os midianitas. Apazigua os efraimitas e recusa ser rei. Até aí tudo certo, tudo bem. Mas então pede ouro e faz um éfode sacerdotal que coloca em sua própria cidade de Ofra e isso foi por tropeço para Israel e para a casa de Gideão (8: 27). Gideão estivera tão bem mas falha exatamente no que viera combater. Toma uma posição que não é sua (ele é de manasses e não levita), faz uma vestimenta que não lhe cabia (ele é homem do campo e chefe militar e não sacerdote), cria um local de culto em sua cidade desviando o culto de seu lugar certo que seria em Siló (talvez porque na verdade não se entendera com os de Efraim em cujo território ficava Siló) e provavelmente usa esse éfode como oráculo quando o Senhor estabelecera Urim e Tumim como oráculos Divinos.

Aqui a adoração equívoca advém de um líder que perde a noção de seu lugar, usurpa um ministério que não é seu e estabelece uma primazia em sua cidade que não tem lugar.  Um líder equivocado pode facilmente levar a uma adoração espúria. Grande é a responsabilidade daqueles que o Senhor chama.

Por fim temos o estranho episódio de Mica, seus ídolos e seu levita em Juízes 17 e 18. Mica cria seu próprio santuário (capela privativa), constrói seus próprios deuses e consagra seus próprios sacerdotes, primeiro, seu filho e depois, um levita errante. O levita, foge da terra que lhe fora designada a procura de uma situação mais favorável. Primeiramente aceita ser sacerdote de Mica quando não podia ocupar tal posição e depois vai se vender aos Danitas por um salário melhor (18:19 e 20). Essa história é um exemplo refinado de culto conveniente.

Ministérios mercenários são hoje comuns. Não há paciência e nem perseverança na obra. Quando as coisas ficam difíceis e principalmente quando há uma melhor oferta algures o “servo” de Deus logo entende que “seu tempo naquele trabalho terminou”. Facilmente muda de visão e de função. Tudo que vá ao encontro de sua comodidade e sucesso. “É melhor ser sacerdote de uma tribo do que de um só homem e família...” E devemos notar que a história não acaba necessariamente mal para Jônatas, filho de Gérson. Ele e seus descendentes vão manter o cargo (18:30). Mas a custo de que? Que satisfação o Senhor teria com essa situação?

Neste Natal lembremos a adoração dos anjos. Feita na hora certa, do modo certo, sob a ordem específica de Deus, aqueles a quem Deus envia, com o intuito de proclamar a boa nova. Nós provavelmente preferiríamos usar um coro de anjos no palácio real ou na praça central de Jerusalém. Mas o Senhor os mandou aos pastores em Belém e lhes deu um repertório específico.
Adoração genuína terá que ser sempre feita para o
louvor da Glória Divina e dentro da sua vontade e da
sua revelação.

Recordações

Há quem diga que recordar é viver. Na verdade, as recordações são coisas incríveis. O homem tem uma capacidade de memória fabulosa. Recorda coisas passadas décadas como se fosse no dia anterior. Lembra cheiros, sabores, cores, palavras, eventos e emoções. Nossa capacidade de lembrar é uma das maravilhas da mente humana, continuamente surpreendendo e desafiando a ciência. Todos temos recordações. A questão interessante, no entanto é: o que fazemos com nossas recordações?

Há muita gente que sofre com suas recordações. Como se não fosse suficiente sofrer uma vez o agravo, a ofensa, o acidente, a perda, a mágoa, a violação, a injúria, ainda ficam repassando vez após vez e sofrendo tudo de novo. Gente assim vive em depressão. Não conseguem sair do buraco porque há sempre uma recordação para lembrar de como são infelizes. Há sempre uma memória para os levar para baixo. Por mais que as coisas corram bem, sempre haverá uma recordação a lamentar.

Há também muita gente que faz uso da lembrança para vingança. Muitas são as histórias de gente que sobreviveu a situações terríveis pela simples força de lembrar o agravo e planejar a vingança. Quando garoto gostava de ler “O Conde de Monte Cristo”. Edmundo Dantés vivia cada momento de sua vida respirando a vingança contra seus detratores. A fabulosa fortuna que adquiriu, o conhecimento incrível que lhe adveio do contato com o Abade Faria e mesmo o amor da bela Haydée não eram suficientes para trazê-lo de volta à vida. Vivia para recordar e se vingar.

Há gente que usa as recordações para se fechar e retrair. Seguindo a famosa filosofia de que “gato escaldado tem medo de água fria” essas pessoas permitem que as memórias desagradáveis as fechem a todas as possibilidades de nova vida. Não têm coragem de amar, de experimentar, de ousar, tudo porque um dia, no passado por vezes longínquo, sofreram com uma experiência dessas. Aquele incidente os fez retrair como a tartaruga e assistem então a vida passar.

Há ainda os que usam a recordação para se vangloriar. No passado tiveram vitórias, conquistas, resultados vantajosos, e então passam o resto de suas vidas a contar as maravilhas de então. “Quando eu fiz isto”, “quando eu era aquilo”, “ olhe que já fui importante, já andei com fulano, já fiz tal e tal coisa”. Para essas pessoas viver é na verdade recordar. Deixaram de ter conquistas, deixaram de lutar por vitórias, deixaram de sonhar. Vivem na recordação do que aconteceu há muito tempo. Foi bom e pronto. Foi!

E há então aqueles que aprendem a recordar como Davi. O Salmo 18 foi escrito quando finalmente David se viu livre de seus inimigos. E como usou ele as recordações? Ele fora desprezado pelos irmãos, deixou a família ainda adolescente, foi alvo de inveja e intriga, sofreu tentativas de assassinato pelo próprio sogro, sua esposa foi dada a outro, andou vagando por montes e grutas e teve que recorrer a vida no estrangeiro. Tinha boas razões para recordar e chorar, ficar deprimido e em baixo. Quem sofrera como ele em sua geração? Mas não foi de depressão as suas recordações.

Mas tinha razões para vingança. Saul e sua família o maltratara, os Zifeus o denunciaram, os filisteus o odiavam, Doegue o traiu, Nabal o desprezou... havia uma boa lista de gente com quem ele tinha contas a ajustar mas não foi de vingança a sua lembrança.

Com tudo o que sofrera e finalmente livre de seus adversários era hora de descansar e buscar uma boa sombra e uma casa junto a um ribeiro. Davi tinha muitas e boas lembranças que o podiam ter levado a se retrair, a confirmar que todo homem é traiçoeiro, que em ninguém se pode confiar, que a melhor coisa é ficar sossegado em casa. Mas não foi motivo para retração a sua recordação.

E quem podia se gloriar mais que Davi? Ele matara Golias, derrotara os filisteus muitas vezes, pegara um grupo de homens sem futuro e fizera deles uma tropa de elite, escapara a todas as armadilhas de Saul e fora chefe de guerra até entre seus inimigos. Podia perfeitamente sentar-se a sombra de seus sucessos e passar o resto da sua vida se gabando de vitórias tão magníficas. Mas não foi para se vangloriar que ele recordou.

No Salmo 18 Davi recorda tudo que viveu e rompeu em adoração ao seu Deus: “Eu te amo de todo coração, ó Senhor, fortaleza minha. O Senhor é o meu rochedo e o meu lugar forte e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem confio; a força da minha salvação e o meu alto refúgio.” Tantos motivos para depressão, para vingança, para retração ou mesmo orgulho e, no entanto, Davi se volta para o louvor. Ele adora, ele exalta a Deus, ele testemunha da graça e da benevolência do Senhor. Que extraordinário! Será por isso também que ele era o homem segundo o coração de Deus?

Acredito que todos nós teremos motivos para sofrer diante de nossas lembranças. Creio que haverá motivos para desejar justiça a nossos adversários e para nos fecharmos um pouco mais. Creio até que teremos alguns motivos de orgulho olhando para trás e é bom que assim seja. Mas o crente verdadeiro olha para sua vida, recorda suas lutas e louva. Ao filho de deus cabe o louvor. Lançando sobre Ele as tristezas, largando mão de nossas mágoas, lançando a seus pés nossas possíveis coroas, louvamos com gratidão porque é Por ELE, e para ELE que vivemos e existimos. Soli Deo Gloria!

O Eleito não estava em Casa

Samuel fora enviado por Deus a ungir um novo rei para Israel. Tratava-se de um ato arriscado que poderia facilmente ser tido como traição. O rei Saul não era propriamente um homem tranquilo e paciente. Samuel sabe os riscos que corre e por isso vai a Belém fazer um sacrifício aparentemente comum. Deus lhe revelou a casa de Jessé como o local onde encontrará o novo monarca. O profeta age com cuidado e logo se entusiasma com o fogoso Eliabe. Apesar de maduro no serviço de Deus ainda se deixava levar pela vista e o Senhor o corrige. Sete filhos aparecem e nenhum é escolhido. Mas falta um, o mais novo, o que tem menos importância. E onde está? Trabalhando! Estava nos campos apascentando as ovelhas do Pai. O eleito não estava em casa!

Não deixa de ser curioso que a Palavra nos mostra de modo repetitivo que o Senhor chama os que trabalham. Ele não busca os ociosos. Não procura os dorminhocos. O Senhor não procura na lista de desobrigados para encontrar seus servos. Ele vai aos que já mostram disposição para o trabalho. Veja uma breve lista:

·       Davi estava nos campos guardando as ovelhas (I Samuel 16)

·       Moisés estava no monte apascentando os rebanhos de Jetro (Êxodo 3)

·       Gideão estava malhando o Trigo (Juízes 6)

·       Eliseu estava arando com bois (I Reis 19)

·       José servia nos calabouços quando é finalmente elevado a governador do Egito (Gênesis 41)

·       Daniel servia no palácio do Rei quando o Senhor lhe dá sabedoria para entender sonhos e visões (Daniel 2)

·       Amós era boiadeiro e cultivador de figos 8Amós 7:14)

·       Habacuque estava de sentinela nas muralhas quando recebeu a resposta do Senhor (Habacuque 2)

·       Pedro e André estavam pescando (Mateus 4)

·       Tiago e João estavam consertando redes (Mateus 4)

·       Mateus estava coletando impostos (Mateus 9)

·       Paulo estava perseguindo a Igreja (Atos 9)

Parece bastante evidente que a regra é que o eleito não está em casa, esta trabalhando. Pensando nisso podemos então tirar algumas conclusões sobre a questão do chamado do Senhor:

·       Deus chama os ocupados, os que trabalham e com isso mostram que se aplicam ao que fazem. Se Ele chama para o serviço é até natural que chame gente que gosta de trabalhar e esteja ocupada. Portanto, não espere terminar sua atividade atual para receber um chamado. Se acha que o Senhor só vai lhe falar quando já não tiver o que fazer, então é provável que não entenda o apelo do Espírito e deixe passar as oportunidades de serviço que o Senhor quer lhe dar. Ele chama gente que esta ocupada e que tem as mãos muitas vezes cheias. Se é um indivíduo cheio de trabalho então saiba que o Senhor pode muito bem convoca-lo.

·       O Senhor chama gente de todas as idades e de todas as áreas de atuação. Pescadores, pastores de rebanhos, agricultores, mas também aristocratas, administradores e príncipes. Sua área de atuação ou sua idade não é limitação para o chamado. Ele convocou Samuel quando era criança pequena e Moisés com 80 anos. Convocou Amós que mal sabia falar em público e Paulo que era um Mestre com alto nível de formação.

·       O sentido do chamado pode ter a ver com o que já faz mas pode ser também uma mudança radical de vida. Daniel e José se mantém em áreas administrativas, Ezequiel e Jeremias já estavam no serviço sacerdotal, mas Eliseu vai de agricultor a Profeta e Pedro de pescador a Apóstolo. Não há limite ao que Deus quer fazer. Hoje em dia temos muitos pastores que são filhos de pastores, mas também vemos pessoas sendo usadas de modo poderoso a quem Deus mudou radicalmente a Vida.

·       Há chamados para a vida toda e há chamados para ministérios específicos e temporários. O Senhor tem a liberdade de usar nossas vidas como quer. O importante é entender o chamado, compreender seu escopo e ser fiel.

Se sua vida está bem organizada, se sua família está vivendo um bom momento, se seu trabalho parece satisfazê-lo em pleno e você louva a Deus por tudo o que tem, parabéns! Louvo a Deus por você e com você. Mas atenção! Esteja atento à voz do Senhor. Ele chama exatamente aqueles que estão trabalhando, afinal, o eleito nem sequer estava em casa...
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